Germinal – Educação e Trabalho

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CRISE DE AUDIÊNCIA NO ENSINO MÉDIO OU FARSA IDEOLÓGICA? (2ª PARTE) 27 de dezembro de 2011

O  professor e filósofo Westerley Santos fez um novo comentário que publico como post. O comentário constitui uma continuidade de texto anterior, com o mesmo título, já publicado e criticado por nós. Em artigo posterior vamos discutir as teses ora defendidas pelo Prof. Westerley.

Os Erros Das Proposições e a Invalidade Do Paradigma Da Pesquisa.

Para lembrar o leitor, em 19/11 publiquei texto homônimo¹ em que fazia uma análise inicial geral de uma pesquisa intitulada “A crise de audiência no Ensino Médio” realizada pelo IBOP , a pedido do INSTITUTO UNIBANCO. A análise demonstra que se trata de uma campanha de orientação neoliberal, contra a Educação Nacional, principalmente a de nível Médio, cujos princípios são norteados para a formação da cidadania.

No primeiro texto, anunciei que iria demonstrar a verdadeira intenção desta campanha ideológica/neoliberal contra a Educação e que publicaria em breve uma análise crítica completa da pesquisa apresentada no Seminário de São Paulo (17/11), expondo os absurdos e equívocos anunciados: a manipulação que há por trás da ideia de “crise no Ensino Médio”, a invalidade da pesquisa a partir dos erros conceituais de um suposto paradigma; os equívocos das proposições e das premissas usadas, os conceitos inadequados para “tempos e espaços escolares” e a culpabilidade imputada aos professores pela suposta crise.

Por se tratar de uma longa pesquisa com diversos dados e nuances e, por entender que não poderia deixar de analisar as implicações a que nos leva cada um destes aspectos, resolvi publicar minhas notas em partes, usando o mesmo título e, no subtítulo, o tema a ser analisado. Feitas estas observações ao leitor, continuo o exame a que me proponho: Parte- 2.

A INVALIDADE DO PARADIGMA DA PESQUISA

A pesquisa apresentada no seminário em SP foi estrutura em três blocos: 1º) Paradigma e metodologia 2º) dados dos alunos (oportunidade de aprender) e 3º) dados do professor (oportunidade de Ensinar), com um anexo sobre a situação do E.M. noturno. Tratarei aqui do primeiro bloco, ainda que abordando aspectos dos demais itens como apoio à análise principal.

Segundo os signatários, a metodologia utilizada foi a mesma realizada para apurar audiências de TV. Foi realizada em 2010, em 36 turmas do E.M. de 18 Escolas Públicas, em três grandes Centros Urbanos (possivelmente SP, MG e RS), com alunos da faixa etária entre 17 e 18 anos.

Os pesquisadores monitoraram e cronometraram aulas em salas dessas escolas, como observadores, e anotaram em formulário os seguintes dados: 1) tempo efetivo de aula, (foi considerado tempo efetivo de aula, o espaço de tempo inicial em que o professor se dirigia à turma abordando o conteúdo, e esta posicionada em atenção à fala do professor. O tempo final foi considerado quando a abordagem oficial sobre o conteúdo terminava), 2) tipo de aula, (foram considerados três tipos: aula expositiva, atividades em sala ou externas com o professor titular da turma) e 3) Faltas de Professores e/ou alunos, (se houve ou não aula no dia e a quantidade de tempo sem aula).

A partir daí definiram dois vetores, denominados: 1)“Oportunidade de aprender” (o aluno presente em sala) e 2)“oportunidade de Ensinar” (o professor presente em sala dando aula) o que gerou uma resultante, denominada “Audiência” que é o paradigma da pesquisa, o elemento chave, utilizado para desenvolver toda a metodologia. Tudo para determinar o tempo real do que se considerou aula.

Assim, Audiência foi o modelo para definir o espaço tempo de aula  e a partir desta definição apurar o tempo desta Aula para concluir a quantidade de ensino o aluno está tendo, as perdas de Horas/aulas e os motivos. Portanto a Audiência é o que caracteriza a aula e este é o conceito paradigmático nuclear para as inferências feitas na pesquisa.

Ora, já na escolha dessa resultante (Audiência) como elemento paradigmático metodológico da pesquisa, podemos observar um erro de concepção do que seja aula. Isso compromete de pronto a pesquisa e suas inferências.

O conceito-chave da pesquisa definitivamente não se aplica à realidade escolar. É incompatível ao conceito e significado mesmo do que seja Aula. Isto invalida a metodologia adotada para aferir o “tempo de aula”. – O que será abordado em outro momento. Com isso, o conceito chave que norteia e dá sustentação à ideia central da pesquisa está extemporâneo, está deslocado, fora de contexto. E por isso é inválido como paradigma ou modelo. Senão vejamos. Etmologicamente² o termo “Audiência” significa:

1) Atenção que se presta a quem fala. 2) Recepção dada por qualquer autoridade a pessoas que lhe desejam falar. 3) Número de pessoas que assistem a determinado programa de rádio ou de televisão. 4) Dir. Sessão do tribunal, em que o juiz interroga as partes, ouve os advogados e pronuncia o julgamento. A. contraditória, Dir: aquela em que são ouvidas as partes que litigam.

Veremos que em qualquer dos sentidos etimológicos acima, o conceito de Audiência utilizado não retrata o que seja uma aula. A pesquisa errou em seu objeto real de investigação e acabou por produzir outro objeto, distinto de aula, composto de dois vetores e uma variante exótica – a realidade escolar.

O paradigma utilizado é aplicado ao universo conhecido dos realizadores da pesquisa (IBOP). Um instituto de pesquisa televisiva, com seu método de apuração de audiência de TV, domiciliar ou individual. Neste universo, o sentido de Audiência é entendido, em seu uso mais popular, como (o conjunto de pessoas que estão assistindo a determinado programa de TV). Porém, se aplicarmos este modelo na Educação, como foi feito, e o analisarmos à luz dos sentidos etimológicos (acima), que parece ter sido o sentido aplicado, perceberemos uma fraca e ultrapassada leitura e interpretação do que seja uma aula. Isso por que, “Audiência” alude a uma relação entre ouvintes passivos, aqueles que assistem a um espetáculo ou a alguém,  neste caso, os alunos, e pressupõe um orador, aquele que fala ao um público, aqui, neste sentido, o professor.

Sendo assim, ao usar o paradigma da “Audiência” está se concebendo, por analogia, a atividade Aula como algo estático e formal. O que não condiz com a realidade. Em outros termos; comparar aula e presença dos alunos em sala, com audiência (aqueles que assistem), significa conceber aula como uma ação estática, fria e distante, colocando aqueles como telespectadores diante de uma tela eletrônica. E o professor como uma espécie de animador de auditório, distante afetivamente do seu  interlocutor.

Uma das revistas de divulgação da pesquisa apresenta na capa uma ilustração emblemática sobre o que estou dizendo: há em segundo plano o desenho de uma escola e, no primeiro, uma mão apertando botões de um controle remoto de TV direcionado à escola.

Ora! Presença, sala de aula, relação de ensino/aprendizagem, professor/aluno, não equivalem nem a uma coisa nem a outra. Pelo contrário, sala de aula ou mesmo a escola se equiparam a uma ágora grega, onde a aula acontece como uma atividade efervescente. É o locus onde se dá a socialização, o encontro de pessoas que se relacionam em torno de uma das mais essenciais necessidades humanas: a  troca de saberes, o debate de ideias, em que as várias Ciências se colocam como objetos vivos do saber, pelos quais se revisitam valores, expectativas de vida, história, memória, conhecimentos, aprendizagens, concepções políticas.

Aula é um tempo e espaço diário, onde comumente se forjam mais claramente os desejos e planos, onde a angústia pelo conhecer vai ao encontro do prazer com a realidade experimentada, experiência que diz respeito aos seus sujeitos, numa relação direta, presencial, intersubjetiva, calorosa.

Em síntese, está posta intrinsecamente neste espaço de convivência e socialização (escola ou sala de aula), uma interação afetiva e interativa, motivada pela busca do conhecimento. Ainda mais em se tratando de jovens no auge de suas expectativas de vida, ávidos pelo desvelamento do mundo do saber, do viver e do ser, na prática mesma das relações humanas com o outro. Isso não se iguala a uma postura inerte de telespectador diante de uma TV.  Audiência é uma concepção que se liga a telespectador ou radiouvintes e refere-se, ao contrário de aula, a um postar-se passivo diante de uma tela de imagens e sons, o que não se vê na atividade “Aula”.

O telespectador assiste; o aluno interage, o telespectador é passivo; o aluno é ativo, o telespectador se põe diante da TV numa posição unilateral e distante: não está inserido naquilo. Aula é uma relação de alteridade, entre o eu e o outro, que se apresenta diante de mim, rico em significações e pluralidade de sentidos e emoções reais. Na aula o aluno é o outro polo que busca uma nova determinação em termos de uma ascensão crítica, dentro de uma cultura elaborada, de forma a elaborar novos conhecimentos, adquirir novas habilidades e modos de agir.

Na lógica da Audiência, o sujeito é aquele que recebe informações indiretas. Na lógica da aula, os sujeitos são: o professor e o aluno que participam dialeticamente da construção do conhecimento. O telespectador não dialoga, está diante de estímulos imagéticos, de sensibilizações e apelos eróticos e comerciais. Já o aluno dialoga e troca expectativas de vida, está diante de estímulos cognitivos, epistemológicos, racionais e psicológicos, orientados pedagogicamente. O telespectador não questiona com o outro, pois não há o outro. O aluno questiona e desenvolve raciocínios dialógicos na interação com o conhecimento e com aquilo que recebe e doa aos professores, colegas e meio ambiente socioescolar.

Na aula, o aluno assimila, analisa, constrói inferências, troca interpretações, dúvidas e inquietações internas com os colegas, e devolve ao professor numa espiral do conhecimento: percepção, problematização, significação, absorção, análise e crítica, até forjar o conhecimento. O que torna a aula uma construção cognitiva, dialética, qualitativa, valorativa e crítica sem equivalente. Isto é totalmente e essencialmente distinto de estar diante de uma TV.

A relação professor/aula/aluno é idiossincrática. Aluno e professores manifestam suas idiossincrasias, se interrelacionam de modo dinâmico, físico, mental e emocionalmente com os colegas. O professor conhece o aluno de perto, convive e participa de suas angústias e alegrias, tem com ele uma relação humana específica, conhece aspectos de sua história, às vezes até de sua origem e família. É uma relação existencial, qualitativa.

Enquanto a Audiência diz de uma concepção simplesmente numérica, quantitativa, “bancária”, número de pessoas que assistem a um programa de TV ou ouvem rádio. Esta concepção aplicada à Educação é o mesmo que perceber o aluno não como indivíduo ou sujeito, mas, como um algarismo. Aula não é assistir incólume ao professor, e este, como a um palestrante que profere uma fala ensaiada e hermética, a semelhança de um apresentador de programa de auditório, lendo um telepront (TP) animando a platéia.

Paulo freire ( 1921-1997) em 1967, já combatia esta mesma concepção de aula que está presente no conceito de “Audiência”, fazendo uma profunda crítica a esta concepção chamada por ele de “educação bancária”³. Em uma rápida passagem em um de seus livros ele diz:

“ Educação bancária é quando o educando recebe passivamente os conhecimentos, tornando-se um depósito do educador. Educa-se para arquivar o que se deposita. Mas o curioso é que o arquivado é o próprio homem, que perde assim seu poder de criar, se faz menos homem, é uma peça. O destino do homem deve ser criar e transformar o mundo, sendo o sujeito de sua ação. A consciência bancária -pensa que quanto mais se dá mais de sabe-. Mas a experiência revela que com este mesmo sistema sé se formam indivíduos medíocres, porque não há estímulo para a criação”.  (PAULO, Freire. Educação e Mudança. RJ.  Paz e Terra, 1983.p. 38).

Desculpe-me o leitor se serei repetitivo, mas é preciso frisar bem! Aula e presença não se equivalem a Audiência. O que significa dizer que o sentido implícito no conceito usado como paradigma da pesquisa está errado. Não se aplica à Educação, está preso apenas ao formato de platéia, sugerido por uma educação bancária. Talvez a disposição física tradicional de uma sala de aula, no formato de auditório, com carteiras perfiladas, quando vista a distância, de fora, possa provocar enganos, mas, quando vista de perto e por dentro, imediatamente se percebe que ali há uma relação viva, quente, pulsante.

Este contínuo diário de uma relação psicológica, simbiótica, dialógica, atemporal que se constrói entre aluno/professor, aluno/aluno em torno do conhecimento das diversas ciências, no espaço sociopedagógico da escola é que se denomina Ensino/aprendizagem.

Esta dedicação dos entes envolvidos no processo de ensino/aprendizagem pela investigação permanente e cotidiana, numa busca e descoberta emocionante do mundo, mediada pelo saber e pela didática, com o intuito de se realizar e estabelecer um dos mais valiosos princípios da natureza humana: a socialização dos homens na transmissão de valores fundamentais à vida; é o que consiste a aula. E nesta base relacional é que o ensino e o aprendizado acontecem, no mesmo momento em que as relações com os outros se dão num exercício moral, ético e antropológico evolutivo, dia a dia.

Daí, o erro do paradigma da pesquisa, gerado pela concepção equivocada do que seja Aula. Entenderam aula como uma relação simples, distante, entre orador e ouvinte, e a comparam equivocadamente à Audiência de TV.

Deste modo, só posso deduzir que, necessariamente, o paradigma da pesquisa não faz paralelo ao objeto pesquisado. Chega a ser até antagônico ao objeto real que se pretendeu pesquisar. E, se o objeto real da pesquisa não foi alcançado e decidiu-se por substituí-lo por outro, criando-se a sua dessemelhança, se, houve essa metonímia, se o paradigma acabou por tomar a forma pelo conteúdo, ou seja, Audiência por aula, então, toda inferência advinda desse raciocínio, está equivocada.

Isso torna a proposição de que há uma “crise de audiência no Ensino Médio” falsa, simplesmente por que não há que se falar em audiência no Ensino Médio. Por tanto, não pode haver crise de audiência onde não há audiência. Não pode haver predicado onde não ha sujeito. – E não é só pela invalidade do paradigma que não há crise no Ensino Médio,- demonstrarei  isso mais nas próximas notas.

Por fim, permitam-me insistir mais uma vez, o conceito chave, a resultante, o paradigma usado na pesquisa é inválido. Não serve sequer como analogia. E, se a proposição ou premissas não são válidas, logo toda dedução advinda delas também é falsa. Assim, entendo ter demonstrado o erro no paradigma e de algumas proposições da pesquisa, conforme prometido.

Por: Westerley Santos – Prof./Filósofo. Dezembro/2011

Na parte-3, analisarei os Blocos 2 e 3 da pesquisa. Demonstrarei os erros sobre “tempo de aprendizagem” e das premissas ou vetores denominados: Oportunidade de aprender e Oportunidade de Ensinar. Aguardem! __________________________________________________ 1)”Crise de Audiência no Ensino Médio ou farsa ideológica?” ver:  http://www.westerleysantosfilosofia.blogspot.com/ e WWW. https://germinai.wordpress.com/ 2) Dicionário: Michaelis. 3 ) FREIRE, Paulo. Educação e Mudança; tradução de Moacyr Gadotti e Lilian Lopes Marin.-RJ: Paz e Terra, 1983. 11ªed.

 

A Nova Flauta 23 de agosto de 2011

 

Gostei desde sempre do texto reproduzido a seguir. Considerando o tema central (ensinar e aprender) esse gostar é facilmente explicado. Esse é o tema que mais interessa a todo educador. Considerada a forma de aprender e ensinar mostrada no texto, esse gostar é menos explicável. Por que essa forma de ensinar me agrada? Por que essa forma de aprender me parece razoável?

 

Um deus pode fazê-lo. Mas como um homem pode penetrar as cordas da lira?(RILKE)

Uma nova flauta foi inventada na China. Descobrindo a sutil beleza de sua sonoridade, um professor de música japonês levou-a para o seu país, onde dava concertos por toda parte. Uma noite, tocou com uma comunidade de músicos e amantes da música que viviam numa certa cidade. No final do concerto, seu nome foi anunciado. Ele pegou a nova flauta e tocou uma peça. Quando terminou, fez-se silêncio na sala por um longo momento. Então, a voz do homem mais velho da comunidade se fez ouvir do fundo da sala: “Como um deus!”

No dia seguinte, quando o mestre se preparava para partir, os músicos o procuraram e lhe perguntaram quanto tempo um músico habilidoso levaria para aprender a tocar a nova flauta. “Anos”, ele respondeu. Eles lhe perguntaram se aceitaria um aluno, ele concordou. Depois que o mestre partiu, os homens se reuniram e decidiram enviar-lhe um jovem e talentoso flautista, um rapaz sensível à beleza, dedicado e digno de confiança. Deram-lhe dinheiro para custear suas despesas e as lições de música, e o enviaram à capital, onde o mestre vivia.

O aluno chegou e foi aceito pelo professor, que lhe ensinou uma única e simples melodia. No início, recebeu uma instrução sistemática, mas logo dominava todos os problemas técnicos. Agora, chegava para a sua aula diária, sentava-se e tocava a sua melodia – e tudo o que o professor lhe dizia era: “Falta alguma coisa”. O aluno se esforçava o mais que podia, praticava horas a fio, dia após dia, semana após semana, e tudo o que o mestre dizia era: “Falta alguma coisa”. Implorava ao mestre que escolhesse outra música, mas a resposta era sempre “não”. Durante meses e meses, todos os dias ele tocava e ouvia “Falta alguma coisa”. A esperança de sucesso e o medo do fracasso foram se tornando cada vez maiores, e o aluno oscilava entre a agitação e o desânimo.

Finalmente, a frustração o venceu. Ele fez as malas e partiu furtivamente. Continuou a viver na capital por mais algum tempo, até que seu dinheiro acabou. Passou a beber. Finalmente, empobrecido, voltou à sua província natal. Com vergonha de mostrar-se a seus antigos colegas, foi viver numa cabana fora da cidade. Ainda mantinha sua flauta, ainda tocava, mas já não encontrava nenhuma nova inspiração na música. Camponeses que por ali passavam ouviam-no tocar e enviavam-lhe seus filhos para que ele lhes desse lições de música. E assim ele viveu durante anos.

Uma manhã, bateram à sua porta. Era o mais antigo mestre da cidade, acompanhado de seu mais jovem aluno. Eles lhe contaram que naquela noite haveria um concerto e que todos haviam decidido que não tocariam sem ele. Depois de muito esforço para vencer seu medo e sua vergonha, conseguiram convencê-lo, e foi quase num transe que ele pegou uma flauta e os acompanhou. O concerto começou. Enquanto esperava atrás do palco, no final do concerto, seu nome foi anunciado. Ele subiu ao palco com fúria. Olhou para as mãos e percebeu que havia escolhido a nova flauta.

Agora ele sabia que não tinha nada a ganhar e nada a perder. Sentou-se e tocou a mesma melodia que tinha tocado tantas vezes para o mestre no passado. Quando terminou, fez-se silêncio por um longo momento. Então, a voz do homem mais velho se fez ouvir, soando suavemente do fundo da sala: “Como um deus[1]!”


[1]Nachmanovitch, Stephen. Ser Criativo. São Paulo, Summus Editorial, pág. 13 à 15.

 

Curso de Especialização (Pós-graduação lato sensu) em Docência da Educação Profissional 30 de outubro de 2010

O site do SENAC Nacional, em 22/10/ 2010, publicou a notícia a seguir sobre o curso de especialização em Docência da Educação Profissional. A Germinal Consultoria prestou  serviços ao SENAC no desenvolvimento do projeto pedagógico do curso.


Competências para ensinar e aprender

As transformações vividas pelo mundo do trabalho nas últimas décadas afetaram a educação em todos os aspectos, exigindo dos profissionais atualização e uma nova forma de qualificação. Atento a isso, o Senac iniciou, em outubro, a primeira turma do curso de especialização em Docência para a Educação Profissional, pós-graduação a distância lato sensuoferecida exclusivamente ao corpo docente da Instituição, com reconhecimento do MEC. Possibilitada pela tecnologia e pela capilaridade das unidades do Senac espalhadas por todo o Brasil, o curso, oferecido pela Rede EAD, tem carga de 470 horas, distribuídas em 14 meses.

As aulas inaugurais das 54 primeiras turmas – que reúnem 1.500 alunos – aconteceram nas primeiras semanas de outubro por todo o Brasil. O plano é oferecer, até 2012, esse aperfeiçoamento aos cerca de 7.500 docentes com curso superior que atualmente trabalham na Instituição. Segundo Maria Teresa Nori, que coordena as turmas do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, os alunos “se animaram com o curso e ficaram admirados com a iniciativa do Senac de investir no desenvolvimento das competências docentes”.

O curso tem como objetivo sistematizar o saber, melhorando a elaboração, operação dos currículos e dos processos avaliativos, aprimorando, assim, a qualidade oferecida pela Instituição. Para Cícera Paiva, diretora técnica do Senac Alagoas, “esse será mais um diferencial dos instrutores Senac para a educação profissional do estado”. A instrutora e agora aluna Claudia Rosita de Lima, de Recife, a oportunidade é única: “Grande é a minha expectativa em me ver fazendo parte de um curso tão importante para minha vida profissional. Estou muito feliz em fazer parte do primeiro grupo. Estamos fazendo história no Senac”.

Segundo a coordenadora do curso no Maranhão, Alda Baldez, todos demonstraram estar ansiosos pelo início da nova proposta: “As expectativas destacadas pelo grupo estão na melhoria da qualidade das ações educativas desenvolvidas a partir da valorização dos saberes que eles já detêm”.

Daniela Papelbaum, Lucia Prado e Solange Luçan, técnicas do Centro de Educação a Distância do Senac Nacional e responsáveis pelo desenvolvimento do conteúdo do curso – com a ajuda do consultor José Antonio Küller –, reafirmam que o objetivo é aprimorar as competências dos que lidam diretamente com a missão de educar para o mundo do trabalho. Para elas, é muito importante fortalecer nos docentes o compromisso de formar profissionais que estejam em sintonia com o mercado e, ao mesmo tempo, capazes de ter uma atitude reflexiva sobre a área e a atividade produtiva na qual pretendem atuar.

“A proposta pedagógica do curso toma como referência a prática de nossos docentes em sala. Não propõe formas de condução de aulas ou de situações de ensino, mas o desenho de aprendizagem”, diz Lucia. A proposta acompanha a mudança de paradigma que representa o papel atual do professor que, se antes priorizava a transmissão de conteúdos, hoje pressupõe a construção do conhecimento e o desenvolvimento de competências.

Comunidades virtuais

Com essa diretriz, o curso foi estruturado a partir de três eixos. Pesquisa e Produção é totalmente online, tem 210 horas de duração e propicia um contato com o ambiente virtual de aprendizagem. O eixo Experimentação, que tem carga de 140 horas, está organizado em quatro laboratórios de prática, realizados no ambiente de aprendizagem no qual o participante atua, como a sala de aula. Já o de Cooperação e Sistematização fortalece ainda mais a questão da troca de experiências e de saberes. Nele, há uma proposta nova – a comunidade virtual de prática, que permite a todos os participantes estabelecer uma discussão online. Além disso, como a comunidade ocorre paralelamente aos laboratórios, possibilita ainda mais a troca de ideias e experiências sobre a prática de sala de aula.

A comunidade virtual entrará no ar em novembro para ambientação e, de maneira definitiva, em janeiro, exclusivamente para os alunos da primeira turma. À medida que o curso for formando novas turmas, mais instrutores serão convidados a integrar o espaço. A intenção ao desenvolver a comunidade virtual de prática no curso é perpetuar os efeitos do curso após seu término. O objetivo é incentivar os docentes a dar continuidade ao trabalho colaborativo, a compartilhar boas práticas e conhecimentos relativos à docência e a publicar materiais interessantes, em uma perspectiva de educação continuada.

Para Léa Viveiro de Castro, diretora de Educação Profissional do Senac Nacional, essa forma de organização, desenhada especialmente para o curso, atende aos propósitos de oferecer aos docentes do Senac, que já conhecem e aplicam a proposta pedagógica da Instituição, uma oportunidade de aprimorar suas ações: “E isso só seria possível se os professores partissem de uma reflexão sobre a prática em sala de aula e pudessem, com os demais participantes, ampliar e aperfeiçoar seu trabalho”.

 

Educadores do Brasil – Antonio de Sampaio Doria 23 de setembro de 2010

Texto de Luís Mauro Martino, também disponível no site Navegando na História da Educação Brasileira.


Responsável pela reforma do ensino público paulista, educador é pouco conhecido mesmo do público especializado.

A luta pela democracia que o levou ao exílio foi sua principal preocupação ao iniciar, em 1920, a primeira – dentre várias que se seguiriam – tentativa de reforma do ensino público no Brasil. No começo da República a educação pública era um tema secundário, a ponto de estar vinculada ao Ministério dos Correios e Telégrafos. Além disso, cabia aos estados a organização dos sistemas de ensino em todos os níveis. Só que o governo federal podia fazer o mesmo, criando assim o campo para conflitos futuros.

Convidado pelo governo do Estado para coordenar a reforma do ensino paulista, Sampaio Dória teve a oportunidade de aplicar suas idéias educacionais. Sistematizado na lei nº 1750, de 8 de dezembro de 1920, a ação trouxe várias novidades e procedimentos ainda hoje vigentes.

Sua principal preocupação, dentro ou fora da reforma realizada, era a maneira de ensinar. Segundo o professor Lourenço Filho, uma dos principais interesses de Sampaio Doria era “tornar mais completo o aprendizado da arte de ensinar”. O próprio educador afirmou, no I Congresso Interestadual de Ensino, em 1922, que “o capítulo máximo da pedagogia era a didática, a metodologia do ensino, a prática pedagógica”.

“Governo democrático e ignorância do povo são duas coisas que se chocam, se repulsam, se destroem… Como um povo pode se organizar se não sabe ler, não sabe escrever, não sabe contar?” Sampaio Dória, in Questões de Ensino (1921)

Esse modelo, porém, teve um ponto positivo: deixando aos estados sua própria organização, ao contrário do que aconteceu no 2o Império, o governo permitiu que novas idéias fossem aplicadas e novas experiências fossem feitas.

A primeira delas foi a de Sampaio Dória. Apesar de ter se formado advogado, ele estava muito mais interessado em filosofia e problemas sociais do que em qualquer ramo do direito.

O trabalho começou com um recenseamento educacional, o primeiro realizado no Brasil. A criação das delegacias de ensino, existentes até hoje, também foi obra sua. Criou também, em consonância com suas preocupações, as “Escolas de Alfabetização” – com o objetivo de erradicar o que ele considerava o mais grave problema educacional do país. Unificou as antigas Escolas Normais, que formavam professores, e sistematizou a prática pedagógica. Chegou mesmo a instituir uma Faculdade de Educação para a formação de professores, mas o projeto não saiu do papel.

Influenciado pelas teorias da chamada “Escola Nova”, Sampaio Dória procurava o equilíbrio na relação pedagógica. Sem considerar o aluno como um ser passivo, era contra, porém, deixa-lo à própria sorte. O professor não deve centralizar o ensino na própria pessoa, mas também não pode, sob pretexto de “deixar os alunos descobrirem tudo”, esquecer de dar aula. Com um pouco de sorte, explica, um aluno levaria séculos para descobrir tudo o que deveria saber.

Para o educador, a aprendizagem só acontece quando o conhecimento racional e as informações dos sentidos trabalham juntos. Há certas coisas – calor e frio, por exemplo – que podem ser apreendidos pelos sentidos. Outros conceitos, porém, como idéias de liberdade ou de imortalidade, só podem ser adquiridos pelo raciocínio. Na escola, ambos devem ser cultivados pelo educador. A demonstração do professor deve acompanhar a dedução do aluno, sem que uma se sobreponha à outra.

“Na cooperação do professor e do estudante há uma justa medida de esforços recíprocos. Ao educador cabe a direção; ao educando, a realização”, escreveu Sampaio Dória. Ao contrário de outros pedagogos influenciados pela Escola Nova, ele coloca os deveres do professor ao lado dos deveres do aluno. Caberia ao educador sugerir atividades, criar ambiente de estudo e dirigir o esforço dos educandos. Os alunos, por sua vez, devem obedecer às sugestões e exercer atividades próprias – “quando alguém aprende a dançar, não adianta nada o mestre dançar por ele”, escreveu, em seu livro Educação, de 1933.

Na igualdade de tarefas entre professores e alunos, há um elemento comum: o conhecimento deve sempre partir da realidade para a teoria. É a partir da observação, realizada pelo aluno, que todo o processo de conhecimento tem início. “O professor só é eficiente se for compreendido. Só é eficiente o professor que fizer seus alunos observarem o que ensina e se escolher, para a observação, realidades que permitam análises espontâneas”, completa Dória, destacando a necessidade do exemplo explicativo.

E quando a aula trata de algo que não pode ser observado – uma aula de História, por exemplo? “No ensino daquilo que não puder estar materialmente presente ao observador, ou que não puder ser representado em forma perceptível pelos sentidos, cabe à palavra evocar vestígios do que se tenha observado, sugerindo, a partir daí, conhecimentos novos”, responde.

O professor deve utilizar palavras e conceitos que o aluno já conhece para desenvolver novas idéias. Não adianta simplesmente falar; ele deve encontrar, dentro do que o aluno já sabe, as palavras necessárias para a formulação das informações.

A liberdade de aprender não deve ser confundida com o caos pedagógico. A escola deve estimular o aluno, mas não deixar que ele faça o que quer. Afinal, justifica, se o aluno vai viver em sociedade, deve estar acostumado desde cedo a não fazer tudo o que quer.

A educação moral, nesse particular, é uma das maiores preocupações de Sampaio Dória, a ponto de ter dedicado, em 1928, todo um livro sobre o assunto.

A moral, para o educador, está ligada ao conhecimento. A disciplina é necessária, não apenas na escola, mas em toda a vida social. À medida que a compreensão da criança aumenta, pais e professores devem passar da ordem à advertência. Quando as crianças são pequenas, não adianta adverti-las, é preciso instituir sanções imediatas. Conforme a criança vai crescendo, as ordens devem ser substituídas por advertências, deixando a escolha ao livre arbítrio da criança.

“Querer que, na escola, as crianças façam o que lhes venha à cabeça, aprendam o que lhe der na telha, seria querer a anarquia, o caos e a ineficiência educativa. Não há vida social sem disciplina”.

Quem foi Sampaio Doria

Nascido em Belo Monte, Alagoas, em 1923, Antonio de Sampaio Doria veio para São Paulo ainda criança, onde concluiu o curso primário e fez os estudos secundários. Matriculou-se em 1904 na faculdade de Direito, formando-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1908. Nessa época, iniciou sua atividade no magistério, como professor no ginásio Macedo Soares e na Escola de Comércio Álvares Penteado. A advocacia não o atrai, e Sampaio Dória vai para o Rio de Janeiro, onde se torna redator de O Imparcial. O jornalismo também não o agradou. De volta a São Paulo, em 1914, tornou-se professor na Escola Normal da Praça da República. Em 1920, foi nomeado diretor geral da instrução pública paulista, cargo que ocupou até 1926, quando, via concurso, tornou-se catedrático de Direito Constitucional na Faculdade de Direito de São Paulo. Exonerado por Vargas em 1938, partiu para o exílio. Faleceu em 1964.

Encontrar informações sobre Sampaio Doria é como montar um quebra-cabeça. Apesar de sua importância no ensino brasileiro, ele é praticamente desconhecido. Enquanto Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo, que realizaram reformas educacionais semelhantes, são ainda hoje lembrados e estudados, o reformador do ensino público de São Paulo está esquecido. É citado de passagem em livros sobre a História da Educação Brasileira, como o de Nelson e Claudino Pilleti.

Seus livros estão esgotados há anos. Mesmo nas melhores bibliotecas de São Paulo é difícil encontrar alguma obra dele. No acervo da Faculdade de Educação da USP, por exemplo, apenas três de seus mais de dez livros estão disponíveis – um deles em cópia xerox. Também não existem pesquisas sobre seu trabalho como educador. O mais próximo disso é uma tese de Ana Clara Nery, defendida em 1999, que trata da Sociedade de Educação, fundada por Sampaio Dória, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e Oscar Freire.

Uma primeira sistematização de seu pensamento é o livro Educação, disponível na Faculdade de Educação da USP

 

A Escola e a Sociedade de Magos de York 12 de agosto de 2009

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Dias atrás, por curiosidade, folheei algumas páginas do livro Jonathan Strange and Mr. Morrel, de Susanna Clarke (São Paulo, Companhia das Letras, 2005), que minha filha estava lendo. A página inicial me despertou a atenção. Ali se lia:


  1. A biblioteca de Hurtfew

     

    Outono de 1806 – janeiro de 1807

     

     

    Alguns anos atrás, na cidade de York, existia uma sociedade de magos. Eles se reuniam na terceira quarta-feira de cada mês e liam ensaios longos e enfadonhos sobre a história da magia inglesa.

     

    Eram magos cavalheiros. Ou seja, nunca fizeram mal a ninguém por meio da magia, nem por meio dela jamais fizeram algum bem. De fato, para falar a verdade, nenhum deles nunca recorreu ao menor encantamento, nem por meio da magia jamais fez uma folha de árvore tremular, nunca alterou o curso de uma partícula de pó ou mudou um só fio de cabelo da cabeça de alguém. Porém, feita essa pequena ressalva, os magos tinham a reputação de ser os cavalheiros mais sábios e mais mágicos do condado de York.

     

    Referindo-se à profissão, um grande mago afirmou que os que a exercem “devem se esforçar e dar tratos à bola para aprender alguma coisa, mas entre eles a desavença é sempre muito natural”, e os magos de York comprovaram a verdade disso ao longo de muitos anos.

     

    No outono de 1806, acolheram um novo membro, um cavalheiro de nome John Segundus. Na primeira reunião que ele participou, Mr. Segundus se levantou e proferiu um discurso ante a sociedade. Começou por congratular os cavalheiros pela história notável que tinham; enumerou os muitos magos e historiadores renomados que em diferentes períodos pertenceram à sociedade de York. Deu a entender que saber da existência de tal sociedade fora um grande estímulo para ir até York. Os magos do Norte, lembrou ele ao público, sempre haviam sido mais respeitados do que os do sul. Mr. Segundus disse que estudara magia durante anos a fio e conhecia a história de todos os grandes magos do passado. Lera as novas publicações sobre o assunto e até fizera uma modesta contribuição para a proliferação delas, mas recentemente começara a se perguntar por que os grandes feitos de magia sobre os quais lera permaneciam nas páginas do livro que escrevera e já não eram vistos nas ruas nem noticiados nos jornais. Mr. Segundus disse que gostaria de saber por que os magos modernos não eram capazes de praticar a magia sobre a qual escreviam. Em resumo, desejava saber por que não se fazia mais magia na Inglaterra.

     

    Era a pergunta mais banal do mundo. Era a pergunta que, cedo ou tarde, qualquer criança no reino faria à governanta, ao professor ou aos pais. Entretanto, os cultos integrantes da Sociedade de York não gostavam nem um pouco de ouvi-la, porque estavam incapacitados para respondê-la quanto qualquer outra pessoa.

     

    O presidente da Sociedade de York (cujo nome era Dr. Foxcastle) dirigiu-se a John Segundus e explicou que aquela era uma pergunta equivocada.

     

    – Ela pressupõe que o mago tem uma espécie de dever de praticar a magia, o que, claro, é um disparate. Creio que o senhor não sugeriria que a tarefa do botânico fosse criar mais flores. Ou que o astrônomo devesse reorganizar as estrelas. O mago, meu senhor, estuda a magia praticada muito tempo atrás. Por que esperar dele mais do que isso?

 

Por muitos motivos, a Sociedade de Magos de York me lembrou a nossa escola. Todos “devem se esforçar e dar tratos à bola para aprender alguma coisa“. Não se pratica nada do que se ensina. O aluno também estuda a magia praticada muito tempo atrás“. “Por que se esperar dele mais do que isso“?


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Programa de Educação para o Trabalho favorece o protagonismo juvenil 14 de agosto de 2008

 

O Programa Educação para o Trabalho do SENAC de São Paulo foi objeto de uma dissertação de mestrado que concluiu que ele favorece o protagonismo juvenil. Postamos, a seguir, o resumo da dissertação de Maria Cistina Durante Esteves. Para saber da participação da Germinal no Programa de Educação para o Trabalho, clique aqui. Para acesso a amostras de trabalho de uma versão alterantiva do Programa, clique aqui.

 

 

O protagonismo juvenil na percepção de jovens em um programa de educação para o trabalho na cidade de Ribeirão Preto.

 

ESTEVES, Maria Cristina Durante

 

RESUMO

 

O protagonismo juvenil é definido como a capacidade do jovem de atuar na sua esfera familiar, social e escolar, seja essa ação individual ou em grupo. Este estudo teve como objetivos identificar de que maneira ocorrem as aprendizagens no Programa de Educação para o Trabalho, verificar se essas aprendizagens favorecem o protagonismo juvenil e conhecer a percepção dos jovens participantes do programa quanto ao seu papel na sociedade. Participaram do estudo, jovens do Programa de Educação para o Trabalho, no município de Ribeirão Preto do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). A coleta de dados foi realizada através de seis grupos focais, envolvendo cinqüenta e seis participantes. As discussões enfocaram a percepção do jovem na sociedade, o significado de participar do Programa e em outros espaços de aprendizagens, assim como o processo educativo dentro do programa. Os dados foram analisados segundo sete categorias de análise: percepção do jovem quanto ao seu papel na sociedade; participação do jovem; trabalho e juventude; lazer e o jovem; prevenção, sexualidade e drogas; aprender e ensinar; e aprender para a vida. A análise dos dados mostrou que alguns jovens sentem-se pressionados a ajudar economicamente suas famílias, que no programa para jovens conseguem aprender para o trabalho e para a vida, que há poucos espaços que estimulam a participação do jovem em outras atividades e que a criação destes espaços é importante para seu crescimento pessoal. Eles vivenciam o medo da violência, apontam para a importância de orientações relacionadas à prevenção de infecções sexualmente transmissíveis e à gravidez. Concluiu-se que as aprendizagens ocorridas no programa de educação para o trabalho favorecem atitudes protagônicas nos jovens.

 

 

Palavras-Chave:

Educação; Juventude; Participação social

 

 

Dissertação de Mestrado; Programa de Pós-Graduação em Educação – UFSCar; Área de Concentração: Metodologia de Ensino; Orientador: Profª Drª Aida Victoria Garcia Montrone; Ano da Defesa: 2005.

 

 

 

Curso Especial de Formação Pedagógica 25 de julho de 2008

 

 

O excerto de projeto de Curso Especial de Formação Pedagógica, elaborado pela Germinal Consultoria e apresentado a seguir, faz parte de um Projeto de Instituto Superior de Educação (ISE) não implementado, por questões estranhas ao projeto técnico.

 

Totem

  

 “A arquitetura como construir portas,
de abrir;
ou como construir o aberto;
construir; não como ilhar ou prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.[…].”  [1]  
 João Cabral de Melo Neto

 

 

 

 

O presente projeto pedagógico é um detalhamento do Projeto Pedagógico do Instituto Superior de Educação (ISE), elaborado pela Germinal Consultoria.  O Projeto Institucional atribui ao Projeto Pedagógico a tarefa de integrar em um único currículo duas distintas trajetórias de capacitação para o magistério. Em uma delas, o currículo adiante desenhado cartografa o fim de uma trajetória para a formação docente. Capacita para o magistério os egressos do ensino superior, que não foram licenciados (Programa Especial de Formação Pedagógica). Na outra trajetória, o mesmo currículo está colocado no início do processo destinado à capacitação de docentes. Será o módulo inicial de todas as formações propostas pelo ISE (Módulo I – Módulo   Básico de Formação Pedagógica).

 

No presente projeto pedagógico une-se o começo e o fim. Ao colocar a formação pedagógica mínima e comum no início e no final da trajetória de capacitação para o magistério, efetua-se uma junção de duas perspectivas educacionais opostas. A colocação da formação pedagógica no término do processo de capacitação docente implica em considerar necessário saber antes de ensinar. Implica, ainda, em dividir os tempos de aprender dos tempos de ensinar.  Sugere, por fim, uma dicotomia entre os papéis do ser que aprende e do ser que ensina.

 

 A formação pedagógica colocada no início do processo de capacitação para o magistério insinua afirmações opostas. Pode-se ensinar antes de aprender ou, pelo menos, pode-se aprender ensinar ensinando. Os tempos de aprender e ensinar podem ser simultâneos. Os papéis de mestre e aprendiz podem se confundir em uma trajetória comum de construção do conhecimento.

 

 A união das trajetórias distintas é, então, uma junção de opostos. Toda junção de opostos requer criatividade e pode ser um momento criativo[2]. A criatividade é freqüentemente mediada por símbolos. Um símbolo tradicional veicula uma imagem similar à situação vivida aqui. Trata-se do uróboro[3]. O uróbolo pode ser símbolo de uma situação sem saída ou do eterno retorno. Pode também representar um salto qualitativo em uma linha evolutiva. Ao juntar o velho e o novo, o princípio e o fim, espera-se que este projeto pedagógico não repita as deficiências atuais dos cursos destinados à formação para o magistério, inúmeras vezes reconhecidas. Espera-se um salto qualitativo e a definição de um novo padrão e a fixação de uma nova referência para a formação de docentes.

 

 

O Programa Especial de Formação Pedagógia

 

Jeanine Chételat Forjaz (JANIC) - Leque - escultura

A primeira trajetória a ser integrada é a formação para o magistério de egressos do ensino superior. Nesta vertente está prevista a licenciatura em todos os campos do saber. Tal possibilidade é aberta pelo Programa Especial de Formação Pedagógica, que visa a preparação de docentes especialistas para as disciplinas do currículo do ensino fundamental, do ensino médio e da educação profissional de nível médio.

 

A lei brasileira de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional já prevê a existência de um programa destinado a egressos do curso superior interessados na carreira do magistério. Ela diz explicitamente:

 

“Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:

II – programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica;”[4]

 

Na lei, o programa é destinado aos portadores de diplomas de educação superior que queiram dedicar-se à educação básica. Conforme a Resolução CNE no. 2, de 26 de junho de 1997, o programa “destina-se a suprir a falta de professores habilitados, em determinadas disciplinas e localidades, em caráter especial”. Atende portadores de diplomas de nível superior, em cursos relacionados com a habilitação pretendida. Segundo a Resolução, o programa terá uma duração mínima de 540 horas, incluindo a parte teórica e a parte prática. A teoria e a prática devem ser concomitantes, vedada a parte prática exclusivamente ao final do programa. O profissional de nível superior que concluir o programa especial de formação pedagógica receberá certificado e registro profissional equivalente à licenciatura plena.

 

 Nesta primeira vertente, a formação docente parece ser muito semelhante com a que convencionalmente é hoje praticada. A formação do especialista precede e é prioritária em relação à formação docente. A formação do especialista demanda mais tempo, em geral três anos. A formação docente tem formação mais reduzida, em geral um ano. Assim posto, o Programa Especial de Formação Pedagógica nada mais será que uma repetição do esquema 3×1[5], com a diferença que a formação técnica poderá ser feita em outra Instituição de Ensino Superior e a formação pedagógica após a certificação da conclusão da formação técnica ou especializada.

 

A forma legal do Programa carrega no mínimo duas suposições prévias. Está implícito, tal como no esquema 3×1, que o domínio de um saber especializado é um pré-requisito e uma porta aberta para a docência. Supõe-se também que a formação mínima para a docência exige as citadas 540 horas de duração. O senso comum não questiona a primeira suposição. A segunda, mesmo com base no senso comum, já é muito discutível.

 

 

 O Módulo Básico de Formação Pedagógica

 

Charles Pery - Duality - escultura em bronze

 

Integrada ao mesmo programa, a segunda vertente de capacitação contraria e coloca em questão a necessidade de um saber prévio ao ato de ensinar. Assim, o mesmo currículo do Programa Especial de Formação Pedagógica será adotado como currículo do Módulo Básico de Formação Pedagógica. Este será o módulo inicial (Módulo I) de capacitação para todos os profissionais da educação (docentes, técnicos e gestores) a serem formados pelo ISE. Nele serão matriculados, prioritariamente, jovens egressos do Ensino Médio supostamente ainda distantes daquele saber atribuído aos que já concluíram o ensino superior. A visão esquemática do ISE (anexo 1) pode auxiliar na visualização desta dupla destinação do Programa.

 

 Nesta segunda vertente, principalmente no caso da formação inicial de futuros professores especialistas para disciplinas das quatro últimas séries do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e no caso de futuros professores de Educação Profissional e Corporativa, a construção do saber pedagógico é simultânea à abordagem do conteúdo específico e objeto de ensino do futuro professor. O Módulo Básico de Formação Pedagógica é colocado pelo Instituto Superior de Educação como centro do Projeto Institucional e assumido como Instrumento fundamental da formação comum de todos os profissionais de educação.

 

 

 

A junção dos opostos

 

“Adotando o princípio de economia de esforços e o de racionalização do trabalho, ambos aplicados ao desenho curricular, o ISE junta as perspectivas de formação comum e de formação especial em uma só. Com duração de 645 horas, o Instituto oferece a complementação pedagógica (e licenciatura) para os portadores de diplomas de ensino superior. No caso, é mantida a designação de Programa Especial de Formação Pedagógica, enquanto for de direito. Oferece, paralelamente e ao mesmo tempo, como Módulo Básico de Formação Pedagógica, a preparação comum mínima para a formação inicial de todos os professores de educação básica”[6].

 

Charles Perry - Continuum - Escultura em bronze

O desenvolvimento do presente projeto deverá demonstrar que as duas vertentes de capacitação docentes já referidas só são contraditórias face à visão do papel da escola e do professor como vetores de transmissão do conhecimento.

 

 Na situação presente, a contradição é aumentada com a atual concepção curricular e organização do trabalho no ensino superior que separa e distancia o bacharelado da licenciatura.

 

 Complementa o quadro contraditório a vigente separação entre a teoria e a prática, tanto na formação especializada como na capacitação docente. Superar a contradição significa, também, superar uma determinada concepção de educação, de educação dos educadores e de educação profissional em nível superior.

 

 A fusão do Módulo Básico de Formação com o Programa Especial de Formação Pedagógica é possível na medida em que a capacitação para o magistério esteja centrada no desenvolvimento de competências para a docência. Aí, o desenvolvimento das capacidades especificamente pedagógicas será feito ao mesmo tempo em que se facilita o domínio necessário do campo profissional ou de conhecimento básico ou especializado. O conhecimento especializado ou genérico e o conhecimento pedagógico serão construídos ou ampliados simultaneamente com a constituição das competências para a docência.

 

 A competência para a docência é mais complexa do que o domínio do referencial teórico da área especializada (disciplina ou área de estudo) e de uma teoria pedagógica de referência. Envolve a possibilidade de mobilizar (ou de buscar, construir ou criar quando não disponível) os conhecimentos já referidos, as habilidades específicas de coordenação e animação do processo de ensino e o conjunto de valores implicados na arte de ensinar.

 

O papel do docente do ISE, expresso na prática efetiva e tomado como modelo de comportamento, será o de facilitar a aprendizagem ao propor e coordenar as atividades, as iniciativas individuais e coletivas de resolução de problemas e o desenvolvimento de projetos que possibilitam a constituição das competências docentes. O desenho do currículo será orientado, então, pela definição do papel docente (expresso no perfil profissional de conclusão) e pelas competências docentes a serem constituídas.

 

 

 

 Perfil Profissional de Conclusão

 

 O perfil profissional de conclusão referir-se-á ao Programa Especial de Formação Pedagógica e ao Módulo Básico de Formação Pedagógica. No primeiro caso, o perfil deverá expressar o rol mínimo de competências a serem demonstradas pelo professor formado pelo ISE. Isto significa que os concluintes do Módulo Básico de Formação Pedagógica também já terão constituído essas competências, mesmo no início do processo formativo. Vale dizer que, mais que a ampliação do rol de competências, nos demais módulos da formação inicial de docentes (Normal Superior, demais Licenciaturas) buscar-se-á um nível sempre mais especializado e complexo de domínio das mesmas competências definidas para o Programa Especial de Formação Pedagógica.

 

Ao final do Programa Especial, o aluno terá condições de assumir as funções profissionais básicas do professor especialista da Educação Básica (últimas quatro séries do Ensino Fundamental e Ensino Médio) e da Educação Profissional (básica e técnica de nível médio), apresentando as seguintes características:

 

 

PERFIL PROFISSIONAL DE CONCLUSÃO

 

1· Procura manter-se atualizado em relação aos avanços nos campos da sociedade e da cultura, da ciência e da técnica, da saúde e do meio ambiente, da política e da filosofia de vida e, especialmente, da educação, definindo sua posição e forma de participação em relação a cada um desses avanços, consciente de que é um modelo importante para os seus alunos e que a educação é uma forma de intervenção no mundo.

2· Participa ativamente, organiza e estimula a participação dos alunos no desenvolvimento social , cultural e econômico do entorno comunitário da escola, aproveitando ao máximo o seu potencial educativo.

3· Lida de forma cada vez mais competente com problemas, reconhecendo-os, analisando-os e resolvendo-os, desenvolvendo continuamente suas capacidades relacionadas ao processamento da informação, ao pensamento e ação estratégicos, ao planejamento, à gestão do tempo e à avaliação.

4· Entende que sua missão profissional de ensinar não é a de transferir conhecimento, mas de criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção dentro de um processo de constituição de competências, e que o ensino é inválido se não resulta em aprendizagem, se o aluno não se tornou capaz de recriar ou de refazer o que foi ensinado.

5·Zela pela aprendizagem dos alunos e cria condições para a constituição de competências que cada vez mais:

·   preservem e estimulem a curiosidade do educando, que deve passar de ingênua a crítica através da reflexão sobre a prática;

·   respeitem a identidade cultural do educando;

·   respeitem e solicitem a capacidade criadora e os saberes do educando;

·   reconheçam o valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição;

·   estimulem a autonomia do educando;

·   abram espaço para a assunção de riscos e a consideração do novo;

·   cultivem e valorizem o prazer como um importante atributo da aprendizagem;

·   rejeitem qualquer forma de discriminação.

6· Fundamenta seu trabalho cotidiano em referências teóricas, éticas e estéticas e em métodos e recursos didáticos compatíveis com uma concepção de educação compartilhada e/ou construída ou reconstruída pela equipe escolar.

7· Avalia continuamente seu trabalho de ensino, a aprendizagem dos alunos e a execução do projeto pedagógico da escola como instrumento de aprimoramento pessoal e profissional e de melhoria de processos e resultados.

8· Formula suas demandas de educação profissional continuada e realiza investimentos pessoais em seu aperfeiçoamento profissional contínuo.

9· Cultiva, a partir da análise da sua própria experiência dentro da escola e fora da escola, qualidades indispensáveis à prática educativa que interferem diretamente em seu desempenho como educador:

·   humildade[7]

·   amorosidade ao aluno e ao processo de ensinar;

·   tolerância, como virtude que ajuda a conviver com o diferente;

·   disponibilidade para o diálogo;

·   capacidade de decisão;

·   segurança, que por sua vez requer competência científica, clareza política e integridade ética;

·   parcimônia verbal, em prol de um discurso na medida e com o tempero certo.

·   alegria de viver, para poder estimular e lutar pela alegria na escola[8].

10· Integra-se de modo ativo na sua categoria profissional.

 

 

 

 

 

Princípios Pedagógicos

 

Zhang Jing Sheng - High Tide Season - Oil on the linen

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Projeto Institucional Pedagógico do Instituto Superior de Educação definiu um conjunto de princípios orientadores para a formação inicial de professores. Esses princípios também orientarão o desenho do Programa Especial de Formação Pedagógica, no mínimo pela sua identidade com o Módulo I – Módulo Básico de Formação Pedagógica, módulo inicial para todas as demais carreiras docentes. No Programa Especial de Formação Pedagógica, no entanto, eles ganham alguma especificidade. A ver:

 

 

Da formação comum para a específica

 

O primeiro princípio diz que o desenvolvimento das competências necessárias e comuns a todos os professores precederá à específica. Este princípio confere ao ISE uma identidade como instituição centralmente preocupada com a formação para o magistério. O objetivo do ISE é a formação de professores e não a formação de especialistas ou técnicos que possam vir a ser professores.

No caso do Programa Especial de Formação Pedagógica, no entanto, a formação técnica ou especializada terá precedido a formação docente. Mesmo aqui, a formação comum terá precedência sobre a formação especializada. Isto fica claro no perfil profissional de conclusão. A ênfase é na formação do professor e o perfil descrito não é o de um professor especialista. Isto implica em prioridade da didática geral sobre a específica. Implica ainda em considerar os conteúdos da área específica como meios para o desenvolvimento das competências previstas para a educação básica. Significa, por fim, fazer da formação técnica um instrumento na constituição das competências docentes necessárias a todos os professores[9].

 

 

Da ação para a reflexão e da reflexão para a ação

 

O Projeto Institucional Pedagógico do ISE diz que todo o “percurso da formação básica e inicial de docentes será desenvolvido a partir da ação (prática, criativa, transformadora). A toda ação seguir-se-á momentos estruturados de reflexão. A reflexão deverá sempre resultar em uma ação renovada, mais rica e complexa. Essa ação melhorada dará início a um novo movimento de reflexão e transformação. A melhoria contínua da atuação docente é princípio inerente ao currículo(…)”[10].

No caso do Programa Especial de Formação Pedagógica, a ação e a reflexão repetidas e renovadas, em grau crescente de complexidade, devem incluir uma revisão do conteúdo da área de especialização, tendo em vista a constituição de competências, e uma crítica ao processo de formação especializada anterior. Desconstruir a visão de escola enquanto transmissora de conhecimentos e apagar a marca dos modelos anteriores de professor podem ser alvos necessários desse fazer e refazer repetidos e intermediados pela reflexão.

 

 

A formação docente estará orientada para a constituição de competências

 

Toda a formação de docentes, técnicos e gestores da educação a ser proporcionada pelo ISE será orientada para constituição de competências. No caso da formação de professores, todos os cursos, na definição das competências a serem constituídas, irão pautar-se pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica , em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.

 

 

Os projetos articulam o currículo

 

A prática, entendida como o engajamento em uma atividade criativa e transformadora e orientada para a elaboração, execução, avaliação e sistematização dos resultados de projetos, constitui o cerne da proposta curricular e institucional do ISE/SENAC-SP. São quatro projetos  que articulam todos os currículos:

Projeto 1: Operação de programas especiais de educação básica e/ou de educação profissional

Projeto 2: Operação de Escola ou Centro de Aplicação

Projeto 3: Aplicação na Escola

 Projeto 4: Cidade Educativa

 

No caso de formação de professores, os projetos estarão direta ou indiretamente ligados à prática docente. Na formação inicial de docentes, os projetos dizem respeito à regência de classes de Educação Básica ou de Educação Profissional. No caso do Programa Especial de Formação Pedagógica, a prática docente se fará em Programas Especiais de Educação Básica ou de Educação Profissional.  As atividades de projeto incluem o planejamento e a avaliação da prática de ensino. O conjunto dessas atividades envolve cerca de 50% (300 horas) da carga horária prevista.

No Programa Especial de Formação Pedagógica, a partir do eixo do projeto, de um lado, circularão Oficinas Pedagógicas que terão como foco a abordagem sistemática de uma ou mais competências docentes, como forma de facilitar a preparação, execução, avaliação ou sistematização das atividades de projeto. Estas ações educativas, constituirão cerca de 25% da duração total dos cursos.

Complementando a visão circular também no desenho do currículo, do outro lado do centro constituído pelas atividades de projeto, completando os 25% de tempo restante, estão as Oficinas Temáticas voltadas para o desenvolvimento e instrumentalização das competências ligadas à uma especialidade profissional ou a um campo específico do conhecimento. No caso do Programa Especial de Formação Pedagógica, serão, aí, abordadas a Área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, a Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e a Área de Ciências Humanas Sociais e suas Tecnologias. Essas áreas abordarão as competências próprias da Educação Básica, cujo domínio é fundamental para a capacitação de todos os profissionais docentes que atuarão neste nível de ensino.

Ao projeto está destinada a constituição das competências mais amplas e complexas ligadas ao perfil de conclusão projetado. No caso do Programa Especial de Formação Pedagógica e, portanto, do Módulo Básico de Formação Pedagógica, a articulação do currículo será feita pelo Projeto 1 (Operação de Programas Especiais de Educação Básica e de Educação Geral) e pelo Projeto 4 – fase  inicial (Aprender a Cidade). Para as Oficinas Pedagógicas e Temáticas está destinado o papel de constituição de competências instrumentais à constituição das competências mais complexas, estas últimas objeto das atividades de projeto.

 

 

A constituição de competências orientará a avaliação

 

Todo o processo de avaliação do ISE será orientado no sentido de acompanhar e aquilatar o nível de constituição das competências previstas. A avaliação será uma tarefa coletiva (beneficiários, dirigentes, professores, companheiros, alunos) e estará prioritariamente orientada para a melhoria contínua de processos e resultados. Uma descrição mais detalhada do processo de avaliação está contida em tópico específico deste documento.

 

 

 

 Os Núcleos Curriculares

O Programa Especial de Formação Pedagógica tem uma duração prevista de 645 horas. Com a mesma duração, o Módulo Básico de Formação Pedagógica é o primeiro módulo e ocupa uma terça parte dos dias letivos do primeiro ano destinado à formação de novos professores. A responsabilidade pela constituição de competências comuns a todos os professores de educação básica está distribuída entre as ações educativas dos Núcleos Contextual, Estrutural e Integrador, previstos pela Resolução CNE nº2/97. Tal como na Resolução, estão previstas 300 horas de prática. Tal como o prescrito pela Resolução, teoria e prática serão desenvolvidas de forma simultânea e integrada.

 

Os núcleos previstos na Resolução CNE nº2/97 foram adotados como a estrutura básica e centralizadora de todos os cursos do Instituto Superior de Educação. Eles são também  a estrutura curricular do Programa Especial e do Módulo Básico de Formação Pedagógica. A saber:

 

 

Núcleo Integrador: com a duração de 345 horas correspondente à parte prática, abrigará as atividades diretamente relacionadas ao Projeto 1, Operação de Programas Especiais de Educação Básica ou de Educação Profissional, e ao Projeto 4, Cidade Educativa. Da duração total, 100 horas estarão destinadas à execução em sala de aula (docência, tutoria) do Projeto 1. Outras 100 horas serão destinadas à preparação da operação (planejamento e organização do trabalho escolar). Outras tantas 100 horas serão usadas na avaliação e sistematização dos resultados (a partir de diferentes perspectivas teóricas). Nesses tempos, dividida em pequenos grupos, cada turma do Módulo Básico ou Programa Especial de Formação Pedagógica vai operar completamente pelo menos um dos programas especiais. Finalmente, nas 45 horas restantes será executada a primeira fase, Aprender a Cidade, do Projeto Cidade Educativa.

 

Núcleo Contextual: visa a constituição de competências didáticas específicas que facilitem o planejamento, a condução e a avaliação do processo de ensino aprendizagem previstos nos programas objeto do Projeto 1 ou de mobilização comunitária prevista no Projeto 4. Não deve ser entendido como um componente curricular destinado à teoria pedagógica ou social isoladas das instâncias de aplicação. A construção teórica no ISE decorre da prática, refere-se sempre a ela e a ilumina. O Núcleo Contextual terá a duração de 150 horas de trabalho efetivo.

 

Núcleo Estrutural: inclui a busca e a pesquisa de conteúdos curriculares relacionados às diferentes especialidades e necessários à constituição de competências e à ampliação do repertório do futuro professor para que ele possa orientar processos de buscas semelhantes, embora em menor grau de profundidade e complexidade. No caso do Módulo Básico de Formação Pedagógica está centrado na garantia do domínio das competências previstas para a Educação Básica. No caso do Programa Especial de Formação Pedagógica destina-se, sempre que possível, à ampliação do nível de constituição das competências previstas para a Educação Básica. Deve também facilitar o domínio de competências referentes à didática especial e necessárias ao tratamento interdisciplinar. O Núcleo Estrutural terá a duração de 150 horas de trabalho escolar efetivo.

 

 

 

Estrutura Curricular do Programa Especial de Formação Pedagógica

 

 

NÚCLEO CONTEXTUAL

150 Horas

 

 

 

NÚCLEO INTEGRADOR

300 Horas

 

 

NUCLEO ESTRUTURAL

150 Horas

 

 

Oficinas Pedagógicas

 

 

 

Atividades de Projeto

 

Oficinas Temáticas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Desenvolvimento do Papel Profissional

 

50 horas

 

 

 

Planejamento da Prática Docente (Projeto 1)

 

100 Horas

 

 

 

Linguagens, Códigos, e suas Tecnologias

 

50 horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Criação e Adaptação de Métodos e Recursos Didáticos

 

50 Horas

 

 

 

Prática Docente (Projeto 1)

 

100 Horas

 

 

 

Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias

50 horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ação Comunitária

 

50 horas

 

 

 

Avaliação da Prática Docente (Projeto 1)

 

100 Horas

 

 

 

Ciências Humanas e Sociais e suas Tecnologias

50 Horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cidade Educativa (Projeto 4) – Conhecer a Cidade

 

45 horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                               

 

 

 

NOTAS

 

1. João Cabral de Melo Neto. Fábula de um Arquiteto. In: Obra Completa – A Educação pela Pedra, Editora Nova Aguilar, 1999, p. 345.

 

2. Vide Jung.

 

3. “Serpente que morde a própria cauda e simboliza um ciclo de evolução encerrado nele mesmo. (…) Ao desenhar uma forma circular, a serpente que morde a sua própria cauda, rompe com uma evolução linear e marca uma transformação de tal natureza que parece emergir para um nível de ser superior (…). Chevalier, Jean e Gheerbrant, Alain, Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1995, p. 922.

 

4. Lei 9394/96

 

5. Três anos de formação técnica ou especializada seguido de um ano de formação para a docência.

 

6. Jose Anonio Küller, Projeto Institucional Pedagógico do Instituto Superior de Educação São Paulo, 2002.

 

7.  “Sem humildade dificilmente ouviremos com respeito a quem consideramos demasiadamente longe de nosso nível de competência”. Freire, Paulo. Das Qualidades Indispensáveis ao melhor Desenvolvimento de Professores e Professoras Progressistas.

 

8. Os termos em itálico dos demais tópicos deste item também são de Freire. Foram retirados do texto antes citado ou de: Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Editora Paz e Terra, 1996.

 

9. MEC. Diretrizes Curriculares Nacionais – Educação Básica / Educação Profissional de Nível Técnico (Documento Síntese), Brasília, Setembro de 2001.

 

10. Observe-se que, para os alunos de ensino médio, trata-se de agir como se eles já soubessem o que vão ensinar e, para os egressos do ensino superior, como se eles desconhecem o conteúdo de sua formação técnica ou especializada anterior.

 

 

 
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