Germinal – Educação e Trabalho

Soluções criativas em Educação, Educação Profissional e Gestão do Conhecimento

Um médico sob o nazismo e a educação para o trabalho 29 de junho de 2015

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Guilherme Perez Cabral – UOL Educação – 29/06/2015 – São Paulo, SP

A qualificação para o trabalho, um dos objetivos de nossa educação, segundo a Constituição, não se reduz ao mero treinamento técnico para atender demandas imediatistas do mercado de trabalho. Nem a qualidade dessa qualificação pode ser medida, exclusivamente, pelo desempenho eficaz da tarefa especializada, sem a referência ao contexto social em que é desenvolvida.

A educação para o trabalho e o trabalho para o qual nos qualificamos deveria responder à pergunta moral sobre os valores que os envolvem, sobre os fins para os quais se prestam. Remetem à questão do compromisso que o profissional assume (ou deixa de assumir) com a sociedade.

Precisamos, sem dúvida, formar mais médicos, engenheiros, mecânicos, eletricistas, analistas de sistema, enfermeiros, contadores, numa lista sem fim de ocupações. Precisamos de especialistas em todas as áreas, desde construção de pontes até a cirurgia de mão. Eles são fundamentais. Todavia, para a construção da `sociedade livre, justa e solidária`, a que nos propomos — também de acordo com a Constituição — não basta o conhecimento técnico e especializado, fechado sobre si. É imprescindível a compreensão crítica sobre os usos que são feitos com esse conhecimento, os interesses aos quais ele serve. Afinal, eles não são neutros. Absolutamente.

A história mostra que desenvolvimento tecnológico e as grandes descobertas científicas não seguiram de par com o progresso moral. Serviram, aliás, para as maiores barbáries. Nosso século 20, o `mais assassino de que temos registro`, na lição do historiador Eric Hobsbawn, dá um sinal claro disso.

A relação entre a ciência e barbárie é muito bem retratada no documentário francês, dirigido por Emmanuel Roblin, `Ação T4: um médico sob o nazismo`. Trata do programa de extermínio de pacientes diagnosticados como doentes mentais, operado na Alemanha nazista. E narra a conivência e a participação do médico e neurocientista alemão Julius Hallervorden com o morticínio que se seguiu. Reconhecido estudioso de patologias cerebrais, no pós-guerra, seu envolvimento com o Terceiro Reich somente foi descoberto recentemente. Morreu coberto de honras.

Julius Hallervorden é um paradigma de tudo aquilo que não deveríamos ser, como profissional. É o sentido da deseducação. É verdade, ele descobriu doenças e suas curas. Mas não diagnosticou nem tratou sua própria enfermidade moral. Escolheu, dentre os pacientes internados em manicômios (muitos dos quais crianças), aqueles cujo cérebro dissecaria e estudaria, cientificamente, depois de mortos pelo regime.

No documentário, o médico é designado por `você`. De maneira muito incômoda, coloca quem o assiste na história, no papel do médico alemão. Provoca, assim, a reflexão sobre as piores consequências, diretas e indiretas, aceitas ou não, que podem acompanhar nossas escolhas e práticas profissionais. Consequências que, por vezes, preferimos ignorar, a forma fácil de nos desresponsabilizar.

Assim, o documentário nos impõe pensar em que medida, em nossa atuação profissional, não somos um pouco Julius Hallervorden. Em que medida não somos coniventes com o desrespeito aos direitos humanos que marca nosso cotidiano (e com o qual, infelizmente, nos habituamos), com as histórias de violência diariamente noticiadas, com a miséria com que nos deparamos a caminho do trabalho. Pior, em que medida não nos beneficiamos individualmente com tudo isso.

A educação deve pensar nisso, criticamente. Não pode perder de vista a justiça ou injustiça do trabalho para o qual, ainda, mais nos adestramos. Não pode abrir mão do debate sobre o compromisso que o profissional deve assumir com a melhoria do mundo no qual atua.

Dizia o Paulo Freire que quanto mais nos capacitamos como profissionais, utilizando o patrimônio cultural que nos fora legado, mais aumenta nossa responsabilidade. A qualificação para o trabalho não deveria se desligar nunca do preparo para o exercício da cidadania, aliás, outro objetivo constitucional da educação.

 

Grupo vai mapear experiências inovadoras e propor políticas 23 de junho de 2015

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Ana Cláudia Salomão – Revista Gestão Universitária – 22/06/2015 – Belo Horizonte, MG

Como parte da priorização que o ministro Renato Janine pretende conferir à inovação da educação, será realizado nesta terça-feira, 23, em Brasília, uma reunião para formação de um grupo de trabalho nacional, que deverá mapear a busca por experiências inovadoras em educação básica no país e formular diretrizes para políticas públicas nessa área.

O grupo é composto por educadores de referência nacional, sob a coordenação da assessora especial do MEC, a socióloga Helena Singer. O objetivo é criar uma rede que envolva representantes de todas as regiões do país, escolas, universidades, centros de pesquisa e organizações da sociedade na pesquisa, divulgação e fortalecimento das propostas de inovação nas práticas escolares.

O grupo discutirá a possibilidade de um chamamento, que pode ser feito por edital, para anunciar a busca pela inovação em educação básica. Outra proposta é a criação de indicadores que mostrem resultados, não só divulgando, mas incentivando a reprodução de experiências positivas.

“O ministro tem dito que educação compreende três coisas ao mesmo tempo: inclusão, qualificação e criatividade, e é necessário que essas iniciativas dialoguem”, diz a assessora. Ela observa ainda que é importante criar novas experiências em educação, fortalecendo a reprodução das que já existem.

Para caracterizar o que é uma experiência inovadora em educação – e orientar as pesquisas – Helena Singer aponta critérios. Um deles é a utilização de novas tecnologias. “A escola tem de ter perspectivas que reconheçam os estudantes como autores, não simplesmente usuários, mas produtores de cultura e conhecimento”, afirma a socióloga.

Outros critérios para definir inovação nas ações educativas são o desenvolvimento integral, que inclui os aspectos ético, afetivo, social e cultural; a associação do direito de aprender à garantia dos direitos básicos; a mediação de conflitos pelas próprias instituições escolares, com ambiente acolhedor, solidário e educativo, e a produção de cultura em seus territórios, por meio de atividades e eventos que envolvam a comunidade.

 

Escola se transforma em local de convivência e seu projeto pedagógico tem aplauso de ministro 22 de junho de 2015

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Clipping Educacional – 22.06.2015

Assessoria de Comunicação Social – MEC – Revista Gestão Universitária – 19/06/2015 – São Paulo, SP

Escola para além das paredes. Essa é a definição para o Centro Unificado de Educação e Escola Municipal de Ensino Fundamental Presidente Campos Salles, localizado em uma favela de Heliópolis, bairro da zona sudeste da cidade de São Paulo. O ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, visitou o complexo educacional na manhã desta sexta-feira, 19.

Composto por dez edifícios, o complexo reúne três creches (que atendem crianças até 3 anos), uma escola municipal de educação infantil (4 e 5 anos), uma escola de ensino fundamental (todos os anos) e uma escola de educação profissional e tecnológica. É considerado como instituição de ensino diferenciada, sem horários rígidos e grade curricular. Os estudantes têm à disposição aulas de dança, culinária, música, informática, biblioteca, centro cultural e área esportiva. Eles ainda podem andar pelo espaço de três praças, ao ar livre, com wi-fi livre.

A escola oferece aulas em todas as etapas. A partir do segundo semestre deste ano, serão ministradas também aulas de pedagogia por meio da Universidade Aberta do Brasil (UAB). O espaço, projetado pelo arquiteto Ruy Ohtaki, contou com a participação da sociedade em sua elaboração.

O ministro visitou salas de aulas e conversou com os estudantes. Ao final da visita, se disse emocionado. “Decidi vir a essa escola depois de assistir ao filme Diretor de Harmonia. Mas, pessoalmente, é ainda melhor”, afirmou. O documentário Diretor de Harmonia faz parte da série Educação.doc, dos cineastas Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky. Disponível on-line e gratuitamente no You Tube, a série conta com cinco episódios.

A Escola Campos Salles passou por muitas transformações ao longo dos anos. Era mais conhecida pelos índices elevados de violência. Em 1994, foi demolido o muro que a separava da comunidade. A partir de então, foram instituídas caminhadas anuais da paz para conscientizar a população sobre um projeto pedagógico inovador. Hoje, é um local de convivência para a comunidade e tem como princípios a autonomia, a responsabilidade e a solidariedade.

Expansão — Na capital paulista, Janine Ribeiro reuniu-se com secretários de educação de municípios da região metropolitana. Ele ressaltou a importância de expandir a construção de creches. “A meta do Plano Nacional de Educação é chegar a 50% de atendimento de crianças até 3 anos de idade”, destacou. “O ideal seria irmos além da meta e garantir o acesso a todas as crianças.”

Segundo o ministro, nesta etapa da educação infantil, um desafio adicional é a formação de professores, pois deve ser uma fase mais criativa e lúdica.

Ao lado do secretário municipal de educação de São Paulo, Gabriel Chalita, e do secretário de educação básica do MEC, Manuel Palacios, o ministro ouviu reinvindicações dos demais secretários paulistas

 

Especialistas em educação debaterão criação de base curricular nacional 18 de junho de 2015

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Clipping Educacional – 18.06.2015

Da redação – Agência Brasil – 17/06/2015 – Brasília, DF

O ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, criou hoje (17), por meio de portaria, uma comissão de especialistas para debater a definição de uma base nacional comum curricular, exigência do Plano Nacional de Educação, sancionado ano passado pela presidenta Dilma Roussef.

A base deve estabelecer os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes do ensino fundamental e médio em todo o país. O mecanismo deve ser formalizado até junho do ano que vem.

O trabalho da comissão de especialistas deve ser disponibilizado para sugestões de entidades e profissionais da educação até o documento ficar pronto.

Segundo o ministro, a base nacional comum fortalecerá a educação básica, sem interferir na autonomia e na especificidade de estados e municípios.

“O objetivo é termos elementos que definam o que a sociedade brasileira acha que deve ser ensinado em cada ano. Não é tudo, mas uma parte substancial. Uma parte dos currículos é autônoma, de modo que estados e municípios a ajustem à suas peculiaridades regionais”, acrescentou Janine.

 

Escola precisa se conectar com demandas dos jovens 17 de junho de 2015

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Clipping Educacional – 17.06.2015

Carolina Lenoir – Porvir – 16/06/2015 – São Paulo, SP

Uma nova pesquisa realizada com estudantes, professores universitários, empregadores e líderes da sociedade civil revela a necessidade de aprofundar o debate em torno de um novo modelo educacional. O estudo chamado Projeto de Vida, realizada pela Fundação Lemann, com apoio técnico do Movimento Todos pela Educação, mostra que existe uma desconexão preocupante entre o que é ensinado na escola atualmente e o que os jovens precisam saber para concretizar os seus diferentes projetos de vida.

Para a realização da pesquisa, foram feitas 126 entrevistas com jovens recém-formados no ensino médio – em sua maioria egressos de escolas públicas -, professores universitários, empregadores e líderes da sociedade civil de todas as cinco regiões do Brasil. Em comum entre os diferentes grupos de entrevistados está a percepção de que a escola tem falhado na preparação de seus alunos para a vida adulta. São muitas as queixas em relação a problemas relativos a comunicação, raciocínio lógico, conhecimentos básicos matemáticos e postura profissional vindas de professores universitários e empregadores, que recebem e convivem com os jovens recém saídos da escola, mas há também uma reflexão perturbadora feita pelos ex-alunos. “São os próprios jovens que estão afirmando que não conseguem aplicar seus aprendizados quando confrontados com diversas situações do cotidiano”, afirma o pesquisador Haroldo Torres, responsável pelo estudo.

São jovens entre 20 e 21 anos, de diferentes perfis étnicos e socioeconômicos, que se destacaram pelas notas acima da média no Enem, já estão empregados ou entraram em uma faculdade, mas ainda assim se sentem sentem mal orientados e pouco preparados para lidar com seus desafios diários. Para os professores universitários e empregadores, as lacunas de formação vão além de os jovens não saberem escrever um e-mail de trabalho, expor argumentos oralmente na faculdade ou interpretar gráficos simples de produção. “Nas entrevistas, apareceu de forma espontânea e com certa força a preocupação com as habilidades socioemocionais, especialmente atitude, proatividade, comprometimento, curiosidade, persistência”, explica Haroldo.

De acordo com a pesquisa, as lacunas percebidas tanto pelos jovens quanto por seus empregadores e professores são de natureza cognitiva, socioemocional e comportamental. No campo das deficiências cognitivas, destacam-se as relacionadas à língua portuguesa. No geral, os jovens têm muita dificuldade em compreender instruções orais e escritas, expressar-se com sentido, correção e adequação contextual tanto na fala ou quanto em mensagens escritas simples e interpretar ou expor argumentos em situações de comunicação mais complexas.

A matemática também é uma área preocupante, com queixas de todos os grupos em relação à dificuldades para realizar as quatro operações básicas, calcular percentagens, interpretar gráficos e tabelas e elaborar planilhas, além da falta de raciocínio lógico e de educação financeira para administrar o próprio salário. Já no campo das habilidades socioemocionais, destaca-se o “grande receio dos jovens em mostrar que não sabem algo e de fazer perguntas para sanar suas dúvidas. Junto dessas críticas – e, em alguns casos, derivadas delas – surgem outras, como falta de curiosidade, autonomia, comprometimento, foco, resiliência, disposição para correr riscos e se posicionar”, frisa um trecho da pesquisa.

Lições e caminhos

Além do diagnóstico dos problemas que têm impedido os jovens de concretizar seus anseios pessoais e profissionais, a pesquisa também apresenta alguns pontos importantes para o debate de um novo modelo educacional. Os jovens entrevistados insistem na necessidade de métodos de ensino mais atuais e citam como boa referência em metodologia o professor de cursinho, por dar exemplos práticos da aplicabilidade dos conteúdos e desenvolver aulas mais dinâmicas, divertidas e focadas. Para eles, músicas, vídeos, leituras de histórias e conversação devem ser usados como instrumentos de estímulo para o aprendizado, por exemplo, de idiomas, e atividades extracurriculares, como educação física e artística, devem ser exploradas como possibilidade de desenvolver a criatividade, autoconfiança, disciplina, liderança e capacidade de trabalhar em equipe.

Além disso, eles gostariam de ter recebido ajuda no encaminhamento profissional, por meio de visitas a faculdades, contato com alunos universitários e conversas com psicólogos. Também acreditam ser importante ter noções sobre o mundo corporativo antes de ingressar no mercado de trabalho, com aulas sobre como estruturar projetos, montar slides, trabalhar em equipe e se portar numa entrevista de emprego, por exemplo.

Para os professores universitários, empregadores e representantes de ONGs que participaram da pesquisa, a tecnologia é uma janela de oportunidade não só para o engajamento nos estudos, mas para o aprimoramento dos conhecimentos. Eles elogiam as habilidades dos jovens no uso de recursos tecnológicos e a capacidade de se adaptar rapidamente a novas plataformas, mas destacam que ainda falta o domínio de algumas ferramentas específicas, como o Excel, bastante valorizado no mercado de trabalho, e o uso intensivo do celular e da internet para assuntos pessoais durante as aulas e o expediente de trabalho.

A pesquisa, que pretendeu fazer um mapeamento do legado do ensino básico para os jovens brasileiros, traz também algumas lições úteis à elaboração de uma Base Nacional Comum. “Os resultados da pesquisa contribuem para o debate sobre o que, afinal, a sociedade espera que os alunos aprendam na escola, para que consigam ter uma vida plena e produtiva após a conclusão da educação básica”, afirma Denis Mizne, diretor Executivo da Fundação Lemann.

Para isso, a pesquisa contou com a contribuição e análise das especialistas em currículo Delaine Cafiero Bicalho, doutora em Linguística e professora da Faculdade de Letras da UFMG, e Maria Ignez Diniz, doutora em Matemática e professora do Instituto de Matemática e Estatística, da USP. De acordo com as especialistas, os resultados mostram que o currículo atual é conteudista e não desperta interesse nos jovens. Especialmente as entrevistas dos jovens reforçam que os currículos que predominam nas escolas atualmente são extensos, pouco aprofundados e não favorecem a integração entre as diferentes áreas do conhecimento. Além disso, disciplinas diferentes requerem diferentes formas de raciocínio e reflexão.

Para elas, a Base Nacional Comum deve detalhar não apenas os conhecimentos a serem trabalhados nas escolas, mas também quais habilidades os alunos devem desenvolver com os conceitos e conteúdos ensinados. Além disso, ela deve garantir uma integração mais clara entre as diferentes áreas, para que os conhecimentos e as habilidades sejam trabalhados de forma mais integrada e menos segmentada. “Na Base Nacional Comum, é desejável que a organização dos conteúdos seja hierarquizada, mas as habilidades que esses conteúdos mobilizam precisam ser construídas em rede. A Base precisa apresentar com clareza a relação das habilidades com os conceitos e conteúdos a serem ensinados”, destaca um trecho da pesquisa.

Especialmente em relação às duas áreas mais preocupantes quanto às lacunas cognitivas de aprendizado – língua portuguesa e matemática -, as especialistas destacaram pontos que devem ser considerados para a elaboração da Base Nacional Comum. De acordo com Delaine, o foco do ensino da língua portuguesa precisa estar no ensino de estratégias para resolver problemas comunicativos. “A língua portuguesa deve ser ensinada como um recurso que se adapta a diferentes usos, não como algo fixo e descolado da realidade. Um caminho para se ensinar os diversos usos da língua ao longo dos anos de ensino básico é organizar um currículo baseado no uso de textos variados, tanto os que circulam no cotidiano quanto os da literatura.” Sobre o hábito da leitura, a especialista aponta que o fenômeno dos best-sellers juvenis demonstra que uma boa parte dos jovens já é leitora. “É preciso apenas motivar seu interesse por outros estilos textuais. Para além de desenvolver a habilidade de leitura, uma base comum deve se preocupar em formar leitores de literatura – inclusive a clássica.”

Em relação à matemática, Maria Ignez destaca que tanto os jovens quanto seus professores e empregadores veem a matemática como um conhecimento para se aplicar em situações-problema. “Os jovens entendem como situações-problema tarefas simples exigidas no trabalho ou na faculdade, como aplicar descontos e ler planilhas. Em sua visão, elas deveriam ter sido ensinadas na escola e não foram e, portanto, falta-lhes repertório. Já o professores e empregadores entendem por situações-problemas tarefas novas e relativamente complexas propostas aos jovens, como controlar o próprio salário, argumentar a partir de dados quantitativos, usar raciocínio lógico e abstrato para esquematizar um problema e propor soluções. Para resolvê-las, os jovens deveriam ser capazes de selecionar e mobilizar conhecimentos ensinados na escola, ou seja, na perspectiva dos professores e empregadores, falta aos jovens mais do que um banco de conhecimentos. Falta-lhes uma grande competência que lhes permita articular teoria e prática por conta própria.”

Para a especialista, essa grande competência não se desenvolve naturalmente e precisa ser ensinada pela escola, por meio de uma série de etapas: identificar o problema; mobilizar as informações necessárias para entendê-lo e resolvê-lo; estabelecer uma estratégia de ação para solucioná-lo; aplicar essa estratégia; monitorá-la e tirar uma lição de todo esse processo (a consciência do aprendizado). “Se cada uma dessas etapas não é ensinada, o aluno pode fracassar por que não sabe que tipo de conhecimento precisa mobilizar em determinada situação. A resolução de problemas deve ser uma competência prevista na Base Nacional Comum como objetivo de todas as séries e com níveis de complexidade adequados a cada etapa da escolaridade. E precisa ser ensinada de forma intencional, não subentendida”.

 

Conheça cinco escolas que dialogam com a cidade através de seus projetos arquitetônicos 15 de junho de 2015

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 11:29 pm

Clipping Educacional – 09.06.2015

Danilo Mekari – Portal Aprendiz – 08/06/2015 – São Paulo, SP

Uma verdade que vale tanto para o professor como para o estudante, o gestor ou o funcionário: estar à vontade na sala de aula e se sentir confortável dentro da escola é essencial para o desenvolvimento da educação. Se muitas instituições de ensino já repensam os projetos arquitetônicos de acordo com a vontade de seus protagonistas, também existem escolas que buscam uma arquitetura mais harmonizada com a comunidade ao redor, dialogando com a cidade e, fundamentalmente, expandindo os espaços de aprendizagem para além de seus espaços tradicionais.

Em entrevista ao Portal Aprendiz em julho de 2014, o arquiteto uruguaio Pedro Barrán defendeu a possibilidade de a arquitetura tornar a educação mais flexível. “Que você possa armar distintos grupos de trabalho em um mesmo espaço, que a professora possa atender aos alunos que realmente não entendem as matérias e que têm grandes dificuldades, onde haja um espaço para essa atenção mais pessoal.”

Barrán também defende o uso da cidade como espaço de aprendizagem. “É muito importante que os alunos sigam aprendendo nos ambientes externos da escola. Que façam passeios pela cidade, no zoológico, no museu, a uma granja, a um estádio. Isso encanta as crianças e facilita o seu aprendizado.”

O Portal Aprendiz listou cinco escolas que demonstram a preocupação com o ambiente ao redor e integração com a vizinhança. Espalhados pelo mundo, esses espaços de ensino valorizam o conhecimento comunitário e trazem a cidade para dentro da escola.

#1 Creche Municipal Velez-Rubio

As bolas coloridas e envidraçadas nas paredes da Creche Municipal de Velez-Rubio, escola de ensino infantil no interior da Espanha, fazem as crianças se sentirem em uma gigante casa de brinquedos. O pé-direito duplo adaptou a altura da escola aos edifícios da vizinhança e amplificou o espaço interno, trazendo luz natural para o ambiente escolar.

Os alunos são divididos em três grupos, de acordo com a idade, e há ambientes compartilhados por todos, como o refeitório e o pátio. As oito salas de aulas, separadas por cortinas de plástico, são conectadas com espaços ao ar livre, permitindo uma maior circulação.

Durante o dia, a escola é colorida pelo efeito do reflexo da luz solar nas bolas vermelhas, azuis, amarelas e verdes. À noite, a iluminação do espaço deixa o quarteirão mais atraente. As paredes internas possuem pinturas de 1,30 metros (a altura da visão espacial da criança). No teto, a Guardería instalou um sistema de captação de energia solar que ajuda a esquentar a água da escola, reduzindo assim os gastos em energia.

#2 Escola Primária para Ciências e Biodiversidade

Dedicada à pré-escola e ao ensino fundamental, a Escola Primária para Ciências e Biodiversidade, localizada em Boulogne-Billancourt (um bairro de Paris, capital francesa), aposta em uma nova tendência: o retorno da biodiversidade para as áreas urbanas. “Mais do que qualquer outro projeto, a construção de uma escola é uma oportunidade de repensar as conexões conceituais fundamentais entre poesia, educação e natureza, inspirando-se com novos impulsos estéticos”, escreveram os responsáveis pelo projeto.

Para eles, o espaço recria um ecossistema funcional como um lugar de aprendizagem – um local onde as crianças desenvolverão seus potenciais e, como um centro social, receberá os moradores locais, já que o ginásio será aberto a eles. Há também a conexão entre dois playgrounds ao ar livre – um para os alunos mais velhos, outro para os mais novos.

“A escola serve como um elemento unificador em uma paisagem onde a flora e a fauna desempenham um papel vital na orientação do desenvolvimento para o resto da área.”

#3 Binh Duong School

O projeto arquitetônico da escola de Binh Duong, município vietnamita próximo à cidade de Ho Chi Minh, esforçou-se por não impor fronteiras entre o ambiente escolar e a floresta tropical que o cerca. Afinal, é na sombra das árvores que as garotas e garotos da região gastam o tempo livre.

A escola se espalha por mais de cinco mil m² e tem capacidade para cerca de 800 estudantes. O formato das paredes valoriza a natureza, permitindo a entrada de luz solar e vento, e os professores e alunos podem se encontrar nos espaços livres da escola.

#4 Escuela de San Felipe Chenla

Nas montanhas da Guatemala, o estado de El Quiché guarda grande parte do legado da cultura maia no país. Em busca de uma educação de melhor qualidade para a região, as antigas salas de aula das escolas locais foram totalmente reformuladas por um projeto da Agência de Cooperação Internacional da Coreia do Sul.

Na escola de San Felipe Chenla, os materiais escolhidos para as obras deveriam ornar com o verde claro das florestas de Nebaj e também com as casas da comunidade. De acordo com seus idealizadores, o projeto reforça a relação entre topografia, cultura e modos de uso do espaço.

#5 APAP Open School

Um dos rios que banha a cidade de Anyang (Coreia do Sul) também serve de espaço de aprendizado para os alunos da escola aberta de APAP. Formada por contêineres de navios, a estrutura da escola foi posicionada ao lado do curso d’água para que os alunos e professores ativem e utilizem esse espaço educativo

 

Pesquisa revela insatisfação com excesso de teoria e falta de prática do atual modelo de ensino Estudo mostra como jovens enxergam a educação no Brasil

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 7:39 pm

Clipping Educacional – 15.06.2015

por Raphael Kapa – O Globo – 15/06/2015 – Rio de Janeiro, RJ

. Há excesso de conteúdo, e pouco espaço para desenvolver habilidades que permitam a eles usar o conhecimento em atividades práticas. É desta forma que o jovem vê o ensino básico no Brasil, segundo a pesquisa Projetos de Vida, feita pela Fundação Lemann, com o objetivo de contribuir para as discussões de reforma do currículo em andamento na construção da Base Nacional Comum (BNC). A visão negativa aparece não apenas no depoimento dos que acabaram de entrar na faculdade. Ela também é compartilhada por especialistas, professores universitários, empregadores e ONGs. Ou seja, todos concordam que o atual modelo não prepara os jovens para a vida. Há excesso de conteúdo e pouco espaço para desenvolver habilidades.

— A sociedade espera que os jovens sejam capazes de aplicar os conhecimentos aprendidos na escola em situações reais. Na universidade, professores esperam que os jovens consigam, por exemplo, articular suas opiniões e se expressar com clareza para defender um argumento em sala — afirma Camila Pereira, diretora de Políticas Educacionais da fundação. — Um jovem no seu primeiro emprego quer usar seus conhecimentos de matemática para interpretar gráficos e tabelas. A sociedade espera que os jovens saiam da escola tendo desenvolvido uma série de habilidades, não tendo aprendido apenas uma lista de conteúdos.

O levantamento foi feito a partir de 126 entrevistas em profundidade com jovens, empregadores, professores universitários, especialistas e ONGs.

Os próprios estudantes afirmaram que sentiram deficiências em suas formações. Além do entendimento de que a escola não forma o jovem para a vida, outras conclusões da pesquisa são a percepção de que a escola usa métodos atrasados e inadequados. Apareceu também, principalmente por parte de empregadores e professores, a demanda por habilidades socioemocionais, como foco, persistência, autonomia e curiosidade.

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A pesquisa entrevistou jovens com boas notas no Enem. Foram eles que afirmaram que a escola não prepara, não traz autonomia e não faz com que o aluno descubra suas aptidões. Como contraponto, pedem aulas mais dinâmicas, exemplos práticos e professores que troquem experiência sobre o que acontece após a entrega do diploma.

Karina Madruga, de 17 anos, já viveu entre os dois mundos. Ela reclama que seu antigo colégio era conteudista e que tudo se resumia a testes e provas. Atualmente no 2º ano do ensino médio da Escola Estadual Chico Anysio, considerada uma unidade de referência no Rio, a aluna afirma que a educação pode ser diferente.

— Num todo, a escola é atrasada, mas há exceções. Já estudei em um colégio cujo único objetivo era ter uma boa nota na prova. Hoje, vejo que o colégio pode ser um lugar para o desenvolvimento de habilidades positivas como o trabalho em equipe, a iniciativa e a busca pelo conhecimento. Isso tudo sem ser estimulada uma competição como nas escolas tradicionais — afirma Karina, que sonha em cursar Direito na Uerj e ter seu próprio escritório.

PARA FACULDADES, POSTURA É MAIS IMPORTANTE

Esse desenvolvimento de habilidades é visto como fundamental para professores universitários e empregadores. Falta de entendimento de instruções, dificuldades para se expressar e medo de repreensão são três das dificuldades vistas no jovem formado quando vai para a faculdade ou está em seu primeiro trabalho, de acordo com o levantamento.

— Penso que a escola tem que ser um local onde o aluno tenha uma formação boa em conteúdo, mas também crie e aprimore competências. Ele deve começar a desenvolver autonomia, comprometimento, proatividade e trabalho em equipe nesse período. Não é para ele se formar e já ser excelente nessas habilidades, mas não pode ser algo que começa do zero — afirma Jacqueline Resch, diretora da consultoria Resch, especializada em recrutamento, que a pedido do GLOBO comentou os resultados da pesquisa.

A situação no ensino superior também não é favorável para o atual aluno oriundo do ensino básico. Na pesquisa, os professores universitários afirmaram que o estudante precisa ser proativo e se antecipar às ordens, além de executar as tarefas de forma adequada. Para eles, a postura é mais importante do que o conhecimento específico.

Henrique Neto, chefe do Centro de Graduação da Fundação Getúlio Vargas, concorda com o diagnóstico da pesquisa:

— O colégio prepara o aluno para fazer o Enem e não para ver o mundo. Muitas vezes é dada para a universidade a responsabilidade de realfabetizar o aluno. A formação tem que pensar na autonomia, na resiliência, na ética. Temos que voltar à pergunta principal: ensinar o quê? Esta discussão precisa ser feita pela sociedade para que o aluno formado possa ser um profissional e um cidadão melhor.

Foi nesta perspectiva que a pesquisa entrevistou ONGs para saber o que falta na formação dos jovens para que sejam cidadãos mais atuantes.

— O colégio tem que ser mais formativo, se pautar em valores. A escola de hoje não oferece isso, mas não é culpa dela. É do modelo. Ele está voltado para um saber acadêmico direcionado a uma escola que era só para as elites. A sociedade mudou, mas o modelo escolar não. O colégio tem que passar a pensar as habilidades que este jovem pode desenvolver — diz Maria Thereza Marcilio, gestora da ONG Avante, direcionada a direitos educacionais.

Apesar dos vários problemas apontados, a solução parece ter um ponto inicial comum: um novo modelo educacional. Em termos práticos, os autores da pesquisa veem na construção da Base Nacional Comum (BNC) uma matriz sobre o essencial a ser aprendido, uma oportunidade para que a escola deixe de ser alvo de críticas.

— A BNC, que começou a ser construída pelo MEC, é uma grande oportunidade para reduzir a desconexão entre o que é ensinado nas escolas e as habilidades realmente essenciais para os jovens. Como ela deve ser parte dos currículos de todas as escolas do país, se essa base tiver grande qualidade e definir os conhecimentos e habilidades essenciais que todos devem aprender, ela pode ajudar o Brasil a avançar bastante — afirma Camila Pereira.

 

Desgosto pelo estudo 3 de junho de 2015

Filed under: Sem categoria — José Antonio Küller @ 1:29 pm

Antônio Gois – O Globo – 01/06/2015 – Rio de Janeiro, RJ

Razão mais citada entre jovens para explicar por que abandonaram a escola é simplesmente não gostar dela

Quase um terço dos brasileiros entre 15 e 19 anos estão fora da escola. Em números absolutos, são 5,5 milhões de jovens que, por diversos motivos, não frequentam mais uma sala de aula. O que mais preocupa nessa estatística, tabulada a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, é que só 40% desses que pararam de estudar concluíram ao menos o ensino médio. A maioria tem apenas o diploma de ensino fundamental (27%) ou nem isso (33%). Caso não voltem a estudar, são sérios candidatos a engrossarem estatísticas de desemprego ou trabalho precário para o resto de suas vidas.

Os motivos que levam esses jovens a desistirem do estudo ainda precisam ser melhor investigados. Uma certeza, porém, já podemos ter: o problema principal não é falta de vagas. Numa pesquisa feita em 2012 pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) para acompanhar suas ações e programas (a PADS), foi incluída uma pergunta sobre as razões do abandono escolar. Dos jovens de 15 a 19 anos fora da escola, apenas 3% disseram que não haviam conseguido uma vaga ou que aguardavam transferência.

Das razões externas à escola, a gravidez (9%) ou a necessidade de cuidar da própria saúde ou de alguém doente (5%) aparecem como relevantes. Esses dois motivos são especialmente citados entre os jovens mais pobres, segmento em que respondem, juntos, por 16% dos casos de evasão. Entre os mais ricos, das classes A e B, a taxa é zero. Dentre os motivos extraescolares, não surpreende que a razão mais citada seja o abandono do estudo para trabalhar, explicação dada por 28% dos jovens brasileiros.

No que diz respeito à escola, é grave constatar que a razão mais citada, por 28% dos jovens evadidos, foi simplesmente “não gostar de estudar”. E há ainda outros 2% que disseram ter “desanimado” após seguidas reprovações.

Não é a primeira vez que uma pesquisa nacional aponta o desinteresse pelo estudo como causa principal, à frente do trabalho ou da falta de vagas, para a evasão escolar entre jovens. Em 2006, ao investigar o assunto, o IBGE detectou que 34% dos brasileiros de 15 a 19 anos estavam fora da escola porque não queriam estudar. Os que citaram o trabalho foram 21%, e a falta de vagas apareceu, naquele ano, apenas em 3% das respostas. Ainda que as duas pesquisas, do IBGE e do MDS, não sejam perfeitamente comparáveis, elas contam, ao final, a mesma história.

Considerar essa realidade é ainda mais relevante num contexto em que o país se mobiliza para tentar garantir que todo brasileiro de 15 a 17 anos esteja na escola. A meta consta do Plano Nacional de Educação (PNE) e deveria ser atingida no ano que vem, mas já sabemos que não será alcançada no prazo. No caso de crianças pequenas, a vontade dos pais, a oferta de vagas pelo poder público e a atuação da Justiça na garantia do direito de estudar são, na maioria dos casos, estratégias suficientes. Mas, no caso do jovem, se ele não quer estudar, nada disso adianta.

Outra estratégia ineficaz para esse público é apenas ampliar a jornada escolar. A meta também aparece no PNE, sendo uma das que mais demandará recursos públicos. Sem melhoria da qualidade do ensino e sem reformulação desse currículo repleto de conteúdos inúteis para boa parte dos alunos, insistir em oferecer mais do mesmo para um jovem que diz não gostar da escola será apenas perda de tempo e dinheiro.

 

 
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