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Dois sucos e a conta com Manoel Andrade 23 de setembro de 2013

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 6:12 pm
 
   
O sertanejo que está revolucionando o ensino no interior do Ceará é o entrevistado de Mauro ventura em O Globo

 

Tudo começou em 1994, com sete jovens – seis rapazes e uma moça – estudando numa casa de farinha desativada ou debaixo de pés de juazeiro, sentados em cadeiras velhas. Moravam em Cipó, comunidade rural de apenas dez famílias a mais de cem quilômetros de Fortaleza, no Ceará. Hoje eles são milhares e estão provocando uma pequena revolução educacional no estado. É o Prece, o Programa de Educação em Células Cooperativas, que em 2014 completa 20 anos. Por trás de tudo está Manoel Andrade, de 53 anos, doutor em Química da Universidade Federal do Ceará (UFC). Um dos dez filhos de um casal de agricultores, o pai mal sabia ler e a mãe tinha apenas a quarta série primária. Como em seu lugarejo não havia escola, Manoel foi aos 9 anos morar com os avós em Fortaleza para estudar. Quando começou a pós-graduação, passou a voltar todo fim de semana a Cipó, onde teve a ideia do Prece. No programa, não há professor. Cada estudante ensina aos demais sua disciplina favorita. Juntos, esses alunos do interior compartilham conhecimentos, apoiam-se mutuamente, superam deficiências de aprendizagem e passam no vestibular.

 

Quem eram esses sete estudantes pioneiros?

Eram todos excluídos educacionalmente e hoje, dos sete, só um abandonou os estudos. Os demais se graduaram. Um que na época havia parado na quarta série e estava com 20 anos virou doutor em Química e pesquisador na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Outro que tinha 20 anos e cursava a sexta série está terminando o doutorado em Fitopatologia. Tem ainda um agrônomo, uma professora de História, um mestre em Educação e um graduado em Teologia.

 

Na época, houve reação dos pais dos jovens da região?

Sim. Os pais eram agricultores analfabetos. Na visão deles, os filhos precisavam trabalhar para ajudar a sustentar a família. Como aqueles jovens, que liam e escreviam de forma precária, entrariam na universidade? Mas, dois anos depois, um dos estudantes, Francisco Antônio, o Toinho, foi aprovado em primeiro lugar no vestibular de Pedagogia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Seis meses depois, outro também passou. Em 1988, eram quatro na UFC. O sucesso deles atraiu outros jovens.

 

Como surgiu a ideia do Prece?

Tem origem num episódio que me ocorreu aos 16 anos. Um jovem, Flávio Tabosa Barroso, me convidou para participar de um grupo de estudos. Perguntou o que mais eu gostava de estudar. “Biologia.” E ele: “Então você vai nos ensinar Biologia.” Cada um ensinava aquilo de que mais gostava. Foi uma revolução na minha vida. Quando comecei a voltar a Cipó, resolvi repetir a experiência. Eu botava os meninos para estudar juntos e os levava no meu carro para conhecer a universidade. Eles se animavam ao ver que alguém da região teve sucesso graças ao estudo.

 

O que essa metodologia de aprendizagem em grupo mostra?

A experiência dos grupos de estudo (também chamados de células de aprendizagem cooperativa) deu certo. Não pode ser só o professor dando aula, uma transferência impositiva de um lado para o outro. Você aprende muito mais interagindo, cooperando, compartilhando conhecimentos e trocando saberes com os outros do que apenas recebendo informação.

 

Aqueles sete iniciais hoje são milhares…

Estamos influenciando a rede pública do Ceará. A secretaria de Educação do estado me chamou para montar um programa para cada escola estadual. Já preparamos cerca de 2.500 estudantes para organizarem grupos de estudo. Eles estão se proliferando por todo o estado e já há um programa em Mato Grosso inspirado no nosso. Graças ao Prece, cerca de 500 jovens de origem popular entraram na universidade. E mais de 30 cursam ou já cursaram a pós. E não é um êxodo rural, porque, ao ingressarem na universidade, eles passam a retornar às suas comunidades e fundam novos grupos de estudo no interior, transformando a realidade de suas regiões. Nossa utopia é contribuir para a construção de uma escola pública de qualidade.

 

(Mauro Ventura/O Globo)

http://oglobo.globo.com/educacao/dois-sucos-a-conta-com-manoel-andrade-10070884#ixzz2fj23gEC7

 

Livros didáticos seguirão matrizes curriculares do Enem a partir de 2015

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 1:32 pm

Bárbara Ferreira Santos e Victor Vieira – O Estado de São Paulo – 22/09/2013 – São Paulo, SP

A reforma do ensino médio nos moldes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) já começou antes mesmo da reestruturação do currículo. A partir de 2015, os livros didáticos das redes públicas serão interligados dentro das quatro áreas de conhecimento propostas pela prova. `Não significa o fim do livro didático por disciplina, mas cada matéria terá de dialogar com outras`, explica o secretário de educação básica do Ministério da Educação (MEC), Romeu Caputo.

O edital dos livros didáticos para 2015 exige que as disciplinas de Química, Física e Biologia, por exemplo, estejam interligadas e atendam a requisitos mínimos comuns das Ciências da Natureza. Pela primeira vez, o documento prevê que as editoras apresentem obras com complementos digitais – e-books, jogos e aplicativos. Os próximos editais devem seguir esse mesmo formato, segundo o MEC.

Uma comissão de avaliadores em 12 universidades federais analisa se os livros apresentados em agosto por editoras de todo o País atendem a esses critérios. Até junho de 2014, um guia de obras recomendadas pelo governo federal deve ser enviado às escolas públicas.

Essa mudança faz parte do projeto do MEC para redefinir todo o currículo do ensino básico – fundamental e médio – em um formato interdisciplinar semelhante ao Enem. `A mudança faz parte do que chamamos de Base Nacional Comum do Currículo. Converge avaliação, formação dos professores e produção de material`, diz Caputo.

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Cláudio Costa, diz que o modelo curricular do Brasil é historicamente determinado pelos vestibulares. `Antes, poucas escolas tinham acesso a essas informações. Com o Enem e suas áreas definidas, todo mundo está conhecendo as matrizes de habilidades e competências, especialmente as escolas públicas.`

Especialistas, porém, temem a adoção de obras nesse modelo sem a preparação dos professores. `Uma coisa é produzir o material, outra é ser usado com qualidade`, diz Paula Louzano, doutora em Educação pela Universidade de Harvard. Para João Roberto Moreira Alves, presidente do Instituto de Pesquisas e Administração da Educação, a formação dos professores, se iniciada hoje, só alcançaria maturidade em 4 anos.

Para alunos e pais das redes públicas, os novos livros só representarão uma mudança no formato do ensino médio quando o material didático for efetivamente usado na sala de aula. `Hoje o livro é pouco usado porque os professores levam os materiais deles e os alunos não querem carregar tanto peso à toa`, afirma Daniela Machado, de 17 anos, que cursa o 2.º ano do ensino médio na Escola Estadual Ibrahim Nobre, na zona sul de São Paulo. / COLABOROU CARINA BACELAR, ESPECIAL PARA O ESTADO

 

 
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