Germinal – Educação e Trabalho

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O que faz um colégio ser bom no ENEM? 12 de novembro de 2009

 

Em post anterior, discutindo uma tabela publicada no jornal Folha de São Paulo em: Melhores colégios tem até 50 candidatos por vaga, concluímos  que os colégios são bem colocados porque selecionam os melhores alunos já no início do Ensino Médio. A seleção se faz por meio de exames de admissão e/ou através da condição sócio-econômica dos candidatos. Os colégios são tão bons quanto os alunos que os frequentam.

 

Em outro post, Resultados do ENEM e Mudanças no Ensino Médio , perseguindo a relação entre a inovação na arquitetura escolar e os resultados do ENEM, fizemos uma busca no google/imagens e nos sites dos 10 colégios mais bem classificados no Brasil, tendo como referência o ENEM de 2008. Constatamos que eles não inovam na arquitetura escolar e que provavelmente também não são inovadores na metodologia de ensino que adotam.

 

Usando os mesmos recursos de pesquisa vamos investigar os 10 “melhores” colégios paulistas. Nesta busca, estamos tentendo responder à seguinte pergunta: os colégios paulistas mais bem classificados no ENEM inovam na arquitetura escolar ou na metodologia que adotam,

 

Inicialmente, estudamos os dois primeiros colocados: Vértice e Bandeirantes. Neste post vamos investigar os colégios classificados em terceiro e quarto lugares: O Colégio Móbile e o CEFET/SP, hoje IFSP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia).

 

Colégio Móbile

Apresentamos abaixo o que de mais significativo encontramos no Colégio Móbile sobre arquitetura escolar e e metodologia de ensino.

 

Externamente, o prédio do Colégio Móbile é  muito bonito. O prédio do Ensino Médio foi projetado pelo arquiteto Paulo Sofhia e premiado na III Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.

 

O projeto pedagógico é tratado de forma mais extensiva do que o comum dos projetos de escolas particulares. Entretanto, sobre metodologia ele é meio evasivo. O textos citados abaixo, retirados do site do colégio, são os mais representativos que encontramos sobre metodologia e sobre a arquitetura esolar interna.

 

“Crianças e adolescentes se convertem em sujeitos ativos do processo de aprendizagem quando despertados para o prazer e a responsabilidade de aprender. Essa atitude participativa é o ponto de partida indispensável para desenvolver a capacidade de pensar, de discriminar valores, de cooperar, de ter a habilidade de se adaptar às novas exigências do grupo e do meio.”

 

“O conceito básico das salas de aula é o de sala-ambiente. Os alunos – e não os professores – mudam de espaço, conforme o horário de cada série. Isso possibilitará que cada sala tenha a melhor estrutura para o ensino das disciplinas. Da mesma forma, as disciplinas de Química, Física e Biologia têm seus próprios laboratórios, com aproximadamente 100 metros quadrados de área cada um. A sala de Informática com equipamentos modernos, uma sala de artes, um teatro, uma biblioteca multimídia e uma quadra poliesportiva completam os recursos disponíveis para o aluno do Ensino Médio.”

 

As fotos a seguir mostram dois desses ambientes.

 

Observe que este primeiro, na foto ao lado, não está organizado de forma a estimular a referida atitude participativa.

 

 

 

 

 

Uma  segunda foto de uma  dessas salas ambientes mostra um arranjo físico mais compatível com a atitude participativa prevista na proposta pedagógica do Colégio.

Não vimos fotos de salas convencionais ou pelo menos fotos de salas denominadas assim.

 

No entanto, a foto com o professor conversando com o aluno, também extraída do site, mostra um arranjo (em auditório) convencional e deixa uma dúvida. Não seriam todas as salas de aula convencionais organizadas dessa maneira.

 

 

IFSP (unidade da capital)

Ao contrário das escolas privadas, a única escola pública na lista dos dez colégios mais bem classificados no ENEM, em seu site, não dá muita importância às fotos. Assim, não temos foto de sala de aula a mostrar. A pequisa de imagens no Google também não permitiu identificar fotos que fossem de salas de aula da antiga Escola Técnica Federal de São Paulo.

 

Também ao contrário das escolas particulares, o site dedica 15 páginas de texto à proposta pedagógica da instituição de ensino. É a primeira vez que vemos textos claros e detalhados sobre a metodologia de ensino proposta. Como exemplo:

“Assim, o estudante é estimulado, via rotineiras e diversificadas metodologias problematizadoras, mediadas pelo outro e pela cultura, aprende a ser, aprende a conviver, aprende a fazer e aprende a aprender.

Esse paradigma de aprendizagem se ancora também nos pressupostos vygotskyanos, quer por considerar o aprendizado como um processo eminentemente social, quer por ressaltar a influência da cultura e das relações sociais na formação dos processos mentais superiores.

Opondo-se às teorias inatistas e ambientalistas, crê num sujeito histórico interferente e produtivo, onde:
– A consciência nasce da atividade prática e é construída pela interação homem-mundo, mudando de acordo com as mudanças sociais.
– A interação sujeito-objeto é mediada pelo uso de signos.
– A internalização dos signos desenvolve as funções mentais superiores.
– A apropriação do conhecimento se dá por um processo ativo do indivíduo em suas relações de trocas com o meio e o outro.
– A aprendizagem é processo social, caracterizada pelas multi inter-relações entre o sujeito e o meio.
– A linguagem no interior dos grupos é básica por exercer a função mediadora, ampliando as relações sociais e da apreensão da experiência humano- social.”

 

Na ausência de fotos, postamos uma tabela que resume a infra-estrutura do IFSP (unidade da capital):

NFRA-ESTRUTURA FÍSICA – UNIDADE SÃO PAULO
Ambientes Didáticos Quantidade
Salas de Aula Tradicionais 59
Auditório 03
Salas de Projeção 05
Biblioteca Multi-Área 01
Laboratórios de Informática Integrados em Rede Internet 16
Salas de Desenho 07
Laboratórios de Física, Química e Biologia 06
Laboratórios de Geografia e Redação 06
Laboratórios de Construção Civil 08
Laboratórios de Eletrotécnica 07
Laboratórios de Eletrônica e Telecomunicações 07
Laboratórios de Mecânica: 10
Laboratórios de Automação 04
Célula de Manufatura 01
Oficinas de Praticas Profissionais de Eletrônica, Eletrotécnica e Telecomunicações. 03
Oficinas de Produção Mecânica de Tornearia, Frenagem, Retificadora e Maquinas Especiais 04
Oficinas de Produção Mecânica de Soldas Elétricas e Oxiacetileno 02
Laboratórios de Turismo 01
Laboratório de Educação Musical 01
Ateliê de Artes 01
Estúdio de Rádio e TV 01
Pista de Atletismo 01
Campo de Futebol 01
Quadras Poli – Esportivas  

 

Observe-se que a tabela informa a existência de 59 salas tradicionais. Quase apostamos que elas estão, na maior parte do tempo, no formato de auditório. Somadas ao auditório propriamente dito e às 5 salas de projeção temos  um total de 65 salas em formato de auditório. As demais, ao todo 88, certamente não estão organizadas assim.

 

Pela primeira vez encontramos um colégio, dentre os que vão bem no ENEM, que valoriza a metodologia ativa e que tem a maioria das salas de aula organizadas em formatos não-tradicionais.

 

Poderíamos concluir que metodologias e espaços mais modernos de ensino não são incompatíveis com o sucesso no ENEM. Infelizmente nos lembramos a tempo que, nos exames seletivos para o ingresso IFSP, concorrem 50 candidatos por uma vaga. Também nos recordamos que a mensalidade no Ensino Médio do Móbile supera os R$ 1.700,00. Isso repesenta muito mais que o salário médio no Brasil.

 

De fato o ENEM não discrimina nem seleciona. Quanto ele acontece na vida escolar da população estudantil brasileira a seleção já foi feita.

 

Resultados do ENEM e Arquitetura escolar II 9 de setembro de 2009

 

Neste post damos sequência a outro, de nome similar, que denunciam a nossa intenção de buscar eventuais relações entre inovações na arquitetura escolar e os resultados do ENEM de 2008.

 

 No primeiro post investigamos as 5 primeiras escolas. Neste, vamos pesquisar as outras cinco que, com as anteriores,  compõem o grupo das dez mais.

 

 

 

6. Colégio WR , Goiânia, Particular

 

As informações sobre a proposta pedagógica do Colégio WR não vão muito além da frase que está anexa à foto da fachada e que ilustra a página principal do site. A página promete um tour virtual, que não estava acessível.

 

Procurando na Internet encontramos a foto ao lado, publicada pela Revista Veja. A foto permite constatar que o arranjo fisico das salas de aula é tão tradicional quanto o resumo da proposta, que grita seu conservadorismo na porta de entrada do site.

 

 

 

 

7. Colégio Santo Inácio, Rio de Janeiro, Particular

 

A proposta pedagógica do Colégio Santo Inácio, escola colocada em sétimo lugar no Enem de 2008, pode ser encontrada em seu site. Não faz referência sobre o arranjo físico das salas, mas diz:

 

O bom trabalho educativo é muito mais do que o espaço da sala de aula, devendo incluir o conhecimento de diferentes aspectos da realidade. Passeios e visitas didáticas a museus, centros culturais, sítios ambientais, empresas, são algumas das atividades que se integram ao trabalho de classe nas diferentes séries no CSI. São essenciais nos projetos voltados para a educação ambiental, artística e cultural.

 

Nossos alunos também têm contato freqüente com espetáculos teatrais e musicais que são trazidos à escola. O cinema está sempre presente nas aulas por meio do vídeo e do DVD. Além de mais de 4.000 vídeos didáticos, a escola dispõe de farto acervo audiovisual, incluindo filmes clássicos de diversos gêneros, acervo infantil específico, além das mais importantes obras do cinema nacional.

 

Não encontramos imagem alguma de sala de aula do Colégio Santo Inácio, em nossa pesquisa. Não sabemos porque, mas a foto da fachada do Colégio somada aos dizeres acima nos levam a concluir que o arranjo físico das salas de aula do Santo Inácio é tradicional. Esperamos fotos que nos contradigam.

 

 

8. Colégio Eng. Juarez de Siqueira Britto Wanderley, São José dos Campos, Particular

O site da Embraer veicula a seguinte informação:

 

“O Colégio Eng. Juarez Wanderley, concebido e materializado em pouco mais de um semestre, é a expressão concreta da ação do Instituto Embraer de Educação e Pesquisa.

 

Inaugurado em 4 de fevereiro de 2002, proporciona Ensino Médio de alta qualidade a alunos egressos da rede pública da região de São José dos Campos (incluindo Taubaté, Caçapava e Jacareí). A gestão escolar está sob responsabilidade do Sistema Pitágoras.”

 

Na página  sobre infraestrutura, informa-se: “com 15 salas de aula amplas e arejadas, dotadas de recursos multimídia e layout privilegiado com flexibilidade para diferentes arranjos.”  É a primeira referência sobre arranjos de sala de aula que encontramos. Infelizmente, não encontramos nenhuma foto das salas de aula do Colégio. Também não sabemos qual arranjo de sala é o mais comum no Colégio.

 

 

9. Vértice Colégio Unidade II – São Paulo -Particular

A fotografia da sala de aula do Colégio Vértice também mostra cadeiras individuais que, como no Colégio Eng. Juarez (assim como em todos os outros) podem ser organizadas de várias maneiras. Mas o site apresenta um arranjo convencional das cadeiras. A escolha desta foto e das demais fotos encontráveis no site nos leva a crer que este é o arranjo usual. 

 

 

!0. Colégio Santo Agostinho, Rio de Janeiro, Particular

Sobre a estrutura física,  o site do Colégio Santo Agostinho do Lebron, Rio de Janeiro, informa:

 

“A estrutura física e didático-pedagógica do colégio Santo Agostinho é determinante de sua qualidade de ensino e de integração e interação dos alunos com o conteúdo ministrado. O Colégio coloca à disposição de seus alunos, para apoio às atividades educacionais: biblioteca, laboratórios, centro de ensino de informática, sala de estudos com computadores ligados à Internet, auditórios. Os alunos desfrutam dessas instalações para atividades em grupo ou individuais, sempre orientados pelo professor da disciplina, responsável pelo trabalho em pauta.”

 

Nenhuma refrência à sala de aula comum e também não encontramos fotografia de sala de aula que pudesse ser atribuída, sem erro, à unidade do Leblon, visto serem muitos os Colégios Santo Agostinho no Brasil. A ausência de informação leva a supor um arranjo convencional das salas de aula.

 

 

Em próximo post,  vamos discutir os resultados dessa busca pela relação entre arquitetura escolar e os resultados do Enem de 2008.

 

Blogagem coletiva sobre Arquitetura e Educação 31 de março de 2009

 

Sala de aula

Sala de aula

 

 

Continuando com seus posts sobre Arquitetura e Educação, Jarbas Novelino Barato, do Boteco Escola, depois de contar uma deliciosa história sobre uma sala de aula convencional, que foi (acreditem) montada em um avião, cita-me e incita-me a ajudá-lo a promover uma blogagem coletiva sobre o assunto. Assim falou (escreveu) Jarbas:

 

Sala de aula

Sala de aula

 “Assim que comecei a comentar o assunto, o Kuller entrou na conversa. Ele vem publicando posts sobre o assunto lá no Germinal. Miriam Salles comentou nossa conversa (minha e do Kuller) e deu exemplos baseados em sua experiência docente. Já temos um começo.

 

Mas eu gostaria muito de saber a opinião de educadores amigos sobre o tema. Para tanto, estou propondo uma blogagem coletiva sobre Arquitetura e Educação. Como é preciso um tempo para refletir sobre a matéria, sugiro que a blogagem não tenha um dia pré-estabelecido, mas ocorra nos dois próximos meses de abril e maio.  Todos os amigos que passarem por aqui estão, desde já, convidados para a empreitada. Listo a seguir alguns nomes cujas opiniões o tema eu gostaria muito de conhecer.

Essa é uma primeira leva. Vou listar brevemente outros convidados (ou seriam convocados?). Solicitarei ao Kuller que promova a iniciativa lá no Germinal, com lista de gente com quem ele dialoga mais frequentemente. E, é claro, todos os amigos deste Boteco podem convocar outros amigos para a blogagem coletiva sobre Arquitetura e Educação“.

 

Sala de aula do século XIX

As fotos foram acrescentadas por mim.

A provocação de Jarbas criou-me alguns problemas. Como blogueiro iniciante, não sabia o que era blogagem coletiva. Fui procurar. Não existem muitas definições disponíveis. Escolhi esta:

 

Blogagem coletiva é a união de vários blogueiros ou simpatizantes, escrevendo sobre um mesmo assunto em uma data combinada com antecedência. A idéia é conhecer os diversos pontos de vista sobre o assunto e usar a internet de maneira inteligente! (in: Blog do Ronaldo Santos)

 

O segundo problema foi selecionar os convidados. A condição de iniciante também limita o número de pessoas com quem tenho estabelecido freqüentes diálogos no blog. A lista de Jarbas já rouba-me alguns com quem tenho começado a dialogar. Decidi incluir parceiros de outros sítios de conversa. Dos abaixo citados, a maioria é participante  de um grupo de blogs educativos e/ou participante de uma recente viagem virtual a Cuba. São eles:

 

Todos estão convidados a participar da blogagem coletiva sobre Arquitetura e Educação.

 

O terceiro problema é não ter uma idéia clara do procedimento. A minha condição de iniciante, permite a pergunta inocente: Jarbas, como devemos proceder para participar?

 

Arquitetura escolar e Aprendizagem Criativa 16 de fevereiro de 2009

Este texto surgiu de pequenas mudanças que produzi em um comentário que fiz ao artigo de meu amigo Jarbas Novelino  Barato “Prédios e equipamentos escolares ensinam”, no blog Boteco Escola.

 

Tenho acompanhado os últimos posts sobre a arquitetura escolar do Boteco Escola. Inclusive fiz um comentário sobre o artigo Prédios e equipamentos escolares ensinam.  Nele disse que não desconheço e não desconsidero os efeitos das condições de conservação e manutenção dos prédios escolares sobre o currículo oculto e sobre a aprendizagem.

Participei, inclusive, na Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), bom tempo atrás, de um projeto denominado, se não me falha a memória, de Projeto de Preservação e Manutenção do Patrimônio.

 

O projeto, que se espalhou pela rede pública de escolas do Estado de São Paulo, implicava em envolver toda a comunidade escolar, incluindo os pais e moradores vizinhos, em propostas de manutenção e conservação dos prédios escolares. A idéia não era a de reduzir custos de manutenção, mas de engajar a comunidade em um projeto com efeitos educacionais, especialmente os de educação ambiental.

Mas, acredito que o primeiro post do Boteco Escola sobre o assunto, Arquitetura e Educação, tocava em questão mais importante: o efeito do dispositivo arquitetônico sobre a situação de aprendizagem. O dispositivo em auditório, induz uma relação de aprendizagem em que o professor fala e o aluno ouve. Mesmo que o professor queira a participação, o dispositivo arquitetônico induz à passividade.

Para modificar essa situação, é preciso transformar o espaço e o ambiente da escola e da sala de aula.

 

Seria necessário inovar, na escola, o espaço e o ambiente. Espaço e ambiente são conceitos basilares na arquitetura. Vou usar as definições contidas no manual do docente da Estação de Trabalho de Organização de Ambientes de Vendas do Programa de Educação Para o Trabalho (PET) do SENAC/SP.

Espaço: local delimitado por alguma forma de construção ou objeto, ou encontrável na natureza. Pode ser um local dentro do (contido no) objeto que o delimita, ou fora dele. Por exemplo: uma sala é um local delimitado por paredes, teto, piso, janelas e portas. Mas, num exemplo mais complexo, um obelisco num local vazio delimita e ao mesmo tempo dá uma configuração ao espaço em torno dele. Uma praça, embora não seja um local fechado, constitui um espaço.

Ambiente: espaço ao qual se acrescentam certas condições. Uma simples sala com a presença de pessoas forma um ambiente. A mesma sala com um aparelho de som ou uma orquestra é outro ambiente. Essa mesma sala com carteiras escolares forma um terceiro tipo de ambiente, e assim por diante. Conclui-se, portanto, que num mesmo espaço podem ser formados diversos ambientes”

Sala de aula com «cave seat» (nicho), Galilee Catholic Learning Community, Russell & Yelland Architects

Do espaço e ambiente escolar renovados, poderíamos falar em construções que se abrissem para seu entorno e se tornassem parte dele. Construções que não apenas facilitassem o acesso da comunidade à escola, mas que transformassem o entorno escolar em uma continuidade do espaço de aprendizagem e ajudassem a criar o ambiente da cidade educativa ou educadora.

 

Há um poema de João Cabral de Melo Neto, sobre esse tema da abertura, do qual gosto muito:

 

 

 

“A arquitetura como construir portas,

de abrir, ou como construir o aberto;

construir; não como ilhar e prender;

nem construir como fechar secretos;

construir portas abertas, em portas;

casas exclusivamente portas e teto.

O arquiteto: o que se abre para o homem

(tudo se sanearia desde casas abertas)

portas por-onde, jamais portas-contra;

por onde, livres: ar luz razão certa”

 

 

Melo Neto, João Cabral de, Fábula de Um Arquiteto, A Educação pela Pedra, Rio de Janeiro, nova Fronteira, 1996, p. 36.

Mas, as escolas continuam sendo recintos quadrados, fechados, escondidos dos olhares do mundo e que impedem aos alunos olharem o mundo com seus próprios olhos.

No entanto, o espaço e o ambiente da sala de aula parecem ainda mais imutáveis. O convencional formato retangular do espaço induz ao típico ambiente com a organização das carteiras em fila. Ora, sabemos que o formato mais adequado à conversa e à participação é o círculo. Ninguém projeta escolas e salas supondo um ambiente em que as carteiras escolares estejam dispostas em círculo.

Tenho casos sobre isso.

High Tech Middle School, Carrier Johnson.

 

Para mim, a atividade e a participação do aluno são fundamentais no processo de aprendizagem. Assim, a melhor sala de aula em que já trabalhei, foi uma que existia no CENAFOR, antiga e extinta fundação do MEC em São Paulo. Era circular e carinhosamente a apelidávamos de “Queijinho”. Além de ser circular, continha divisórias internas que possibilitavam a criação de espaços de diferentes tamanhos para o trabalho de pequenos ou grandes grupos. Estava adequada para uma proposta metodológica diferente da convencional.

Trabalhando na capacitação de docentes para a o Programa Educação para o Trabalho (PET) do SENAC/SP, usava o auditório da unidade da Rua 24 de Maio, centro de São Paulo. Todo dia, para desespero do pessoal de limpeza, carregava as pesadas poltronas e transformava o quadrado em círculo. Todo o fim de dia, o pessoal da limpeza retornava as poltronas para sua original posição em filas paralelas, objetivando prepará-las para o uso noturno. Da experiência, cheguei à convicção que a mudança educacional só acontecerá quando, em qualquer circunstância, o pessoal de limpeza preferencialmente organizar as cadeiras em círculo.

 

Por fim, uma lembrança do meu trabalho com o SENAC Rio. O Centro Politécnico foi escolhido para implementar cursos técnicos, formatados de acordo com uma nova proposta pedagógica. Nela estava prevista uma revolução metodológica incompatível com as salas em formato de auditório. O espaço das salas do Centro Politécnico, no entanto, era insuficiente para a organização das cadeiras em círculos que contivessem 30 participantes. Foi necessário derrubar as paredes e de duas salas fazer uma. Única solução possível, embora em uma sala ou outra, as colunas remanescentes dificultassem um pouco os olhares e as conversas.

Como conclusão, tenho pensado que uma solução arquitetônica adequada à  Aprendizagem Criativa seria a construção de salas sextavadas e espaços escolares que fossem construídos espelhando-se na organização dos favos de mel. Nada sei de arquitetura para saber se tais escolas e salas são viáveis. Mas, acredito que seriam mais doces e democráticas.

Sala de aula, Pistorius-Schule, Behnisch Architekten.

Sala de aula, Pistorius-Schule, Behnisch Architekten.

 

 

 
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