Germinal – Educação e Trabalho

Soluções criativas em Educação, Educação Profissional e Gestão do Conhecimento

Dinâmica com o poema Apresentação 2 de setembro de 2010

 

A dinâmica postada a seguir foi criada para um curso desenhado pela Geminal Consultoria para os consultores responsáveis pelo desenvolvimento continuado dos Docentes do Senac de São Paulo. O cuso foi desenhado e implementado no primeiro semestre de 2009.

 

Sala obscurecida, se possível. Música suave de Fundo: Claire de la Lune (Debussy), com a Orquestra de Philadelphia. Com o Datashow ou transparência projeta-se o poema Apresentação.

Apresentação

 Aqui está minha vida – esta areia tão clara

com desenhos de andar dedicados ao vento.

 

Aqui está minha voz – esta concha vazia.

sombra de som curtindo o seu próprio lamento.

 

Aqui está minha dor – este coral quebrado,

sobrevivendo ao seu patético momento.

 

Aqui está minha herança – este mar solitário,

que de um lado era amor e, do outro, esquecimento.

 

MEIRELES, Cecília. Poesia Completa, vol. I, Retrato Natural. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001. pg. 606.

 

Abrindo a sessão, o coordenador solicita que um voluntário leia o poema.  Terminada a leitura, o coordenador apresenta uma versão preparada do poema, onde o texto de muitas linhas foi retirado.

Apresentação (texto a ser completado)

 

Aqui está minha vida –

 

Aqui está a minha voz –

 

Aqui está minha dor –

 

Aqui está minha herança –

 

 

O coordenador faz uma pequena introdução para a seguinte proposta: cada participante deve complementar as frases em branco, criando a sua própria versão do poema (como música de fundo / Magnificat / Monteverdi).

 

Depois de concluir a redação, cada participante diz o seu nome e lê a sua versão do poema.

 

O coordenador orienta a criação de um poema coletivo. Para tanto, ele solicita que os participantes fechem os olhos e informa que ele iniciará a criação do poema coletivo, dizendo o início da primeira estrofe:

 

Aqui está minha vida. A partir daí, os aprticipantes vão lendo as frases de seu poema em uma ordem ditada pela intuição e pela emoção.

 

Ao fim, o coordenador recomeça: aqui está a minha voz. Cada participante, ao sentir que chegou o seu momento, abre os olhos e lê o segmento correspondente do seu poema.

 

Na sequência, as falas do coordenador: Aqui está a minha dor e Aqui está minha herança, abrem as leituras das demais estrofes dos poemas dos participantes.

 

Ao final, silêncio e, se merecidos, os aplausos.

 

O coordenador também se apresenta e apresenta brevemente o programa, distribuindo uma cópia para cada participante.

 

Dinâmica de apresentação (Grupo-sujeito) 30 de janeiro de 2009

 

Em Aprendizagem Criativa – A análise (II) – O grupo-sujeito falamos que, na constituição do grupo-sujeito, já na apresentação inicial, é “preciso confrontar os  participantes com formas de expressão em que os maneirismos já desenvolvidos para esses momentos de apresentação não possam ser utilizados. É necessário usar formas de expressão que devolvam aos participantes a espontaneidade perdida. É produtivo, já de início, destruir as falsas defesas, os esteriótipos e os fomalismos típicos dos primeiros encontros.”

 

Afirmamos também que a “criação de uma situação inusitada de apresentação com o uso da arte tem-se mostrado eficiente na produção desses efeitos.” 

 

Neste post publicaremos, como exemplo, o roteiro de uma apresentação inicial com essas características. Trata-se da primeira sessão de aprendizagem de um programa de capacitação de professores (Coordenadores Docentes) para o Programa Jovem Aprendiz Rural. A Germinal Consultoria foi responsável pela capacitação dos docentes do SENAR/SP, nas cidades que implementaram o Programa em 2006 e 2007.

 

 

CAPACITAÇÃO PRESENCIAL De Coordenadores docentes

SESSÃO 1/6

OBJETIVOS

Situação de Aprendizagem

(atividade)

Recursos

Tempo

Apropriação da proposta do programa “Jovem Aprendiz Rural” (Plano de Curso).

 

Vivenciar estratégias pedagógicas previstas, possibilitando um acesso envolvente e significativo à metodologia do programa.

1. Cenário.

Texto. Retroprojetor. Som. Música: Adágio de Albinoni.

10’

2. Apresentação.

Vídeo. Filme Sonhos.

45’

3. Expectativas.

Som. Música: Bolero, de Ravel.

45’

INTERVALO

15’

4. O Caminho do Programa.

Kit-bagunça. Cartolinas. Som. Música: Meditação de Thais e Missa da Coroação, de Mozart.

120’

5. Fechamento.

 

5’

 

1. Cenário

Antes do início e da entrada dos participantes para a primeira sessão de trabalho, se possível, você deve reduzir a luz da sala. Coloque, como fundo musical, uma música suave e que induza à reflexão. Use o Adágio de Albinoni, por exemplo. No CD Karajan Forever, Hamburgo, Deutsche Grammophon, 2003, existe uma gravação do Adágio que pode ser usada aqui. Projete o poema de Borges, denominado O Espelho em uma das paredes da sala. Observe que a ambientação é uma reprodução parcial de um dos cenários utilizados no componente curricular Projeto de Vida.

Reflexos 1943 - Eduardo P. L.
Reflexos 1943 – Eduardo P. L

  

 

 

O Espelho

 

Por que persistes, incessante espelho?

Por que repetes, misterioso irmão,

O menor movimento de minha mão?

Por que na sombra o súbito reflexo?

 

És o outro eu sobre o qual fala o grego

E desde sempre espreitas. Na brunidura

Da água incerta ou do cristal que dura

Me buscas e é inútil estar cego.

 

O fato de não te ver e saber-te

Te agrega horror, coisa de magia que ousas

Multiplicar a cifra dessas coisas

Que somos e que abarcam nossa sorte.

Quando eu estiver morto, copiarás outro

E depois outro, e outro, e outro, e outro…

 

Jorge Luiz Borges, O espelho. Do livro de poesias “O Ouro dos Tigres”, em “Jorge Luis Borges – Obras Completas II”, São Paulo, Editora Globo, 2000, pág. 550.

 

 

 

 

Sobre as cadeiras, dispostas em círculo, em número idêntico aos dos participantes, coloque cópias do texto A Nova Flauta ou, no momento oportuno, solicite a leitura do texto no Manual da Oficina Aprender a Aprender.

 

 

A Nova Flauta

Um deus pode fazê-lo. Mas como um

homem pode penetrar as cordas da lira?

RANIER MARIA RILKE

 

Uma nova flauta foi inventada na China. Descobrindo a sutil beleza de sua sonoridade, um professor de música japonês levou-a para o seu país, onde dava concertos por toda parte. Uma noite, tocou com uma comunidade de músicos e amantes da música que viviam numa certa cidade. No final do concerto, seu nome foi anunciado. Ele pegou a nova flauta e tocou uma peça. Quando terminou, fez-se silêncio na sala por um longo momento. Então, a voz do homem mais velho da comunidade se fez ouvir do fundo da sala: “Como um deus!”

No dia seguinte, quando o mestre se preparava para partir, os músicos o procuraram e lhe perguntaram quanto tempo um músico habilidoso levaria para aprender a tocar a nova flauta. “Anos”, ele respondeu. Eles lhe perguntaram se aceitaria um aluno, ele concordou. Depois que o mestre partiu, os homens se reuniram e decidiram enviar-lhe um jovem e talentoso flautista, um rapaz sensível à beleza, dedicado e digno de confiança. Deram-lhe dinheiro para custear suas despesas e as lições de música, e o enviaram à capital, onde o mestre vivia.

O aluno chegou e foi aceito pelo professor, que lhe ensinou uma única e simples melodia. No início, recebeu uma instrução sistemática, mas logo dominava todos os problemas técnicos. Agora, chegava para a sua aula diária, sentava-se e tocava a sua melodia – e tudo o que o professor lhe dizia era: “Falta alguma coisa”. O aluno se esforçava o mais que podia, praticava horas a fio, dia após dia, semana após semana, e tudo o que o mestre dizia era: “Falta alguma coisa”. Implorava ao mestre que escolhesse outra música, mas a resposta era sempre “não”. Durante meses e meses, todos os dias ele tocava e ouvia “Falta alguma coisa”. A esperança de sucesso e o medo do fracasso foram se tornando cada vez maiores, e o aluno oscilava entre a agitação e o desânimo.

Finalmente, a frustração o venceu. Ele fez as malas e partiu furtivamente. Continuou a viver na capital por mais algum tempo, até que seu dinheiro acabou. Passou a beber. Finalmente, empobrecido, voltou à sua província natal. Com vergonha de mostrar-se a seus antigos colegas, foi viver numa cabana fora da cidade. Ainda mantinha sua flauta, ainda tocava, mas já não encontrava nenhuma nova inspiração na música. Camponeses que por ali passavam ouviam-no tocar e enviavam-lhe seus filhos para que ele lhes desse lições de música. E assim ele viveu durante anos.

Uma manhã, bateram à sua porta. Era o mais antigo mestre da cidade, acompanhado de seu mais jovem aluno. Eles lhe contaram que naquela noite haveria um concerto e que todos haviam decidido que não tocariam sem ele. Depois de muito esforço para vencer seu medo e sua vergonha, conseguiram convencê-lo, e foi quase num transe que ele pegou uma flauta e os acompanhou. O concerto começou. Enquanto esperava atrás do palco, no final do concerto, seu nome foi anunciado. Ele subiu ao palco com fúria. Olhou para as mãos e percebeu que havia escolhido a nova flauta.

Agora ele sabia que não tinha nada a ganhar e nada a perder. Sentou-se e tocou a mesma melodia que tinha tocado tantas vezes para o mestre no passado. Quando terminou, fez-se silêncio por um longo momento. Então, a voz do homem mais velho se fez ouvir, soando suavemente do fundo da sala: “Como um deus!”

 

Nachmanovitch, Stephen. Ser Criativo. São Paulo, Summus Editorial, pág. 13 à 15

 

 

2. Apresentação

Comece a primeira sessão com a projeção, em vídeo, do episódio “Povoado dos Moinhos” do filme “Sonhos” (Kuroshawa).

 

Após a projeção, solicite uma breve apresentação de cada participante (nome, formação, local de trabalho, experiência educacional com jovens). A apresentação deve ser concluída com uma breve relação entre o texto A Nova Flauta, o filme Povoado dos Moinhos e o Programa “Jovem Aprendiz Rural.

 

Antes de iniciar a apresentação, conceda uns 5 minutos para que cada um pense na sua apresentação (e na relação entre texto, filme e Programa) de forma que a fala de cada um seja a mais bonita e sintética possível e não ultrapasse 1 minuto. 

 

Termine apresentando-se, comentando as relações efetuadas e fazendo uma breve exposição sobre os símbolos contidos no filme e no texto. Relacione-os com a proposta geral do Programa “Jovem Aprendiz Rural, sua metodologia e a educação profissional orientada por competências (“Como Um Deus”).

 

3. Expectativas

Inicie a situação de aprendizagem colocando como música de fundo o Bolero, de Ravel. Depois apresente à classe o seguinte desafio: fazer, em subgrupos, uma representação em três tempos:

clip_image001    Como estou chegando.

clip_image001    Como espero que a capacitação seja desenvolvida.

clip_image001    Como quero sair do processo de capacitação.

 

A sinfonia dos salmos, coreografia Antonio Gomes, foto Isabel Gouvêa

A sinfonia dos salmos, coreografia Antonio Gomes, foto Isabel Gouvêa

Isso significa representar as expectativas presentes no subgrupo em relação ao curso que se inicia. A representação deverá ser feita através de expressão corporal e movimentos rítmicos, da forma mais bela (plástica) e expressiva possível. A palavra não deve ser utilizada. O som pode ser usado. A música que dará ritmo à apresentação será o Bolero, que poderá ser ouvido no fundo.

 

Organize os subgrupos. Os subgrupos deverão criar e ensaiar a coreografia em pé para que possam manter a mobilidade e agilidade necessária e concluir o trabalho em torno de 10 minutos. Concluída a preparação, todos ainda em pé, o primeiro subgrupo se apresenta. Terminada a apresentação do grupo, todos os participantes, inclusive os do subgrupo protagonista, replicam a coreografia. Depois, o segundo subgrupo se apresenta e assim sucessivamente. Durante cada apresentação, o aumente o volume da música de fundo e transforme-o no tema musical da apresentação.

 

Ao final da última apresentação, retorne com os participantes ao semicírculo para análise e julgamento dos trabalhos. Uma a uma as coreografias serão analisadas pelo grupo, que interpretam as expectativas expressas na representação. O trabalho em foco será interpretado pelos que o assistiram e, em seguida, o grupo criador apresenta a intenção da expressão, fazendo o confronto com as interpretações antes apresentadas.

 

Por fim, apresente rapidamente o programa da Capacitação Presencial, indicando quais expectativas serão atendidas e formas de superar as necessidades dos participantes que não serão atendidas pelo programa.

 

Ao final, convide os participantes para um pequeno intervalo. Procure respeitar o tempo previsto (15 minutos).

 

4. O Caminho do Programa

Antes da volta dos participantes, coloque como música de fundo Meditação de Thais (música composta por Jules Massenet. Pode ser usada a gravação de Karajan em: Karajan Forever, Hamburgo, Deutsche Grammophon, 2003). Distribua o texto Jardim de Infância pelas carteiras ou, no momento oportuno, solicite a leitura do texto na página 7 do Manual da Oficina de Aprender a Aprender.

 

 

Jardim da Infância 

Grande parte do que eu realmente precisava saber a respeito da vida, de como viver, do que fazer e de como ser, aprendi no jardim de infância. A sabedoria não estava no cume da montanha da faculdade, mas ali na caixa de areia da escola maternal. Essas são as coisas que aprendi: compartilhe tudo; seja leal; não magoe as pessoas; recoloque as coisas no lugar onde as encontrou; limpe aquilo que sujar; não pegue o que não for seu; peça desculpas quando machucar alguém; lave as mãos antes de comer…

Biscoitos quentes e leite frio são bons para você; leve uma vida equilibrada; aprenda um pouco, pense um pouco, desenhe, pinte, cante, dance, brinque e trabalhe um pouco a cada dia; tire uma soneca todas as tardes; quando sair para o mundo, fique atento no trânsito; dê as mãos e mantenha-se unido; perceba a maravilha…

Pense como o mundo seria melhor se todos nós – o mundo inteiro – tivesse biscoito e leite por volta de três horas de todas as tardes e depois deitasse com suas mantas para tirar um cochilo, ou se tivéssemos uma política básica em nossa nação e em outras nações de sempre recolocar as coisas no lugar onde as encontramos e limpássemos as sujeiras que fizéssemos. E isto continua a ser verdade, não importa a idade: quando sair para o mundo, é melhor dar as mãos e manter-se unido.

                                                                                       Robert Fulghum

 

 

Citado no livro “O Empresário Criativo”, de Roger Evans e Peter Russel, São Paulo, Editora Cultrix, pg.169.

 

 

 Ao final da leitura, estimule os aprendizes a fazerem comentários sobre a compreensão que tiveram.

 Andrew Wyeth, Christinas World, 1948

 

 

Valorizada a aprendizagem do jardim de infância, proponha uma atividade nela inspirada. Em pequenos grupos, os participantes, utilizando os materiais disponíveis, vão criar uma colagem, instalação, pintura e/ou representação gráfica que representem o público alvo (Retrato do Jovem Rural), a trajetória (Caminho do Programa) e os resultados (Retrato do Egresso) do Programa “Jovem Aprendiz Rural”.

 

Divida a classe em pequenos grupos e determine o tempo de 40 minutos para a construção das representações. Coloque como música de fundo uma missa de Mozart.

 

Após a construção, o produto de cada pequeno grupo é analisado por um dos outros grupos. As conclusões da análise deve ser organizadas em torno dos temas: Características do Público Alvo, Proposta do Programa “Jovem Aprendiz Rural”  e Resultados do Programa. As conclusões devem se registradas em tarjetas brancas (público), amarelas (proposta) e verdes (resultados esperados). Antes da análise, construa, com tarjetas, um quadro com a orientação para o registro das conclusões.

 

 

Tarjetas – regras de utilização

·         Escreva nas tarjetas com pincel atômico (azul ou preto).

·         Só registre uma conclusão por tarjeta.

·         Escreva em letra de forma, maiúscula.

·         Não use mais do que três linhas em cada tarjeta.

·         Garanta que o texto escrito na tarjeta possa ser visto a distância.

·         Use cores diferentes para assuntos diferentes.

 

 

Os grupos constroem painéis com as conclusões.  O tempo total para a escrita das conclusões e para a elaboração do painel será de 40 minutos. Os painéis de conclusão terão o seguinte formato:

 

Jovem Rural

Caminho do Programa

Retrato do Egresso

Tarjeta 1

Tarjeta 1

Tarjeta 1

Tarjeta 2

Tarjeta 2

Tarjeta 2

Tarjeta 3

Tarjeta 3

Tarjeta 3

Tarjeta 4

Tarjeta 4

Tarjeta 4

Tarjeta 5

Tarjeta 5

Tarjeta 5

Tarjeta n

Tarjeta n

Tarjeta n

 

Em seguida, os grupos apresentam rapidamente suas conclusões. Sem falar, os participantes transformam os vários painéis em um único painel de conclusões. Os diversos painéis vão dar origem a um único painel-síntese, que representará a compreensão dos participantes a respeito do público, da proposta do programa e dos resultados desejados. Concluindo a atividade promova a comparação e compare o painel final com o plano de curso do Programa “Jovem Aprendiz Rural”.

 

5. Encerramento

Peça que os participantes avaliem a sessão com uma única palavra.

 

Aprendizagem Criativa – A análise (II): O grupo-sujeito 26 de janeiro de 2009

 

 

Nesta série de artigos, estamos apresentado uma abordagem educacional que acreditamos inovadora.

 

Já falamos dela em Aprendizagem criativa. Depois esboçamos sua proposta metodológica em Aprendizagem criativa – metodologia. Nos dois artigos seguintes escrevemos sobre as duas primeiras fases da metodologia: Aprendizagem Criativa – Focalização e simbolização e Aprendizagem criativa- a amplificação.

 

Em post anterior,  iniciamos a discussão da terceira fase da metodologia: A Análise I: Falar e Ouvir . Nele afirmamos que a autonomia ou a busca da autonomia em direção a um funcionamento como grupo-sujeito é uma das condições requeridas pela fase de análise da Aprendizagem Criativa.

 

 

 

Formação e Desenvolvimento do Grupo – Sujeito

O que vai caracterizar um processo de singularização (que, durante certa época, eu chamei de “experiência do grupo sujeito”) é que ele seja automodelador. Isto é, que ele capte os elementos da situação, que construa seus próprios tipos de referências práticas e teóricas, sem ficar nessa posição constante de dependência em relação ao poder global, a nível econômico, a nível do saber, a nível técnico, a nível das segregações, dos tipos de prestígio que são difundidos. A partir do momento em que os grupos adquirem essa liberdade de viver seus processos, eles passam a ter uma capacidade de ler sua própria situação e aquilo que passa em torno deles. Essa capacidade é que vai lhes dar um mínimo de possibilidade de criação e permitir preservar exatamente esse caráter de autonomia tão importante (Félix Guattari e Suely Rolnik, Micropolítica – Cartografias do desejo, Petrópolis, Vozes, 1993).

Paul Klee, The Bavarian Don Giovanni, 1919 - Watercolor and ink on wove paper

 Desde o primeiro encontro, a contínua ampliação da autonomia grupal na definição de seus objetivos e das suas formas de funcionamento e avaliação é uma das bases da Aprendizagem Criativa. A autonomia é requerida para a ampliação das possibilidades de criação, incluindo a criação das formas de leitura e interpretação da situação grupal e a criação dos referenciais teóricos e práticos que sustentam a evolução da dinâmica do grupo. 

 

 

1. Constituindo a equipe de trabalho

Na constituição do grupo-sujeito, a apresentação pessoal dos integrantes é a tarefa de facilitação mais imediata. É fundamental no início do grupo e na inclusão de um novo participante. A apresentação deve ser vista quase como um ritual de início dos processos de aprendizagem (cursos, encontros, oficinas etc.). No entanto não deve nunca ser concluída nessa fase e, sim, ser continuamente refeita e aprofundada.

Roberto Matta, Untitled, 1997

Roberto Matta, Untitled, 1997

 

Não é uma apresentação formal qualquer a que se propõe. Envolve, em especial, a visão de cada um sobre o significado do tema em estudo ou das competências em desenvolvimento. Requer um encontro e confronto dos valores com eles relacionados e dos resultados vislumbráveis a partir do momento e da situação em que se troca e se conversa.

 

Os grandes focos do curso ou encontro de aprendizagem ( objetivos, conteúdo, competências a desenvolver) são também os desse conversar e trocar inicial. Desta forma, a apresentação fornece um dignóstico  sobre o estágio inical do grupo em relação ao tema a ser estudado ou da competência a ser desenvolvida. Nesse mesmo movimento, levanta-se a forma como o grupo gostaria de conduzir seu processo de aprendizagem.

 

É muito raro que o grupo deseje outra forma de funcionamento que não a de grupo-sujeito. Mas, para tanto, a linguagem verbal não deve ser a utilizada no início da conversa. É preciso confrontar os  participantes com formas de expressão em que os maneirismos já desenvolvidos para esses momentos de apresentação não possam ser utilizados. É necessário usar formas de expressão que devolvam aos participantes a espontaneidade perdida. É produtivo já de início destruir as falsas defesas, os esteriótipos e os fomalismos típicos dos primeiros encontros.

 

A criação de uma situação inusitada de apresentação com o uso da arte tem-se mostrado eficiente na produção desses efeitos. Em próximo post publicaremos uma sessão de apresentação com essa característica.

 

 

 

2. Integrando a equipe

Tecendo a Manhã

 

 

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito que um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.

 

(João Cabral de Melo Neto, “Tecendo a manhã”, in: Cabral – antologia poética, Rio de Janeiro, José Olympio, 1979, p. 17.)

 

 

Roberto Matta, Petites danseuses, 1995

Roberto Matta, Petites danseuses, 1995

É na trajetória de uma clara afirmação valorativa da autonomia de cada participante é que são propostas as atividades de apropriação do tema em estudo ou de desenvolvimento da competência desejada. Aí um galo sózinho não tece uma manhã. Aí se dialoga. Não se veiculam verdades prontas, teorias a-críticas, formas de fazer consagradas, ou requisitos sagrados oriundos de pessoas ou grupos egoístas e isolados. O saber é tecido a partir do canto (conhecimento expresso) de cada galo. As sinapses são negociadas, renegociadas ou estabelecidas por estados momentâneos de desejo, afeto ou afeição.

 

Feito o encontro e tecido o saber já existente no grupo, há um duplo retorno. Um deles debruça-se sobre essa construção tida como provisória, com o propósito de revisá-la e transformá-la. O outro questiona o saber já sedimentado sobre o tema ou as formas estabelecidas de fazer, tendo em vista a sua incorporação, transformação e recriação pelo confronto com o saber tecido no grupo.

 

É nesse debruçar repetido e autônomo sobre o desafio que constitui a tarefa de apendizagem que o grupo-sujeito vai se integrando em um compromisso com o aprender.

 

 

 

3. Ensaiando a orquestra

O título do tópico é relativo ao filme Ensaio de orquestra, de Fellini (Frederico Fellini, Ensaio de orquestra, RAI, distribuído em vídeo pela Globo Vídeo).  O filme acompanha o ensaio de uma importante orquestra, regida por um maestro de renome internacional.

Roberto Matta, Jazz Bande 1973

Roberto Matta, Jazz Bande 1973

 

A orquestra não apresenta os costumeiros problemas relacionados com a redução da complexidade e desafio da atividade operacional. O ofício de músico mantém a complexidade e o desafio da aprendizagem e criatividade permanente. No filme percebe-se a relação amorosa do músico, como indivíduo, com sua arte e seu instrumento de trabalho.

 

Apesar disso tudo, no filme, o ensaio culmina em rompimento de todos os laços entre os integrantes da orquestra, em confusão, em tumulto, em violentas agressões, na revolta, na destruição ambiental e no caos.

 

O filme como um todo é um grande símbolo. Comporta então múltiplos significados. Mas, parecem centrais na geração da situação caótica: 1. a relação inadequada entre os músicos e entre os subgrupos ou naipes (cordas, metais, percussão…), o desrespeito e a competição, por exemplo, são claramente mostrados; 2. a relação de indiferença e até desprezo dos músicos para com a atividade que os une, ou seja, a música orquestral; e, finalmente, 3. na relação vertical e autoritária entre maestro e músicos. No filme, do caos brota o fascismo.

 

O filme é um antimodelo para as situações de ensaio. No ensaio, em direção ao grupo-sujeito, o conflito que surge do compromisso, da vontade de participação de cada um e do confronto das diferenças, não pode ser encoberto ou superado por um ato de autoridade ou do recurso à liderança do professor.

 

No prefácio à edição americana de O anti-Édipo, livro de Gilles Deleuze e Félix Guattari, Michel Foucault considera-o um livro de ética e resume “as linhas de força daquele guia da vida cotidiana – contrário ao fascismo em todas as suas formas – em sete consignas principais:

 

1. liberar a ação política de toda a forma de paranóia unitária e totalizante;

 

2. alastrar a ação, o pensamento e o desejo por proliferação, justaposição e disjunção (e não por hierarquização piramidal);

 

3. libertar-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta), investindo o positivo, o múltiplo, o nômade;

 

4. desvincular a militância da tristeza (o desejo pode ser revolucionário);

 

5. libertar a prática política da noção de Verdade;

 

6. recusar o indivíduo como fundamento para reivindicações políticas (o próprio indivíduo é um produto do poder);

 

7. desconfiar do poder” (Peter Pál Pelbart, “Estratégias para o próximo milênio”, Folha de S. Paulo, Jornal de Resenhas, 14 jun. 1996).

 

 

4. Desenvolvendo a equipe

Paul Klee, Arches of the Bridge Break Ranks, 1937, Charcoal on cloth, mounted on paper

 

 

Tais consignas podem, também, orientar as situações de ensaio e todo o processo de desenvolvimento do grupo-sujeito. Para utilizá-las, é necessário que o grupo use seu potencial criativo sobre a sua própria dinâmica. É necessário que o grupo invente e reinvente a sua própria organização e seu próprio funcionamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

5. O grupo-sujeito

Nóis tamo aprendendo porque logo cada cabeça é um mundo. Na sua cabeça você traiz um mundo pra eu. Eu, na minha cabeça, dô outro mundo a você. Dentro dessa vida, cada um dia nóis se modifica. E, assim, vai virando os dia que nem vai virando um disco e nóis tem de todo dia vivê. Numa vida só, nóis vive muitas vidas. Porque eu tô com 54 anos e nesses 54 anos eu acho que eu já vivi muito mais do que 54 vida. Aprendi no tempo mesmo, não é? Aprendi na vida, pensando… Pensando na vida…(Fala de um campones do agreste pernambucano, extraída do documentárioÓ Xente, Pois não! Documentário produzido pela FASE.

  

Paul Klee, The One Who Understands, 1934, Oil and gypsum on canvas

 

Agora, o grupo-sujeito está constituído. Durante o processo foi necessário ir discutindo e definindo as formas de articulação interna. A proposta de autonomia foi vivida na própria carne. A organização interna do trabalho foi definida. As formas grupais de participação e de tomada de decisão foram definidas e mantidas ou transformadas.

 

No mesmo processo, formas de valorização e de avaliação grupal foram estabelecidas e utilizadas. Provavelmente valorizaram-se outras formas de avaliação externas ao grupo, além das do professor; praticou-se a auto-avaliação; experimentaram-se e fixaram-se formas de avaliação em grupo e intergrupos.

 

Isso tudo implicou olhar o pequeno e o grande do homem. Olhar no olhar do outro e se reconhecer como possibilidade e negação. Tudo foi e continuará sendo posto em questão.

 

 

 

O texto anterior parte de um já publicado em Küller, José Antonio. Ritos de Passagem -Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996.
 

 
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