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Nível socioeconômico das escolas condiciona nota no Enem 17 de dezembro de 2012

Filed under: Enem — José Antonio Küller @ 1:25 pm
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De Cartola – Agência de Conteúdo, o  Terra Educação de 14/12/2012 publica a seguinte notícia:

Antes mesmo de serem divulgadas as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), para saber quais escolas têm um bom desempenho no teste basta verificar o nível socioeconômico (NSE) dos alunos que estudam na instituição. A constatação foi feita pelo professor Francisco Soares, do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais (Game) da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ao analisar as médias obtidas por estudantes das escolas de Belo Horizonte na edição de 2011 e compará-las com o indicador social do NSE – estabelecido conforme dados de renda, escolaridade e ocupação informados no questionário do Enem -, o professor percebeu uma associação quase perfeita entre os dois fatores, o que resultou em uma reta praticamente constante: quanto maior o NSE, maior a nota no exame. O estudo, mesmo focado em uma única capital, reflete um quadro nacional, opina Soares.

Na comparação feita pelo professor, a medida de associação entre os dois fatores resultou em uma correlação de 0,883 (muito próxima de uma correlação perfeita, cujo valor seria 1). Isso significa que o NSE reproduz quase fielmente a ordenação dos colégios no ranking do Enem. `Não é uma coisa pequena, acidental, pelo contrário. É uma associação muito alta. Posso prever o resultado sem tê-lo, basta olhar o NSE`, diz o professor da UFMG.

Para montar a tabela, Soares avaliou cada questionário e produziu a média do NSE de cada aluno. Depois, estabeleceu o valor médio para cada escola. Foram incluídas 128 escolas (81 delas privadas) das quais mais de 50% dos alunos tenham comparecido ao Enem no ano passado. Após esse processo, ele comparou os dados com as notas por escola, divulgadas pelo Ministério da Educação (MEC) em 22 de novembro deste ano.

Doutorando pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), o pesquisador Rodrigo Travitzki também produz sua tese com base na comparação entre o NSE (calculado com base nas respostas dos questionários do Enem) e as notas obtidas pelos alunos no exame. No trabalho, que deve ser defendido entre fevereiro e março de 2013, ele toma como objeto de pesquisa quase 20 mil escolas de ensino médio de todo o País que foram incluídas no ranking do Enem 2009 (muito próximo do total das instituições, já que, segundo o Censo Escolar 2009, quase 26 mil instituições no Brasil oferecem ensino médio).

Travitzki concluiu que o NSE tem poder de determinar a variação das notas das escolas. Segundo o pesquisador, os fatores socioeconômicos explicam em torno de 80% o desempenho no Enem de cada instituição. Há outras variáveis, como o tipo de escola (regular ou EJA) e o Estado em que ela está localizada. Mas a maior parte é atribuída ao NSE.

Apesar de o estudo ter como objeto as notas do Enem de 2009, Travitzki aposta que o mesmo diagnóstico poderia ser feito nos anos seguintes. `Não vejo nenhum fator diferente. Acho que pode mudar um pouco o número, mas nada muito longe disso`, afirma. Ele presume, ainda, que, sem a publicação da nota da redação em 2011 (em 2009, ela representava praticamente a metade da nota das escolas), esse número poderia até aumentar para cerca de 85%. `A redação, pelo menos no Enem, é menos determinada por fatores externos`, esclarece.

Pesquisador é contrário à ideia de determinismo social

Mesmo com o alto nível de influência do NSE na determinação das notas do Enem, Travitzki prefere não afirmar que há um determinismo social na qualidade do ensino e do aprendizado nas escolas brasileiras. Para ele, definir como determinismo é uma forma simplista de justificar o problema. `Não é uma característica exclusiva do Enem. É um problema mundial`, observa.

O pesquisador estima que, no mundo, esse índice varie entre 70% e 95%. Na comparação feita pelo professor da UFMG, aparecem escolas que fogem ao padrão comum de baixo NSE associado à nota baixa no exame, ficando fora da reta. Essas instituições se distinguem pelo bom projeto pedagógico oferecido. `A gente usa isso para chamar atenção sobre como realmente precisamos de bons projetos educacionais`, analisa Soares. Entre as escolas de alto NSE, também pode haver distinção, geralmente registrada quando há processo de seleção dos melhores alunos para a realização da matrícula.

Embora não considere o NSE um fator determinista, Travitzki concorda que a melhoria das condições socioeconômicas dos alunos de uma escola contribuiria para aperfeiçoar a educação no País. O pesquisador afirma que condições mínimas de alimentação e acesso à cultura, por exemplo, poderiam resultar em um melhor desempenho e aproveitamento das aulas. `No fundo, uma política social é uma política educativa`, entende. Soares, contudo, ataca a lógica educacional na sua base. Para ele, não se trata de mudar apenas o nível socioeconômico das famílias (o que requer ações e investimentos de longo prazo), mas sim a escola. `A educação não poderia simplesmente refletir essas condições`, define.

O professor da UFMG ainda lembra que quem mais precisa da escola é justamente quem menos recebe o devido acompanhamento, uma vez que nessas instituições onde o baixo NSE é percebido, o ensino geralmente é mais deficiente; já nas escolas com bons alunos, o professor opina que sobra pouco para que a escola faça a diferença. `A gente não pode fazer de conta que pode olhar todas as escolas e alunos da mesma forma. Eles vêm de lugares diferentes, com necessidades diferentes`, considera.

Crítica ao ranking

Os levantamentos feitos tanto pelo doutorando da USP quanto pelo professor da UFMG colocam em discussão outra questão: o ranqueamento das escolas segundo a nota obtida no Enem. Para Soares, empregar o exame para avaliar a qualidade de ensino de uma instituição resulta em um indicador extremamente frágil. `É ruim que ele receba a chancela de ser a forma como as famílias olham as escolas`, pontua. O professor da UFMG acredita que o ranking legitima uma atitude socialmente perversa de creditar às escolas no topo da lista méritos que podem ser dos alunos. `A posição da escola não pode ser tomada como uma boa medida de excelência de seu projeto pedagógico. Pode refletir simplesmente o sucesso do sistema de seleção da escola`, destaca Soares.

A publicação de indicadores é considerada fundamental por Travitzki, embora ele faça ressalvas sobre a utilização do modelo de ranking para a educação. O pesquisador afirma que as comparações fazem mais sentido quando levam em conta a qualidade em vez de medir se uma escola fica em 1º ou 10º lugar. `É importante pensar em outros indicadores de qualidade escolar`, ressalta.

Com sua tese, Travitzki pretende desmistificar a ideia de que a pior escola do Enem é também a pior do Brasil. O objetivo mais imediato, segundo ele, é identificar boas instituições que não aparecem no ranking porque trabalham em condições muito difíceis. A longo prazo, o pesquisador pretende lançar a discussão sobre a necessidade de pensar em outras formas de avaliação do ensino. Ele enumera dois dos principais perigos em tomar o Enem como referência para um ranking. Um deles é produzir um efeito que eleve ainda mais a posição das instituições com notas altas, provocando a queda das que estão por baixo na lista. O outro, na visão de Travitzki, é o risco de as escolas passarem a produzir um currículo com base no exame. `Vira preparação para o Enem e leva ao empobrecimento do currículo`, alerta

 

Colégios da elite do Enem têm poucas turmas e fazem vestibulinho 23 de novembro de 2012

Texto de Tatiana Klix, publicado no iG Último Segundo, em 23/11/2012.

A estratégia adotada pelo Objetivo Colégio Integrado de São Paulo há três anos se concretizou como uma receita de sucesso para garantir um lugar na elite das escolas de ensino médio brasileiras, segundo a nota dos alunos concluintes no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Entre os 10 colégios com melhores médias nas provas objetivas em 2011 , nove são particulares, pelo menos seis promovem seleções com seus alunos e sete atendem a um grupo de menos de 100 estudantes privilegiados. No topo, a escola paulistana encabeça a lista com uma turma de 42 alunos de rendimento excepcional, escolhidos a dedo no Sistema Objetivo para entrar em escola separada, amplamente promovida em ações publicitárias.

A polêmica prática não é replicada na íntegra nos outros colégios particulares top 10 do Enem 2011 – Elite Vale do Aço (MG), Bernoulli Lourdes´(MG), Vértice (SP), Ari de Sá Cavalcante (CE), Dom Barreto (PI), Integrado de Mogi das Cruzes Objetivo, Santo Antônio (MG) e São Bento (RJ) -, mas quase. São responsáveis pelas médias acima de 700 de nove escolas apenas 795 estudantes, dos mais de 550 mil concluintes do ensino médio que representam 10.076 instituições incluídas no levantamento do Ministério da Educação divulgado nesta quinta-feira, dia 22. Entre as 10 líderes, há apenas uma escola federal, o Colégio Aplicação da Universidade Federal de Viçosa, de Minas Gerais.

A escola com a segunda melhor média aparece nessa elite pela primeira vez, por uma explicação bem simples: é também a primeira vez que forma uma turma de terceiro ano. O Colégio Elite de Ipatinga é novo, criado por três irmãos da cidade que se formaram no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e voltaram para casa com o objetivo de oferecer preparação de alto nível para os jovens da região entrarem mas melhores universidades do País. E conseguiram. A partir de experiências do sistema Elite em outras cidades e estratégias como boa formação de professores, a escola tem entre as características que garantiram seu sucesso a pré-seleção de alunos para a única turma com 30 vagas disponível para as três séries da última etapa escolar do ensino básico.

“Para entrar na escola, tem um processo seletivo, porque temos turmas reduzidas”, explica André Castro, coordenador pedagógico do Elite Vale do Aço. “A proximidade com alunos e professores possível em uma escola pequena é um diferencial”, completa.

Também fazem algum tipo de vestibulinho para escolher seus alunos o colégio Bernoulli, em Belo Horizonte, que ainda tem uma unidade separada apenas para alunos do terceiro ano do ensino médio e de cursos pré-vestibular, o Santo Antônio, da mesma cidade, o Ari de Sá Cavalcante, em Fortaleza, e o São Bento, no Rio de Janeiro.

Os dois colégios da capital mineira do grupo são os únicos que registraram no Enem no ano passado mais de 100 alunos participantes – 217 do Bernoulli e 239 do Santo Antônio. “São 6 turmas do 3º ano, um total de 283 alunos”, diz o diretor do geral e pedagógico Frei Jacir de Freitas Faria, que estranhou a divulgação do número de participantes abaixo do esperado no Santo Antonio.

Nas outras escolas particulares com médias superiores a 700, o número de alunos concluintes não passou de 89 (Instituto Dom Barreto). Além do Elite, também oferecem apenas uma turma a unidade do Objetivo de Mogi das Cruzes, no interior paulista, que teve 34 alunos no Enem 2011. O Vertice, da capital de São Paulo, tem duas turmas de terceiro ano, das quais fizeram o exame 48 alunos. No Ari de Sá, 47 estudantes são responsáveis pelo excelente resultado, e no São Bento, 52. “Estatisticamente, isso pode ser uma vantagem”, diz Adilson Garcia, diretor do Colégio Vertice, que tradicionalmente aparece entre os primeiros do ranking.

Turma dos inteligentes

O Colégio Integrado Objetivo assumiu a dianteira do ranking do Enem pela primeira vez este ano. Criado em 2009, no ranking daquele ano o colégio que abriga alunos superinteligentes, medalhistas de olimpíadas do conhecimento e até considerados superdotados, conseguiu ocupar o segundo lugar após decisão judicial . Em 2010, a escola ficou em terceiro lugar.

Ainda antes da divulgação dos dados de 2011, o Colégio Etapa, de São Paulo, acusou através de cartazes em suas unidades e pelas redes sociais o Objetivo de praticar embuste, através de ação publicitária. O concorrente questiona folhetos distribuídos pelo Objetivo, como o disponível no site http://www.portalobjetivo.com.br/noticias.asp?id=3781 , em que a frase “Sistema Objetivo 1º Lugar no Enem” é destacada no topo do anúncio. Apenas abaixo, dentro de um mapa do Brasil, aparece: “Colégio Objetivo Integrado 1º lugar no Enem; Em toda a capital de São Paulo; Em todo o estado paulista; nas provas das quatro áreas do conhecimento, em todo o Brasil”.

*Colaborou André Carvalho

 

Novo currículo do ensino médio poderá ser inspirado no Enem 20 de agosto de 2012

Com texto de Amanda Cieglinski, a Agência Brasil, em  17/08/2012, publicou a seguinte matéria:

Após a divulgação dos resultados insuficientes das escolas de ensino médio na última edição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o Ministério da Educação (MEC) planeja uma modernização do currículo, propondo a integração das diversas disciplinas em grandes áreas. A inspiração deverá vir do próprio Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que organiza as matrizes curriculares em quatro grandes grupos: linguagens, matemática, ciências humanas e da natureza. Essa é a divisão que segue a prova, diferentemente do modelo tradicional por disciplinas como química, português, matemática e biologia.

O debate não é novo: no ano passado, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou as novas diretrizes curriculares do ensino médio que propõem uma flexibilização do formato atual. O diagnóstico é que o currículo do ensino médio é muito inchado – em média são 13 disciplinas – o que, na avaliação do secretário de Educação Básica do MEC, César Callegari, prejudica a aprendizagem. “O Enem é uma referência importante, mas não é o currículo, ele avalia o currículo. Mas ele traz novidades que têm sido bem assimiladas pelas escolas”, diz o secretário.

De acordo com Callegari, a ideia é propor uma complementação às diretrizes aprovadas pelo CNE, organizando as diferentes disciplinas em grandes áreas. “O que tem que ficar claro é que não estamos propondo a eliminação de disciplinas, mas a integração articulada dos componentes curriculares do ensino médio nas quatro áreas do conhecimento em vez do fracionamento que ocorre hoje”, explica.

Na próxima semana, o ministro Aloizio Mercadante se reúne com os secretários de Educação com o objetivo de discutir os caminhos para articular a mudança. Uma providência já foi tomada para induzir essa modernização dos currículos. Segundo Callegari, a próxima compra de livros didáticos para o ensino médio dará prioridade a obras que estejam organizadas nesse formato. O edital já está sendo preparado. O MEC tem um programa que distribui os livros para todas as escolas e a próxima remessa será para o ano letivo de 2015 – as obras são renovadas a cada três anos.

Para o secretário de Educação do Espírito Santo, Klinger Barbosa Alves, uma das explicações para os maus resultados da etapa em diferentes indicadores, além do Ideb, está na própria estrutura organizacional do ensino médio que se baseia na preparação para o vestibular e tem pouca atratividade para o projeto de vida do adolescente.

“A visão de que o ensino médio serve para formar pessoas para ingressar na universidade não se aplica à realidade de muitos. Os jovens têm necessidades econômicas e sociais diferentes. Existe uma pressão para que parte dos jovens ingresse no mercado de trabalho e aí o curso superior entra como uma segunda possibilidade” explica Alves, que é vice-presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed).

O secretário do Espírito Santo, um dos estados em que a nota do Ideb caiu de 2009 para 2011, defende um modelo de ensino médio que dialogue com as diferentes necessidades dos estudantes e inclua também a preparação para o mundo do trabalho, já que para muitos o ingresso na universidade pode não estar na lista de prioridades.

Para que a escola possa abranger essa formação diversificada – que inclua a aprendizagem dos componentes curriculares, a articulação com o mundo do trabalho e a formação cidadã –, Callegari defende que é indispensável a ampliação do número de horas que o estudante permanece na escola, caminhando para o modelo de tempo integral.

“Temos consciência de que os conteúdos e as habilidades que os estudantes precisam desenvolver não cabem mais em um formato estreito de três ou quatro horas de aula por dia. É assim [com ensino em tempo integral] que os países com um bom nível de qualidade do ensino fazem”, diz.

Em relação à matéria,  os seguintes comentários são pertinentes:

1. Há muito tempo o currículo do Ensino Médio é orientado para preparação para os Exames Vestibulares. Ter o Enem como referência para organização do currículo do Ensino Médio é um avanço. Entretanto, tendo em vista as funções que o Enem vem assumindo, a exclusiva orientação do Ensino Médio para a preparação para os exames de acesso ao Ensino Superior poderá ser mantida.

2 A simples organização do currículo em áreas do conhecimento poderá não superar a perspectiva propedêutica e conteudista do atual Ensino Médio. Na Matriz de Habilidades e Competências do Enem é perceptível a divisão disciplinar. Assim, o currículo dividido por disciplinas pode sobreviver oculto pelas áreas, como já tem acontecido nos útimos 12 anos.

3. É preciso que o Ensino Médio também prepare para o trabalho. Para tanto, é necessário prever e destinar tempos e espaços à preparação básica parao trabalho. è sempre bom lembrar que a preparação básica para o trabalho é um dos objetivos previstos em lei. Sem um componente curricular especificamente destiando a esse fim, é improvável que esse objetivo seja conseguido só através de uma simples soma das disciplinas em quatro áreas do conhecimento, nenhum delas preocupada com o trabalho e outras práticas sociais.

4. Não basta ampliara a carga horária do Ensino Médio. Isso pode ampliar o problema antes de resolvê-lo. É precisso revolucionar a organização e o funcionamento currícular. Em trabalho da UNESCO: Protótipos Curriculares para o Ensino Médio e para o Ensino Médio Integrado,  foi desenhada uma orientação curricular em que um Núcleo de Preparação Básica para o Trabalho é proposto como um componente curricular articulador das quatro áreas de conhecimento, dando sentido e função prática imediata aos connecimentos construídos dentro das áreas. Para esse Núcleo é destinado 25 % das aulas. Para conhecer melhor a proposta da UNESCO, clique aqui.

 

A redação do Enem e o Acesso à Internet 24 de outubro de 2011

Filed under: ensino médio — José Antonio Küller @ 1:19 pm
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Vi muitos elogios ao tema da redação do Enem 2011: “Viver em Rede no Século 21: os Limites entre o Público e o Privado”, que tem a figura ao lado como um dos estímulos apresentados.

Os motivos dos elogios giram em torno do fato (?) desse tema fazer parte do cotidiano dos jovens. Em relação a isso fiquei com uma inquietação: será que o tema faz parte do cotidiano de todos os jovens que fizeram o Enem?

Estatísticas recentes permitem que o To Be Guarany afirme:

“A desigualdade social, infelizmente, também tem vez no mundo digital: entre os 10% mais pobres, apenas 0,6% tem acesso à Internet; entre os 10% mais ricos esse número é de 56,3%. Somente 13,3% dos negros usam a Internet, mais de duas vezes menos que os de raça branca (28,3%). Os índices de acesso à Internet das Regiões Sul (25,6%) e Sudeste (26,6%) constrastam com os das Regiões Norte (12%) e Nordeste (11,9%).”

A questão que fica é essa: a desigualdade no acesso também não atinge os que prestaram o exame de 2011 do Enem? E se atinge, em que proporção?

 

Novos resultados do ENEM = Velhas conclusões 12 de setembro de 2011

Em outro texto já discutimos os motivos para a boa classificação das escolas no ENEM. Consideramos que o fator fundamental para o sucesso são os alunos que essas escolas abrigam e não necessariamente as suas propostas pedagógicas ou a qualidade de ensino que proporcionam.

As escolas são melhor classificadas no Enem porque são freqüentadas pelos alunos com melhor formação inicial. As escolas particulares selecionam os melhores alunos especialmente através de critérios sócioeconômicos. Os alunos que conseguem pagar o valor de suas mensalidades são aqueles que também têm mais acesso aos bens socioculturais e uma formação  de base que facilita percorrer os áridos caminhos de aprendizagem do ensino médio. Os alunos das escolas públicas melhor classificadas passam por uma seleção concorrida (vestibulinho) antes do início do ensino médio.

Em, ENEM 2010: ESCOLAS EM DESTAQUE,   uma série de comentários sobre os resultados por escolas no Enem 2010, o UOL Educação, reúne um conjunto de comentários sobre as médias obtidas pelas escolas a partir dos resultados de seus alunos. Dessa série de artigos destacamos alguns excertos. Eles revelam que as melhores escolas de ensino médio são aquelas que conseguem recrutar os melhores alunos. Não são necessariamente aquelas que ofertam ou proporcionam o melhor ensino.

Melhor nota no Enem 2010, colégio carioca investe em “fundamental forte e com disciplina”

Como outras escolas que figuram entre as melhores, segundo a média total do Enem por escola, o público é seleto — há exame para admissão na instituição. Existe, ainda, outra peneira: a mensalidade varia de R$1.900 a R$2.100 e não há programas de bolsa de estudos para ingressantes.

Melhor escola pública do país tem vestibulinho, professores com mestrado e funciona na UFV

Os alunos do Coluni-UFV passam por uma seleção em que a concorrência se aproxima de dez interessados por vaga. Assim, os escolhidos já chegam com melhor “bagagem inicial”. As instalações, como laboratórios, são boas e 80% dos professores são contratados em regime de dedicação exclusiva (e são pagos acima da média das escolas públcias por isso).

Segunda melhor no país no Enem por escola, particular do Piauí tem 30 alunos para cada vaga

Com mensalidade de R$ 695 para o ensino médio, a concorrência no Dom Barreto chega a 30 candidatos para cada vaga — processo que é realizado anualmente por meio de provas e entrevista.

O valor mensal desembolsado pelos responsáveis é baixo, se comparado com os quase R$ 3.000 da escola com maior nota no Enem, o Colégio Vértice de São Paulo. No entanto, o investimento supera bastante o que o governo considerou o mínimo a ser investido por aluno — em 2011, um aluno do ensino médio no Estado do Piauí será de R$ 2.066,46 durante o ano todo.

Melhor colégio de SP no Enem por escola “estuda” o aluno antes de aceitar matrícula

 Mesmo sem vestibular, não é tão fácil estudar no colégio. As vagas para a educação infantil (a partir de três anos) e para o fundamental 1 são preenchidas por ordem de chegada, após reuniões com os diretores e visitas monitoradas pela escola. Para ingressar no fundamental 2 ou no ensino médio, as exigências aumentam: “Damos prioridade para famílias que já tenham outras crianças na escola e para pais ou mães que já foram nossos alunos”, explica Garcia. Alunos que não preencham essas condições são convidados a passar um dia no colégio, quando serão avaliadas as formas como eles registram as aulas e fazem os exercícios, além dos materiais que utilizam nas outras escolas.

De acordo com Garcia, se mesmo após estas etapas a dúvida sobre a aceitação do aluno persistir, é pedido que o interessado faça uma redação e exercícios de matemática. Se for aceito, o aluno ainda terá que pagar a quantia de R$ 2.998 por mês.

Melhor pública de São Paulo no Enem por escola, Etec é “escolha do aluno”

A Etec São Paulo seleciona seus alunos por meio de um vestibulinho aplicado pelo Centro Paula Souza. São oferecidas 200 vagas para o ensino médio. Na última seleção, foram recebidas 1.506 inscrições – uma relação de 7,53 candidatos para cada vaga. “Termina sendo um privilégio estudar aqui, você acaba fazendo uma seleção meritória dos alunos com o vestibulinho”, disse Araújo.

 

Exemplos apontam caminhos para reverter fracasso no ensino médio 28 de março de 2011

Último artigo da série especial do iG Educação mostra algumas alternativas  promissoras para melhorar a qualidade do Ensino Médio no país. Abaixo replicamos a parte da matéria, cuja íntegra está disponível no Portal iG Educação.

Ensino profissionalizante, aulas atraentes, uso de tecnologias e formação de professores mostram resultado

Cinthia Rodrigues, iG São Paulo25/02/2011 07:00

Escolas que abrem portas para o mercado de trabalho, aulas ao ar livre, visitas a parques e museus, novas tecnologias à disposição dos alunos e investimento na formação de professores. Para a grande maioria dos jovens brasileiros, iniciativas como essas parecem utopia, mas todas já existem em plena rede pública e dão resultados que apontam caminhos para reverter o fracasso do ensino médio retratado pela série especial do iG Educação.

 

Foto: Arquivo Pessoal

Alunos de escola estadual de São José (SC) em visita a praia de pescadores em Florianópolis

Uma das ações mais apoiadas por especialistas na área é o crescimento da oferta de vagas em cursos profissionalizantes. Além da conexão com o ambicionado mercado de trabalho que aumenta o interesse dos jovens pelo estudo, os exemplos mostram que as escolas com ensino médio integrado a cursos técnicos conseguem melhores resultados no aprendizado das disciplinas básicas.

Os alunos dos Institutos Federais, que oferecem essa integração, obtiveram nota média igual a dos países mais desenvolvidos do mundo no Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), que testa capacidades em leitura, matemática e ciências. As Escolas Técnicas Estaduais, em São Paulo, também estão entre as primeiras colocadas no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

No Brasil todo, no entanto, há apenas 860 mil vagas para cursos assim, incluindo a rede particular: uma para cada 10 jovens que estão no ensino médio. “Nos países mais ricos, a oferta de profissionalizantes é de 20% a 30% do total da etapa. No Brasil, estamos em 10%”, lamenta Wanda Engel, superitendente do Instituto Unibanco.

O governo federal anunciou um programa que deverá ampliar este porcentual dando a alunos de escolas públicas bolsas para cursos no Sistema S, que gerencia Sesi, Sesc, Senai e Senac. A previsão é de que no primeiro ano sejam ofertadas 1,6 milhão de vagas. “Vamos ver como vai funcionar, o ideal seria que essa formação fosse dentro da escola para ajudar a tornar aquele ambiente interessante”, diz a doutoranda em Educação e presidente do Centro de Estudos e Memória da Juventude, Fabiana Costa.

Ensino Médio Inovador

A aposta do Ministério da Educação (MEC) para melhorar a escola tradicional é o projeto piloto Ensino Médio Inovador, que começou a ser implantado no final de 2009 em 357 escolas – 2% das 17 mil unidades desta etapa – em 18 Estados. O governo federal envia uma verba diretamente para a instituição que formular um projeto em que os estudantes tenham 20% mais tempo de estudo com atividades culturais e recuperação de conteúdos em que demonstrem dificuldades.

O responsável pelo projeto, Carlos Artexes, foi diretor de Concepções e Orientações Curriculares para Educação Básica do MEC até janeiro deste ano, quando decidiu voltar a dar aulas em uma instituição de ensino superior no Rio de Janeiro. “Percebemos que era importante fortalecer a cultura das escolas e aumentar o tempo que o aluno passa dentro dela. Vamos ver os resultados em 2012, quando os alunos que estavam no 1º ano em 2010 se formarem”, conta.

Na escola estadual Laércio Caldeira de Andrada, em São José, Santa Catarina, os benefícios já são comemorados. No ano passado, os alunos participantes foram conhecer museus em Porto Alegre, projetos ambientais em Curitiba e áreas históricas em Florianópolis, como a vila de pescadores Pântano do Sul. Dentro da escola, tiveram aulas com a participação conjunta de professores de diferentes disciplinas e novos materiais adquiridos com a verba, como máquina fotográfica, filmadora e laptop.

“Das quatro turmas que temos, duas participaram e a diferença de resultados em evasão e aprendizado foi grande”, diz a assistente técnica pedagógica Rosilane Rachadel Martins, que coordena o projeto na unidade. Ela aponta problemas, como a falta de espaço físico para montar salas e de um profissional pago para tratar apenas do projeto, mas defende que o programa seja estendido para todo o País. “Agora os alunos têm mais expectativas da escola”, resume.

Artexes acredita que o caminho da mudança é esse, ainda que dependa da adesão dos Estados e da criatividade das equipes pedagógicas de cada escola. “O Brasil é uma federação, e os Estados têm autonomia para conduzir o ensino médio, que é responsabilidade deles. Mudanças radicais, como as da China, acontecem em culturas autoritárias. Nós não queremos isso”.

 

Foto: Fabio Guinalz/Fotoarena

Liliane Oliveira estagia no laboratório de informática da escola: aprende e ensina

Secretários conhecerão novas diretrizes em março

A mesma linha segue o Conselho Nacional de Educação, que discute desde agosto do ano passado novas diretrizes para o ensino médio. O relator da comissão, José Fernandes de Lima, diz que as ideias estão prontas, mas como muitos responsáveis pelas secretarias estaduais foram trocados com os novos governos empossados este ano, haverá uma nova conversa, já agendada para 30 e 31 de março.

(continua no iG Educação)

 

O ENEM e a classificação das escolas públicas 20 de julho de 2010

 

A imprensa tem divulgado várias relações de melhores escolas de ensino Médio do país, tendo como referência o ENEM de 2009. Uma delas é o ranking das “melhores” escolas públicas do país ou, melhor dizendo, das melhores classificadas no dito exame. A relação a seguir apresenta as 50 escolas públicas melhor classificadas no ENEM:

P EST. CIDADE                                                 INSTITUIÇÃO REDE ENEM
1 MG Viçosa COLÉGIO DE APLICACAO DA UFV – COLUNI Federal 734,66
2 RJ Rio de Janeiro INSTITUTO DE APLICAÇÃO FERNANDO R DA SILVEIRA CAP-UERJ Estadual 722,58
3 PR Curitiba UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ Federal 717,79
4 RJ Rio de Janeiro ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO Federal 715,35
5 SP São Paulo INSTITUTO FEDERAL DE EDUCACAO CIÊNCIA E TECNÓLOGIA DE SAO PAULO Federal 707,22
6 PE Recife COLÉGIO DE APLICACAO DO CE DA UFPE Federal 706,34
7 MS Campo Grande COLÉGIO MILITAR DE CAMPO GRANDE Federal 704,30
8 RS Santa Maria COLÉGIO POLITÉCNICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE STA MARIA Federal 697,16
9 MG Barbacena ESCOLA PREPARATÓRIA DE CADETES DO AR Federal 692,24
10 BA Salvador COLÉGIO MILITAR DE SALVADOR Federal 692,09
11 BA Simões Filho INSTITUTO FEDERAL DE EDUCACAO CIENCIA E TECNÓLOGIA DA BAHIA Federal 690,08
12 MG Juiz de Fora COLEGIO TÉCNICO UNIVERSITÁRIO Federal 688,95
 13 RJ Rio de Janeiro COLÉGIO PEDRO II Federal 688,69
14 MG Belo Horizonte CENTRO FEDERAL DE EDUCACÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS – BH Federal 686,84
15 SP São Paulo ESCOLA TÉCNICA DE SÃO PAULO Estadual 686,18
16 MG Juiz de Fora COLÉGIO MILITAR DE JUIZ DE FORA Federal 686,07
17 MG Belo Horizonte COLÉGIO MILITAR DE BELO HORIZONTE Federal 685,92
18 RJ Rio de Janeiro INSTITUTO FEDERAL DE EDUCACÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO DE JANEIRO CAMPUS MARACANA Federal 685,67
19 RJ Rio de Janeiro COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Federal 685,53
20 RN Mossoró INSTITUTO FEDERAL DE EDUCACÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RN CAMPUS MOSSORO Federal 684,67
21 SP Cubatão INSTITUTO FEDERAL DE EDUCACÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SAO PAULO – CAMPUS CUBATAO Federal 683,46
22 BA Salvador INSTITUTO FEDERAL DE EDUCACÃO CIENCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA Federal 682,55
23 CE Fortaleza CENTRO FEDERAL TECNOLÓGICO DO CEARA CEFET Federal 681,55
24 RJ Rio de Janeiro CEFET CELSO SUCKOW DA FONSECA Federal 680,94
25 CE Juazeiro do Norte CENTRO FEDERAL DE EDUCACÃO TECNOLÓGICA DO CEARÁ Federal 680,79
26 RJ Rio de Janeiro COLÉGIO PEDRO II UNIDADE HUMAITÁ II Federal 680,19
27 SP Guaratinguetá COLÉGIO TÉCNICO E INDUSTRIAL DA UNESP Estadual 679,64
28 SP Mogi das Cruzes ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL PRESIDENTE VARGAS Estadual 679,64
29 MA São Luís INSTITUTO FEDERAL DE EDUCACAO CIENCIA E TECNOLOGIA DO MARANHAO CAMPUS SAO LUIS-MONTE CASTELO Federal 677,47
30 RJ Rio de Janeiro COLÉGIO MILITAR DO RIO DE JANEIRO Federal 675,72
31 ES Vitória IFES-CAMPUS DE VITÓRIA Federal 675,43
32 RJ Niterói COLÉGIO PEDRO II UNIDADE ESCOLAR DESCENTRALIZADA DE NITEROI Federal 674,83
33 SP Osvaldo Cruz ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL AMIM JUNDI Estadual 674,06
34 DF Brasília COLÉGIO  MILITAR DE BRASILIA Federal 673,73
35 RN Natal INSTUTO FEDERAL DE EDUCACAO CIENCIA E TECNOLOGIA DO RN – CAMPUS NATAL-CENTRAL Federal 672,91
36 MG Belo Horizonte COLTEC-COLÉGIO TÉCNICO DO CENTRO PEDAGÓGICO DA UFMG Federal 672,50
37 SP Lorena COLÉGIO TÉCNICO DE LORENA Estadual 672,39
38 SP Paulínia ESCOLA TÉCNICA DE PAULINIA Municipal 671,18
39 PR Curitiba COLÉGIO MILITAR DE CURITIBA Federal 668,99
40 RJ Rio de Janeiro COLÉGIO PEDRO II – UNID REALENGO Federal 668,52
41 PR Pato Branco UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANA Federal 667,74
42 BA Barreiras CEFET BA UNED BARREIRAS Federal 667,25
43 MG Divinópolis CEFET-MG-UNED DIVINOPOLIS Federal 667,20
44 RS Porto Alegre COLÉGIO MILITAR DE PORTO ALEGRE Federal 667,06
45 SP Bauru COLÉGIO TÉCNICO INDUSTRIAL PROF ISAAC PORTAL ROLDAN UNESP Estadual 665,67
46 SP Campinas COLÉGIO TÉCNICO DA UNICAMP Estadual 665,55
47 SP Rio Claro ESCOLA TÈCNICA ESTADUAL ARMANDO BAYEUX DA SILVA Estadual 665,51
48 RJ Nova Iguaçu CEFET – RJ UNED – NOVA IGUACU Federal 664,38
49 SP São Paulo ESCOLA TÈCNICA ESTADUAL PROFESSOR BASILIDES DE GODOY Estadual 664,11
50 RJ Rio de Janeiro COLEGIO PEDRO II-UNIDADE ESCOLAR SAO CRISTOVAO III Federal 663,99

A esmagadora maioria das escolas da relação é técnica. O Colégio Pedro II, tradicional escola secundária do Rio de Janeiro, e os colégios de aplicação vinculados a universidades públicas são as exceções.

Em outro texto já discutimos os motivos para a boa classificação das escolas no ENEM. Consideramos que o fator fundamental para o sucesso são os alunos que essas escolas abrigam e não necessariamente as suas propostas pedagógicas ou a qualidade de ensino que proporcionam.

As escolas são melhor classificadas no Enem porque são freqüentadas pelos alunos com melhor formação inicial. As escolas particulares selecionam os melhores alunos especialmente através de critérios sócioeconômicos. Os alunos que conseguem pagar o valor de suas mensalidades são aqueles que também têm mais acesso aos bens socioculturais e uma formação  de base que facilita percorrer os áridos caminhos de aprendizagem do ensino médio. Os alunos das escolas públicas melhor classificadas passam por uma seleção concorrida (vestibulinho) antes do início do ensino médio. Isso é especialmente verdadeiro para as escolas técnicas federais.

Mas a relação anterior inclui escolas cuja classificação não é necessariamente explicada pela seleção prévia de seus alunos. Não temos informações sobre a concorrência inicial para ingresso nos colégios militares e nas escolas técnicas estaduais situadas em cidades médias, especialmente as do Estado de São Paulo. Mas imaginamos que ela não é tão grande a ponto de explicar a classificação dessas escolas entre as “50 mais”.

A partir desses casos, é interessante propor e pesquisar outra variável explicativa: essas escolas são bem classificadas porque são técnicas. Ou seja, o conteúdo do ensino médio, que é comumente alheio ao cotidiano dos jovens, passa a fazer sentido na medida em que, nessas escolas, se associa a um saber prático e a um fazer correspondente. O interesse despertado por esse fazer se amplia de forma abranger os conteúdos disciplinares de educação geral, que, de outra forma, são abstratos e sem interesse porque apartados das questões concretas da vida, do trabalho e do exercício da cidadania.

 

O que faz um colégio ser melhor no ENEM? 30 de setembro de 2009

 

 

Em post anterior, discutindo uma tabela publicada Folha de São Paulo em: Melhores colégios tem até 50 candidatos por vaga, concluímos  que os colégios são bem colocados porque selecionam os melhores alunos já no início do Ensino Médio. A seleção se faz por meio de exames de admissão e/ou através da condição sócio-econômica dos candidatos. Os colégios são tão bons quanto os alunos que os frequentam.

 

Em outro post, Resultados do ENEM e Mudanças no Ensino Médio, perseguindo a relação entre a inovação na arquitetura escolar e os resultados do ENEM, fizemos uma busca no google/imagens e nos sites dos 10 colégios melhor classificados no Brasil, tendo como referência o ENEM de 2008. Constatamos que eles não inovam na arquitetura escolar e que provavelmente também não são inovadores na metodologia de ensino que adotam.

 

Usando os mesmos recursos de pesquisa vamos investigar os 10 “melhores” colégios paulistas. Nesta busca, vamos procurar responder à seguinte pergunta: os colégios paulistas melhores classificados no ENEM inovam na arquitetura escolar ou na metodologia que adotam?

 

Inicialmente, vamos estudar os dois primeiros colocados: Vértice e Bandeirantes.

 

  1. VÉRTICE

No site do Vértice e nas imagens disponíveis na Internet, consta-se que o colégio adota o usual arranjo em auditório em suas salas de aula. Não inova na arquitetura, nem nos dispositivos arquitetônicos.

 

 

 O site do colégio não veicula muita informação sobre a metodologia adotada no Ensino Médio. Há uma referência sobre um currículo interdisciplinar e uma clara orientação propedêutica: os alunos são preparados para o vestibular. A ausência de informações, a disposição das salas de aula e a orientação geral levam a supor a adoção de uma metodologia tradicional.

 

 

 

 

2. BANDEIRANTES

 

No site, o Colégio Bandeirantes fala mais de suas intenções. Veja no texto a seguir:

“Com a intenção de facilitar a aquisição de conhecimentos, de exercitar a pesquisa, a habilidade de discriminar informações e, assim, fazer com que o aluno gradativamente conquiste sua autonomia intelectual, o Colégio utiliza variadas estratégias. Discussão contínua sobre a eficácia dos processos pedagógicos adotados, participação de profissionais especializados em diferentes áreas da Educação, constante preocupação com a difusão cultural e emprego de modernos recursos tecnológicos capacitam o nosso aluno não só para uma vivência escolar atuante  e produtiva, mas também ampliam o seu universo de conhecimento e influenciam significativamente na constituição de um cidadão sintonizado com a sociedade atual.”

 

 

É interesante que quando se menciona “variadas estratégias”, que é o que nos interessa aqui, o texto muda de assunto. O que se vê no após não é uma descrição das citadas variadas estratégias. É uma digressão.

 

 

A impressão que sobra, ao final da leitura, é que o Colégio Bandeirantes, tem uma série de atividades circundando o núcleo duro de sua prática cotidiana: a aula expositiva. A figura a seguir mostra o habitual tradicionalismo do arranjo físico.

 

 

 Um texto da “Cultura e Filosofia” (ver site) reafirma a impressão geral:

“Segue a metodologia clássica (centrada no professor e na avaliação por meio de provas), com aulas e atividades diferenciadas (uso de tecnologia, dinâmicas de construção de conhecimento, projetos  de protagonismo juvenil, os quais desenvolvem inúmeras habilidades  além da aquisição do conhecimento).”

 

 

Na nossa busca, os dois primeiros colégios não apresentam inovações na arquitetura escolar ou na metodologia adotada. Nos dois, o centro das preocupações é o preparo para os exames vestibulares. Mesmo assim, são os melhores no ENEM. Uma questão volta a incomodar: a mudança na forma de seleção para a universidade (vestibular X ENEM) produzirá alguma mudança no Ensino Médio brasileiro? Parece que não.

 

Melhores colégios tem até 50 candidatos por vaga 21 de setembro de 2009

 

 

Em post anterior: Resultados do ENEM e Mudanças no Ensino Médio, constatamos que as escolas melhores situadas no ENEM não apresentavam inovações em sua concepção arquitetônica e no arranjo de suas salas de aula.


 

Por indícios recolhidos no levantamento sobre a relação entre arquitetura escolar e resultados do ENEM, levantamos a hipótese de que as melhores do ENEM também não se distinguem pela inovação metodológica. Chegamos a supor que as melhores do ENEM são escolas tradicionais e/ou fortemente orientadas para a transmissão e memorização dos conteúdos curriculares.


 

Prometemos um aprofundamento do estudo de forma a explicar as razões dos melhores resultados. No meio tempo, a Folha de São Paulo publicou uma matéria sobre os colégios de São Paulo que foram os melhores colocados no ENEM de 2008. Usou o seguinte título: Melhores colégios tem até 50 candidatos por vaga.


 

Uma das tabelas publicadas no artigo, chamou-nos a atenção. A tabela relaciona variáveis relacionadas à seleção e os preços cobrados pelos colégios que se classificaram nos primeiros 20 lugares. Reproduzimos a tabela a seguir:


 

image

 

A tabela permite uma conclusão fundamental. Os colégios são bem colocados porque selecionam os melhores alunos já no início do Ensino Médio. A seleção se faz por meio de exames de admissão e/ou através da condição sócio-econômica dos candidatos. Não são os colégios que são os melhores. São os alunos que os frequentam que o são.


 

Em post posterior, voltaremos às questões arquitetônicas e metodológicas. Será uma volta temperada pela constatação de que a metodologia pode ser irrelevante quando se dispõe  de tantas vantagens já no início da corrida. Uma retomada com o molho de uma interrogação: o que faz um colégio ser tão demandado ou poder cobrar mensalidades tão altas?

 

 

Resultados do ENEM e Mudanças no Ensino Médio 16 de setembro de 2009

 

 

Em dois posts anteriores (Resultados do Enem e Arquitetura Escolar  e Resultados do Enem e Arquitetura Escolar II), procuramos verificar se há alguma relação entre inovações na arquitetura escolar, especialmente no espaço e no arranjo da sala de aula, e os resultados do ENEM, versão de 2008.

 

 

Um estudo a partir do sites dos colégios e de um levantamento nos registros fotográficos disponíveis na Internet revelou que os 10 colégios melhores classificados, em função dos resultados de seus alunos, não apresentam mudança significativa no espaço e no arranjo das salas de aula.

 

 

Os sites e as propostas pedagógicas dos colégios nem arranham essa questão e as fotos disponíveis mostram sempre um espaço e um arranjo convencional (salas retangulares, cadeiras dispostas em filas). Mesmo onde o tamanho do espaço físico e o mobiliário permitem outros arranjos, as fotos mostram o indefectível arranjo em auditório. Um ambiente propício para a fala de um e para a audição de muitos.

 

 

A constatação nos leva a crer que as inovações metodológicas também sejam poucas entre as 10 mais, embora sobre tais inovações as propostas pedagógicas dos colégios (quando disponíveis nos sites) falem um pouco mais.

 

 

Mesmo necessitando de mais informações para confirmar a hipótese, ousaríamos afirmar que os colégios mais bem situados na classificação são tradicionais e/ou fortemente centrados na transmissão e memorização dos conteúdos curriculares, com o olho voltado para o bom desempenho de seus alunos nos vestibulares para o ensino superior.

 

 

A afirmação, se verídica, implica em constatar que a mudança da forma de seleção dos alunos para a universidade (Vestibulares X Enem) será inócua em induzir mudanças significativas na atual realidade do Ensino Médio brasileiro.

 

 

Dada a importância da afirmação, voltaremos, em posts posteriores, a abordar o assunto. Nessa volta, vamos investigar as variáveis que determinam o bom desempenho dos colégios melhor colocados no Enem de 2008. A partir daí, tentaremos mostrar que essas variáveis não são influenciadas pelo tipo de exame que se adota na seleção para o ensino superior.

 

 
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