Germinal – Educação e Trabalho

Soluções criativas em Educação, Educação Profissional e Gestão do Conhecimento

Soluções para o dia a dia nascem no ensino técnico 27 de outubro de 2014

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 12:13 pm

Marina Lopes – Porvir – 24/10/2014 – São Paulo, SP

Um carrinho de compras inteligente, uma cadeira de rodas para o ambiente urbano e um aplicativo de alimentação saudável. Com soluções para muitos problemas do dia a dia, a 8a edição da Feira Tecnológica do Centro Paula Souza apresentou 244 projetos desenvolvidos por alunos das Etecs (Escolas Técnicas) e Fatecs (Faculdades de Tecnologia) do Estado de São Paulo.

Os trabalhos apresentados na feira são reflexo de uma formação voltada para a integração entre o cotidiano e o conhecimento científico, como explica Lucília Guerra, responsável pelo Centro de Capacitação Técnica, Pedagógica e de Gestão do Centro Paula Souza. “É você extrair do aluno o potencial de achar soluções para os problemas que a gente tem no dia a dia”, defendeu. Segundo ela, isso faz com que o estudante consiga se tornar um profissional mais criativo e inovador.

Foi a partir desse olhar para o cotidiano que surgiu uma ideia na Etec de Perus, região noroeste de São Paulo, que propunha tornar mais simples a tarefa de fazer compras no supermercado. Desenvolvido como trabalho de conclusão do curso de eletrônica, os alunos Bruno Tavares, 25, Ronaldo Ferreira, 22, e Tiago dos Santos, 30, criaram um carrinho de compras inteligente.

Ele usa uma tecnologia que substitui o código de barras por um microchip e consegue somar o valor dos produtos inseridos pelo consumidor. Um visor mostra o valor total da sua compra. Se ele desistir de levar algum produto, basta retirá-lo para que o valor seja subtraído. De acordo com o aluno Tiago dos Santos, isso ajudaria a reduzir o tempo de espera na fila, pois o cliente já sabe quanto vai pagar antes mesmo de chegar ao caixa.

O aluno do curso de projeto mecânico Emilson Bonjorno, 47, da Etec Professor Aprígio Gonzaga, na Penha, zona leste de São Paulo, também desenvolveu o seu projeto com base em uma observação do dia a dia. Ao ver a dificuldade que os deficientes físicos tinham para se locomover na cidade, ele elaborou uma cadeira de rodas autoestabilizadora. “Percebi que poderia fazer alguma coisa para ajudar”, disse.

Com um sistema de amortecimento dinâmico, a cadeira de rodas não transfere as imperfeições do piso e, durante subidas e descidas, o assento não se inclina, garantindo maior conforto. Edmilson já trabalhava como mecânico de manutenção e procurou o curso de projeto para se aperfeiçoar. Segundo ele, isso ajudou a pensar de forma mais prática. “O ensino técnico abre muito a mente do aluno. Na parte de projetos, você tem um leque enorme. Uma ideia, que antes não tinha tanto valor, pode se tornar em algo fabuloso.”

Uma das vantagens do ensino técnico, conforme destacado por Lucília Guerra, é de oferecer um ambiente de aprendizado bastante dinâmico, onde o aluno pode vivenciar a articulação entre a teoria e a prática, de forma semelhante ao que acontece no mercado de trabalho. “A aprendizagem baseada em projetos vem, justamente, nesse socorro de que o aluno consiga fazer as experiências dentro de um projeto que ele pode errar e começar de novo.”

“Na verdade, a inovação que a gente pode observar na educação, especificamente dentro do Centro Paula Souza, é a de tentar respeitar o repertório dos alunos. Você parte do interesse dele para aplicar conhecimentos que são essenciais durante a sua formação”, afirmou Lucília.

Os vários acidentes envolvendo motociclistas ocasionados por cortes de linhas de pipa serviram de inspiração para o projeto de Carlos Alberto Ferreira, 38, aluno da Fatec Thomaz Novelino, em Franca, no interior do estado. Ele teve a ideia de começar a pesquisar sobre materiais que evitassem o problema e, ao lado do colega Jeferson Balbino, 20, fez um protetor de pescoço que arrebenta a linha com o atrito, impedindo que o motorista sofra lesões. “Eu já percebia essa necessidade. Durante o percurso, quando demos início ao trabalho, também conversamos com uma pessoa que sofreu um acidente e isso nos motivou a continuar pesquisando”, lembrou Carlos Alberto.

De acordo com Lucília Guerra, do Centro Paula Souza, projetos como esses, que foram expostos durante a feira, mostram que os alunos estão com um olhar muito aguçado para as dificuldades que encontram no dia a dia. “Você não precisa de um milhão de dólares para ser criativo.” Diante das ideias apresentadas, o papel do professor muda e ele passa a trabalhar próximo ao aluno para o alinhar a viabilidade. “É dar foco para que o aluno consiga tirar o maior proveito dessa solução que ele está propondo.”

A dupla Jorge Miguel, 17, e Larissa Cavalcante, 17, da Etec Nova Odessa, munícipio no oeste do estado, resolveu unir o cuidado com a saúde e a dependência da tecnologia para criar um aplicativo simples, ao mesmo tempo funcional. Alunos do ensino médio integrado ao técnico de informática, eles desenvolveram o Vida em Movimento, um sistema que permite fazer o controle diário da alimentação e os exercícios físicos praticados. Segundo Larissa, o curso técnico teve um papel fundamental no desenvolvimento desse projeto. “Ele exercita a sua mente para sair da zona de conforto e buscar soluções novas”, contou.

E não foram apenas os estudantes que estão matriculados nos cursos técnicos que se arriscaram a colocar em prática as suas invenções. Três alunos do ensino médio da Etec Piedade, interior de São Paulo, ficaram sabendo da feira de tecnologia e também decidiram elaborar um projeto. David Henrique, 16, Lincon Munhoz, 15, e Paulo Roberto, 16, apostaram na criação de uma bicicleta ecológica com bambu. De acordo com David, a ideia era valorizar o meio ambiente e aproveitar o momento em que estavam sendo realizados investimentos em ciclovias na cidade. “A oportunidade incentiva a gente a tomar uma atitude.”

A 8a Feira Tecnológica do Centro Paula Souza foi realizada de 21 a 23 de outubro, no Expo Barra Funda, zona oeste de São Paulo. O evento contou com a participação de alunos e professores de 122 Etecs e 42 Fatecs, além de um público estimado de 20 mil pessoas.

 

Matrículas no ensino técnico 26 de outubro de 2014

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 12:35 pm

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/10/1538264-procura-por-ensino-tecnico-cresce-no-pais.shtml

 

Trilha Jovem está com processo seletivo aberto para curso de turismo 20 de outubro de 2014

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 5:33 pm

No total, curso conta com 500 horas de aulas teóricas e vivência prática.
Interessados devem ter entre 16 e 24 anos; prazo termina na sexta (24).
Do G1 PR, em Foz do Iguaçu

O projeto Trilha Jovem Iguassu está com processo seletivo aberto para interessados em ingressar no mercado de trabalho voltado ao turismo. As inscrições para a formação e capacitação profissional na área seguem até sexta-feira (24). No total, o curso de cinco meses realizado no Parque Tecnológico Itaipu (PTI), em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, conta com 500 horas de aulas teóricas e vivência prática. As aulas são diárias e sempre no contraturno escolar.

Os interessados devem ter entre 16 e 24 anos, estar cursando ou ter cursado o ensino médio na rede pública de ensino, ter renda familiar comprovada de até dois salários mínimos e perfil para o turismo (disponibilidade para trabalhar com distintos públicos em horários alternativos, fins de semana e feriados, cordialidade, comunicabilidade, agilidade, entre outros.

 

Trilha Jovem organiza feira turística em Foz do Iguaçu 17 de outubro de 2014

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 1:47 pm

Com o intuito de divulgar os atrativos turísticos de Foz do Iguaçu, 60 participantes do Projeto Trilha Jovem Iguassu, do módulo Turismo e Atendimento, estão organizando uma Feira Turística na Terra das Cataratas.

O evento ocorrerá neste domingo (19), na Praça da Bíblia, das 16h00 às 20h00. No local, haverá atividades recreativas para as crianças, distribuição de mudas de árvores e estandes com informações sobre os pontos turísticos da fronteira, além de um sorteio com cortesias para a visitação dos atrativos.

 

Cadê os professores? 14 de outubro de 2014

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 12:22 pm

José Pacheco – Portal Aprendiz – 13/10/2014 – São Paulo, SP

Acabo de receber boas notícias vindas de uma escola que, há muitos anos, tenta formalizar o seu termo de autonomia: A comunidade se reuniu na escola, para responder a pergunta: como a comunidade poderá direcionar os rumos do projeto da escola? Respostas maravilhosas foram argumentadas.

E, no final da reunião, ficou decidido que, nas próximas terças, estaremos reunidos novamente. Cada participante tentará levar mais um integrante da comunidade para envolvê-los cada vez mais (…) com o intuito de resgatar a cultura do bairro. As decisões tomadas refletem a vontade da comunidade (…).

A escola de onde as boas notícias chegaram vem tentando assumir a dignidade que o artigo 15º da LDBEN visa conferir às escolas brasileiras: o direito à autonomia. Ela já poderia ter-se transformado na primeira escola autônoma no Brasil, se os burocratas instalados na sua secretaria de educação não lhe negassem esse direito. Semeiam ardis, colocam obstáculos. Sutilmente, até contornam disposições legais, impedindo que a autonomia dessa escola se concretize.

Quando a autonomia da Escola da Ponte foi questionada pelo ministério de educação de Portugal, as universidades portuguesas, os sindicatos de professores, movimentos sociais reagiram. E o ministério recuou perante um Manifesto – “Há um tempo para apelar e outro para exigir. Chegou a hora de exigir” – de que transcrevo excertos:

Há razões de sobra para que qualquer governo interessado na melhoria do serviço público de educação garanta a continuidade do projeto desta escola. As soluções para os problemas da educação passam pela capacidade de tornar mais pública a escola pública, promovendo um serviço educativo justo e de sucesso para todos, num exercício permanente de cidadania. Manifestar solidariedade para com os alunos, pais e professores da Escola da Ponte, defender o direito à continuidade do seu projeto, exigir o apoio do governo ao desenvolvimento desta e de outras iniciativas inovadoras no seio do ensino público, não pode ser visto como uma atitude de mera resistência. O que está em causa é a defesa da escola pública e a busca de modelos de governação da educação. A Escola da Ponte é um exemplo, entre outros, da emergência de novos espaços de produção política, enquanto lugares de legitimação, escolha, invenção de normas, construção de projetos e tomada de decisão.

(Excertos do texto de apoio à Sessão Pública realizada na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, em 25 de Setembro de 2003).

As universidades e os sindicatos portugueses reagiram, defenderam a escola. Por isso, estranho o silêncio dos sindicatos e das universidades brasileiras. Preocupa-me a apatia dos professores, que dispõem de um Manifesto e não agem em defesa de princípios.

Políticos para os quais a pedagogia é ciência oculta e secretários nomeados para pagamento de dívida eleitoralista, desqualificados para as funções que exercem, impõem argumentos burocráticos em assuntos em que deveriam prevalecer critérios de natureza pedagógica. Por que não exigir e mostrar que uma boa educação é necessária e possível? Essa educação já acontece em muitas escolas brasileiras. Em escolas como aquela referida no início desta crônica, uma escola que requer autonomia, que é condição e indicador de boa qualidade da educação, mas que sofre o desgaste causado por um poder público autista.

 

O futuro da escola está no “contraturno” 2 de outubro de 2014

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 11:20 am

Alexandre Sayad – Portal Aprendiz – 30/09/2014 – São Paulo, SP

Uma educação baseada em projetos, sem disciplinas estanques, estimuladora do empreendedorismo e autonomia do estudante e desenvolvedora de habilidades e competências para este século existe neste momento

Em entrevista do programa Roda Viva, da TV Cultura, ainda nos anos 90, o escritor norueguês Jostein Gaarder respondeu da seguinte maneira à pergunta se ele não se interessava por temas do ocultismo ou discos voadores, ao invés da trivialidade do cotidiano em suas obras: “Isso me parece ser obrigado a atravessar um rio para buscar água do outro lado”.

Uma educação baseada em projetos, sem disciplinas estanques, estimuladora do empreendedorismo e autonomia do estudante e desenvolvedora de habilidades e competências para este século existe neste momento – não é uma promessa de futuro. E mora no chamado “contraturno” de escolas que realizam iniciativas interessantes, alguns em parcerias com universidades. Mas gestores do ensino parecem cegos de tanto enxergá-las.

Muitas atividades extra-curriculares, por exemplo, formam o cenário ideal para que a tecnologia e os espaços “makers” sejam experimentados, catalisando a inovação e provocando a criatividade.

Há uma busca desenfreada por inovação no ambiente escolar (de vocação conservadora). Este movimento não ordenado soa como buscar água do outro lado do rio. Muitas vezes a instituição desenvolve soluções importantes na grade extra-curricular. Mas as atividades de “contraturno” foram sempre discriminadas como ações de menor importância dentro de uma escola conteudista e pós-industrial.

É como se, no turno, as disciplinas acadêmicas ou curriculares (Matemática, Línguas, História etc.) fossem a parte importante da escola e o período de contraturno, a recreação para passar o tempo (Teatro, Esporte, Desafios Científicos, Jornal Escolar etc.). Muitas escolas certamente duplicam o fracasso do currículo por mais um período e chamam isso de educação integral – mas há tantas outras com projetos inovadores.

O auto-boicote é tão grande que nem mesmo sistemas de avaliação foram desenvolvidos para as chamadas áreas “não-cognitivas” da educação – afinal, brincadeiras não careciam ser avaliadas.

Os anos 60 e 70, com o surgimento dos Cieps no Rio de Janeiro e outros projetos de educação integral, pareciam que chamariam a atenção da sociedade para o lado oculto do cotidiano escolar. Não foi o que aconteceu. Tais movimentos reforçaram algo positivo, que é a integralidade do ensino – mas, sem perceber, mantiveram o currículo como o eixo central da escola. A cena conservadora se reflete até hoje, nos discursos dos candidatos à eleição deste ano.

Há um desafio ululante maior: como transformar o chamado “contraturno” na escola em si. E reduzir o tempo de sala de aula, mas não o de envolvimento do aluno com o conhecimento.

Para isso, há o desafio de montar uma mandala pedagógica de conhecimentos, habilidades e competências que atenda tanto a necessidade de compreender a programação de computadores e de se comunicar, como as de se expressar com conhecimento da Língua Portuguesa e fazer operações matemáticas.

Por outro lado, o vestibular continua vivo e passa bem. Não há como ignorá-lo. Essa é a principal barreira para um ensino que considera a habilidade de “fazer” tão importante como a de “pensar”. Mas não deve servir de bode expiatório para justificar a imobilidade da escola perante as transformações do mundo. Uma educação menos escolarizada e mais baseada no “fazer” depende muito da sociedade enxergá-la como transformadora e exigir as mudanças.

 

Desvendando o PNE: a educação profissional deve ser uma escolha da juventude 1 de outubro de 2014

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 2:48 pm

Por Ana Luiza Basílio, do Centro de Referências em Educação Integral

Os números que acompanham a educação profissional no país atestam metas bastante desafiadoras. Embora o Brasil venha apresentando crescimento no número de matrículas na modalidade, seja ela integrada, concomitante ou subsequente – de 2007 a 2013 foi da ordem de 84,7% – se espera que até o final do Plano Nacional de Educação vigente se alcance aumento de 200%. Essa conta se projeta ainda mais quando a análise se volta para a esfera da rede pública. Se em 2013 as novas matrículas somavam 19.925, o número esperado é de 1.441.051 em 2024, um contingente cerca de 70 vezes maior, segundo dados do Observatório do PNE.

Mas, para além dos valores numéricos, há um outro contexto que deve ser levado em conta, como apontam especialistas ouvidos pelo Centro de Referências em Educação Integral, em mais uma matéria da série Desvendando o PNE. E essa demanda diz de situar as múltiplas juventudes impactadas com esse processo, e de se afastar de ideias pré-concebidas de generalização dessa parcela da população. Para o coordenador do Observatório da Juventude da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Geraldo Leão, é essencial um olhar que contemple a diversidade da juventude, não delimitada apenas por uma faixa etária comum, mas também por diversos tempos, condições sociais e sujeitos.

Por uma educação para a juventude

Com isso, não há como discutir o futuro da educação profissionalizante sem se voltar para o papel da educação na vida dos jovens, garante o especialista. Então, embora o acesso com número de vagas adequadas e a qualidade sejam importantes, também se coloca a falta de diálogo desse processo com os próprios. “A educação reconhece pouco a realidade da juventude e se molda bem pouco a partir das necessidades dela”, afirma Leão trazendo uma reflexão para a estrutura do ensino, para além da modalidade profissionalizante.
Para ele, a reflexão sobre os sujeitos vai se perdendo ao longo da educação básica, exemplificando que “a educação infantil traz embutida em sua nomenclatura o pensar sobre a infância; não é a mesma lógica do ensino fundamental e médio. Por que não educação juvenil?”, problematiza. O especialista sente falta de uma pedagogia atuante para a juventude, “que contemple essa identidade, que identifique os jovens em suas práticas culturais e sociais, a partir de seu contexto”. A seu ver, não se trata de “pedagogizar” a relação com a juventude, mas de entender os jovens como sujeitos em construção de processos formativos, com autonomia, direito a escolhas e orientações políticas, sexuais, entre outras. Para ele, o problema está na perspectiva de olhar somente o aluno, principal diretiva das escolas.

O coordenador do ensino médio e técnico do Centro Paula Souza, responsável pelas escolas e faculdades técnicas estaduais de São Paulo, Almério Melquíades de Araujo, fala de uma inércia do ensino médio brasileiro nos últimos 30 anos. Em sua avaliação, os projetos pedagógicos poderiam ser mais atraentes se pautados pelo interesse dos jovens, com mais flexibilidade. “Acredito que, na tentativa de atender às vocações deles, algumas áreas do conhecimento poderiam ter mais peso do que outras, por exemplo”, esclarece.

Na contramão disso, o modelo atual ainda está longe de contribuir com o desenvolvimento integral dos jovens, como explica Geraldo Leão. “Isso não significa tirar a centralidade da educação ou das escolas, porque não é que elas não estejam entre as escolhas da juventude; é preciso garantir uma condição dialógica com a juventude para evitar o risco de perpetuarmos focos de conflito”, expõe o especialista reforçando a necessidade de gestões democráticas capazes de estabelecer outra relação com o conhecimento, que não só a conteudista, e de valorizar seus professores que hoje se deparam com condições bastante precarizadas.

Em que medida profissionalizar?
Segundo os entrevistados, a educação profissional tem um papel a cumprir na sociedade. No entanto, não pode aparecer como única alternativa, posto que a juventude deve ter assegurado o ensino médio regular. Ela deve aparecer como uma opção para esse jovem que tem a demanda pela profissionalização. “Sem isso, voltamos ao modelo fracassado de educação compulsória dos anos 70″, critica Leão. A modalidade pode acontecer integrada ao Ensino Médio, concomitante a ele – quando o aluno precisa garantir duas matrículas, uma no ensino regular e outra no modo profissionalizante-, ou subsequente, ou seja, após término da etapa escolar.

No Brasil, não há uma formação específica para o educador da etapa profissionalizante. Almério conta que aqui há um ideal de que esse professor, grosso modo, é um profissional que atua no mercado e que vem transmitir competências profissionais aos alunos. Demanda esta que, segundo ele, é ineficiente. Em sua opinião, essa modalidade educativa carece de uma política de Estado permanente, capaz de assegurar qualidade à sua oferta. “Precisaríamos de algo correlato ao que acontece na educação superior com o Programa de Financiamento Estudantil (Fies) e Prouni,” avalia. Embora reconheça a presença de programas federais de investimento, como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec), julga que os benefícios não se estendem para as instâncias administrativas.Para Almério, ofertar a educação profissionalizante é garantir um direito cidadão, uma vez que o trabalho é um dos pontos de inserção no mundo adulto. Em sua análise, a dinâmica da etapa pode apoiar o desenvolvimento integral da juventude. “Isso porque não dá para pensar na dinâmica do trabalho só a partir de habilidades com tecnologias, equipamentos e ferramentas. O desenvolvimento humano também deve ser um eixo integrador desse processo”, defende o especialista tomando como base as demandas por atuação em equipe que pedem interação, convivência e senso de coletivo. Leão entende que uma maneira dessas demandas dialogarem é permitir trabalho por projetos, situando o professor como mediador dos conhecimentos que devem ser explorados para além dos muros escolares, estabelecendo também relação com o entorno da instituição.

Ainda no campo das políticas, Geraldo Leão entende que há o que se caminhar também em relação à juventude. Para ele, avanços como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), Estatuto da Juventude, entre outras iniciativas, não exime da necessidade de se pensar esforços intersetoriais. “A juventude é um tema transversal da política, assim como a questão de gênero”, esclarece Leão, que problematiza: “como ofertar uma educação integral sem promover integração com a cultura, com o esporte, o trabalho, com a vida desse jovem, que também acontece na cidade, no território?”. Para ele, essa discussão atualmente está no campo das intenções, mas ainda longe de pautar as agendas públicas. Em sua análise, a defesa é por arranjos educativos locais que situem os indivíduos a partir de seus diversos direcionamentos morais, étnicos, raciais, espirituais, entre outros.

 

 
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