Germinal – Educação e Trabalho

Soluções criativas em Educação, Educação Profissional e Gestão do Conhecimento

Dinâmica: Coreografia 22 de março de 2011

A dinâmica Coreografia pode ser utilizada no início de um programa de treinamento (curso, encontro) para diagnóstico inicial sobre o tema do curso e levantamento de expectativas dos participantes. O exemplo abaixo foi retirado de um programa de desenvolvimento de equipes de alto desempenho.

Proposta

Inicie a situação de aprendizagem colocando como música de fundo o Bolero, de Ravel. Depois apresente à classe o seguinte desafio: fazer, em subgrupos, uma representação em três tempos:

  • Como é, hoje, o trabalho em equipe no local de trabalho (organização/empresa/departamento)?
  • Como deve ser o treinamento (curso, seminário, encontro) para que o trabalho em equipe mude para melhor?
  • Como deve ser o trabalho em equipe depois que o treinamento terminar?

Isso significa fazer uma representação sintética do diagnóstico do funcionamento das equipes e das expectativas presentes no subgrupo em relação ao desenvolvimento do curso que se inicia e em relação aos seus resultados. A representação deverá ser feita através de expressão corporal e movimentos rítmicos, da forma mais bela (plástica) e expressiva possível. A palavra não deve ser utilizada. O som pode ser usado. A música que dará ritmo à apresentação será o Bolero, que poderá ser ouvido no fundo.

Preparação

Organize os subgrupos ao acaso. Os subgrupos deverão criar e ensaiar a coreografia em pé para que possam manter a mobilidade e agilidade necessária e concluir o trabalho em torno de 10 minutos.  Estimule e oriente o trabalho circulando pelos grupos. Não deixe que os grupos fujam da experiência e da possibilidade de criação. Estimule a superação. Observe que a coreografia é diferente da mímica. Não se trata de dizer por gestos o que poderia ser dito com palavras. Trata-se de produzir uma forma simbólica de representação. O movimento é uma linguagem específica.

Apresentação

Concluída a preparação, todos ainda em pé, o primeiro subgrupo se apresenta. Terminada a apresentação do grupo, todos os participantes, inclusive os do subgrupo protagonista, replicam a coreografia. Depois, o segundo subgrupo se apresenta e assim sucessivamente. Durante cada apresentação, aumente o volume da música de fundo e transforme-o no tema musical da apresentação.

Análise

Ao final da última apresentação, retorne com os participantes ao semicírculo para análise e julgamento dos trabalhos. Uma a uma as coreografias serão analisadas pelos grupos que não as criaram. Eles devem dizer qual diagnóstico e quais expectativas podem ser extraídas da representação, sem considerar as intenções do grupo que a criou. Em seguida, o grupo criador revela a intenção implícita nos movimentos. Ao final de cada análise, promova um confronto entre as interpretações do público com as intenções do grupo criador e apresentador. Conclua com uma síntese do diagnóstico inicial e das expectativas presentes no grupo, tanto em relação ao treinamento como em relação ao desempenho ideal das equipes.

 

 

Aprendizagem Criativa – Focalização e simbolização 28 de novembro de 2008

 

Em artigo anterior apresentamos rapidamente a metodologia da Aprendizagem Criativa. Para acessá-la, clique aqui. Neste post vamos nos deter na primeira das etapas da metodologia:  a Focalização e Simbolização.

 

Focalização

O impulso criativo está presente em todo indivíduo. A criatividade é também instintiva e, assim, requerente de consumação. A criatividade também requer um objeto, um campo de aplicação que a atraia desde seu profundo mistério até o visível. Ela precisa ancorar-se no real. Requer focalização.

 

A focalização é, então, a fase inicial da aprendizagem criativa. Um determinado campo de aplicação necessita tornar-se muito significativo para o indivíduo ou grupo. Seja por uma necessidade premente, seja por um desafio auto ou heterocolocado, seja por um intenso desejo ou paixão, um determinado recorte da realidade, um campo, precisa assumir especial interesse para o sujeito da criação.

 

A não ser na criação de uma nova área de atividade humana, o que é raro, todo campo do criativo já é depósito de uma tradição, muitas vezes secular, resultado da experimentação e criação dos homens que nos antecederam. Pense, por exemplo, na pintura, na poesia ou mesmo na organização do trabalho como searas do processo criativo. O processo de focalização compreende, então, um domínio mais ou menos profundo da tradição, ou seja, a aprendizagem dos conhecimentos, habilidades e valores relacionados com o campo.

 

É importante repetir que o campo tem de ser especialmente atrativo para que a focalização se dê. Só assim, as produções culturais anteriores dentro do campo podem ser incorporadas ao trabalho do grupo como elementos de facilitação da aprendizagem criativa, como no espírito da seguinte fala de Stanislavski:

Nosso método nos serve porque somos russos, porque somos este determinado grupo de russos aqui. Aprendemos por experiências, mudanças, tomando qualquer conceito de realidade gasto e substituindo-o por alguma coisa nova, algo cada vez mais próximo da verdade. Vocês devem fazer o mesmo. Mas ao seu modo e não ao nosso. (…) Vocês estão aqui para observar e não para copiar. Os artistas têm de aprender a pensar e sentir por si mesmos e a descobrir novas formas. Nunca devem contentar-se com o que um outro já fez ( Constantin Stanislavski, A construção do personagem, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1983, p. 17) .

Na aprendizagem criativa, a focalização pode ser feita por um conjunto de meios. No imediato, usa-se o recurso do aquecimento no início das sessões de aprendizagem como forma de focar a atenção sobre o que virá. Ao longo do processo, o desafio, o problema, a atividade lúdica e, especialmente, os projetos visam moblilizar o interesse dos participantes em relação ao campo em estudo.

 

O símbolo como veículo

Blue Star, 1927, Juan Miró

Blue Star, 1927, Joan Miró

Hillman afirma que Jung se serve, dentre outras, da concepção de “função transcendente formadora de símbolos” para se referir ao impulso criativo. A função transcendente é uma função que articula consciente e inconsciente e que resulta da incorporação da função inferior e implica a fusão das quatro funções conscientes (pensamento, sentimento, intuição e percepção), produzindo símbolos. Isso pede um melhor desenvolvimento, que não será feito aqui.

 

Para Jung, o símbolo “pressupõe sempre que a expressão escolhida constitui a melhor designação ou a melhor fórmula possível para um estado de coisas relativamente desconhecido, mas que se reconhece como existente ou como tal é reclamado”. Acrescenta: “A expressão que se supõe adequada para algo conhecido nunca passa de um mero signo, jamais sendo um símbolo. (…) Todo produto psíquico, embora no momento possa constituir a melhor expressão possível de uma ordem de coisas ignorada ou só relativamente conhecida, poderá ser concebido como símbolo na medida em que admitamos que a expressão pretende designar o que apenas se pressente ou não se conhece ainda de modo claro” (C. G. Jung, Tipos psicológicos, Rio de Janeiro, Zahar, 1981, p. 543-5 44 Ora, esta é situação do aprendiz de qualquer campo.

 

O símbolo é então a expressão de algo que já brotou da noite do desconhecimento e não foi ainda claramente percebido, pensado, intuído ou sentido. O perfeitamente e claramente conhecido não pode ser expresso simbolicamente. O símbolo é uma tentativa de apreensão de um saber que ainda, de alguma maneira, escapa. É prenhe de significados e não tem nenhum sentido preciso. É uma ponte entre o sabido e o desconhecido. O símbolo, no limite do campo de saber, é um veículo do novo. Na busca de conhecimento  do campo, é o motor da aprendizagem feita de forma criativa.

 

É interessante notar que, para Jung, o inapreensível veiculado pelo símbolo não é necessariamente desconhecido de todos. Assim, uma dada expressão pode ser um símbolo para um e um signo para outro.  Isso é para observar que professor e aluno, em relação ao campo, podem estar em posições distintas. O professor supostamente conhece o campo. Para ele, na abordagem do campo, o conceito é ou devia ser a linguagem natural. Para o aluno, no entanto, a aproximação simbólica é mais adequada.

 

Simbolização

Blue Star, 1927, Joan Miró

Blue Star, 1927, Joan Miró

No símbolo existem significados e sentidos ainda não claramente conhecidos. Utilizam-se símbolos para exprimir algo pressentido e não muito claro.

 

Derivam desse duplo entendimento, também, duas facetas de utilização do símbolo no processo de facilitação da criatividade individual e grupal e na resolução dos problemas, desafios e projetos utilizados na focalização que, como já vimos, é a primeira fase da aprendizagem criativa.

 

Na primeira forma de facilitação, o símbolo é utilizado como suporte de conteúdos culturais já disponíveis no campo focalizado. Isso significa identificar e selecionar e operar com símbolos relacionados com os conteúdos culturais já produzidos pelo campo de saber.

 

A arte, enquanto veiculadora de símbolos, pode ser uma fonte de busca de material simbólico relacionado a esses conteúdos. Como exemplo, pode-se apontar para as músicas, poesias e filmes utilizados como suporte ou contraponto para o desenvolvimento de muitas das amostras de trabalho apresentadas neste blog. Para consulta de um texto exemplar, ver: Uma Amostra de Sessão de Aprendizagem de Administração e Organização, clicando aqui.

 

Existe uma outra possibilidade de facilitação da criatividade grupal, usando o símbolo. Nessa vertente, o próprio grupo produz o símbolo de referência para o trabalho grupal. Face a um campo de conteúdo, o grupo simboliza. Elabora uma forma de expressão daquilo que representa o limite grupal de possibilidades de conhecimento do campo. Aquilo que, no máximo da intensificação do campo, é pressentido.

 

A arte, novamente, é um suporte adequado para esse processo de simbolização. Dramatizações, colagens, esculturas e outras produções artísticas dos alunos podem criar o referencial simbólico original que vai ser explorado posteriormente. O texto de Uma Amostra de Sessão de Aprendizagem de Administração e Organização é, outra vez, exemplar.  

 

Outras formas de suscitar expressões simbólicas, como a imaginação ativa ou a viagem imaginária, podem ser utilizadas. A viagem imaginária é uma forma de “sonhar acordado” induzida externamente (ver: Perls, Fritz. A abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1981). A imaginação ativa é uma técnica desenvolvida por Jung e consiste em acompanhar a produção do inconsciente, quando o consciente é intencionalmente rebaixado até um limiar próximo ao do sono. No filme “Sonhos”, o episódio “Corvos” é um exemplo da técnica.

 

No processo de simbolização toda forma de rebaixamento do controle consciente é coadjuvante. Nesse sentido, em nossa sociedade, formas metodológicas que intensifiquem a emoção e estimulem a intuição são favoráveis. Nos exemplos apresentados neste site, o uso permanente de formas simbólicas carregadas de sentimento e a abordagem histórica e estrutural recorrente têm por objetivo trabalhar com as duas funções conscientes menos privilegiadas: sentimento e intuição.

 

Concluindo, em troca de uma apresentação ou discussão em torno do que os participantes já conhecem do conteúdo do campo, eles são estimulados a expressar, através de símbolos, o que pressentem e o que ainda não sabem muito bem. A dinâmica do grupo, aí, já não se dá em torno do conhecido e sim em torno de um conhecimento em gestação. O resultado já não é um ruminar de conhecimento velho e, sim, um lançar-se na hipótese e na construção do conhecimento novo.

 

 

O texto anterior parte de um já publicado em Küller, José Antonio. Ritos de Passagem -Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996.

 

Sonhos de empreendedorismo 1 – “All of us” 2 de outubro de 2008

 

Jolly Kunjappu, Dancing God, red - Munich, Germany, 1990 - Mixed technique on paper, 50 x 70 cm

Jolly Kunjappu, Dancing God, red - Munich, Germany, 1990 - Mixed technique on paper, 50 x 70 cm

All of us. Esse foi o primeiro nome que pensei para um local fantástico, onde alguém como eu possa chegar, só ou acompanhada, e satisfazer o simples desejo de dançar da forma como bem entender, ao som de boa música, incluindo hits do momento (!!!). Por que em inglês, heim?! Foi o nome que veio no conjunto do que imaginei e por motivos óbvios. Vou contar a história completa de como cheguei ao All of us.

 

Estava eu numa das aulas de exercícios abdominais que procuro fazer três vezes por semana, quando fui mental e corporalmente tomada por uma das músicas selecionadas pela professora para entusiasmar a turma. Comecei a imaginar uma coreografia com aquele ritmo bem marcado. Imaginei-me dançando… sensação boa, mas onde? Onde?

 

A música jovem transportou-me a uma balada. O quê?? Comecei a sentir-me ridícula numa balada. Expressões de censura vieram à tona: “Acho que me empolguei”, ha, ha, ha. Pessoas com idade superior, digamos, aos 25, ou 35, ou 45, ou 55, ou etc… destoam numa balada. Pelo menos, essa é minha impressão. É verdade que já vi reportagens com jovens mães caracterizadas que acompanham seus jovens filhos em baladas. Tá, mas não se tratava de fazer parte, heroicamente, de uma minoria estatística. Tratava-se apenas de conseguir chegar a um lugar onde pudesse experimentar na prática a minha coreografia, ser levada por um ritmo, sem ser chamada para entrevista ou, quem sabe, ser fotografada como exemplo de superação e, fundamentalmente, sem me sentir um peixe fora d’água.

 

Ah, sou tímida por natureza, adoro o anonimato. Poderia pensar em outros lugares finos e agradáveis, dirigidos aos maduros românticos, e geralmente abonados, onde se pudesse saborear e bebericar algo à luz de velas e, por que não, dançar num dia especial que ficará para sempre em suas memórias. Há também as opções populares, em muitas graduações, da terceira, ops, melhor idade. Mas decisivamente nenhuma dessas alternativas se prestaria à satisfação da minha fantasia. Foi assim que… tcham, tcham, tcham, tcham… Criei um empreendimento.

 

Devo confessar que foi mais um empreendimento, a novidade mesmo foi a idéia de escrever sobre ele, pois tenho essa tendência de imaginar empreendimentos a propósito de qualquer coisa. Neste caso, o empreendimento seria uma casa noturna, All of us. O próprio nome já comunica: sem restrições. O dia foi difícil, cheio demais, gostaria de esquecer tudo e reenergizar-se numa pista de dança? No All of us qualquer pessoa poderia chegar para dançar, sem receio. O desafio do negócio seria exatamente esse. Criar um ambiente que conseguisse atrair e abrigar diferentes tipos de pessoas e tribos, que procuram apenas boa música para dançar, e simplesmente dançar. Essa seria a atração do lugar. As pessoas não ficariam muito tempo paradas ou sentadas porque a clientela entraria lá para dançar mesmo.

 

O “como seria” já é outro desdobramento. Um único salão? Muitos? Músicos? DJs? Clientes-instrutores de dança que se inscrevem para ensinar quem se inscrever para aprender? Máquinas de dançar diferentes gêneros? Sei lá, não entendo nada desse tipo de empreendimento. Só entendo de eventual vontade secreta de dançar. Pensando bem, embora pouco original, o nome poderia ser simplesmente Dance.

 

 
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