Germinal – Educação e Trabalho

Soluções criativas em Educação, Educação Profissional e Gestão do Conhecimento

Esboçando um Plano de Desenvolvimento Pessoal e Profissional 12 de março de 2009

  

  

I. Objetivos:

 

1. Aprofundar a apresentação individual, a integração e o vínculo grupal.

 

2. Propiciar o estabelecimento de laços de confiança e respeito entre os participantes.

 

3. Criar condições para que cada um perceba-se como sujeito histórico.

 

4. Estimular uma atitude pró-ativa e de apropriação dos rumos da própria vida, por meio da percepção das dimensões histórica, sócio-política e psicológica da questão do “destino”.

 

5. Estimular a predisposição para o autoconhecimento.

 

6. Possibilitar um exercício de identificação e avaliação de aspectos da própria personalidade especialmente relevantes para a vida socioprofissional.

 

7.  Propiciar o desenvolvimento de atitudes compatíveis e propícias ao amadurecimento e à mudança.

 

8. Esboçar um plano de auto desenvolvimento pessoal e profissional a ser continuado e aprimorado durante todo o Programa.

 

 

II. Descrição/Caracterização

 

A atividade é iniciada com um primeiro deslocamento do grupo para um ambiente externo ao da sala de aula, seguindo a diretriz metodológica de ênfase no uso da realidade externa e de suas entidades como “salas de aula”, “laboratórios” ou ambientes de aprendizagem. O local escolhido será um museu, prédio ou monumento histórico, cujo acervo ou arquitetura remeta à história da cidade ou bairro em que os participantes residem.Visita ao museu, prédio ou monumento histórico

 

Visita ao museu

A primeira visita não será previamente preparada. Os participantes deslocam-se para o local com a orientação de explorar, ao máximo, as possibilidades de aprender sobre a história da cidade e do bairro ali existentes. Nenhuma orientação é dada sobre o procedimento de pesquisa ou sobre a forma de registro de dados e informações relevantes. Observa-se, no entanto, que, na visita, o contrato coletivo antes elaborado já está em vigor. A visita ocupará toda a primeira das 7 sessões destinadas à atividade 3.

 

Ao final da visita, os participantes são orientados para que, entre essa sessão e a próxima, entrevistem os pais e, se possível, tios e avós para elaborar uma “história oral da família”, a ser apresentada na próxima sessão. A história deverá, sempre que possível, ser documentada com fotos, objetos e outros elementos de época.

 
 
 

História e sujeito histórico

 

Os participantes, divididos em pequenos grupos, apresentam uns aos outros a “história oral da família”. Durante as apresentações e ao final delas, identificam os elementos comuns às várias histórias. Relacionam, ao cabo, as características comuns das várias histórias com a História (do bairro ou cidade) que pode ser apreendida na visita anterior.

 

As conclusões dos pequenos grupos são registradas em folhas de flip chart e apresentadas em painel. O conceito de História, enquanto construção humana coletiva e no tempo, e a noção de sujeito histórico devem emergir e serem explorados a partir dos relatos das conclusões. As dificuldades na realização da atividade anterior, em especial na apreensão da História do bairro a partir da visita realizada, podem suscitar reflexões sobre a importância do planejamento.

 
 

A construção da linha do tempo

 

A continuidade da atividade se dá com a abordagem da história individual. Inicialmente os participantes farão uma leitura individual e silenciosa do texto de apoio.

 

 
Nostalgia

 

Houve um tempo em que havia uma andar de cima e um porão. Houve um tempo em que o som de um amolador entorpecia a tarde. Havia uma moringa na janela refrescando a água. Sempre, a qualquer momento, alguém dormia, nas desencontradas horas da família. Na tarde estorricante do verão uma cachorra chamada Teteca levantava a cabeça de vez em quando, num piso de cimento embaixo da mangueira, na única sombra do quintal ensolarado, e dava para o alto três lancinantes latidos de protesto. Acho que para Deus. Acho que havia Deus.

 

Millor Fernandes. In: O Estado de São Paulo, Edição de Domingo, 19 de dezembro de 1999, Caderno 2, p. D20.

 

 

 A seguir, os jovens irão elaborar, individualmente, em folha(s) de flip chart, a própria “linha do tempo” ou “caminho da vida”, contendo os fatos mais representativos e significativos da vida passada e recente, bem como os acontecimentos ou elementos que esperam ou pretendem registrar no futuro. Os fatos e acontecimentos devem prioritariamente ser expressos através do desenho. No verso da folha de flip chart, os participantes são convidados a escrever um poema de versos livres, mesmo que composto de um único verso, sobre o caminho de sua própria vida.

 

Os participantes são convidados a expor/apresentar suas respectivas “linhas do tempo”. Ao final de cada apresentação, o poema deve ser lido. Ao término de todas as apresentações os participantes são estimulados a analisá-las em seus aspectos individuais e coletivos, possibilitando, dessa forma, a abordagem psicológica e sociopolítica dos conteúdos envolvidos.

 

Poema coletivo

 

Museu de história do Pantanal, Estúdio de Arte Votupoca
Museu de história do Pantanal, Estúdio de Arte Votupoca

 

Como movimento final dessa etapa, é proposta a construção de um poema coletivo. A partir de um exercício de relaxamento prévio, estando os participantes em absoluto silêncio, concentrados e de olhos fechados, qualquer um deles, que julgue seu poema apropriado para o início, abre os olhos e efetua a sua leitura de seu texto da forma mais inteira, verdadeira e bela que puder. Volta a fechar os olhos.  Outro, que entenda que seu poema é apropriado para entrar em seqüência, procede da mesma forma. E assim vai, sucessivamente, até a leitura do último poema. 

 

A cena, se bem executada, suscita um envolvimento emocional intenso e contém um forte poder de integração do grupo. Durante o processo, dois ou mais participantes podem iniciar a leitura ao mesmo tempo ou períodos de silêncio prolongado podem acontecer. O coordenador não deve intervir. Muitas vezes, as sobreposições e as pausas enriquecem o poema coletivo. O coordenador também deve permanecer de olhos fechados.

 

ATENÇÃO: Certamente, essa primeira etapa da atividade oferecerá situações que possibilitarão um trabalho com atributos desejáveis nas relações interpessoais, tais como o respeito à privacidade, aos sentimentos e às crenças pessoais na análise de temas polêmicos. Assim, o orientador deve estar atento a esse componente curricular implícito, permanente e contínuo.

 

Definindo metas de vida

Raoul Dufy, Fenêtre ouverte à Saint-Jeannet - c. 1926/1927

Na etapa anterior, a “linha do tempo” já ensejou uma projeção para o futuro. Devido às características da técnica utilizada, é provável que os aspectos históricos tenham prevalecido sobre os de projeto.  A fábula do “cavalo marinho”, tradicionalmente utilizada em treinamentos dirigidos a educadores com o intuito de sensibilizá-los para a importância da clara definição de objetivos de ensino-aprendizagem, é aqui proposta para estimular a discussão de metas de vida. A leitura da fábula, seguida de discussão, deve explicitar os elementos iniciais para reflexões sobre o conteúdo em paut

 

 

Fábula do Cavalo-Marinho

 

Era uma vez uma cavalo-marinho que juntou suas economias (7 moedas) e saiu em busca da fortuna. Ainda não havia andado muito quando encontrou uma enguia, que lhe disse:

 

Psiu… Eh! Amigo. Onde vai você?

 

_ Estou indo procurar minha fortuna – respondeu o cavalo-marinho orgulhosamente.

 

 _ Você está com sorte! – disse a enguia. Por quatro moedas pode adquirir essas velozes nadadeiras, e assim será capaz de chegar lá mais rápido!

 

– Oba, isto é ótimo! – disse o cavalo-marinho, e pagou o dinheiro, colocou as nadadeiras e saiu deslizando, numa velocidade duas vezes maior. Em seguida, encontrou uma esponja, que lhe disse:

 

_ Psiu… Eh! Amigo. Onde vai você?

 

_ Estou indo procurar minha fortuna – respondeu o cavalo-marinho.

 

 _ Você está com sorte! Disse a esponja. Por uma pequena recompensa deixarei você ficar com esta tábua de propulsão a jato, para que possa viajar muito mais rápido.

 

Então o cavalo-marinho comprou a tábua com o restante de suas moedas e foi zunindo pelo mar, com uma velocidade cinco vezes maior. Logo, logo, encontrou um tubarão, que disse:

 

_Psiu…Eh! amigo. Onde vai você?

 

_ Estou indo buscar minha fortuna, respondeu o cavalo-marinho.

 

_ Você está com sorte. Se tomar esse atalho e o tubarão apontou para sua bocarra vai economizar muito tempo.

 

_ Oba, obrigado, disse o cavalo-marinho, e saiu zunindo para dentro do tubarão, e nunca mais se ouviu falar nele.

 

 

 

MAGER, R.F. A formulação de objetivos de Ensino. Rio de Janeiro; Globo; 1983; prefácio.

 

 

Ao final da discussão do texto, individualmente, a partir da “linha do tempo’ e do poema, cada participante redige uma proposta inicial de metas de vida, envolvendo tanto aspectos pessoais como profissionais. Neste momento, a definição de metas não deve partir de considerações relacionadas com a o realismo e a viabilidade da proposta. Devem capturar o desejo, o sonho…

 

Os participantes formam duplas ou trios em função da confiança depositada no outro e da busca e possibilidade de apoio. A s versões iniciais das metas são discutidas pelas duplas ou trios. Posteriormente, em função dessa conversa, as metas são revisadas, individualmente, pelos participantes. Essa redação, já revisada, é arquivada na pasta de cada participante como primeira parte do esboço de plano.

 

 Um primeiro diagnóstico das competências pessoais e profissionais

Roberto Matta, Larchitêtre, 1979

Roberto Matta, L'architêtre, 1979

Os participantes são estimulados a montar um auto-retrato, em linguagem visual (com recortes de revistas, por exemplo), identificando os atributos (ou competências) que já possui para o alcance das metas e os atributos ou competências que julga necessitar desenvolver para atingir as metas por ele definidas. Em painel, os auto-retratos são apresentados, analisados e confrontados com a heteropercepção (percepção dos demais participantes). A cada apresentação e análise, o orientador estimula uma reflexão sobre as propostas de mudança que os participantes se colocam.

 

A seguir, em trios inicialmente e depois em painel, o conceito de competência é construído pelos participantes a partir do conhecimento já existente, definições de dicionário e, eventualmente e se possível, pesquisa na Internet. A partir dos auto-retratos, os participantes, divididos nos mesmos trios ou duplas de revisão das metas, identificam as competências já existentes e as a desenvolver.

 

 

Esboço de plano de autodesenvolvimento pessoal e profissional

 

O orientador solicita que os participantes construam um esboço inicial de plano individual de desenvolvimento a partir de uma adaptação do esquema “FOFA”. Os participantes anexam à folha de sulfite em que definiram suas metas uma outra. Nessa nova folha estão delimitados quatro espaços iguais, tendo como títulos: Fortaleza, Oportunidades, Fraquezas, Ameaças.

 

No espaço superior esquerdo, cada participante registra as competências que já possui e que foram identificadas a partir da análise do autoretrato. O conjunto das competências já existentes compõe o quadrante Fortaleza inscrito na folha. No espaço superior direito, são registradas as facilidades ou os facilitadores externos para a consecução das metas, compondo o conjunto de Oportunidades. O espaço esquerdo inferior é reservado às competências ainda não desenvolvidas, compondo o campo das Fraquezas. Finalmente, no campo inferior direito, são registradas as dificuldades ou dificultadores para a obtenção das metas, compondo o conjunto das Ameaças.

 

Os esquemas são apresentados e discutidos, configurando-se um esboço de plano de desenvolvimento pessoal e profissional, com as seguintes diretrizes ou “palavras de ordem”:

  • Fortaleza: use-a!
  • Oportunidades: aproveite-as!
  • Fraquezas: elimine-as!
  • Ameaças: evite-as ou afaste-as!

 

Em painel, uma avaliação individual do plano elaborado encerra a atividade.

  

ATENÇÃO: O objetivo final da atividade é a elaboração de um esboço inicial de plano e não doplano final. É um ponto de partida e não de chegada. Portanto, a atividade não deve ser formalizada. Os erros formais devem ser desconsiderados. É importante que para o participante a atividade seja lúdica e agradável. O esboço de plano pretende também registrar o estágio inicial de sonho, expectativa, ambição e autocrítica do participante. O material é básico para as atividades subsequentes e deve ser arquivado na pasta individual de cada participante. Será também suporte para o trabalho de orientação do coordenador e pode ser visto como um pré-teste, dentro de uma estratégia de avaliação.

 

III. Conteúdos a serem trabalhados:

  • Conceito de história
  • A construção histórica do homem e da sociedade humana,
  • Conceito de sujeito histórico,
  • Conceito de planejamento. Planejamento de vida.
  • Conceito de meta. Metas e expectativas em relação à vida pessoal e profissional.
  • Realidade e sonho nas metas e expectativas. Acomodação e ousadia; concessões e avanços. A crença no determinismo do “destino”. A importância do autoconhecimento, da iniciativa, do autodesenvolvimento, da cidadania, da apropriação do próprio destino.
  • A auto e a heteropercepção de características pessoais. A formação da auto-imagem e da auto-estima.A importância e a relação da auto-estima com a capacidade de estabelecimento de relações equilibradas e maduras com as pessoas.
  • A importância da consciência das próprias qualidades e limitações e da iniciativa para a mudança e o autodesenvolvimento. A necessidade de busca de apoio e orientação no processo de autopercepção e de mudança.
  • A competência como resultante da autocrítica, da vontade, do conhecimento, da apropriação e da prática.
  • Competências de relacionamento: saber ouvir, respeito pelo outro, respeitar as diferenças, companheirismo.

 

IV. Recursos necessários

 

Folhas de papel sulfite, folhas de flip chart, revistas para serem recortadas, cola, pincéis atômicos.

 

V. Duração prevista: 21 horas

 

ATENÇÃO: As estratégias de sensibilização previstas na atividade só têm sentido se devidamente explorados. Assim, os objetivos e os conteúdos envolvidos em cada uma delas  devem estar muito claros parao coordenador . Espera-se que o orientador substitua ou implemente as atividades aqui propostas, desde que preserve seu conteúdo e lógica de desenvolvimento, e evite uma abordagem puramente afetiva.

 

 

Texto de apoio para o coordenador: Competência

 

Competência é um conjunto de aptidões, habilidades e conhecimentos que orientam a resolução de problemas e a tomada de decisões. Quando a realização de uma tarefa envolve fundamentalmente destreza técnica ou mecânica, fala-se em competência técnico-operacional. Quando o desempenho profissional exige um conjunto de conhecimentos, conceitos e princípios técnico-científicos articulados a habilidades de caráter genérico necessárias, tais como capacidade de abstração, de análise e de síntese, é porque está fundamentado em competências cognitivas. Já se a ênfase está em valores e atitudes que interferem no relacionamento do indivíduo em seu ambiente de trabalho, a competência sociocomunicativa está em primeiro plano.

 

(SENAC Nacional, Formação e Trabalho – Uma viagem pela história do trabalho, edição multimídia, Rio de Janeiro, Editora SENAC Nacional, 1997.)

 

 

 

 

O material apresentado neste post refere-se um excerto retirado do Manual do Instrutor do Núcleo Central, um dos componentes curriculares de uma versão alternativa ao Programa de Educação para o Trabalho (PET), do Senac/SP.

 

O Programa de Educação para o Trabalho (PET) foi desenvolvido pelo SENAC/SP e implementado, na sua forma atual, em 1996. É “voltado ao desenvolvimento de jovens, especialmente daqueles com limitadas oportunidades de acesso aos bens tecnológicos que possibilitam a apropriação do conhecimento, o domínio de competências, bem como de contato e convívio com padrões estéticos requisitados por um mercado de trabalho exigente e seletivo, inflexível a justificativas de natureza sociopolítica” (José Luiz Gaeta Paixão. Introdução do Programa de Educação para o Trabalho. São Paulo, SENAC, 1996).

 

O SENAC desenvolve o Programa de Educação para o Trabalho há cerca de 10 anos. O projeto teve origem após a constatação das dificuldades que jovens tinham em ingressar e permanecer no mundo do trabalho. Até agora, o Programa atendeu mais de 100 mil garotas e rapazes.

 

A GERMINAL participou da concepção do Núcleo Central do PET e da capacitação de todos os docentes (cerca de 1.000) envolvidos na implementação inicial do Programa. Desenvolveu também uma versão alternativa ao Plano de Curso original do Programa, o manual do Núcleo Central e todos os manuais das Estações de Trabalho dessa versão alternativa. Tal versão, por um conjunto de circunstâncias, acabou não sendo implementada, pelo menos em sua totalidade.

 

Em outros posts, pubicamos excertos dessa versão alternativa. Os excertos devem ser encarados como amostras do trabalho que pode ser desenvolvido pela Germinal.  A versão alternativa é composta por um Núcleo Central e por Estações de Trabalho destinadas ao tratamento de áreas específicas do Setor de Comércio e Serviços. Dela já publicamos os seguintes excertos:

  • Estrutura e Objetivos para a Versão Alternativa (extraída do Manual do Núcleo Central)
  • Amostra I: Exemplo de uma Sessão de Aprendizagem (extraído do Manual da Estação de Trabalho de Organização e Administração
  • Amostra  II: Exemplo de mais uma Sessão de Aprendizagem (extraído do Manual da Estação de Trabalho de Organização e Estética de Ambientes)
  • Amostra III: Exemplo de outra Sessão de Aprendizagem (extraído do Manual da Estação de Trabalho de Saúde) 

  

 

Apresentação Pessoal, Moda e Beleza 2 de dezembro de 2008

 

O material apresentado neste post refere-se um excerto retirado do Manual do Instrutor, da Estação de Trabalho de Apresentação Pessoal, Moda e Beleza, um dos componentes curriculares de uma versão alternativa ao Programa de Educação para o Trabalho (PET)do Senac/SP. O programa é destinado a jovens em situação de busca do primeiro emprego. A versão alternativa foi criada pela Germinal e não chegou a ser publicada e implementada na forma aqui apresentada. O excerto deve ser encarado como uma amostra do trabalho que pode ser desenvolvido pela Germinal Consultoria.

 

 

 Movimento 3: A Estética de Si Mesmo

Don Hong-Oai – Fotografia – Fishing Journey – s/d

 Objetivos:

Incentivar a inserção de cada um e do grupo como um todo em um processo de subjetivação (fazer da própria vida uma obra de arte) ou em processos de singularização (ver nota).

 

Relacionar e escolher regras éticas e estéticas (incluindo formas de apresentar-se) que configurem, ao longo da vida, um modo de existir no trabalho e um modo de viver o trabalho que seja belo e apaixonante.

 

 Possibilitar a experimentação dramática da incorporação de tais regras.

 

 Subsidiar uma ampla revisão e ampliação nos planos de desenvolvimento pessoal e profissional que estão sendo elaborados no Núcleo Central.  

 

 

Nota

(…) “processos de singularização: uma maneira de recusar todos esses modos de encodificação preestabelecidos, todos esses modos de manipulação e telecomando, recusá-los para construir, de certa forma, modos de sensibilidade, modos de relação com o outro, modos de produção, modos de criatividade que produzam uma subjetividade singular. Uma singularização existencial que coincida com um desejo, com um gosto de viver, com uma vontade de construir o mundo no qual nos encontramos, com a instauração de dispositivos para mudar os tipos de sociedade, os tipos de valores que não são os nossos.”

 

In: Guattari, Félix, Rolnik, Suely, Micropolítica- Cartografias do Desejo, Editora Vozes, Petrópolis, 1994, p.17.

 

 

 

Atividade 10: A vida como arte

 

Descrição: ao iniciar a sessão o poema de Cora Coralina está projetado (Cora Coralina, Aninha e suas pedras (1981). In:  http://www.marpoesias.net/framep.htm.)

 

 

José Boldt – Fotografia -Escada

 

 

Não te deixes destruir…

Ajuntando novas pedras

e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces.

Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha

um poema.

E viverás no coração dos jovens

e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.

Vem a estas páginas

e não entraves seu uso

aos que têm sede

 

 

 

 

O poema é lido e discutido pelos participantes. O coordenador encaminha a discussão para uma possibilidade de superação das regras codificadas do saber e das regras coercitivas do saber nas formas de apresentar-se: a escolha de regras éticas e estéticas que signifiquem um projeto de existir que transforme a vida em uma obra de arte. Ou seja, “fazer de sua vida um poema”, como diz Cora.

 

 

 Definindo regras facultativas

A seguir, o coordenador retoma à sessão anterior e apresenta a gravação em vídeo dos vídeo-clips produzidos pelos grupos. Orienta, para que, no assistir aos vídeos, os participantes, pelo verso e reverso, tentem extrair regras que poderiam ser assumidas e que produziriam uma bela existência.

 

O coordenador interrompe a projeção após a exibição de cada vídeo-clip para que os participantes possam efetuar anotações. Divididos em pequenos grupos, os participantes compartilham e discutem as anotações acrescentado outras regras éticas e estéticas que possam surgir do debate.

 

As regras são transcritas em tarjetas. Os grupos apresentam suas conclusões, que são debatidas. Não há um fechamento.

 

 

Vendo um caso 

 

O coordenador projeta o filme “Feitiço do Tempo”.

 

 

 

Após a projeção, a vida do personagem (Phil) como obra de arte e as regras facultativas por ele assumidas são discutidas.

 

 

Texto de referência (para o coordenador):

 

 

 

 

 

 

Na seqüência final do filme “Feitiço do Tempo”, depois de esgotadas todas as possibilidades de manipulação e negação de sua vivência repetitiva do tempo, Phil imprime à situação dois movimentos inéditos. O primeiro deles é voltado para si mesmo: a busca de auto-aprimoramento, que a existência em eterno presente lhe propicia.

 

Numa primeira instância, o projeto de auto-desenvolvimento, assumido por Phil, dirige-se a um aperfeiçoamento permanente de sua ação profissional, compreendendo: a) a prestação de serviços à equipe que o auxilia na cobertura do “Dia da Marmota” ( traz ao “set” de gravação café e lanche, ajuda a carregar a câmara…); b) a mudança de postura em relação à equipe de gravação (chega sorrindo, cumprimentando, manifestando autêntica simpatia…); c) o apoio no desenvolvimento da ação dos outros integrantes da equipe (sugerindo uma melhor localização da câmara para gravação) e, por fim, d) o aprimoramento continuo da própria ação específica e sempre repetida, transformando a cobertura num momento de beleza e emoção. Converte em arte o enquadre de ação que antes era tortura e maldição.

 

Phil, no segundo âmbito de desenvolvimento, procura conhecimentos e desenvolve habilidades, em princípio pouco referenciadas à sua ação técnica específica (lê poesia e clássicos da literatura, aprende a tocar piano e esculpir…). Este esforço de desenvolvimento, embora inespecífico, reflete-se no seu desempenho como repórter. Phil, ainda, envolve-se decisivamente com a comunidade de Punxsutaweney e efetivamente compartilha com ela o seu eterno dia. Por fim, Phil permite-se amar e viver o seu amor.

 

O segundo novo movimento de Phil dirige-se para fora. Como no “Dia da Marmota” os eventos se repetem, ele pode antecipá-los por já tê-los vivido. Agindo preventivamente, pode evitar a ocorrência de incidentes prejudiciais aos habitantes de Punxsutaweney e estimular os eventos potencialmente positivos. Phil presta serviços.

 

Os dois movimentos são complementares. À medida em que se desenvolve, Phil pode servir melhor. O engajamento na prestação de serviços é fator de desenvolvimento.

 

O “Dia da Marmota” termina quando Phil complementa as suas tarefas de desenvolvimento. A mágica repetição cessa. Abre-se a perspectiva do futuro. Com a chegada do dia 3 de fevereiro, reinicia-se a série de amanhãs.

 

(Küller, José Antonio. Ritos de Passagem – Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1997, p.139.)

 

 

 

 

Sendo um caso 

 

Os participantes individualmente vão ser envolvidos em dois exercícios:

1)     Escrever uma continuidade da autobiografia (atividade 2), agora envolvendo os próximos 10 anos e projetando a vida como se fora uma obra de arte.

2)     Criar uma cena dramática, com a duração de um minuto, em ele se apresenta novamente para o grupo, agora 10 anos depois e de forma coerente com o previsto na autobiografia. No desenho da cena, deve considerar todas as formas de apresentar-se (falar, escrever, vestir, pentear-se, linguagem corporal, etc.)

 

 

 

Detalhe do Cartaz da Peça 10 anos em uma praça – Escola Recriarte

 

Câmaras, luzes…Ação!

 

 

As cenas de 1 minuto são apresentadas e gravadas em vídeo.

 

Na apresentação da cena, os participantes procuram vestir-se e atuar como se fora 10 anos depois.

 

Após as gravações, o vídeo é visto por todos. Cada um analisa o seu desempenho.

 

 A Estação de Trabalho é avaliada pelos participantes em função do avanço individual e grupal  que o vídeo (espera-se) registrou.

 

Recursos: Retroprojetor e transparência. Cópia do poema de Cora Coralina para todos os participantes. Vídeo e TV. Fita de vídeo gravadas no movimento anterior. Tarjetas. Caixa de pincéis atômicos. Filme Feitiço do Tempo. Câmara de vídeo.

 

Duração: 9 horas

 

 

UMA SESSÃO DE APRENDIZAGEM DE ADMINISTRAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 28 de junho de 2008

 

 O material apresentado neste post refere-se a uma sessão de aprendizagem, retirada do Manual do Instrutor, da Estação de Trabalho de Administração e Organização, um dos componentes curriculares de uma versão alternativa ao Programa de Educação para o Trabalho (PET), do Senac/SP. O programa é destinado a jovens em situação de busca do primeiro emprego. A versão alternativa foi criada pela Germinal e não chegou a ser publicada e implementada na forma aqui apresentada. O excerto deve ser encarado como uma amostra do trabalho que pode ser desenvolvido pela Germinal Consultoria.

 

SESSÃO I: ORGANIZAÇÃO CLÁSSICA DO TRABALHO

                                                                                                       

 CENÁRIO-BASE

A Estação de Trabalho, no formato de um curso-drama será desenvolvido em uma sala-palco, que manterá durante todos os seus atos um mesmo cenário padrão. A sala-palco conterá:

 1. Cadeiras universitárias ou mesinhas individuais, em número idêntico (exatamente) ao de atores participantes, incluindo os atores-coordenadores.  Assim, cada carteira vazia indica uma ausência.

 2. Dois suportes para álbum-seriado, com respectivas folhas (em branco) já colocadas.

 3. Móveis:

  • Aparador para recursos cênicos (textos, pastas, fitas de vídeo, áudio…).
  • Aparador para aparelho de TV, vídeo e som.
  • Aparador para retroprojetor.
  • Arquivo.
  • Armário.

 4. Nas paredes:

  • Quadro negro.
  • Quadro de avisos (grande).
  • Sempre que possível: um quadro com uma mandala e outro com a imagem simbólica do velho sábio.
  • Outros elementos decorativos (discriminados em cada ato).
  • Projeção do poema “Profissão do Poeta”(Geir Campos. A Profissão do Poeta. In: Fernandes, Millor e Rangel, Flávio. Liberdade, Liberdade. São Paulo, L&PM, 1987, p. 22.)

 

 

O Poeta, Chagall

O Poeta, Chagall

PROFISSÃO DO POETA

Operário do canto, me apresento

sem marca ou cicatriz, limpas as mãos,

minha alma limpa, a face descoberta,

aberto o peito, e – expresso documento –

a palavra conforme o pensamento.

 

Fui chamado a cantar e para tanto

há um mar de som no búzio de meu canto.

Trabalho à noite e sem revezamentos.

Se há mais quem cante cantaremos juntos;

sem se tornar com isso menos pura,

a voz sobe uma oitava na mistura.

 

Não canto onde não seja a boca livre,

onde não haja ouvidos limpos

e almas afeitas a escutar sem preconceito.

Para enganar o tempo – ou distrair

criaturas já de si tão mal atentas,

não canto…

Canto apenas quando dança,

nos olhos dos que me ouvem, a esperança. 

 

 

 

 

 

 

 

5. No chão e no centro da sala: o desenho de um grande círculo (desenhado com fita crepe, por exemplo). As cadeiras estão dispostas em torno do círculo central, com uma abertura na direção do quadro negro (semicírculo) e com espaço suficiente para que os pés dos participantes não toquem o interior do círculo. No interior do círculo está desenhado um pequeno quadrado e, saindo do meio de cada um dos seus lados, quatro retas que dividem o círculo e o espaço total da sala em quatro partes e as cadeiras dos participantes em quatro grupos. Dentro de cada uma dessas partes, escrita em uma tarjeta ou cartolina e referindo-se a cada grupo de participantes, está colocada uma das seguintes palavras: Gerente, Técnico, Supervisor ou Operador.

 6. Um vaso com flores naturais, colocado sobre um dos móveis.

 7. Iluminação indireta, se possível.

 

 

DESENVOLVIMENTO

 

Ato I: A FORMAÇÃO DO ELENCO

 A. Cenas:

  • Cena I – A Composição do Elenco
  • Cena II – Todos os Nomes
  • Cena III – Expectativas
  • Cena IV – Gerentes
  • Cena V – Supervisores
  • Cena VI – Operadores
  • Cena VII – Técnicos
  • Cena VIII – Síntese

 B. Modificações no Cenário-Base:

1. Outros elementos decorativos nas paredes: quadros, ampliações fotográficas, recortes de revistas, etc., contendo cenas diversificadas de trabalho e produção: trabalho artesanal, trabalho em fábricas, linhas de montagem operadas com trabalho humano e com robôs, trabalho em equipe, operação de fábricas automáticas…

2. Quadro negro apagado.

3. Aparelhos de som e vídeo já testados.

4. Fixados no quadro de avisos:

  • Uma relação completa dos participantes.
  • Um dos textos que será utilizado no drama.
  • Um programa do espetáculo teatral.
  • Uma frase: Ator convidado para o drama, conquiste o seu espaço!
  • Um horário do espetáculo diário (início e término).

5. Sobre as cadeiras ou mesinhas individuais: programa do espetáculo teatral, cópias dos poemas: Contratados e O Relógio.

6. Música de fundo: Bolero, de Ravel.

 

C. Objetivos específicos do Ato

a. De reação – deseja-se que os atores se sintam:

  • respeitados;
  • esperados;
  • surpresos;
  • curiosos;
  • descontraídos;
  • alegres.

 b. De aprendizagem – Espera-se que os atores possam:

  • Rever e (re) memorizar o nome de todos os companheiros;
  • Conhecer novas características pessoais dos companheiros;
  • Conhecer o programa da Estação de Trabalho e as suas características metodológicas.
  • Intuir que existem muitas formas de trabalho e muitas maneiras de organizar e administrar o trabalho
  • Identificar as características fundamentais da organização clássica do trabalho
  • Fixar a divisão estrutural do trabalho na organização clássica (Taylorista /Fordista)
  • Intuir que as características básicas e estruturais da organização clássica estão presentes em praticamente todas as todas as atuais organizações e situações de trabalho coletivo.

 c. Sensação subjacente a ser produzida: algo importante vai acontecer.                 

d. Resultado adicional a ser buscado: aquecimento para a ação dramática e para a criatividade.

 

 

 Cena I: Composição do elenco

Carlos Scliar, Composição (ora bolas!),Vinil e colagem encerada sobre tela, Ouro Preto, MG.. 1993

Carlos Scliar, Composição (ora bolas!),Vinil e colagem encerada sobre tela, Ouro Preto, MG. 1993

Sala palco (do lado de fora). Porta fechada. Trinta minutos antes da chegada dos demais atores (denomina-se de ator ou de atores ao participante ou aos participantes do Programa Educação para o Trabalho)

Atores coordenadores : chegam. Abrem a porta. Ligam o som, colocando a música de fundo. Projetam a transparência prevista (Profissão do Poeta). Verificam o arranjo da sala, eventualmente alterando-o na direção descrita. Escrevem uma mensagem, referente ou não ao conteúdo do ato, em cada álbum-seriado e no quadro-negro.

 

 

 Durante essas ações, os atores coordenadores recepcionam os demais atores que chegam. No horário previsto:

 Atores coordenadores: fecham a porta. Nela, por dentro, fixam um cartaz com os dizeres: “ELENCO COMPLETO – PROIBIDA A ENTRADA“.

 O Ator que chegar atrasado para a CENA II deve conquistar o seu espaço.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cena II: Todos os Nomes

 

 

mosaico português, reproduzido do blog jumento.blogspot

Atores já sentados…

 Novo ator coordenador: lê o poema Profissão do Poeta e apresenta-se.

Atores coordenadores: contam uma história (engraçada, curiosa, trágica…) relacionada com seus próprios nomes.

Atores: cada qual conta, também, sua história.

Enquanto os atores se apresentam, entremeando as falas, os Atores-Coordenadores vão fazendo comentários a respeito do programa, do cenário, da utilização da arte, da música, do teatro, da poesia, etc.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cena III: Expectativas

Sanithna Phansavanh, great expectations 10" x 12" .. mixed media .. 2004

 

Atores: fecham os olhos. Recordam os antecedentes da atual ação. O início do Programa. Os dias anteriores ao atual. O dia de hoje. O caminho percorrido para chegar ao local do curso. A chegada. A entrada na sala. Como estão se sentindo agora…

Ator coordenador: solicita que os atores abram os olhos. Levantem-se. Andem pela sala.

Atores: abrem os olhos. Levantam-se. Andam pela sala. Exploram o espaço. Escolhem um objeto que represente a CHEGADA. Escolhem outro objeto representando a SAÍDA. Sentam-se. Dizem o nome dos objetos escolhidos.

Atores coordenadores: registram em um álbum-seriado o nome dos participantes seguido dos objetos escolhidos para representarem a chegada. No outro, os escolhidos para representarem a saída.

Ao mesmo tempo em que dizem os nomes dos objetos, os atores explicam porque os escolheram.

 Todos os atores: comentam os objetos escolhidos.

 

 

Cena IV: Gerentes

Ator-coordenador: coloca a fita com a música Pedro Pedreiro (Pedro Pedreiro. Chico Buarque de Holanda. In: Chico Buarque – Letra e Música. São Paulo, Companhia das Letras, 1990, p.40. ). Solicita a atenção dos atores para a audição.

Atores: ouvem a música, acompanhada pela leitura da letra, previamente colocada sobre as carteiras.

PEDRO PEDREIRO

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem

Manhã parece, carece de esperar também

Para o bem de quem tem bem

De quem não tem vintém

Pedro pedreiro fica assim pensando

Assim pensando o tempo passa

E a gente vai ficando pra trás

Esperando, esperando, esperando

Esperando o sol

Esperando o trem

Esperando o aumento

Desde o ano passado

Para o mês que vem

 

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem

Manhã, parece, carece de esperar também

Para o bem de quem tem bem

De quem não tem vintém

Pedro pedreiro espera o carnaval

E a sorte grande do bilhete pela federal

Todo mês

Esperando, esperando, esperando

Esperando o sol

Esperando o trem

Esperando aumento

Para o mês que vem

Esperando a festa

Esperando a sorte

E a mulher de Pedro

Está esperando um filho

Pra esperar também

 

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem

Manhã, parece, carece de esperar também

Para o bem de quem tem bem

De quem não tem vintém

Pedro Pedreiro está esperando a morte

Ou esperando o dia de voltar pro norte

Pedro não sabe mas talvez no fundo

Espera alguma coisa mais linda que o mundo

Maior do que o mar

Mas pra que sonhar

Se dá o desespero de esperar demais

Pedro pedreiro quer voltar atrás

Quer ser pedreiro pobre e nada mais

Sem ficar esperando, esperando, esperando

Esperando o sol

Esperando o trem

Esperando o aumento para o mês que vem

Esperando um filho pra esperar também,

Esperando a festa

Esperando a sorte

Esperando a morte

Esperando o norte

Esperando o dia de esperar ninguém

Esperando enfim nada mais além

Da esperança aflita, bendita, infinita

Do apito do trem

 

Pedro pedreiro esperando

Pedro pedreiro esperando

Pedro pedreiro esperando o trem

         Que já vem, que já vem, que já vem (etc.)

 Atores coordenadores: comentam a música. A música é relacionada com o tema “organização clássica do trabalho” e com a música de fundo “Bolero” (a idéia da repetição trazida pelas músicas – característica do trabalho monótono e parcelado da organização clássica).

                                          Breve pausa…

Ator coordenador: solicita aos atores que ocupam o espaço identificado no chão como “Gerente” que se apresentem individualmente, dizendo o que considerarem mais relevante a respeito de si mesmos e, também, o que mais lhes chamou a atenção, no curso, até o momento.

Atores do Grupo de Gerentes: um a um, vão se apresentando.

Enquanto os atores se apresentam, no entremeio, os atores-coordenadores vão fazendo comentários a respeito do programa, do cenário, da utilização da arte: música, teatro, poesia, etc.

 

  

Cena V: Supervisores

Atores coordenadores: exibem a seqüência inicial do filme Tempos Modermos ( Tempos Modernos, filme de Charlie Chaplin, distribuído em vídeo pela Globo Vídeo.)

Vídeo 1/9

 Vídeo 2/9

 Observação: O trecho selecionado de exibição corresponde ao segmento que vai do início do filme até o momento em que o personagem Carlitos, enlouquecido, é levado pela ambulância.

 Após a exibição, os atores coordenadores solicitam aos atores instalados no espaço identificado no chão como “Supervisores” que se apresentem. Na apresentação, os atores devem dizer algo que os companheiros ainda não conhecem a respeito de si mesmos e, em seguida, o que mais lhes chamou atenção no espetáculo até o momento.

 Atores: apresentam-se. Comunicam suas impressões.

Atores coordenadores: a partir das observações desse último grupo de atores, fazem comentários sobre o filme, chamando a atenção para a possibilidade de utilização pedagógica do cinema e teatro. Mostram que esses recursos conseguem, como no caso do filme de Chaplin, veicular sinteticamente as idéias.

Os coordenadores consideram que o filme já foi usado no Programa para outros objetivos. Agora, ele serve para fazer um retrato da organização clássica do trabalho e, especialmente, de sua forma peculiar de dividir o trabalho. Os coordenadores chamam a atenção para as relações entre o filme e o cenário. Alertam, rápida e especialmente, para a divisão da sala em supervisores, operadores, gerentes e técnicos e a divisão do trabalho vista no filme:

  • Operadores: todos aqueles que fazem alguma coisa, executam um trabalho particular (os operários, a secretária, o policial…). Na organização clássica, as funções operacionais são muito divididas (fragmentadas) e a forma de executá-las não é pensada pelo ocupante do cargo.
  • Supervisores: aqueles que controlam diretamente o trabalho dos operadores, aqueles que mandam o operador fazer aquilo que deve ser feito. No filme, o supervisor é representado pelos homens do dedo em riste, os controladores do ritmo na linha de montagem.
  • Técnicos: os responsáveis pela invenção e operação dos meios técnicos para operacionalizar ou concretizar uma determinada estratégia, missão ou visão organizacional. No filme, a estratégia organizacional é produzir a qualquer custo. Os técnicos (o acelerador da velocidade e o inventor da máquina de comer) inventam ou operam os meios de tornar a estratégia factível.
  • Gerentes: os que definem a missão, a visão e a estratégia organizacional. Na organização clássica (só nela?) definem também a tecnologia (comprar ou não comprar a máquina de comer…), a organização do trabalho e o “estatuto da gafieira”, ou seja: as relações de trabalho e as normas organizacionais (não pode fumar no banheiro durante o horário de trabalho…).

Simplificando e resumindo: técnicos e gerentes pensam e decidem, operadores e supervisores obedecem e executam (Uma exploração mais detalhada do segmento inicial do filme Tempos Modernos, enquanto um retrato, uma síntese e uma crítica da organização clássica do trabalho, pode ser encontrada em: KÜLLER, J.A. Ritos de Passagem – Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1997 ).

 

Cena VI: Operadores

Atores coordenadores: solicitam a um ator voluntário, pertencente ao grupo dos Operadores, que leia a

David Guglielmi

Foto: David Guglielmi

poesia Contratados (Agostinho Neto, Contratados. In: ANDRADE, M. Antologia Temática de Poesia Africana – Na Noite Grávida de Punhais. Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1977, p.189.), já disponível nas cadeiras de todos os demais atores que podem, assim, acompanhar a leitura.

 

 

CONTRATADOS

Longa fila de carregadores

domina a estrada

com os passos rápidos

 

Sobre o dorso

levam pesadas cargas

Vão

olhares longínquos

corações medrosos

braços fortes

sorrisos profundos como águas profundas

 

Largos meses os separam dos seus

e vão cheios de saudades

e de receio

mas cantam

 

Fatigados

esgotados de trabalhos

mas cantam

 

Cheios de injustiças

caladas no imo de suas almas

e cantam

 

Com gritos de protesto

mergulhados nas lágrimas do coração

e cantam

 

Lá vão

perdem-se na distância

na distância se perdem os seus cantos tristes

 

Ah!

eles cantam…

 

Ator voluntário: lê a poesia.

Sem comentários e imediatamente ao final da leitura…

 

Um dos Atores coordenadores: coloca a fita com a música Muxima ( Do disco Angola, Discos Eldorado. A letra não foi acrescentada ao texto por tratar-se de versão original em um dos dialetos angolanos. Trata-se de uma música folclórica de Angola. O temo Muxima designa, ao mesmo tempo, o coração e um lugar sagrado Angolano.) 

 Todos: ouvem, silenciosamente, a música, até o final.

Durante toda a audição, os Atores Coordenadores permanecem em atitude de concentração, dando o “tom” de comportamento para os demais atores. Após um momento de pausa, durante a qual a emoção da cena reflui…

Atores coordenadores: solicitam que os atores ocupantes do espaço identificado no chão como “Operadores” se apresentem. Na apresentação, os operadores seguem o mesmo roteiro utilizado pelos supervisores.

Atores do grupo “Operadores”: apresentam-se. Explicitam suas impressões.

Atores coordenadores: fazem comentários a respeito do sentido do impacto dramático provocado em cenas como esta (da audição da poesia e música). Expõe, rapidamente, que a integração entre o pensamento e emoção será uma característica geral do módulo.

 

 

Cena VII: Técnicos

 
 
 
 

 

Imagem Google Perolando

Imagem Google Perolando

 

 

 

 

 

Atores coordenadores: solicitam que os atores peguem o poema O Relógio (Melo Neto, J.C.. Antologia Poética.  José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1979, p.68.), antes colocado sobre as carteiras. O poema está dividido em quatro partes. É atribuída uma parte a cada um dos quatro grupos dispostos nos quadrantes. Os coordenadores propõem que cada grupo prepare a apresentação do poema através de leitura e movimentos rítmicos, em 20 minutos. Orientam para que os grupos, na preparação, procurem captar, a partir de uma leitura do texto inteiro, o sentido geral da parte do poema que deverão representar. É em cima desse sentido geral que os movimentos devem ser elaborados. Os grupos devem evitar uma representação que reproduza ponto a ponto, em movimentos, a leitura do texto. Os movimentos não devem tentar ser uma réplica das palavras.

 

O RELÓGIO

1. Ao redor da vida do homem

    há certas caixas de vidro,

    dentro das quais, como em jaula,

    se ouve palpitar um bicho.

 

    Se são jaulas não é certo;

    mais perto estão das gaiolas

    ao menos, pelo tamanho

    e quebradiço da forma.

 

    Umas vezes, tais gaiolas

    vão penduradas nos muros;

    outras vezes, mais privadas,

    vão num bolso, num dos pulsos.

 

    Mas onde esteja: a gaiola

    será de pássaro ou pássara:

    é alada a palpitação,

    a saltação que ela guarda;

 

    e de pássaro cantor,

    não pássaro de plumagem:

    pois delas se emite um canto

    de uma tal continuidade

 

    que continua cantando

    se deixa de ouvi-lo a gente:

    como a gente às vezes canta

    para sentir-se existente.

 

2. O que eles cantam, se pássaros,

    é diferente de todos:

    cantam numa linha baixa,

    com voz de pássaro rouco;

 

    desconhecem as variantes

    e o estilo numeroso

    dos pássaros que sabemos,

    estejam presos ou soltos;

 

    têm sempre o mesmo compasso

    horizontal e monótono,

    e nunca, em nenhum momento,

    variam de repertório:

 

     dir-se-ia que não importa

     a nenhum ser escutado.

     Assim, que não são artistas

     nem artesãos, mas operários

 

     para quem tudo o que cantam

     é simplesmente trabalho,

     trabalho rotina, em série,

     impessoal, não assinado,

 

     de operário que executa

     seu martelo regular

     proibido (ou sem querer)

     do mínimo variar.

 

3. A mão daquele martelo

     nunca muda de compasso.

     Mas tão igual sem fadiga,

     mal deve ser de operário;

 

     ela é por demais precisa

     para não ser mão de máquina,

     e máquina independente

     de operação operária.

 

     De máquina, mas movida

     por uma força qualquer

     que a move passando nela,

     regular, sem decrescer:

 

     quem sabe se algum monjolo

     ou antiga roda de água

     que vai rodando, passiva,

     graças a um fluído que a passa;

 

     que fluído é ninguém vê:

     da água não mostra os senões:

     além de igual, é contínuo,

     sem marés, sem estações.

 

     E porque tampouco cabe,

     por isso, pensar que é o vento,

     há de ser um outro fluído

     que a move: quem sabe, o tempo.

 

4. Quando por algum motivo

     a roda de água se rompe,

     outra máquina se escuta:

     agora, de dentro do homem;

 

     outra máquina de dentro,

     imediata, a reveza,

     soando nas veias, no fundo

     de poça no corpo, imersa.

 

     Então se sente que o som

     da máquina, ora interior,

     nada possui de passivo,

     de roda de água: é motor;

 

     se descobre nele o afogo

     de quem, ao fazer, se esforça,

     e que ele, dentro, afinal,

     revela vontade própria,

 

     incapaz, agora, dentro,

     de ainda disfarçar que nasce

     daquela bomba motor

     (coração, noutra linguagem)

 

     que, sem nenhum coração,

     vive a esgotar, gota a gota,

     o que o homem, de reserva,

    possa ter na íntima poça.  

Após 20 minutos…

Grupo 1: um dos integrantes do grupo lê o primeiro segmento do poema, enquanto os demais representam o poema através de movimentos rítmicos (corpo expressivo).

Sem pausas, nem comentários…

Grupos 2,3, e 4: procedem de forma similar ao grupo 1, em relação aos seus segmentos de poema.

                                 Pausa, na qual ocorrem comentários espontâneos sobre o trabalho.

Ator coordenador: solicita que os atores, ocupantes do espaço identificado no chão como “Técnico”, se apresentem dizendo: o que quiserem sobre si mesmos e, também, o que mais lhes chamou a atenção até o momento.

Técnicos: apresentam-se e expõem suas impressões.

Atores: apresentam suas dúvidas a respeito do espetáculo.

Atores coordenadores: esclarecem as dúvidas dos atores, aproveitando para apresentar o programa do espetáculo teatral.

 

The Birth of the World. Montroig - late summer-fall 1925, Oil on canvas, 8 2 3/4 x 6 6 3/4 (250.8 x 200 cm), The Museum of Modern Art, New York, Joan Miró, Surrealismo

The Birth of the World. Montroig - late summer-fall 1925, Oil on canvas, 8' 2 3/4" x 6' 6 3/4" (250.8 x 200 cm), The Museum of Modern Art, New York, Joan Miró, Surrealismo

Cena VIII: Síntese

 

 Atores coordenadores: retomam à evolução do trabalho, vista no Núcleo Central e às cenas  anteriores em uma síntese que contemple as características fundamentais da organização clássica do trabalho (Taylorista/Fordista) e sua peculiar divisão estrutural e técnica do trabalho.

 

Observação: os resumos, vistos adiante, colocados em cartaz ou transparência, podem auxiliar o coordenador na síntese. (Esses resumos foram extraídos de: KÜLLER, J.A. Ritos de Passagem – Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, SENAC, 1997. )  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PAPÉIS ESTRUTURAIS DA ORGANIZAÇÃO CLÁSSICA

CARACTERÍSTICAS DA ORGANIZAÇÃO CLÁSSICA

 

1.       SEPARAÇÃO ENTRE CONCEPÇÃO E EXECUÇÃO

2.       FRAGMENTAÇÃO DO TRABALHO DE EXECUÇÃO

3.       RELAÇÃO AVERSIVA COM O TRABALHO

4.       PRODUTO É RESULTADO DO TRABALHADOR COLETIVO

5.       PRODUÇÃO EM MASSA

6.       ESPECIALIZAÇÃO E AJUSTE DO HOMEM A ATIVIDADES REPETITIVAS

7.       TREINAMENTO VISTO COMO ADESTRAMENTO

8.       CONTROLE EXTERNO DO TEMPO E DO RITMO DE TRABALHO

9.       NÃO-PROPRIEDADE DOS MEIOS DE PRODUÇÃO

10.   SEPARAÇÃO PAPEL/PESSOA

         Se ainda houver tempo… 

Atores coordenadores: focalizam o ambiente. Situam a função prática e o simbolismo das figuras traçadas no chão. Solicita que os atores observem os quadros. Discutam o significado de cada um deles… Antes dos atores avaliarem o dia e saírem, fala da tarefa prevista para o início de todas as sessões e distribui, entre os grupos antes formados, os dias para a realização do Teatro-Jornal.

 

Referência para os Coordenadores

 

As figuras no chão e nas paredes têm uma função simbólica e/ou outra pragmática. No chão, por exemplo, o círculo é um símbolo (da perfeição) e delimita de forma pragmática o espaço dramático, o espaço do “como se”. Diferencia-o do espaço do grupo e do contexto grupal representado pelo semicírculo das cadeiras. Os quadros, fotografias e recortes de cenas de trabalho e produção não são símbolos. Devem indicar concretamente a diversidade de formas produtivas e de organização do trabalho. Já o velho sábio e a mandala são símbolos. Focam uma determinada área de experiência e abrem uma multiplicidade de significados.

Os principais símbolos colocados na sala referem-se ao processo criativo, tal como pensado por Jung. Indicam, em geral, opostos (círculo x quadrado, por exemplo) e a conjugação dos opostos (por exemplo, a mandala). O texto a seguir pode ajudar na preparação do cenário ou na sua interpretação.

 

 

Sobre Símbolos

 

1. Arquitetura

Portal 1 - 2001 -Antonio Cláudio Massa

Portal 1 - 2001 -Antonio Cláudio Massa

 

 

 

O simbolismo arquitetônico é, naturalmente, muito amplo e complexo. Fundamenta-se, em princípio, na correspondência de sistemas de ordenação, resultado de levar à abstração e coincidência fenômenos diversos em conexão com as formas que pode tomar a construção arquitetônica e a organização dos espaços. Simbolismos secundários ao aludido, da “ordem”, derivam da forma, das estruturas, cor, material, função, distribuição em altura, hierarquia de elementos, etc.

 

 

 

 

2. Caos

A doutrina da realidade considera o caos como um estágio inicial cegamente impulsionado para uma nova ordem de fenômenos e de significações. Blavatsky pergunta-se: “Que é o caos primordial senão o éter contendo em si mesmo todas as formas e todos os seres, todos os germes da criação universal”.

 

3. Círculo

Às vezes se confunde com a circunferência, e como esta com o movimento circular. Porém, ainda que o sentido mais geral englobe os três aspectos, há determinações particulares que importa destacar. O círculo ou disco é, com freqüência, emblema solar (indiscutivelmente quando está rodeado de raios). Também tem correspondência com o número 10 (retorno à unidade após a multiplicidade), pelo que simboliza muitas vezes o céu e a perfeição ou também a eternidade. Há uma implicação psicológica profunda neste significado do círculo como perfeição. Por isso diz Jung que o quadrado, como número plural mínimo, representa o estado pluralista do homem que não alcançou a unidade interior (perfeição), enquanto que o círculo corresponderia ao final da referida etapa.

 

4. Circunferência

Símbolo da limitação adequada, do mundo manifesto, do preciso e regular, também da unidade interna da matéria e da harmonia universal, segundo os alquimistas. O ato de incluir seres, objetos ou figuras no interior de uma circunferência tem um sentido: de dentro, implica uma limitação e determinação; de fora, constitui a defesa de tais conteúdos físicos ou psíquicos, que deste modo se protegem contra os perils of the soul que ameaçam lá do exterior, assimilado até certo ponto ao caos; perigos, sobretudo, de falta de limites e desagregação.

 

5. Espaço

De certo modo, o espaço é uma região intermediária entre o cosmo e o caos. Como âmbito de todas as possibilidades é caótico, como lugar das formas e das construções é cósmico. A relação entre o espaço e o tempo bem cedo constituiu um dos meios para dominar a natureza rebelde do espaço. Outro, o mais importante, foi sua organização por meio de divisões fundadas em sua tridimensionalidade. Cada dimensão, em seus dois sentidos possíveis – na reta – facilitou dois pólos de orientação. A estes seis pontos situacionais acrescentou-se o sétimo: o centro. O espaço ficou convertido assim numa construção lógica. O simbolismo do nível e da orientação completou sua ordenação significativa. A tridimensionalidade do espaço se expressa por uma cruz de três dimensões, cujos ramos se orientam nas seis direções espaciais: as quatro dos pontos cardeais mais as duas do zênite e do nadir.

 

Formas e Espaços, Justino Alves

Formas e Espaços, Justino Alves

 

 

 

6. Formas

As formas, que dentro de um mesmo sistema ou grupo são diferentes, podem ordenar-se em séries ou gama (e são aptas a serem incluídas em ordens de analogias e correspondências). Assim, trapézio, retângulo, quadrado, círculo assinalam um avanço progressivo da irregularidade à regularidade, que poderia simbolizar exatamente uma evolução moral. Jung alude a estas coisas quando diz que, o quadrado, como número plural mínimo (simbolizante do situacional) representa o estado pluralista (interno) do homem que ainda não alcançou sua unidade interior. Contudo, é superior ao trapézio como este ao trapezóide. O octógono é a figura de intercalação (intermediário) entre o quadrado e o círculo. Não é preciso insistir que os símbolos têm significados em diversos planos, principalmente no psicológico e no cósmico. Assim, psicologicamente, o triângulo é também, em sua posição natural, com o vértice para cima, e colocado entre o quadrado e o círculo, um elemento de comunicação. Porém, objetivamente, essas três figuras simbolizam a relação (triângulo) da terra (quadrado) e do céu (círculo, roda, rosácea).

 

7. Mandala

Mandala de Avalokiteshvara,a roda da Compaixão

Mandala de Avalokiteshvara,a roda da Compaixão

Este termo hindu significa círculo. (…) No ocidente, a alquimia apresenta com relativa freqüência figuras de inegável caráter mandálico nas quais se contrapõem o círculo, o triângulo e o quadrado. Segundo Heinrich Khunrath, do triângulo no quadrado nasce o círculo. (…) A mandala, em resumo, é antes de tudo uma imagem sintética do dualismo entre diferenciação e unificação, variedade e unidade, exterioridade e interioridade, diversidade e concentração. Exclui, por considerá-la superada, a idéia da desordem e sua simbolização. É, pois, a exposição plástica, visual, da luta suprema entre a ordem, mesmo a que existe na variedade, e o desejo final de unidade e retorno à condensação original no inespacial e intemporal (ao “centro” puro de todas as tradições). Porém, como a preocupação ornamental (quer dizer, simbólica inconsciente), é também a de ordenar um espaço (caos) dado, cabe um conflito entre duas possibilidades: a de que algumas presumíveis mandalas surjam das simples vontade (estética ou utilitária) de ordem; ou de que, em verdade, procedam do anseio místico de integração suprema.

 

8. Quaternário

 

(…) Por isto o quaternário corresponde à terra, à organização material, enquanto que o três expõe o dinamismo moral e espiritual.

 

 

 

 

 

9. Retângulo

É a mais racional, segura e regular de todas as formas geométricas; isto se explica empiricamente pelo fato de que, em todos os tempos e lugares, é a forma preferida pelo homem e a que ele dá a todos os espaços e objetos preparados para a vida. A casa, o quarto, a mesa, a cama povoam de retângulos o ambiente humano.

 

10. Triângulo

Imagem geométrica do ternário, no simbolismo dos números equivale ao três. Em sua mais alta significação aparece como emblema da Trindade. Em sua posição normal, com o vértice para cima também simboliza o fogo e o impulso ascendente de tudo para a unidade superior, desde o extenso (base) ao inextenso (vértice), imagem da origem ou ponto irradiante. (…) Com o vértice truncado, símbolo alquímico do ar; com o vértice para baixo, símbolo da água; em igual posição e com o vértice truncado, símbolo da terra. A interpenetração de dois triângulos completos em posições diferentes (água e fogo) dá lugar à estrela de seis pontas, chamada selo de Salomão, que simboliza a alma humana. (As interpretações anteriores são excertos de: CIRLOT, J.E. Dicionário de Símbolos. São Paulo. Editora Moraes, 1984.) 

 

11. Velho sábio

 

Ancião, Toia Neuparth, pintora angolana

Ancião, Toia Neuparth, pintora angolana

 Se a velhice á um sinal de sabedoria e de virtude (os presbíteros são originalmente anciãos, i.e., sábios e guias), se a China desde sempre honrou os velhos, é que se trata de uma prefiguração da longevidade, um longo acúmulo de experiência e de reflexão, que é apenas uma imagem imperfeita da imortalidade. Assim, a tradição conta que Lao-tse nasceu de cabelos brancos, com aspecto de um velho e que daí vem o seu nome, que significa Velho Mestre. O taoísmo da época dos Han conhece uma divindade suprema, chamada Huang-lao Kium. i.e., Velho Senhor amarelo: expressão puramente simbólica que M. Maspéro corretamente relacionou ao Ancião dos Dias do Apocalipse: poderíamos acrescentar o Velho da Montanha, dos drusos. No mesmo Apocalipse, o Verbo é apresentado de cabelos brancos, mais uma vez sinal da eternidade. Mas, por escapar às limitações do tempo pode ser expresso tanto no passado quanto no futuro; ser um velho é existir desde antes da origem; é existir depois do fim desse mundo. Assim, o Buda qualifica-se de Irmão mais velho do Mundo. Xiva é por vezes venerado (notadamente no Kampuchea (Camboja) angkoriano) sob o nome de Velho Senhor (Vridheshvara). A sociedade secreta chinesa T’ien-ti huei é às vezes designada como sociedade do Verdadeiro Ancestral (por exemplo, no decreto do imperador vietnamita Gia Long, que a condena). Este Ancestral é o Céu, pelo menos para o Homem verdadeiro, filho do Céu e da terra. ( Retirado de: Chevalier, J. e Gheerbrant, A. Dicionário dos Símbolos. Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1995, p. 934.)   

         

Cena de finalização e transição 1

 

 

foto reproduzida do blog vandrefernando.blogspot.com

foto reproduzida do blog vandrefernando.blogspot.com

Atores: escrevem, em um pedaço de papel, o próprio nome e uma frase que indique como viveram essa primeira etapa do drama. Cada um fixa no quadro de avisos a sua frase.

 

       Após a saída dos demais atores…

 

Atores coordenadores: analisam a sessão tendo como referências as frases dos atores, o desenvolvimento das atividades e os objetivos do ato.

 

SESSÃO DE APRENDIZAGEM DE ORGANIZAÇÃO E ESTÉTICA DOS AMBIENTES

 

 O material publicado neste post refere-se a uma sessão de aprendizagem, retirada do Manual do Instrutor,  da Estação de Trabalho de Organização e Estética dos Ambientes , um dos componentes curriculares de uma versão alternativa do Programa de Educação para o Trabalho (PET), do Senac/SP. O programa é destinado a jovens em situação de busca do primeiro emprego. A versão alternativa foi criada pela Germinal e não chegou a ser publicada e implementada na forma aqui apresentada. O excerto deve ser encarado como uma amostra do trabalho que pode ser desenvolvido pela Germinal Consultoria.

 

Elysium, 1906,Watercolor and gouache on paper on board, 158 x 140 cm,State Tretiakov Gallery. Moscow, Leon Bakst, Arte-Deco

Elysium, 1906,Watercolor and gouache on paper on board, 158 x 140 cm,State Tretiakov Gallery. Moscow, Leon Bakst, Arte-Deco

 

 

SESSÃO II. A BUSCA DE OUTRO OLHAR E DE OUTRO PERCEBER

 

 

 Objetivos: Iniciar o trabalho com a subjetividade, enquanto um dos registros ecológicos e uma das possibilidades de mudança ambiental, a partir da instauração de uma estranheza que faça rever as formas habituais de percepção. Constatar e criticar a habituação do perceber. Promover a abertura dos sentidos. Fixar estratégias que possibilitem um olhar transformado e renovadas formas de perceber sobre os ambientes usuais e sobre os ambientes novos.

 

 

 

 

ATIVIDADE 1 . Rompendo hábitos de perceber

 “O hábito envolve o uso, que se transforma em usança e condiciona a habitabilidade urbana. Esse uso habitual torna ilegível o lugar urbano e inibe a locução verbal; ao contrário, para ler o ambiente é necessário romper aquele hábito e surpreender-se ante o local do dia a dia”. (Ferrara D’Alécio, Lucrécia, Olhar Periférico: informação, linguagem, percepção ambiental. São Paulo, USP, editora da USP, 1999, página 21.).

 

Yur Sene -Teia, Fotógrafos de Elvas

Foto: Yur Sene -Teia, Fotógrafos de Elvas

O coordenador inicia a sessão com a apresentação do segmento inicial do filme, dos irmãos Taviani, “Pai Patrão” (no segmento, o pai ensina o protagonista a ouvir, no campo, os barulhos da noite. A sequência referida vai até o momento em que o garoto carrega a lata de leite). Usando de procedimento semelhante ao do filme (fechar os olhos, concentrar-se…) o coordenador orienta a audição dos ruídos habitualmente não percebidos na sala de aula.

Feita a experiência, o coordenador solicita comentários sobre ela. Articula esses comentários com o relato e discussão do exercício proposto no final da primeira sessão. A discussão gira em torno da percepção habitual e da percepção diferenciada. Sobre os motivos da habituação e sobre as possibilidades e formas de superá-la.

 

 Pondo poesia no olhar e olhando com poesia

O instrutor projeta uma transparência com uma reprodução do quadro: Subúrbios da Cidade Paranóico–Crítica. Tarde nos Arredores da História Européia, de Salvador Dali.

 

Solicita, aos participantes, uma breve contemplação da reprodução do quadro e para que atentem para as sensações por ele produzidas. Distribui, a seguir, uma cópia do poema A Rua Destruída, de Pablo Neruda. A seguir, o coordenador divide os participantes em pequenos grupos (máximo de 4 integrantes) e solicita a leitura do seguinte texto:

Texto de apoio: A Rua Destruída

Pelo ferro injuriado, pelos olhos do gesso

passa uma língua de anos diferentes

do tempo. É uma cauda

de ásperas crinas, umas mãos de pedra cheias de ira,

e a cor das casas emudece, e estalam

as decisões da arquitetura,

um pé terrível enxovalha as sacadas:

com lentidão, com sombra acumulada,

com máscaras mordidas de inverno e lentidão,

passeiam os dias de alta fronte

entre casas sem lua.

 

A água e o costume e o lodo branco

que a estrela desprende, e especialmente

o ar que os sinos têm golpeado com fúria

gastam as coisas, tocam

as rodas, detem-se

nas tabacarias,

e cresce o cabelo vermelho das cornijas

como um longo lamento, enquanto na profundeza

tombam chaves, relógios,

flores assimiladas no esquecimento.

 

Onde está a violeta recém-parida? Onde

a gravata e o virginal zéfiro rubro?

Sobre as povoações

uma língua de pó apodrecido se adianta

a romper anéis, a roer pintura,

fazendo uivar sem voz as cadeiras negras,

cobrindo os florões do cimento, os baluartes

de metal destroçado,

o jardim e a lã, as ampliações de fotografias ardentes

feridas pelas chuvas, a seda das alcovas, e os grandes cartazes

dos cinemas onde lutam

a pantera e o trovão,

as lanças do gerânio, os armazéns cheios de mel perdido,

a tosse, as roupas de tecido brilhante,

tudo se cobre dum sabor mortal

    de retrocesso e umidade e ferida. (…)

A Rua Destruída, Pablo Neruda (Neruda, Pablo, Residência na Terra – II, tradução de      Paulo de Mendes Campos, Porto Alegre, L&PM, 1980, p. 27)

 

Distribuídos em pequenos grupos, os participantes vão comentar as sensações produzidas pelo quadro e pela leitura do texto de Neruda. Comparam também pintura e poema, observando diferenças e semelhanças no tom e no conteúdo. Se necessário, o coordenador facilita, nos grupos, a interpretação do texto.

Após a apresentação dos comentários dos grupos, o coordenador instiga uma discussão sobre as formas de ver do poeta e do pintor e das possibilidades de ver o belo no cotidiano (Dali) e de transformar em beleza uma visão do cotidiano (Neruda). Promove, enfim, um debate que articule esse momento com o anterior (olhar habitual x olhar diferenciado).

    

ATIVIDADE II: O dia da informação nova

Imagem S/N reproduzida do site titaferreira.multiply.com

Imagem S/N reproduzida do site titaferreira.multiply.com

O coordenador distribui uma cópia para cada participante e solicita a leitura do seguinte texto:

Texto de Apoio: O Dia da Informação Nova

Abandonemos a idéia de já ter visto tudo: “A verdadeira viagem de descoberta consiste não em procurar novas paragens, mas em ter novos olhos.” Marcel Proust

Tenho proposto aos meus alunos mais interessados um exercício interessante: decretar para si um dia dedicado à obtenção de novas informações, de toda a sorte. Ver, perceber e registrar novos locais, novas pessoas, novos detalhes do dia-a-dia, desde que se levanta, pela manhã, até a hora em que se irá dormir. Antes de se recolher, consultar a memória ou as suas anotações e fazer um balanço do que se conheceu de novo.

Quem faz esse exercício fica maravilhado com os resultados. Naquele dia, seu mundo mudou. Ficou mais colorido e interessante. Houve quem anotasse mais de duzentos registros. Contudo, o mais interessante é a surpresa que nasce no meio da manhã, quando o jogo começa a ficar cada vez mais estimulante.

Claro que é preciso uma determinação forte apoiada em alguma disciplina para não perder a concentração, em virtude das distrações que sempre ocorrem. Também é preciso ajudar o acaso: mudar de trajetos, variar de pontos de vista, olhar o que normalmente não se olha até por educação.

É preciso assumir o descondicionamento da criança e a curiosidade do turista e, de quebra, agir também como repórter. Se vocês ficarem curiosos, tentem. É uma experiência gratificante. Por um lado, descobrirão que tipos interessantes não estão só nos filmes de Fellini, e por outro, conhecerão uma outra cidade onde vocês já vivem.

 O Dia da Informação Nova (FAVA, P. F. Criatividade e Processo de Criação. Petrópolis, Editora Vozes, 1987, p.88.)

Depois da leitura,  solicita que os jovens saiam da sala e caminhem pelos arredores. Em cerca de 30 minutos, eles devem procurar ver coisas que ainda não tinham visto nos arredores. Ao mesmo tempo, devem procurar ver com olhos novos o que já tinham visto.

 

ATIVIDADE III. Tirando poesia do olhar

 

Paul Nash- Surrealismo, Palings, 1924-1925,Graphite, watercolour on paper,Height: 56.5 cm; Width: 38.8 cm,Courtauld Institute of Art, London, UK

O coordenador seleciona um fundo musical apropriado. Na medida em que cada participante retorne à sala, será recebido pelo coordenador. O coordenador solicita que o jovem permaneça em silêncio e escreva um pequeno poema sobre a experiência anterior. Tendo todos terminado, reunidos nos mesmos grupos da leitura do texto, os jovens lêem seus poemas, conversam sobre a vivência e fazem uma correção, do ponto de vista gramatical, do texto dos poemas. Por fim, preparam um painel com todos os poemas. Esse movimento encerra a sessão.

 

 Duração: 3 horas

 

Uma sessão de aprendizagem da Estação de Trabalho de Saúde 22 de junho de 2008

 

O material publicado neste post refere-se a uma sessão de aprendizagem, retirada do Manual do Instrutor, da Estação de Trabalho de Saúde. A Estação de Trabalho é um dos componentes curriculares de uma versão alternativa do Programa de Educação para o Trabalho (PET), do SENAC/SP. O programa é destinado para jovens em busca do primeiro emprego. A versão alternativa foi criada pela Germinal e não chegou a ser publicada e implementada, pelo menos na forma aqui apresentada. O excerto deve ser encarado como uma amostra do trabalho que pode ser desenvolvido pela Germinal Consultoria.

 

 

 

SESSÃO I –  CONCEITO DE SAÚDE

 

Objetivos: esboçar uma caracterização do grupo de participantes em termos de hábitos e condições de vida. Possibilitar aos participantes uma primeira aproximação com a Estação de Trabalho, articulando-a com suas experiências de vida. Apresentar o conteúdo e a forma de desenvolvimento da Estação de Trabalho, adequando-os às expectativas do grupo. Iniciar a construção e interiorização do conceito de saúde, adotando como referência os conceitos propostos pela OMS e pela Oitava Conferência Nacional de Saúde (Brasil, 1986). Demonstrar a operacionalidade dos conceitos já construídos e em construção, em contraposição com aquele de ausência de doença. Identificar a realidade da própria cidade do ponto de vista da saúde, conforme os conceitos discutidos.

 

                       

Atividade 1: A integração do grupo

 

Foto do espetáculo Samwaad

Foto do espetáculo Samwaad do Projeto Dança Comunidade, reproduzida de http://www.ethos.org.br

 

 

 

 

 

 

 

A Estação de Trabalho é iniciada com dois estímulos incidentais, ambos já postos antes da entrada dos participantes. Uma música clássica suave (o primeiro movimento da Sonata nº 8 em Dó Menor, Op.13 (Pathétique) de Beethoven, por exemplo.), como fundo musical, e a projeção de um slide ou transparência contendo o seguinte excerto de poema:

 

 

 

               

              Telegrama de Moscou

Pedra por pedra reconstruiremos a cidade.

Casa e mais casa se cobrirá o chão.

Rua e mais rua o trânsito ressurgirá.

Começaremos pela estação da estrada de ferro

e pela usina de energia elétrica.

Outros homens, em outras casas,

continuarão a mesma certeza.

Sobraram apenas algumas árvores

com cicatrizes, como soldados.

A neve baixou, cobrindo as feridas.

O vento varreu a dura lembrança.

Mas o assombro, a fábula

gravam no ar o fantasma da antiga cidade

que penetrará o corpo da nova.

 

 

Drummond de Andrade, C. Telegrama de Moscou. In: A Rosa do Povo. Rio de Janeiro, Record, 1984, p.166

 

 

No ambiente, assim criado e assim mantido, o coordenador deve apresentar-se rapidamente e, logo em seguida, propor o desenvolvimento do “Jogo das Assinaturas”.

 

Jogo das Assinaturas

No “Jogo das Assinaturas”, cada participante recebe uma folha de papel contendo uma pergunta que deve fazer a todos os demais, colhendo as assinaturas dos que a ela responderem afirmativamente. As folhas de papel (sulfite) serão previamente preparadas e distribuídas ao acaso antes do início do “jogo”, contendo uma pergunta diferente em cada uma delas.

 

 

Perguntas do Jogo das Assinaturas

 

1. Você já precisou fazer dieta?

2. Você acha que seu peso e sua altura são compatíveis com sua idade?

3. Você se alimenta bem?

4. Você dorme no mínimo 8 horas por dia?

5. Você fuma?

6. Você conhece as formas de prevenção da AIDS?

7. No seu bairro há saneamento básico?

8. A sua rua é arborizada?

9. Você já precisou do atendimento médico de um serviço público?

10. Você considera importante o lazer para a sua saúde?

11. Você conhece algum portador do vírus da AIDS?

12. Você já vivenciou alguma situação de violência entre jovens?

13. Você tem um bom relacionamento com sua família??

14. Você já ficou “de pileque”?

15. Você conhece algum alcoólatra?

16. Você já tentou convencer algum amigo, vizinho ou parente a beber menos?

17. Você já estimulou alguém a tomar um “fogo”?

18. Você participa de algum grupo que mantém atividades comunitárias?

19. Você considera bons os serviços públicos de saúde de seu bairro (ou cidade)?

20. Você se considera uma pessoa que sabe perder?

21. Você pratica algum esporte ou exercício físico?

22. Você sabe o que é sexo seguro?

23. Você gosta de estudar?

24. Os seus vizinhos são solidários?

25. O bairro onde você mora é violento?

26. O seu ambiente escolar é saudável?

27. Você gostaria de ter mais amigos?

28. Você tem com quem conversar quando está triste?

29. Você respeita o meio ambiente?

30. Você gostaria de ser uma outra pessoa?

31. Você já organizou um evento esportivo?

 

 

A relação de perguntas do jogo de assinaturas, antes inserida, é uma sugestão. Procurou-se abordar os cinco campos de ação de promoção de saúde proposta pela Carta de Ottawa:

1) Construção de políticas públicas saudáveis;

2) Criação de ambientes favoráveis à saúde;

3) Desenvolvimento de habilidades individuais;

4) Reforço de ação comunitária;

5) Reorientação dos serviços de saúde.

 

 

Durante o exercício, todos (participantes e coordenadores) entrevistam a todos, tendo como referência a pergunta sorteada e visando a obtenção de assinaturas, a serem registradas na própria folha onde a pergunta está contida. Para tanto, todos deslocam-se livremente e ao mesmo tempo pela sala. Pode ser interessante manter o ambiente inicial (retroprojetor ligado, poema em foco, música suave…) e sua influência sobre o clima do grupo. Para o coordenador, essa é uma oportunidade para fazer um primeiro contato pessoal com cada um e uma primeira anotação e tentativa de memorização do nome dos participantes.

 

Completando essa fase, o coordenador registra os nomes dos entrevistadores (outro recurso de memorização), a pergunta atribuída a cada um deles e o número de assinaturas obtidas em relação a cada pergunta. Esses registros podem ser feitos em uma tabela traçada no flip chart, no quadro de anotações, em transparência ou no computador (data-show).

 

 

 

Atividade 2: Conceito de Saúde

 

Flor da Mungubeira - foto Riacho Alagadiço (Blogger)

Flor da Mungubeira - foto Riacho Alagadiço (Blogger)

 

 

Após os registros, o coordenador estimula o grupo a comentá-los. A partir desses comentários, o coordenador deve encaminhar o debate para a relação: questões e respostas obtidas / conceito amplo de saúde que se quer trabalhar. Finda essa fase, o coordenador apresenta sucintamente a estrutura da Estação de Trabalho e ressalta os pontos importantes do processo, principalmente a necessidade de participação de todos.

Divididos em pequenos grupos, os participantes devem pesquisar, recortar e colar/montar, ou desenhar e pintar cartazes que expressem um conceito de saúde. O coordenador assessora o trabalho, evitando manifestações assertivas sobre o conteúdo ou colocações do tipo “certo ou errado”.

Ato contínuo, os grupos apresentam os cartazes produzidos. O coordenador pode incentivar uma apresentação criativa dos mesmos (no interior de uma ação dramática, por exemplo). Feita a apresentação dos grupos, os participantes, em painel aberto, debatem as diferentes propostas em direção a um consenso sobre o conceito de saúde. Em seguida, a versão do grupo é contraposta à evolução do conceito de saúde dentro dos fóruns da Organização Mundial de Saúde.

 

 

 

Atividade 3: Avaliando a cidade

 

A atividade á iniciada com uma audição atenta e acompanhada pelas leituras das letras das músicas: A Cidade e A Cidade Ideal (A Cidade Ideal, de Enriquez – Bardotti, versão de Chico Buarque.).

 

 

 

 

Texto de Apoio 1: A Cidade

 

O sol nasce e ilumina as

pedras evoluídas

Que cresceram com a força

de pedreiros suicidas

Cavaleiros circulam vigiando

as pessoas

Não importa se são ruins

Nem importa se são boas

E a cidade se apresenta

centro das ambições

Para mendigos ou ricos

e outras armações

Coletivos, automóveis,

motos e metrôs

Trabalhadores, patrões

policiais,

camelôs

 

A cidade não pára

A cidade só cresce

O de cima sobe e

o de baixo desce

 

A cidade se encontra

prostituída

Por aqueles que a usaram

em busca de saída

ilusora de pessoas de

outros lugares

A cidade e a sua fama vai

além dos mares

No meio da esperteza

internacional

A cidade até que não está

tão mal

E a situação sempre mais

ou menos

Sempre uns com mais e

outros com menos

 

A cidade não pára

A cidade só cresce

O de cima sobe e

o de baixo desce

 

Eu vou fazer uma embolada

Um samba, um maracatu

Tudo bem envenenado

Bom pra mim e bom pra tu

Pra a gente sair da lama e

enfrentar os urubu

Num dia de sol

Recife acordou

Com a mesma fedentina

do dia anterior

 

 

A Cidade, de Chico Science, com Chico Science e Nação Zumbi, Isto É Show Pop Rock Brasil, CD 7

 

 

 

 

 

 

 

Texto de Apoio 2: A Cidade Ideal

 

CACHORRO 

A cidade ideal dum cachorro

Tem um poste por metro quadrado

Não tem carro, não corro, não morro

E também nunca fico apertado

 

GALINHA      

A cidade ideal da galinha

Tem as ruas cheias de minhocas

A barriga fica tão quentinha

Que transforma o milho em pipoca

 

CRIANÇAS    

Atenção porque nesta cidade

Corre-se a toda velocidade

E atenção que o negócio está preto

Restaurante assando galeto

 

TODOS         

Mas não, mas não

O sonho é meu e eu sonho que

Deve ter alamedas verdes

A cidade dos meus amores

E, quem dera, os moradores

E o prefeito e os varredores

Fossem somente crianças

 

Deve ter alamedas verdes

A cidade dos meus amores

E, quem dera, os moradores

E o prefeito e os varredores

E os pintores e os vendedores

Fossem somente crianças

 

GATA              

A cidade ideal de uma gata

É um prato de tripa fresquinha

Tem sardinha num bonde de lata

Tem alcatra no final da linha

 

JUMENTO      

Jumento é velho, velho e sabidão

E por isso já está prevenido

A cidade é uma estranha senhora

Que hoje sorri e amanhã te devora

 

CRIANÇAS       

Atenção que o jumento é sabido

É melhor ficar bem prevenido

E olha, gata, que a tua pelica

Vai virar uma bela cuíca

 

TODOS             

Mas não, mas não

O sonho é meu e eu sonho que

Deve ter alamedas verdes

A cidade dos meus amores

E, quem dera, os moradores

E o prefeito e os varredores

E os pintores e os vendedores

As senhoras e os senhores

E os guardas e os inspetores

Fossem somente crianças

 

 

Uma possibilidade de exploração das músicas:

As duas músicas falam de cidades. A primeira faz uma leitura de uma cidade real (Recife, Pernambuco). A segunda, várias leituras de cidade ideal (da gata, do cachorro) contrapondo-as com outras leituras das cidades reais (a voz de advertência das crianças). O ideal pode ser concebido a partir da crítica do real.

 

 As maiores utopias são formuladas no interior das crises mais severas. O real pode também ser criticado a partir de uma situação e condição desejada. A crítica do real e a concepção do ideal são feitos a partir de determinados pontos de vista individuais ou coletivos (Nação Zumbi, gata, galinha, cachorro, jumento,…). As distâncias entre o ideal e o real podem dar origem a propostas de transformação.

 

A Estação de Trabalho de Saúde vai trabalhar em torno de leituras da cidade do ponto de vista da saúde. Leituras a serem feitas pelo próprio grupo de participantes. Leituras orientadas pelo conceito de saúde elaborado na atividade anterior. Leituras da cidade real e outras da cidade ideal ou a ser construída: a cidade saudável. Propostas e iniciativas de transformação serão retiradas das diferenças percebidas. Parte dessas propostas serão relacionadas a iniciativas de prevenção ao uso abusivo do álcool e da busca do uso responsável do mesmo. Essas propostas serão, posteriormente, transformadas em projetos efetivos de ação comunitária.

 

 

Mapeando a cidade ideal:

 

O coordenador recapitula, auxiliado pelos participantes, o conceito de saúde construído na atividade anterior. Em função dessas referências, os participantes divididos em pequenos grupos, elaboram um mapeamento inicial da situação da cidade do ponto de vista da saúde (a cidade real).

 

Orientados explicitamente pelo conceito de saúde e, implicitamente, pelo de ações de saúde (reparação, prevenção e, especialmente, promoção), o diagnóstico será apresentado (na próxima sessão) tendo como suporte o mapa da cidade. Outras formas de representação podem ser adotadas. A cidade pode ser construída, visualizada e apresentada através de um desenho, de um croqui ou de uma maquete. Sobre o mapa ou forma de representação escolhida, os grupos indicam as condições e os equipamentos urbanos destinados à Promoção da Saúde. Também assinalam, distinguindo-as, as condições do espaço urbano que dificultam ou prejudicam uma existência saudável.

 

Os grupos concluem a construção e o coordenador solicita aos participantes que procurem obter, individualmente, para a próxima sessão informações que venham a complementar o diagnóstico, se necessário. Encerra a sessão, marcando para o primeiro momento da sessão seguinte a apresentação dos trabalhos.

 

Recursos: retroprojetor, transparência contendo o poema, aparelho de som, fitas gravadas com a música de fundo e as músicas-tema, letras das músicas impressas para todos os participantes, perguntas do jogo das assinaturas escritas em folhas de papel sulfite, revistas velhas, tesouras, tubos de cola, canetas coloridas, folhas de flip-chart, um mapa da cidade para servir de referência ao trabalho dos grupos.

 

 

Duração Prevista: 4 horas

 

 
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