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Inovação para o Ensino Médio 16 de dezembro de 2013

Filed under: ensino médio — José Antonio Küller @ 1:47 pm

 

Artigo de Viviane Senna* publicado no Globo.

 

Muitas escolas públicas hoje têm acesso à internet, mas o que se estuda nelas continua organizado da mesma forma mecânica e analógica do passado

 

O típico aluno do Ensino Médio brasileiro estuda da mesma forma que seus avós o faziam quando era preciso pedir à telefonista para fazer um interurbano. Muitas escolas públicas hoje têm acesso à internet, mas o que se estuda nelas continua organizado da mesma forma mecânica e analógica do passado. Não admira que este aluno, com celular no bolso e hiperconectado, veja certa inutilidade em ir às aulas. A maioria dos jovens ouvidos na pesquisa Cebrap/Fundação Victor Civita reclama que os conteúdos “ensinados” não fazem sentido na vida. É compreensível que isso, além do baixo preparo com que chegam do Ensino Fundamental, resulte no fato de só metade dos brasileiros de 15 a 17 anos estarem no Ensino Médio.

 

Uma boa dose de ousadia é necessária para enfrentarmos esse enorme desafio. Einstein disse que não podemos resolver nossos maiores problemas com o mesmo nível de pensamento com o qual os criamos. Encontramos essa corajosa disposição na rede estadual doRio de Janeiro, que nos convidou a construir a quatro mãos uma proposta de modelo inovador para o Ensino Médio, sintonizado com as demandas do século XXI.

 

Neste novo modelo foram integradas as múltiplas competências a serem desenvolvidas, tanto as cognitivas quanto as socioemocionais, de modo que a escola possa capacitar o jovem para a matemática e a língua, e também para ter autonomia e iniciativa, trabalhar em equipe e se relacionar num mundo de diversidade, de problemas eoportunidades globais. As disciplinas foram desencaixotadas e integradas num currículo por áreas de conhecimento. A água pode ser estudada articulando-se os modos de pensar e os modelos explicativos da química, da biologia, ambiente, economia, geografia etc. Mais do que o conteúdo de cada disciplina, desenvolvem-se competências como a resolução de problemas e o pensamento crítico.

 

Essas mudanças só são possíveis porque os educadores da Secretaria estadual de Educação estão pensando num nível mais amplo. A rede vem adotando um modelo de gestão por resultados, com metas, avaliação externa e incentivos para os profissionais. Para apoiar as escolas, foi criado um comitê gestor e há um notável suporte à qualificação das equipes. A inovação pedagógica vem nesse contexto, começando com a definição de currículo mínimo para todas as disciplinas e avançando hoje, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, na proposta de currículo integrado e desenvolvimento de múltiplas competências. É um esforço que une governo, sociedade e empresas, representadas aqui pela parceria com a P&G e a Citi Foundation, num novo paradigma ético de corresponsabilidade pela educação e pelo futuro das novas gerações.

 

Inovação implica erros e acertos, mas o balanço da secretaria é positivo. Em apenas dois anos, de 2009 a 2011, suas escolas saltaram de 26º para 15º lugar no ranking do Ideb no Ensino Médio. Essa melhora se deve tanto à proficiência em português e matemática como ao aumento da taxa de aprovação. E a aprovação maior se deve mais à redução no abandono do que na reprovação, o que sinaliza um interesse maior dos alunos pela escola. Num colégio que está implementando nossa proposta inovadora, já há mais de 300 alunos inscritos para as 120 vagas em 2014 – e 80 deles vêm de escolas particulares. Ou seja, os jovens estão gostando dessa ousadia.

 

Viviane Senna é presidente do Intituto Ayrton Senna

 

(O Globo)

http://oglobo.globo.com/opiniao/inovacao-para-ensino-medio-11067381#ixzz2neAV7DfW

 

O Pacto Nacional do Ensino Médio 10 de dezembro de 2013

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 3:42 pm

 

 Artigo de Jose Clovis de Azevedo publicado no Zero Hora. Aqui, ocorre um processo de mudança com um debate virtuoso e práticas inovadoras

 

Com o lançamento do Pacto pelo Ensino Médio, o país dá um passo importante rumo à garantia de um ensino mais identificado com as necessidades da juventude brasileira.

 

Há um grande consenso sobre o estado de crise do Ensino Médio brasileiro, expresso principalmente nos altos índices de evasão e repetência. Surge desta constatação uma questão fundamental: o que leva praticamente um terço dos estudantes a ter seu sonho de vida abortado pela reprovação e abandono? Esta pergunta baliza o trabalho na Secretaria de Estado da Educação (Seduc) desde o início de 2011, quando começou a ser gestada a reestruturação curricular do Ensino Médio. Na ocasião, o diagnóstico mostrava um currículo dissociado da realidade, fragmentado, pouco atraente e distante da vida dos estudantes. Iniciamos na Seduc, então, um processo vigoroso de debate que culminou na conferência estadual do Ensino Médio, com participação de mais de 30 mil pessoas em todo o Estado. Consolidava-se ali a reforma, que começou pelos primeiros anos em 2012, chegou às turmas de 2º ano em 2013 e alcançará as salas de aula dos 3ºs anos em 2014.

 

Em apenas três anos, começamos a colher resultados positivos. Recém-lançados os resultados do Enem 2012, os estudantes das escolas gaúchas da rede estadual que integram as estatísticas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2012 obtiveram segundo lugar na média geral entre as áreas do conhecimento no comparativo com estudantes das demais redes estaduais brasileiras. De 2011 para 2012, a rede estadual melhorou sua posição em relação às redes estaduais do país. Em 2011, o RS ocupava a terceira posição, passando para segundo lugar nas provas de 2012. Se considerados os resultados das redes estadual, federal, municipal e privada, o RS manteve a oitava colocação, mesma posição de 2011.

 

Três anos depois, recebemos os gestores do Ensino Médio do Ministério da Educação (MEC) para o lançamento do Pacto Nacional. Isso não é obra do acaso. O MEC veio ao Rio Grande do Sul porque aqui, há três anos, ocorre um processo de mudança com um debate virtuoso e práticas inovadoras, embora com resistências e dúvidas o processo de mudança é irreversível, com melhorias concretas para nossos estudantes e professores. Nossas ações são observadas pelo país e agora vão contribuir com a grande reforma que será implantada no Brasil inteiro.

 

Jose Clovis de Azevedo é professor doutor, secretário de Educação do RS

 

(Zero Hora) http://wp.clicrbs.com.br/opiniaozh/2013/12/10/artigo-o-pacto-nacional-do-ensino-medio/?topo=13,1,1,,,13

 

Elite educacional do Brasil também fica entre as piores no Pisa 2012 9 de dezembro de 2013

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 2:37 pm

 

Média dos 25% alunos mais ricos do país é pior que a dos jovens de menor renda em nações desenvolvidas no exame internacional

 

Os maus resultados do Brasil na Educação não se devem apenas à má qualidade da escola pública ou ao baixo desempenho dos alunos mais pobres. A elite brasileira, quando comparada com a de outros países, também se sai muito mal no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), exame divulgado na semana passada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e que compara o aprendizado de jovens de 15 anos de idade em 65 países em testes de Matemática, leitura e Ciências. Este ano, o foco da avaliação foi o conhecimento dos alunos na área de Matemática.

 

Considerando apenas os alunos que, pelos critérios da OCDE, estariam entre os 25% de maior nível socioeconômico em cada nação, a elite brasileira figuraria apenas na 57ª posição entre os 65 países. O resultado deixa a desejar mesmo quando esse grupo é comparado com os mais pobres da média da OCDE, grupo que congrega principalmente nações desenvolvidas. Enquanto os brasileiros no topo da pirâmide social registraram uma média de 437 pontos, os 25% mais pobres da OCDE tiveram média de 452 pontos.

 

Veja aqui os resultados do Brasil e do mundo no Pisa 2012.

 

Na prática, com essa pontuação, a OCDE entende que os brasileiros de condições econômicas mais favoráveis já dominam operações matemáticas como frações, porcentagens e números relativos, sendo capazes de resolver problemas simples – cerca de 65% dos alunos brasileiros não atingiram esse nível no Pisa. No entanto, eles não conseguem formular e comunicar explicações e argumentos com base em suas interpretações e ações.

 

Outra maneira de comparar seria considerar um número ainda menor de alunos de elite, considerando que o percentual de 25%, para um país ainda em desenvolvimento como o Brasil, pode não ser um retrato fiel do topo da pirâmide social. Mesmo assim, se considerada só a média dos 5% de alunos com melhor desempenho nos 65 países, a posição do Brasil no ranking seguiria praticamente inalterada: 58ª.

 

O diagnóstico é o mesmo também quando se consideram apenas alunos cujos pais têm nível superior. Nessa comparação, o Brasil ficaria na 56ª posição. No topo desse ranking, aparece novamente a província chinesa de Xangai, cuja média dos alunos é 219 pontos superior à dos brasileiros. Pela escala do Pisa, isso equivale a dizer que essa elite brasileira com pais de alta escolaridade precisaria estudar mais cinco anos letivos para chegar ao nível de conhecimento dos chineses de Xangai em Matemática.

 

Os dados do Pisa foram divulgados uma semana depois de o resultado do Enem 2012 mostrar que as escolas com as melhores médias no exame do MEC são particulares. De acordo com um levantamento feito pelo GLOBO, nove dos dez colégios cariocas com as notas mais altas no Enem têm mensalidades acima de R$ 2 mil.

 

Na opinião do coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, os dados mostram que as escolas particulares no Brasil cobram muito por um serviço que não é assim tão melhor do que o oferecido pela rede pública. Segundo ele, o ensino privado no Brasil é desregulamentado e conserva margens de lucro superiores aos seus pares no exterior:

 

– É um comportamento parecido com um mercado de luxo: não presta um serviço tão bom assim, mas consegue fazer com que a elite se diferencie em termos de consumo. Para um determinado estrato da sociedade, colocar os filhos em escolas muito caras, independentemente da qualidade do serviço, é um caráter de diferenciação. E você tem chances também de construir um capital social: o filho de um grande empresário pode conviver com filhos de outro grande empresário – explica Cara.

 

Para o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro (Sinepe), Vitor Notrica, o mau desempenho brasileiro dos 25% mais ricos no Pisa não se deve necessariamente às escolas, mas a questões culturais. Ele acha que esse rendimento abaixo da média pode estar ligado à relação entre alunos e professores no Brasil.

 

– A mensalidade da escola está ligada à sua proposta pedagógica. Tem escolas bilíngues, aplicadas em tecnologia, horário integral… Mas a qualidade do ensino depende, principalmente, do pulmão do professor. É fato que em países como a França e a Alemanha os alunos respeitam muito mais o professor, e por isso são cobrados com vigor. Isso pode também ser uma explicação para o resultado – afirma Notrica.

 

Membro do Conselho Nacional de Educação e professor da UFMG, Francisco Soares alerta que, mesmo no grupo de 25% mais ricos do Brasil, ainda há alta heterogeneidade:

 

– Separar em quatro grupos de mesmo tamanho não é razoável para um país tão desigual como o Brasil. Nós temos uma elite, sim, mas não é de 25%. Se formos lá na nata das nossas escolas, talvez elas não deixem a desejar em relação ao resto do mundo. Há escolas, sim, que estão cobrando caro, mas estão colocando os alunos na elite mundial.

 

O diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, segue a mesma linha de análise de Francisco Soares, mas ressalta que apenas 1% dos estudantes brasileiros atingiu os níveis mais elevados na prova de Matemática do Pisa:

 

– Os 25% não são uma comparação ideal num país com renda tão concentrada como o Brasil. Nossa elite se aproxima dos 10% ou 5%, em média. Mas a grande questão é que ninguém está indo muito bem em Educação aqui. Mesmo nessa amostra, somente 1% dos nossos alunos conseguiu alcançar notas boas. Esse é o dado mais assustador. Temos pouquíssimos alunos que sabem bem.

 

Eliane Porto é gerente-geral no Rio da agência de intercâmbios CI, que envia jovens brasileiros para cursar parte do ensino médio no exterior. Segundo ela, os alunos voltam empolgados com o ensino lá fora:

 

– Eles elogiam muito a infinidade de matérias eletivas, que vão da prática de esportes a aulas de marcenaria. Tudo isso os deixa mais envolvidos e motivados com a escola.

 

 

Diferença no respeito ao professor.

 

Cursando o 2º ano do ensino médio num colégio particular do Rio, o aluno Decio Greenwood, de 16 anos, conhece pelo menos duas realidades distintas. Devido ao trabalho de seus pais, o adolescente já passou por escolas inglesas duas vezes: a primeira aos 12 anos; a segunda, no começo deste ano. Segundo ele, as diferenças já começam pelo tratamento dado à rede pública.

 

– Estudei lá fora em escolas públicas, que são tão boas ou melhores que as particulares daqui. Este ano, frequentei por um mês um colégio que fica perto de Oxford e notei como o ensino de lá é mais preocupado em proporcionar uma vivência ampla ao aluno. Os estudantes têm laboratórios de tecnologia, aulas de culinária e muitas opções esportivas. Enquanto no Brasil as escolas se preocupam em mostrar que um mais um são dois, os professores de lá estão mais interessados em mostrar por que um mais um são dois – compara.

 

A valorização dos professores nas escolas inglesas também chamou a atenção de Decio.

 

– Os professores na Inglaterra são muito respeitados. Independentemente da idade deles, os alunos os tratam com muito respeito. Esses profissionais são elevados a um nível muito acima do que esse que notamos aqui, onde nem mesmo o governo os respeita – diz.

 

(Leonardo Vieira, Eduardo Vanini e Antônio Gois/O Globo)

http://oglobo.globo.com/educacao/elite-educacional-do-brasil-tambem-fica-entre-as-piores-no-pisa-2012-11010240#ixzz2mzDpAdSn

 

 

 
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