Germinal – Educação e Trabalho

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Pós-graduação em Docência da Educação Profissional 4 de julho de 2008

O material adiante publicado é um excerto de projeto de Curso de Especialização (Pós-graduação lato senso), de autoria de José Antonio Küller (sócio-diretor da Germinal). O projeto foi apresentado ao MEC, pelo Senac/Rio,  junto com um projeto de credenciamento institucional para o desenvolvimento de cursos nesse nível de formação. Após a análise da USP, tanto o projeto de curso quanto o credenciamento foram aprovados pelo MEC.

 

Imagem Paedia
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APRESENTAÇÃO

“A arquitetura como construir portas, de abrir; ou como construir o aberto; construir; não como ilhar ou prender, nem construir como fechar secretos; construir portas abertas em portas; casas exclusivamente portas e teto. O arquiteto: o que abre para o homem (tudo se sanearia desde casas abertas)portas por-onde, jamais portas-contra;por onde, livres: ar luz razão certa.[…]”

(MELO NETO, João Cabral. Fábula de um Arquiteto. In: A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996, p.36.)

 

 

 

 

 

 

 

 

A finalidade básica do Programa de Especialização (Pós-graduação lato senso) em Docência da Educação é a de capacitar para o magistério da educação profissional básica (livre) técnica (nível médio) e tecnológica (nível superior). Subsidiariamente, o Programa de Especialização é destinado a pedagogos e demais profissionais da educação que queiram atuar em funções técnicas da nova educação profissional brasileira.

Para a formação de docente para o nível médio, o Programa de Especialização terá função similar ao Programa Especial de Formação Pedagógica. Para o nível superior, o Programa de Especialização terá a função de preparação de docentes para a educação profissional de nível tecnológico.

A Resolução CNE no. 2, de 26 de junho de 1997, diz que o Programa Especial de Formação Pedagógica “destina-se a suprir a falta de professores habilitados, em determinadas disciplinas e localidades, em caráter especial”. Atende portadores de diplomas de nível superior, em cursos relacionados com a habilitação pretendida. Segundo a Resolução, o programa terá uma duração mínima de 540 horas, incluindo a parte teórica e a parte prática. A teoria e a prática devem ser concomitantes, vedada a parte prática exclusivamente ao final do programa. O profissional de nível superior que concluir o programa especial de formação pedagógica receberá certificado e registro profissional equivalente à licenciatura plena.

Se é aberta a possibilidade de preparação de docentes para o nível médio, a partir de um Programa Especial de Formação Pedagógica e possibilitada a  formação de docentes para o nível superior a partir de Programas de Especialização, em nível de Pós-graduação, a junção das duas perspectivas em um Programa de Especialização, que some as características e exigências de um Programa Especial de Formação Pedagógica, é, então, factível. Ambos os programas destinam-se a mesma clientela (egressos do ensino superior) e atendem a necessidades similares.

 

 JUSTIFICATIVA

Desde o ano 2000, seguindo inclusive recomendação do Ministério da Educação, as instituições de formação profissional têm intensificado sua atuação na educação profissional de nível médio.

Não existe oferta disponível de professores licenciados para a maioria dos componentes curriculares de ordem estritamente técnica desses cursos. Essa carência é perceptível em dois sentidos. Não existem licenciaturas agregadas à educação superior dos profissionais que podem assumir a docência de tais componentes curriculares. Quando a licenciatura é disponível, ela não está ajustada à nova perspectiva pedagógica da educação profissional de nível técnico.

É fato conhecido que, mesmo na vigência do Parecer CFE nº45/72, a formação para docentes das disciplinas de educação profissional já era deficiente. O esforço das licenciaturas sempre foi concentrado na formação de docentes para as disciplinas de educação geral. Essa orientação é compreensível. A relativa padronização dos currículos da educação básica disciplinava a demanda de professores especialistas. Permitia e ainda permite, assim, uma certa sistematização da oferta.

Sempre foi diversa a situação da oferta de docentes para a educação profissional. Mesmo com a excessiva padronização dos currículos promovida pelo Parecer CFE 45/72, a oferta restrita de habilitação técnica de nível médio e a variabilidade das habilitações oferecidas impediam um tratamento similar ao dado às disciplinas de cultura geral no que se refere à formação para o magistério. Nunca houve, por exemplo, nos cursos superiores de Engenharia Civil ou de Ciências Contábeis, uma preocupação sistemática de formação de professores (para o curso Técnico em Edificações ou Técnico em Contabilidade) similar à existente nos cursos superiores de Português ou Matemática.

A situação é pior quando olhada da perspectiva da formação de docentes para a qualificação profissional básica. Depois da extinção do Centro Nacional de Formação de Pessoal para a Formação Profissional (CENAFOR), uma antiga fundação do MEC, a formação desses docentes sempre ficou a cargo das instituições que promovem educação profissional nesse nível (SENAC, SENAI, SENAR, entre outros). A capacitação em serviço e o treinamento situacional sempre foram as estratégias fundamentais de preparação de docentes nessas instituições. Essas estratégias, todos sabem, são difíceis de serem sistematizadas e quase sempre propensas à intermitência e à descontinuidade.

A LDB e os diplomas legais posteriores reconhecem as dificuldades de oferta e flexibilizam as exigências para a formação dos professores. Essa flexibilização é maior quando se trata de docentes para a educação profissional. O Decreto nº2.208, de 17 de abril de 1997, por exemplo, no referente à preparação de docentes para a educação profissional, em seu nono artigo, preconiza:

“As disciplinas do currículo do ensino técnico serão ministradas por professores, instrutores e monitores selecionados, principalmente, em função de sua experiência profissional, que deverão ser preparados para o magistério, previamente ou em serviço, através de cursos regulares de licenciatura ou de programas especiais de formação pedagógica”.

 

No essencial, o texto é repetido na Resolução CNE/CEB nº04/99. No entanto, quanto mais perto da execução maior é o peso da realidade objetiva. Em documento recente do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, a Indicação CCE n°08/2000, de 5 de julho de 2000, a flexibilização vai além. A Indicação estabelece:

“24. Poderão, ainda, ser admitidos para a docência na Educação Profissional de nível Técnico, devidamente autorizados pelo respectivo órgão supervisor, de acordo com a seguinte ordem preferencial:

24.1. Na falta de profissionais licenciados, os graduados na correspondente área profissional ou de estudos.

24.2. Na falta de profissionais graduados em nível superior nas áreas específicas, profissionais graduados em outras áreas e que tenham comprovada experiência profissional na área do curso.

24.3. Na falta de profissionais graduados, técnicos de nível médio na área do curso, com comprovada experiência profissional na área.

24.4. Na falta de profissionais de nível técnico com comprovada experiência, outros profissionais reconhecidos por sua experiência profissional na área.

25. Na falta de profissionais com licenciatura específica e experiência profissional comprovada na área objeto do curso, o estabelecimento de ensino deverá propiciar formação em serviço, apresentando, para tanto, plano especial de preparação de docentes ao respectivo órgão supervisor.”

Assim a oferta de um programa especial de formação pedagógica com status de Programa de Especialização, em nível de Pós-graduação é, para as instituições de educação profissional e para o seu público-alvo, estrategicamente oportuna. Cria uma instância de capacitação de docentes até então inexistente , ajustada à sua clientela e às novas perspectivas da educação técnica de nível médio e de nível tecnológico.

 

 

 

Jogos e simulações em treinamento

 

Este é um excerto do manual do coordenador de um curso desenvolvido pela Germinal para o SENAC de São Paulo. O curso foi criado para ser um dos módulos do programa de desenvolvimento de docentes daquela instituição. O manual não foi originalmente publicado da forma como está aqui apresentado. 

 

  

 

DESENVOLVIMENTO DO MÓDULO

O programa está organizado em quatro sessões de aprendizagem, de quatro horas cada uma. Em cada sessão, para orientação do coordenador, estão inseridos: as atividades sugeridas, os objetivos das atividades; descrição das atividades; textos de apoio a serem utilizados; e, por fim, relação dos demais recursos necessários. A seguir apresentamos o desenvolvimento da primeir asessão de aprendizagem.

 

 

SESSÃO DE APRENDIZAGEM 1: Sobre jogos, vivências e pessoas

 

Unidade I: Jogos e vivências

 

Objetivos específicos: Apresentar os participantes e integrar o grupo. Vivenciar e analisar vários tipos de jogos com objetivos similares (levantamento de expectativas, integração de grupo e apresentação). Conceituar e caracterizar jogos e vivências.

 

  

Sampa, Beatriz Milhazes

Atividade 1: Integração

 

Descrição: Dando início à atividade, o instrutor coordena a realização dos três primeiros jogos.

 

JOGO I: Representação de Expectativas (criado por José Antonio Kuller)

 

Objetivos: Identificar as expectativas dos participantes e, ainda, proporcionar a integração do grupo.

 

Desafio: Fazer, em subgrupos, uma representação em três tempos: “como estou chegando”; “como espero que o curso seja desenvolvido”, “como quero sair do curso”. Isso, naturalmente, significa representar as expectativas presentes no subgrupo em relação ao curso que se inicia. A representação deverá ser feita através de expressão corporal e movimentos rítmicos, da forma mais bonita (plástica) e expressiva possível. A palavra não deve ser utilizada. O som pode ser usado. Vence o subgrupo que apresentar o trabalho que for considerado o melhor por todos os presentes.

 

Desenvolvimento: o coordenador organiza os subgrupos. Apresenta o desafio, esclarecendo que cada subgrupo poderá envolver os demais em sua apresentação, se achar necessário. Os subgrupos deverão trabalhar em pé para que possam manter a mobilidade e agilidade necessária, e concluir o trabalho em torno de 10 minutos. Durante esse tempo o coordenador coloca um fundo musical (o Bolero de Ravel, por exemplo).

Concluída a preparação, todos ainda em pé, o primeiro subgrupo se apresenta. Após os aplausos, cada participante do subgrupo que se apresentou diz o seu nome e local de origem. Depois, o segundo subgrupo se apresenta e assim sucessivamente. Durante cada apresentação, o volume da música de fundo é aumentado e se transforma no tema musical da apresentação. Ao final da última apresentação, os presentes sentam-se em semicírculo para análise e julgamento dos trabalhos.

 

Avaliação dos Trabalhos: em painel, um a um, os trabalhos serão analisados pelo grupo. O trabalho em foco será interpretado pelos que o assistiram e, em seguida, o grupo criador apresenta a intenção da expressão, fazendo o confronto com as interpretações antes apresentadas. O interessante do processo é a percepção das inúmeras interpretações possíveis, muitas vezes complementares, de uma única expressão. Ao final da análise dos trabalhos, o grupo elege o “ganhador”, que deverá ser aquele que se apresentou com mais plasticidade e expressividade.

 

 

Jogo 2: Nomes e Pessoas

«Blue and Red Balls», Sam Francis

 

Objetivo: memorizar os nomes dos participantes.

 

Desafio: memorizar dados de apresentação.

 

Desenvolvimento: o coordenador forma um círculo com os participantes e comunica que cada um terá a oportunidade de aprender alguma coisa sobre os demais. Irá jogar uma bolinha a alguém que deverá dizer seu nome e revelar, em 30 segundos, alguma coisa sobre si mesma que ainda não se saiba. Quando todos tiverem se apresentado, inicia-se a segunda rodada. Cada participante terá de passar a bola a alguém, dizer o nome daquela pessoa e o que ela disse sobre si mesma na rodada anterior. Vencem aqueles que não necessitarem de ajuda.

 

 

Jogo 3. Andando Em Oito

 

William Smart - Walking Et Talking

William Smart - Walking Et Talking

Objetivo: dividir os participantes em subgrupos.

 

Desafio: não ficar fora de um subgrupo.

 

Desenvolvimento: o coordenador solicita que todos os participantes andem pela sala à vontade.

 

Em seguida, ao andar, todos devem traçar com os pés um imaginário número 8, colocando um pé atrás do outro, cuidadosamente, de forma que o 8 fique bem desenhado. Ao fim do traçado, o trajeto deve ser reiniciado.

 

Repentinamente, o coordenador grita: “2 a 2”. Neste momento todos os participantes deverão agrupar-se em pares. Quem ficar sobrando deverá pagar um “mico”. Depois, novamente, todos recomeçam a percorrer o número 8, até que o coordenador grite: “3 a 3”. Agrupam-se, então, em grupos de 3 pessoas simultaneamente e imediatamente à voz de comando. Da mesma forma que antes, os participantes que ficarem sobrando deverão pagar um “mico”.

 

 Esse processo de fazer o oito e agrupamento repentino e simultâneo deverá repetir-se até que se chegue ao número desejado de participantes por subgrupo, momento em que interrompe-se o jogo, passando à atividade principal para a qual foram organizados os subgrupos.

 

Observação: o jogo “O Oito” poderá também ser utilizado como ativador após um intervalo ou um momento de apatia, com o objetivo de recompor o grupo e voltar à concentração.

 

 

Atividade 2:  jogos de integração de grupo

 

«Untitled» 2006 (detail) - Katharina Grosse

 

Objetivo: Trocar jogos de integração.

 

Desafio: Integrar o grupo.

 

Descrição: Formados os subgrupos, os participantes terão cinco minutos para escolher um jogo/vivência de apresentação e/ou de integração grupal que conheçam e desejem aplicar ao grande grupo. A duração da atividade não deve ultrapassar 10 minutos. O jogo/vivência deve ser interessante e divertido ou envolvente. Vence o subgrupo eleito, em torno desses critérios, pelo conjunto dos participantes.

 

Finda a fase de planejamento, os subgrupos desenvolvem os seus jogos. Ao final das apresentações, o melhor jogo é escolhido.

 

 

 

 Pratos da Ásia, sem t�tulo - Miguel Rebelo

Pratos da Ásia, sem título - Miguel Rebelo

 

 

 

Atividade 3: Avaliação

Descrição: nos mesmos subgrupos da atividade anterior, em 30 minutos, os participantes analisam os jogos apresentados, conforme roteiro abaixo.

 

Roteiro de Análise dos Jogos

1. O que é um jogo / O que é uma vivência?

 

2. As atividades anteriores foram jogos? Foram vivências?

 

3.  O jogo / vivência atingiu seu objetivo?

 

4.  Foi agradável participar? Trouxe satisfação? Foi cativante de alguma forma?

 

5.  As regras / propostas ficaram bem claras?

 

6. O tempo previsto foi adequado?

 

7.  Que tipo de alterações o tornaria melhor?

 

8.  Foi eficaz o uso dos jogos e das vivência anteriores?

(Responder a questão anterior do ponto de vista da construção do conhecimento, da aprendizagem sobre jogos e vivências e do ponto de vista da integração grupal.)

 

Ao final do trabalho, em painel, os subgrupos apresentam suas conclusões. O coordenador faz a síntese e complementa, sempre que necessário.

 

A síntese do coordenador encerra a sessão de aprendizagem.

 

 

 

 
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