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MEC vai propor a fusão de disciplinas do ensino médio 17 de agosto de 2012

Em reportagem de  FÁBIO TAKAHASHI , a Folha de São Paulo,  de 16/08/2012, publicou a seguinte notícia:

O Ministério da Educação prepara um novo currículo do ensino médio em que as atuais 13 disciplinas sejam distribuídas em apenas quatro áreas (ciências humanas, ciências da natureza, linguagem e matemática).

A mudança prevê que alunos de escolas públicas e privadas passem a ter, em vez de aulas específicas de biologia, física e química, atividades que integrem estes conteúdos (em ciências da natureza).

A proposta deve ser fechada ainda neste ano e encaminhada para discussão no Conselho Nacional de Educação, conforme a Folha informou ontem. Se aprovada, vai se tornar diretriz para todo o país. Para o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, os alunos passarão a receber os conteúdos de forma mais integrada, o que facilita a compreensão do que é ensinado.

O aluno não vai ter mais a dispersão de disciplinas`, afirmou Mercadante ontem, em entrevista à Folha.

Outra vantagem, diz, é que os professores poderão se fixar em uma escola. Um docente de física, em vez de ensinar a disciplina em três colégios, por exemplo, fará parte do grupo de ciências da natureza em uma única escola. Ainda não está definida, porém, como será a distribuição dos docentes nas áreas.

A mudança curricular é uma resposta da pasta à baixa qualidade do ensino médio, especialmente o da rede pública, que concentra 88% das matrículas do país. Dados do ministério mostram que, em geral, alunos das públicas estão mais de três anos defasados em relação aos das particulares. Educadores ouvidos pela reportagem afirmaram que a proposta do governo é interessante, mas a implementação é difícil, uma vez que os professores foram formados nas disciplinas específicas. O secretário da Educação Básica do ministério, Cesar Callegari, diz que os dados do ensino médio forçam a aceleração nas mudanças, mas afirma que o processo será negociado com os Estados, responsáveis pelas escolas.

Já a formação docente, afirma, será articulada com universidades e Capes (órgão da União responsável pela área). Uma mudança mais imediata deverá ocorrer no material didático. Na compra que deve começar neste ano, a pasta procurará também livros que trabalhem as quatro áreas do conhecimento. Organização semelhante foi sugerida em 2009, quando o governo anunciou que mandaria verbas a escolas que alterassem seus currículos. O projeto, porém, era de caráter experimental.

Em relação à notícia, alguns comentários:

1. Não é necessária nenhuma normatização adicional do Conselho Nacional da Educação. As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio permitem inciativas como as anunciadas, especialmente o tratamento do conteúdo por àreas de conhecimento (Linguagens, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Matemática).

2. Não é necessário nehum esforço adicional de qualificação em relação aos conteùdos curriculares de Ciências da Natureza. É um despropósito que um formado em Física, Química ou Biologia, não domine o conteúdo de Ciêncis da Natureza do Ensino Médio. Aliás, se esse conteúdo é pertinente à Educação Básica ele deveria ser de domínio de todo concluinte do Ensino Médio. O mesmo pode ser dito para o caso da área de Matemática e Ciências Humanas. Talvez haja alguma dificuldade em Linguagens, que reune conteúdos muito diversificados, como Lingua Portuguesa, Língua Estangeira e Educação Física).

3. A questão fundamenta é superar o tratamento disciplinara do currículo, quer no Ensino Médio, quer na formação de professores. Essa mudança ameaça interesses estabelecidos muito arraigados e fortemente defendidos.

4. Já existem propostas curriculares consistentes para solucionar os problemas apontados na matéria. Uma delas foi desenvolvida pela UNESCO. Trata-se dos Protótipos Curriculares para o Ensino Médio e para o Ensino Médio Integrado. Um Resumo Executivo desse projeto pode ser encontrado clicando aqui.

 

Os 10 grandes desafios da educação nacional 29 de novembro de 2010

Dez grandes desafios da Educação Nacional foram propostos pelo Conselho Nacional de Educação para o Plano Nacional de Educação, a vigorar entre os anos 2011 a 2020:

1 – Universalizar o atendimento público, gratuito, obrigatório e de qualidade na educação infantil, no ensino fundamental de nove anos e no ensino médio. (Ampliação aprovada pela EC/59 ensino público gratuito de qualidade dos 4 aos 17 anos).

2 – Implantar o Sistema Nacional Articulado de Educação, integrando, por meio da gestão democrática, os Planos de Educação dos diversos entes federados e das instituições de ensino, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, regulamentando o Artigo 211 da Constituição Federal.

3 – Extinguir o analfabetismo, inclusive o analfabetismo funcional, do cenário nacional.

4 – Estabelecer padrões de qualidade para cada nível, etapa e modalidade da educação, com definição dos componentes necessários à qualidade do ensino, delineando o custo-aluno-qualidade como parâmetro para o seu Financiamento.

5 – Democratizar e expandir a oferta de Educação Superior, sobretudo da educação pública, sem descurar dos parâmetros de qualidade acadêmica.

6 – Assegurar a Educação Profissional de modo a atender as demandas sociais e produtivas locais, regionais e nacionais, em consonância com o desenvolvimento sustentável solidário.

7 – Garantir oportunidades, respeito e atenção educacional às demandas específicas de: estudantes com deficiência, jovens e adultos defasados na relação idade-escolaridade, indígenas, afro-descendentes, quilombolas e povos do campo.

8 – Implantar a escola de tempo integral na Educação Básica, com projetos político-pedagógicos que melhorem a prática educativa, com reflexos na qualidade da aprendizagem e da convivência social.

9 – Ampliar o investimento em educação pública em relação ao PIB, de forma a atingir 10% do PIB até 2014.

10 – Valorizar os profissionais da educação, garantindo formação inicial, preferentemente presencial, e formação continuada, além de salário e carreira compatíveis com as condições necessárias à garantia do efetivo exercício do direito humano à educação

 

Formação de professores será entrave para implantação do novo modelo de ensino médio? 6 de maio de 2009

 

Meti Handmade School – Anna Heringer Arquitecture.

 

 Em post anterior, em que comentamos a nova proposta curricular para o ensino médio, prevíamos um conjunto de dificuldades e reações. O texto do Portal UOL Educação, de 05/05/2009, que reproduzimos abaixo, parece ser a primeira reação da burocracia escolar.

 

 Ela se atém a um dos pilares que sutenta a imobilidade do Ensino Médio, que identificamos em Ensino Médio, um problema insolúvel: o sistema de formação de professores. Sobre esse tema publicaremos um artigo brevemente.

 

A foto que ilustra este post foi incluída por nós. Ela mostra uma bela sala de aula, ocupada por crianças pequenas e adequada à cultura local. Que espaços escolares seriam adequados às áreas temáticas do novo currículo do Ensino Médio e ajustado ao unverso cultural da nossa juventude?

 

Para ler mais sobre Arquitetura e Educação, acesse: https://germinai.wordpress.com/category/arquitetura-escolar/.

 

Da Agência Brasil

A principal dificuldade que os Estados vão enfrentar na reforma
curricular do ensino médio, proposta pelo MEC (Ministério da
Educação), será a falta de professores preparados para atender o
novo modelo, avalia a presidente do Conselho Nacional de
Secretários de Educação (Consed), Maria Auxiliadora Seabra. “A
proposta é interessante em algumas medidas. O ensino médio passa
por uma crise de identidade, hoje, com um amontoado de
disciplinas”,
afirma.

 

 A presidente do Consed diz que, muitas vezes, o professor não
está ainda preparado nem para atender ao atual modelo. Ela
acredita que será necessário um grande esforço das universidades
para atender a formação dos profissionais de ensino em grandes
áreas do conhecimento.

 

“O professor formado em biologia às vezes não domina nem todo
aquele conteúdo, como poderá dar aulas de outras áreas?

 

Precisamos de um esforço conjunto porque as universidades ainda
resistem muito a esse modelo mais amplo de formação”, disse.
O Consed vai montar um grupo de trabalho para debater o projeto
apresentado pelo MEC. Um dos pontos que precisa de maior
discussão, segundo Auxiliadora, é o repasse de verbas do
ministérios para apoiar os projetos em cada estado
.

 

 A princípio, o ministério garantiu verba extra para as cem
escolas que tiveram as piores notas no Enem (Exame Nacional do
Ensino Médio). “Essa questão precisa ser dimensionada. Para a
gente avaliar a eficácia desse novo modelo, ele teria que
funcionar tanto em boas escolas, como em escolas com problemas”,
afirmou.

 

O CNE (Conselho Nacional de Educação) vai realizar audiências
públicas para discutir o novo modelo de ensino médio. O processo
deve ser concluído até julho. Depois dessa etapa, o ministério
começará as negociações com os estados.

 

Amanda Cieglinski

 

Ensino Médio: MEC quer trocar matérias por áreas temáticas 4 de maio de 2009

 

 

Nude Descending a Starcase - Marcel Duchamp

 

 

 

 

 

 

Em posts anteriores (Ensino Médio, um problema insolúvel?; O Currículo Imutável do Ensino Médio; Ninguém aprende samba no colégio, infelizmente), começamos a discutir a necessidade e as dificuldades de mudanças no Ensino Médio.

 

Em Ensino Médio um Problema Insolúvel? procuramos as causas das dificuldades para mudanças no ensino médio. Chegamos a identificar quatro causas fundamentais: O currículo imutável, o sistema de formação dos professores, a facilidade de operação administrativa do atual currículo e o pensamento pedagógico dominante no Brasil.

 

Dessas causas, até agora tratamos da primeira: o currículo. Em O currículo Imutável do Ensino Médio afirmamos que o currículo enciclopédico e fragmentado em disciplinas (matérias) é uma das causas, ao mesmo tempo, da baixa qualidade do ensino médio e de sua estabilidade perversa.

 

A constatação não é nova. Tentativas de mudanças também não. Parece que mais uma delas encontra-se em curso. Notícia de hoje (4/05/2009), no caderno Cotidiano, do jornal Folha de São Paulo, informa que o MEC e o Conselho Nacional de Educação pretendem mudar o currículo do Ensino Médio. Para facilitar o acesso e o comentário, postamos a seguir o texto completo da reportagem.

 

 

 

“A intenção é eliminar a atual divisão do conteúdo em 12 disciplinas no ensino médio e criar quatro grupos mais amplos. Proposta será discutida hoje pelo Conselho Nacional de Educação; União planeja incentivos financeiros para obter adesão dos Estados.

FÁBIO TAKAHASHI
 
DA REPORTAGEM LOCAL


O Ministério da Educação pretende acabar com a divisão por disciplinas presente no atual currículo do ensino médio, o antigo colegial. A proposta do governo é distribuir o conteúdo das atuais 12 matérias em quatro grupos mais amplos (línguas; matemática; humanas; e exatas e biológicas).

 
Na visão do MEC, hoje o currículo é muito fragmentado e o aluno não vê aplicabilidade no programa ministrado, o que reduz o interesse do jovem pela escola e a qualidade do ensino.


A mudança ocorrerá por meio de incentivo financeiro e técnico do MEC aos Estados (responsáveis pela etapa), pois a União não pode impor o sistema. O Conselho Nacional de Educação aprecia a proposta hoje e amanhã e deve aprová-la em junho (rito obrigatório).


O novo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que deverá substituir o vestibular das universidades federais, será outro indutor, pois também não terá divisão por disciplinas.


Liberdade
Segundo a proposta, as escolas terão liberdade para organizar seus currículos, desde que sigam as diretrizes federais e uma base comum. Poderão decidir a forma de distribuição dos conteúdos das disciplinas nos grupos e também o foco do programa (trabalho, ciência, tecnologia ou cultura).

Assim, espera-se que o ensino seja mais ajustado às necessidades dos estudantes.


O antigo colegial é considerado pelo governo como a etapa mais problemática do sistema educacional. Resultados do Enem mostram que 60% dos alunos do país estudam em escolas abaixo da média nacional.
O governo Lula pretende que já no ano que vem, último ano da gestão, algumas redes adotem o programa, de forma experimental. No médio prazo, espera que esteja no país todo.


“A ideia é não oferecer mais um currículo enciclopédico, com 12 disciplinas, em que os meninos dominam pouco a leitura, o entorno, a vida prática”, disse a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar.
Está previsto também o aumento da carga horária (de 2.400 horas para 3.000 horas, acréscimo de 25%).


“A mudança é positiva. Hoje, as disciplinas não conversam entre si”, afirmou Mozart Neves, membro do Conselho Nacional de Educação e presidente-executivo do movimento Todos pela Educação.


“A análise de uma folha de árvore, por exemplo, pode envolver conhecimentos de biologia, química e física. O aluno pode ver sentido no que está aprendendo”, disse Neves.


A implementação, no entanto, será complexa, diz o educador. “Precisa reorganizar espaços das escolas e, o que é mais difícil, mudar a cabeça do professor. Eles foram preparados para ensinar em disciplinas. Vai exigir muito treinamento.”


O MEC afirma que neste momento trabalha apenas o desenho conceitual. Não há definição de detalhes da implementação ou dos custos.


O relator do processo no conselho, Francisco Cordão, disse que dará parecer favorável. “Talvez seja preciso alguns ajustes. Mas é uma boa ideia. Hoje o aluno não vê motivo para fazer o ensino médio.”

 

Sofia Kisselov / curriculum

Sofia Kisselov / curriculum

 

A proposta é muito interesante. Concentrar o currículo em áreas temáticas pode facilitar arranjos curriculares mais criativos e integrados.

 

No entanto, nos post já publicados e nos a publicar, defendemos a tese que a imutabilidade do ensino médio é decorrência de um conjunto articulado de quatro causas fundamentais. Tratar apenas uma das causas sem tocar nas demais pode resultar em fracasso, como antes já aconteceu.

 

Além da reação coorporativa dos atuais professores das várias disciplinas, é esperável a reação das universidades. A mudança curricular implicaria necessariamente em mudanças nas atuais licenciaturas em direção à formação de professores mais generalistas. Sem mudanças no sistema de formação de professores a mudança curricular do Ensino Médio poderá ser inócua.

 

É esperável também a reação da burocracia escolar. A operação administrativa de secretarias de educação e escolas será mais complexa com as mudanças no currículo atual. Escolas e sistemas escolares precisariam estar dispostos a abandonar suas práticas tayloristas/fordistas e avançar em direção a modelos administrativos mais modernos. Os burocratas alojados em escolas e sistemas escolares estariam dispostos a embarcar em um processo radical de mudança administrativa? O “incentivo financeiro e técnico do MEC aos Estados” será suficiente para induzir a mudança?

 

 Por fim, resta esperar a reação do pensamento pedagógico dominante. Ele é em grande parte oriundo das universidades, comprometido com o atual sistema de formação de professores. Com argumentos variados e muitas vezes ideológicos (no sentido marxista da palavra), frequentemente disfarçado de vanguarda, ele tem reagido a todas as propostas de mudanças feitas nos últimos 40 anos. Que excertos do pensamento de Marx ou de Gramsci vão ser utilizados como anátema da nova iniciativa?

 

 
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