Germinal – Educação e Trabalho

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Ceará implementa os Protótipos Curriculares de Ensino Médio 24 de agosto de 2012

O site do Instituto Aliança veiculou a seguinte notícia:

Alunos do ensino médio de 12 escolas do Ceará tiveram, em 2012, um aumento na carga horária para incluir aulas obrigatórias de metodologia de pesquisa e preparação para o mundo do trabalho, ao longo dos três anos de ensino médio. O programa, ainda piloto, chama-se Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais e foi criado pelo Instituto Aliança em parceria com a Secretaria de Educação do Estado do Ceará, como parte do processo de transferência da tecnologia do Com.Domínio Digital para a rede pública de ensino médio do Estado, tendo como matriz referencial os “Protótipos Curriculares para o Ensino Médio” produzido pela Unesco com o apoio do Ministério da Educação.

(…)

Dando continuidade à implementação dessa nova experiência, nos dias 19 e 20 de junho a Coordenadoria de Desenvolvimento da Escola e da Aprendizagem da SEDUC promoveu um seminário para discutir essa proposta de reorganização curricular do ensino médio, com a participação da UNESCO, Instituto Aliança e Instituto Unibanco, gestores e educadores. Neste encontro, Marilza Regattieri, oficial de Projetos do Setor de Educação da Representação da Unesco no Brasil fez uma apresentação da proposta dos Protótipos Curriculares para o Ensino Médio e
mostrou-se emocionada ao visitar a experiência de reorganização curricular piloto do Ceará com base na abordagem dos “Protótipos” desenhada pela UNESCO.

“No seminário a ideia foi refletir sobre o contexto de Reorganização Curricular no estado do Ceará e buscar estruturar a integração entre este processo e as diversas propostas existentes na rede: Protótipos da UNESCO, Com.Domínio Digital, E-Jovem e o Projeto Jovem de Futuro do Instituto Unibanco”, afirma Rogers Mendes, Coordenador de Aperfeiçoamento Pedagógico da Secretaria de Educação do estado.

A notícai completa pode ser lida clicando aqui.

 

Brasil tem maior taxa de reprovação no ensino médio desde 1999 18 de maio de 2012

Filed under: ensino médio — José Antonio Küller @ 5:52 pm
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Do G1, em São Paulo – G1 Globo.com – 16/05/2012 – Rio de Janeiro, RJ

Em 2011, 13,1% de todos os estudantes matriculados em algum ano do ensino médio estavam repetindo a mesma série feita em 2010. A taxa de reprovação no ensino médio, incluindo tanto a rede pública quanto as escolas particulares, foi divulgada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) na tarde de segunda-feira (14) em seu site, com base nas informações do Censo Escolar 2011.

Esse é o pior índice desde 1999, primeiro ano com dados disponíveis no site do Inep. Entre 2006 e 2007, o órgão alterou a metodologia e adotou a taxa de rendimento em vez de índices de evasão escolar. Porém, o número de alunos repetentes no ensino médio, que desde 2007 oscilava em cerca de 12%, acabou sofrendo um leve salto depois de cinco anos.

Para continuar lendo a notícia, clique aqui.

 

A Nova Flauta 23 de agosto de 2011

 

Gostei desde sempre do texto reproduzido a seguir. Considerando o tema central (ensinar e aprender) esse gostar é facilmente explicado. Esse é o tema que mais interessa a todo educador. Considerada a forma de aprender e ensinar mostrada no texto, esse gostar é menos explicável. Por que essa forma de ensinar me agrada? Por que essa forma de aprender me parece razoável?

 

Um deus pode fazê-lo. Mas como um homem pode penetrar as cordas da lira?(RILKE)

Uma nova flauta foi inventada na China. Descobrindo a sutil beleza de sua sonoridade, um professor de música japonês levou-a para o seu país, onde dava concertos por toda parte. Uma noite, tocou com uma comunidade de músicos e amantes da música que viviam numa certa cidade. No final do concerto, seu nome foi anunciado. Ele pegou a nova flauta e tocou uma peça. Quando terminou, fez-se silêncio na sala por um longo momento. Então, a voz do homem mais velho da comunidade se fez ouvir do fundo da sala: “Como um deus!”

No dia seguinte, quando o mestre se preparava para partir, os músicos o procuraram e lhe perguntaram quanto tempo um músico habilidoso levaria para aprender a tocar a nova flauta. “Anos”, ele respondeu. Eles lhe perguntaram se aceitaria um aluno, ele concordou. Depois que o mestre partiu, os homens se reuniram e decidiram enviar-lhe um jovem e talentoso flautista, um rapaz sensível à beleza, dedicado e digno de confiança. Deram-lhe dinheiro para custear suas despesas e as lições de música, e o enviaram à capital, onde o mestre vivia.

O aluno chegou e foi aceito pelo professor, que lhe ensinou uma única e simples melodia. No início, recebeu uma instrução sistemática, mas logo dominava todos os problemas técnicos. Agora, chegava para a sua aula diária, sentava-se e tocava a sua melodia – e tudo o que o professor lhe dizia era: “Falta alguma coisa”. O aluno se esforçava o mais que podia, praticava horas a fio, dia após dia, semana após semana, e tudo o que o mestre dizia era: “Falta alguma coisa”. Implorava ao mestre que escolhesse outra música, mas a resposta era sempre “não”. Durante meses e meses, todos os dias ele tocava e ouvia “Falta alguma coisa”. A esperança de sucesso e o medo do fracasso foram se tornando cada vez maiores, e o aluno oscilava entre a agitação e o desânimo.

Finalmente, a frustração o venceu. Ele fez as malas e partiu furtivamente. Continuou a viver na capital por mais algum tempo, até que seu dinheiro acabou. Passou a beber. Finalmente, empobrecido, voltou à sua província natal. Com vergonha de mostrar-se a seus antigos colegas, foi viver numa cabana fora da cidade. Ainda mantinha sua flauta, ainda tocava, mas já não encontrava nenhuma nova inspiração na música. Camponeses que por ali passavam ouviam-no tocar e enviavam-lhe seus filhos para que ele lhes desse lições de música. E assim ele viveu durante anos.

Uma manhã, bateram à sua porta. Era o mais antigo mestre da cidade, acompanhado de seu mais jovem aluno. Eles lhe contaram que naquela noite haveria um concerto e que todos haviam decidido que não tocariam sem ele. Depois de muito esforço para vencer seu medo e sua vergonha, conseguiram convencê-lo, e foi quase num transe que ele pegou uma flauta e os acompanhou. O concerto começou. Enquanto esperava atrás do palco, no final do concerto, seu nome foi anunciado. Ele subiu ao palco com fúria. Olhou para as mãos e percebeu que havia escolhido a nova flauta.

Agora ele sabia que não tinha nada a ganhar e nada a perder. Sentou-se e tocou a mesma melodia que tinha tocado tantas vezes para o mestre no passado. Quando terminou, fez-se silêncio por um longo momento. Então, a voz do homem mais velho se fez ouvir, soando suavemente do fundo da sala: “Como um deus[1]!”


[1]Nachmanovitch, Stephen. Ser Criativo. São Paulo, Summus Editorial, pág. 13 à 15.

 

Secretários estaduais apoiaram proposta do CNE que pede flexibilização de currículo e ênfase em trabalho, ciência e cultura 31 de março de 2011

Matéria de Cinthia Rodrigues, publicada no iG São Paulo, em  30/03/201, informa:

As diretrizes brasileiras para o Ensino Médio, em vigor desde 1998, devem ser substituídas nas próximas semanas. Conforme adiantou o iG, o novo texto vai enfatizar que não há uma grade currícular fixa para a etapa e incentivar que cada escola ou rede monte o próprio currículo com ênfase em trabalho, ou em ciência e tecnologia ou em cultura.

A proposta está em estudo pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) há 8 meses e aguardava um retorno das secretarias de educação estaduais – responsáveis por mais de 90% das matrículas desta etapa – que receberam o documento após a posse dos novos titulares da pasta, em janeiro. Nesta quarta-feira, o projeto foi apresentado pelo relator, José Fernandes de Lima, em reunião do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) que ocorre em Palmas, no Tocantins.

“Com algumas sugestões de mudança de redação, eles aprovaram a essência do projeto”, diz Lima. “Há um consenso de que é preciso mudar algo para tornar esta fase mais atrativa para o adolescente.” O ensino médio tem os piores indicadores de aprendizado e conclusão da educação brasileira: apenas metade dos matriculados concluí os estudos e 10% aprende o que seria o mínimo adequado segundo as expectativas vigentes.

Veja o restante da matéria clicando aqui.

 

Ensino médio afasta aluno da escola 23 de fevereiro de 2011

O Portal IG – Educação está publicando uma série de artigos sobre o Ensino Médio brasiliero. É dessa série de artigos o segmento de texto adiante reproduzido e a imagem inserida ao lado.

Até a 8ª série, Evelyn Manuel Rodrigues era a típica boa aluna, com caderno caprichado, gosto pelos estudos e notas acima da média. Na 1ª série do ensino médio, seu rendimento caiu, faltou várias vezes às aulas, chegou atrasada tantas outras, acabou reprovada e desistiu de estudar. Longe de ser uma exceção, ela entrou para um grupo que consiste na metade dos estudantes desta etapa de ensino: os que desistem antes de terminá-la. A escola não consegue manter o interesse dos adolescentes.

A falta de atratividade é tema da segunda reportagem da série do iG Educação sobre o ensino médio. Além dos alunos que deixam de estudar nesta fase, muitos dos que ficam não demonstram vontade de aprender, o que contribui diretamente para torná-la a pior etapa da educação brasileira.

Para ter acesso ao artigo completo, cligque em Ensino médio afasta aluno da escola – Educação – iG.

Leia também os osutros artigos da série:

Terça-feira: Por que o adolescente perde o interesse pela escola?
Quarta-feira: O que significa a má qualidade indicada nos índices?
Quinta-feira: Falta o mínimo: professores qualificados
Sexta-feira: Iniciativas que podem mudar este quadro

 

Educadores do Brasil – Antonio de Sampaio Doria 23 de setembro de 2010

Texto de Luís Mauro Martino, também disponível no site Navegando na História da Educação Brasileira.


Responsável pela reforma do ensino público paulista, educador é pouco conhecido mesmo do público especializado.

A luta pela democracia que o levou ao exílio foi sua principal preocupação ao iniciar, em 1920, a primeira – dentre várias que se seguiriam – tentativa de reforma do ensino público no Brasil. No começo da República a educação pública era um tema secundário, a ponto de estar vinculada ao Ministério dos Correios e Telégrafos. Além disso, cabia aos estados a organização dos sistemas de ensino em todos os níveis. Só que o governo federal podia fazer o mesmo, criando assim o campo para conflitos futuros.

Convidado pelo governo do Estado para coordenar a reforma do ensino paulista, Sampaio Dória teve a oportunidade de aplicar suas idéias educacionais. Sistematizado na lei nº 1750, de 8 de dezembro de 1920, a ação trouxe várias novidades e procedimentos ainda hoje vigentes.

Sua principal preocupação, dentro ou fora da reforma realizada, era a maneira de ensinar. Segundo o professor Lourenço Filho, uma dos principais interesses de Sampaio Doria era “tornar mais completo o aprendizado da arte de ensinar”. O próprio educador afirmou, no I Congresso Interestadual de Ensino, em 1922, que “o capítulo máximo da pedagogia era a didática, a metodologia do ensino, a prática pedagógica”.

“Governo democrático e ignorância do povo são duas coisas que se chocam, se repulsam, se destroem… Como um povo pode se organizar se não sabe ler, não sabe escrever, não sabe contar?” Sampaio Dória, in Questões de Ensino (1921)

Esse modelo, porém, teve um ponto positivo: deixando aos estados sua própria organização, ao contrário do que aconteceu no 2o Império, o governo permitiu que novas idéias fossem aplicadas e novas experiências fossem feitas.

A primeira delas foi a de Sampaio Dória. Apesar de ter se formado advogado, ele estava muito mais interessado em filosofia e problemas sociais do que em qualquer ramo do direito.

O trabalho começou com um recenseamento educacional, o primeiro realizado no Brasil. A criação das delegacias de ensino, existentes até hoje, também foi obra sua. Criou também, em consonância com suas preocupações, as “Escolas de Alfabetização” – com o objetivo de erradicar o que ele considerava o mais grave problema educacional do país. Unificou as antigas Escolas Normais, que formavam professores, e sistematizou a prática pedagógica. Chegou mesmo a instituir uma Faculdade de Educação para a formação de professores, mas o projeto não saiu do papel.

Influenciado pelas teorias da chamada “Escola Nova”, Sampaio Dória procurava o equilíbrio na relação pedagógica. Sem considerar o aluno como um ser passivo, era contra, porém, deixa-lo à própria sorte. O professor não deve centralizar o ensino na própria pessoa, mas também não pode, sob pretexto de “deixar os alunos descobrirem tudo”, esquecer de dar aula. Com um pouco de sorte, explica, um aluno levaria séculos para descobrir tudo o que deveria saber.

Para o educador, a aprendizagem só acontece quando o conhecimento racional e as informações dos sentidos trabalham juntos. Há certas coisas – calor e frio, por exemplo – que podem ser apreendidos pelos sentidos. Outros conceitos, porém, como idéias de liberdade ou de imortalidade, só podem ser adquiridos pelo raciocínio. Na escola, ambos devem ser cultivados pelo educador. A demonstração do professor deve acompanhar a dedução do aluno, sem que uma se sobreponha à outra.

“Na cooperação do professor e do estudante há uma justa medida de esforços recíprocos. Ao educador cabe a direção; ao educando, a realização”, escreveu Sampaio Dória. Ao contrário de outros pedagogos influenciados pela Escola Nova, ele coloca os deveres do professor ao lado dos deveres do aluno. Caberia ao educador sugerir atividades, criar ambiente de estudo e dirigir o esforço dos educandos. Os alunos, por sua vez, devem obedecer às sugestões e exercer atividades próprias – “quando alguém aprende a dançar, não adianta nada o mestre dançar por ele”, escreveu, em seu livro Educação, de 1933.

Na igualdade de tarefas entre professores e alunos, há um elemento comum: o conhecimento deve sempre partir da realidade para a teoria. É a partir da observação, realizada pelo aluno, que todo o processo de conhecimento tem início. “O professor só é eficiente se for compreendido. Só é eficiente o professor que fizer seus alunos observarem o que ensina e se escolher, para a observação, realidades que permitam análises espontâneas”, completa Dória, destacando a necessidade do exemplo explicativo.

E quando a aula trata de algo que não pode ser observado – uma aula de História, por exemplo? “No ensino daquilo que não puder estar materialmente presente ao observador, ou que não puder ser representado em forma perceptível pelos sentidos, cabe à palavra evocar vestígios do que se tenha observado, sugerindo, a partir daí, conhecimentos novos”, responde.

O professor deve utilizar palavras e conceitos que o aluno já conhece para desenvolver novas idéias. Não adianta simplesmente falar; ele deve encontrar, dentro do que o aluno já sabe, as palavras necessárias para a formulação das informações.

A liberdade de aprender não deve ser confundida com o caos pedagógico. A escola deve estimular o aluno, mas não deixar que ele faça o que quer. Afinal, justifica, se o aluno vai viver em sociedade, deve estar acostumado desde cedo a não fazer tudo o que quer.

A educação moral, nesse particular, é uma das maiores preocupações de Sampaio Dória, a ponto de ter dedicado, em 1928, todo um livro sobre o assunto.

A moral, para o educador, está ligada ao conhecimento. A disciplina é necessária, não apenas na escola, mas em toda a vida social. À medida que a compreensão da criança aumenta, pais e professores devem passar da ordem à advertência. Quando as crianças são pequenas, não adianta adverti-las, é preciso instituir sanções imediatas. Conforme a criança vai crescendo, as ordens devem ser substituídas por advertências, deixando a escolha ao livre arbítrio da criança.

“Querer que, na escola, as crianças façam o que lhes venha à cabeça, aprendam o que lhe der na telha, seria querer a anarquia, o caos e a ineficiência educativa. Não há vida social sem disciplina”.

Quem foi Sampaio Doria

Nascido em Belo Monte, Alagoas, em 1923, Antonio de Sampaio Doria veio para São Paulo ainda criança, onde concluiu o curso primário e fez os estudos secundários. Matriculou-se em 1904 na faculdade de Direito, formando-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1908. Nessa época, iniciou sua atividade no magistério, como professor no ginásio Macedo Soares e na Escola de Comércio Álvares Penteado. A advocacia não o atrai, e Sampaio Dória vai para o Rio de Janeiro, onde se torna redator de O Imparcial. O jornalismo também não o agradou. De volta a São Paulo, em 1914, tornou-se professor na Escola Normal da Praça da República. Em 1920, foi nomeado diretor geral da instrução pública paulista, cargo que ocupou até 1926, quando, via concurso, tornou-se catedrático de Direito Constitucional na Faculdade de Direito de São Paulo. Exonerado por Vargas em 1938, partiu para o exílio. Faleceu em 1964.

Encontrar informações sobre Sampaio Doria é como montar um quebra-cabeça. Apesar de sua importância no ensino brasileiro, ele é praticamente desconhecido. Enquanto Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo, que realizaram reformas educacionais semelhantes, são ainda hoje lembrados e estudados, o reformador do ensino público de São Paulo está esquecido. É citado de passagem em livros sobre a História da Educação Brasileira, como o de Nelson e Claudino Pilleti.

Seus livros estão esgotados há anos. Mesmo nas melhores bibliotecas de São Paulo é difícil encontrar alguma obra dele. No acervo da Faculdade de Educação da USP, por exemplo, apenas três de seus mais de dez livros estão disponíveis – um deles em cópia xerox. Também não existem pesquisas sobre seu trabalho como educador. O mais próximo disso é uma tese de Ana Clara Nery, defendida em 1999, que trata da Sociedade de Educação, fundada por Sampaio Dória, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e Oscar Freire.

Uma primeira sistematização de seu pensamento é o livro Educação, disponível na Faculdade de Educação da USP

 

Revoltado ou criativo? 26 de agosto de 2009

Filed under: Escritos nossos e de outros — José Antonio Küller @ 9:31 pm
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Sem nenhuma ilustração para atrapalhar, um contraponto às múltiplas histórias sobre a imbecilidade dos alunos:

 

Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova. Tratava-se de avaliar uma questão de física, que recebera nota zero. O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma “conspiração do sistema” contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido.

 

Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: “Mostre como pode-se determinar a altura de um edifício bem alto com o auxílio de um barômetro.” A resposta do estudante foi a seguinte: “Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da corda; este comprimento será igual à altura do edifício.”

 

Sem dúvida era uma resposta interessante, e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado. Por instantes vacilei quanto ao veredicto. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e corretamente. Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma aprovação em um curso de física, mas a resposta não confirmava isso. Sugeri então que fizesse uma outra tentativa para responder a questão.

 

Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar aquilo que eu imaginei lhe seria um bom desafio. Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder à questão, isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de física.

 

Passados cinco minutos ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida, e não tinha tempo a perder. Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na realidade tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a melhor. Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse. No momento seguinte ele escreveu esta resposta: “Vá ao alto do edifico, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmula h=(1/2)gt^2 , calcule a altura do edifício.”

 

Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta, e se concordava com a minha disposição em conferir praticamente a nota máxima à prova. Concordou, embora sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo. Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti à curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas. “Ah!, sim,” � disse ele – “há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro.”

 

 Perante a minha curiosidade e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações. “Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do edifício”. Depois, usando-se uma simples regra de três, determina-se à altura do edifício.” “Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas ter-se-á a altura do edifício em unidades barométricas”. Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se dois g’s, e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença.” “Finalmente”, – concluiu, – “se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer; diz-se: “Caro Sr. síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o Sr. me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente.”

 

A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta esperada para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.

 

De Waldemar Setzer, professor aposentando da USP

 

A Escola e a Sociedade de Magos de York 12 de agosto de 2009

Filed under: Escritos nossos e de outros — José Antonio Küller @ 1:09 pm
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Dias atrás, por curiosidade, folheei algumas páginas do livro Jonathan Strange and Mr. Morrel, de Susanna Clarke (São Paulo, Companhia das Letras, 2005), que minha filha estava lendo. A página inicial me despertou a atenção. Ali se lia:


  1. A biblioteca de Hurtfew

     

    Outono de 1806 – janeiro de 1807

     

     

    Alguns anos atrás, na cidade de York, existia uma sociedade de magos. Eles se reuniam na terceira quarta-feira de cada mês e liam ensaios longos e enfadonhos sobre a história da magia inglesa.

     

    Eram magos cavalheiros. Ou seja, nunca fizeram mal a ninguém por meio da magia, nem por meio dela jamais fizeram algum bem. De fato, para falar a verdade, nenhum deles nunca recorreu ao menor encantamento, nem por meio da magia jamais fez uma folha de árvore tremular, nunca alterou o curso de uma partícula de pó ou mudou um só fio de cabelo da cabeça de alguém. Porém, feita essa pequena ressalva, os magos tinham a reputação de ser os cavalheiros mais sábios e mais mágicos do condado de York.

     

    Referindo-se à profissão, um grande mago afirmou que os que a exercem “devem se esforçar e dar tratos à bola para aprender alguma coisa, mas entre eles a desavença é sempre muito natural”, e os magos de York comprovaram a verdade disso ao longo de muitos anos.

     

    No outono de 1806, acolheram um novo membro, um cavalheiro de nome John Segundus. Na primeira reunião que ele participou, Mr. Segundus se levantou e proferiu um discurso ante a sociedade. Começou por congratular os cavalheiros pela história notável que tinham; enumerou os muitos magos e historiadores renomados que em diferentes períodos pertenceram à sociedade de York. Deu a entender que saber da existência de tal sociedade fora um grande estímulo para ir até York. Os magos do Norte, lembrou ele ao público, sempre haviam sido mais respeitados do que os do sul. Mr. Segundus disse que estudara magia durante anos a fio e conhecia a história de todos os grandes magos do passado. Lera as novas publicações sobre o assunto e até fizera uma modesta contribuição para a proliferação delas, mas recentemente começara a se perguntar por que os grandes feitos de magia sobre os quais lera permaneciam nas páginas do livro que escrevera e já não eram vistos nas ruas nem noticiados nos jornais. Mr. Segundus disse que gostaria de saber por que os magos modernos não eram capazes de praticar a magia sobre a qual escreviam. Em resumo, desejava saber por que não se fazia mais magia na Inglaterra.

     

    Era a pergunta mais banal do mundo. Era a pergunta que, cedo ou tarde, qualquer criança no reino faria à governanta, ao professor ou aos pais. Entretanto, os cultos integrantes da Sociedade de York não gostavam nem um pouco de ouvi-la, porque estavam incapacitados para respondê-la quanto qualquer outra pessoa.

     

    O presidente da Sociedade de York (cujo nome era Dr. Foxcastle) dirigiu-se a John Segundus e explicou que aquela era uma pergunta equivocada.

     

    – Ela pressupõe que o mago tem uma espécie de dever de praticar a magia, o que, claro, é um disparate. Creio que o senhor não sugeriria que a tarefa do botânico fosse criar mais flores. Ou que o astrônomo devesse reorganizar as estrelas. O mago, meu senhor, estuda a magia praticada muito tempo atrás. Por que esperar dele mais do que isso?

 

Por muitos motivos, a Sociedade de Magos de York me lembrou a nossa escola. Todos “devem se esforçar e dar tratos à bola para aprender alguma coisa“. Não se pratica nada do que se ensina. O aluno também estuda a magia praticada muito tempo atrás“. “Por que se esperar dele mais do que isso“?


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VEJA de novo: Escola do Futuro ? 30 de julho de 2009

 

Dando sequência a uma discussão interrompida sobre arquitetura e educação, voltamos à Revista Veja. Em sua seção sobre educação, a revista publicou um Infográfico sobre a Escola e o Ensino do Futuro. Acesse o infográfico, clicando aqui.

 Veja infograf_escola_futuro

  

Serei breve. O ambiente futurista oculta o conservadorismo. O professor continua no centro da ação. Ainda é uma aula. A tecnologia é usada para manter a concepção pedagógica tradicional e dominante.

 

Em um conjunto de textos sobre arquitetura escolar, especialmente nos artigos: Arquitetura Escolar e Indução Pedagógica e Arquitetura Escolar e Aprendizagem Criativa consideramos que a disposição física da sala de aula era muito importante na superação dessa concepção pedagógica tradicional. Entre as mudanças propostas nos artigos, foi privilegiada a disposição das carteiras em círculo. O Infográfico mostra uma forma de desvirtuar o que a disposição em círculo tem de positivo: representar uma relação mais igualitária, facilitar e possibilitar uma comunicação aberta entre todos.

 

Do ponto de vista arquitetônico, talvez a mudança tenha de ser mais radical. Como na Escola da Ponte, talvez seja necessário abolir a aula, as classes e as salas que as abrigam.

 

Ver outros comentários a respeito do Infográfico em: Prof. Michel (http://webdigitaleducator.blogspot.com/2009/04/escola-do-futuro-onde.html) ; BlogNato: http://blognato.fisica-interessante.com/2009/03/escola-do-futuro-segundo-revista-veja.html e Tecnologias Digitais e Educação: http://tdeduc.zip.net/arch2009-03-29_2009-04-04.html.

 

 
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