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Escolas têm dificuldades para aplicar projetos do Ensino Médio Inovador 9 de janeiro de 2012

Filed under: ensino médio — José Antonio Küller @ 8:07 pm
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Reproduzimos aqui artigo originalmente publicado no Observatório da Educação da Ação Educativa.

Base para as novas diretrizes curriculares nacionais para o ensino médio, programa está parado na Paraíba; em algumas escolas, resume-se à aplicação de simulados do Enem.

Do Observatório da Educação
Qua, 25 de Maio de 2011

Criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2009, o programa Ensino Médio Inovador (EMI) serviu de base para as novas diretrizes curriculares para esta etapa da educação básica, aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação no início deste mês. (leia aqui entrevista com o conselheiro José Fernandes Lima sobre o tema).

O documento propõe uma nova identidade para o ensino médio pela adoção de quatro dimensões integradoras do currículo – trabalho, ciência, tecnologia e cultura –, mesmos eixos dispostos no programa.

Inicialmente, o EMI abrangia 100 escolas – hoje já está presente em 355. O Observatório da Educação consultou escolas de diferentes regiões do país que desenvolvem projetos de EMI e constatou que, ainda que consideradas importantes, as experiências se distanciam da proposta inicial do MEC. Em algumas das escolas consultadas, sequer há turmas formadas.

O EMI foi criado para servir de apoio para a promoção de inovações pedagógicas nas escolas públicas estaduais e federais, com o foco no currículo e na comunidade escolar (veja aqui a proposta do EMI feita pelo MEC e acesse também a minuta elaborada pelo CNE com recomendações ao ministério).

Entre os 18 estados que já implantaram o projeto, apenas sete assinaram convênio com o MEC para receber os recursos necessários para a capacitação pedagógica dos professores e para remunerar os docentes que ampliarem sua jornada de trabalho.

Em geral, as escolas introduzem aulas realizadas no contraturno, de reforço escolar ou oficinas relacionadas a temáticas como gravidez na adolescência.

Em Eirunepé (AM) a coordenadora pedagógica de uma escola participante do programa explica que o Ensino Médio Inovador tem participação de todos os professores e alunos da unidade de ensino. Neste segundo ano de vigência, são oferecidos “projetos de leitura, utilização do laboratório de ciências e matemática, aulas de higiene e saúde, e simulado do Enem”, dentre outros (leia mais detalhes sobre o andamento do programa em outras partes do país).

Na Paraíba, apesar de terem realizado viagens de estudo e compras de equipamentos previstas, as escolas não implantaram o EMI em sala de aula. Segundo funcionários de duas escolas do Estado, o programa não pôde avançar porque a secretaria estadual de educação não autorizou gratificação para os professores que teriam a sua jornada de trabalho ampliada e não deu as capacitações e outras orientações para o início do EMI nas escolas.

A secretaria de educação afirma que o programa, no Estado, está parado devido às turbulências políticas locais (a Paraíba teve três governadores em quatro anos) e ao MEC, que não repassou as verbas destinadas ao governo estadual.

A adesão ao programa ainda não resultou em atividade em salas de aula de escolas no Paraná. De acordo com uma coordenadora pedagógica responsável pela elaboração dos três projetos enviados pela escola à Secretaria Estadual de Educação e, por consequência, ao MEC, “o programa não começou ainda”. Ela diz ter participado de uma atividade de formação e recebido os recursos previstos, mas “os projetos não voltaram”.

Nos três casos, trata-se de propostas pedagógicas para o contra-turno. “Um projeto é de astronomia, foi desenvolvido pelo professor de física; outro é de fontes históricas; e há um de ensino da literatura, com construção de blogues”, conta a professora. No entanto, a escola aguarda “resposta da Secretaria de Educação do Paraná para saber qual desses três projetos foi o aprovado para fazer as matrículas”. Assim, ela recebeu repasse para os projetos, mas ainda não sabe quais poderão ser implantados.

O programa

Segundo o MEC, o EMI tem cinco pontos centrais: um acréscimo na carga horária do ensino médio de 200 horas a cada ano; oferecer ao aluno a possibilidade de escolher 20% grade curricular, dentro das atividades oferecidas pela escola; ênfase a atividades práticas e experimentais, como viagens, aulas práticas, laboratórios e oficinas; valorizar a leitura; e garantir formação cultural ao estudante.

O EMI é voltado para o ensino médio regular não profissional, e sua implementação se deu por uma ação articulada entre União e estados, que participam por meio da adesão voluntária. Às secretarias estaduais de educação cabe a articulação com as escolas e elaborar um plano de ação pedagógica.

Os recursos são oriundos do governo federal, que repassa às escolas pelo Programa Dinheiro Direto na Escola, após a aprovação dos Planos de Ações Pedagógicas apresentados pelas secretarias estaduais de educação.

Uma parte dessa verba é destinada para a melhoria da infraestrutura das escolas selecionadas para o EMI e para viagens de estudantes a lugares como museus, exposições etc. O governo estadual seria responsável pela capacitação pedagógica dos professores e pelo pagamento da gratificação dos professores.

Diretrizes e programa se inserem em um contexto de crise e ausência de sentido no ensino médio, expressas pela queda nas matrículas nesta etapa; falta de professores em áreas como química, física e biologia; desempenho considerado insatisfatório dos estudantes em exames como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB); e desigualdade no acesso, dentre outros problemas.

De acordo com o relatório As desigualdades na Escolarização no Brasil, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), apenas 51% dos jovens de 15 a 17 anos cursam o ensino médio. “Entre os mais ricos, eles são 78%”. Já entre os 20% mais pobres, 32%. (confira aqui a versão on-line da publicação Em Questão 6 – O ensino médio no Brasil, escrita por Nora Rut Krawczyk – Professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas).

Na época de sua formulação, o então diretor de concepções e orientações curriculares para educação básica, Carlos Artexes Simões, afirmou em entrevista ao Observatório da Educação que a proposta era “focar na discussão da organização curricular do ensino médio, discutir a política não só das condições, mas também a política articulada de União e estados sobre a organização curricular do ensino médio”.

Nesse sentido, trata-se de inovação “não do marco legal, mas de apoio a experiências que estão sendo desenvolvidas, de indicadores e de proposições no currículo”.

Para Marise Ramos, professora do Instituto de Educação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, “a ideia de inovação do programa não é boa em vários sentidos”, pois não se deve associar a novidade a algo necessariamente bom. “Pode não ser, principalmente quando o que é novo descarta questões ou experiências tradicionais, consolidadas e importantes”.

Além disso, ela questiona a lógica de que “o jovem não se interessa pela escola e que temos de torná-la mais interessante. Acho um senso comum falso, usado inclusive nos argumentos dos governos” (leia aqui a entrevista completa).

Procurada pelo Observatório por meio do MEC, a diretora de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica da pasta, Jaqueline Moll, não retornou.

 

Exemplos apontam caminhos para reverter fracasso no ensino médio 28 de março de 2011

Último artigo da série especial do iG Educação mostra algumas alternativas  promissoras para melhorar a qualidade do Ensino Médio no país. Abaixo replicamos a parte da matéria, cuja íntegra está disponível no Portal iG Educação.

Ensino profissionalizante, aulas atraentes, uso de tecnologias e formação de professores mostram resultado

Cinthia Rodrigues, iG São Paulo25/02/2011 07:00

Escolas que abrem portas para o mercado de trabalho, aulas ao ar livre, visitas a parques e museus, novas tecnologias à disposição dos alunos e investimento na formação de professores. Para a grande maioria dos jovens brasileiros, iniciativas como essas parecem utopia, mas todas já existem em plena rede pública e dão resultados que apontam caminhos para reverter o fracasso do ensino médio retratado pela série especial do iG Educação.

 

Foto: Arquivo Pessoal

Alunos de escola estadual de São José (SC) em visita a praia de pescadores em Florianópolis

Uma das ações mais apoiadas por especialistas na área é o crescimento da oferta de vagas em cursos profissionalizantes. Além da conexão com o ambicionado mercado de trabalho que aumenta o interesse dos jovens pelo estudo, os exemplos mostram que as escolas com ensino médio integrado a cursos técnicos conseguem melhores resultados no aprendizado das disciplinas básicas.

Os alunos dos Institutos Federais, que oferecem essa integração, obtiveram nota média igual a dos países mais desenvolvidos do mundo no Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), que testa capacidades em leitura, matemática e ciências. As Escolas Técnicas Estaduais, em São Paulo, também estão entre as primeiras colocadas no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

No Brasil todo, no entanto, há apenas 860 mil vagas para cursos assim, incluindo a rede particular: uma para cada 10 jovens que estão no ensino médio. “Nos países mais ricos, a oferta de profissionalizantes é de 20% a 30% do total da etapa. No Brasil, estamos em 10%”, lamenta Wanda Engel, superitendente do Instituto Unibanco.

O governo federal anunciou um programa que deverá ampliar este porcentual dando a alunos de escolas públicas bolsas para cursos no Sistema S, que gerencia Sesi, Sesc, Senai e Senac. A previsão é de que no primeiro ano sejam ofertadas 1,6 milhão de vagas. “Vamos ver como vai funcionar, o ideal seria que essa formação fosse dentro da escola para ajudar a tornar aquele ambiente interessante”, diz a doutoranda em Educação e presidente do Centro de Estudos e Memória da Juventude, Fabiana Costa.

Ensino Médio Inovador

A aposta do Ministério da Educação (MEC) para melhorar a escola tradicional é o projeto piloto Ensino Médio Inovador, que começou a ser implantado no final de 2009 em 357 escolas – 2% das 17 mil unidades desta etapa – em 18 Estados. O governo federal envia uma verba diretamente para a instituição que formular um projeto em que os estudantes tenham 20% mais tempo de estudo com atividades culturais e recuperação de conteúdos em que demonstrem dificuldades.

O responsável pelo projeto, Carlos Artexes, foi diretor de Concepções e Orientações Curriculares para Educação Básica do MEC até janeiro deste ano, quando decidiu voltar a dar aulas em uma instituição de ensino superior no Rio de Janeiro. “Percebemos que era importante fortalecer a cultura das escolas e aumentar o tempo que o aluno passa dentro dela. Vamos ver os resultados em 2012, quando os alunos que estavam no 1º ano em 2010 se formarem”, conta.

Na escola estadual Laércio Caldeira de Andrada, em São José, Santa Catarina, os benefícios já são comemorados. No ano passado, os alunos participantes foram conhecer museus em Porto Alegre, projetos ambientais em Curitiba e áreas históricas em Florianópolis, como a vila de pescadores Pântano do Sul. Dentro da escola, tiveram aulas com a participação conjunta de professores de diferentes disciplinas e novos materiais adquiridos com a verba, como máquina fotográfica, filmadora e laptop.

“Das quatro turmas que temos, duas participaram e a diferença de resultados em evasão e aprendizado foi grande”, diz a assistente técnica pedagógica Rosilane Rachadel Martins, que coordena o projeto na unidade. Ela aponta problemas, como a falta de espaço físico para montar salas e de um profissional pago para tratar apenas do projeto, mas defende que o programa seja estendido para todo o País. “Agora os alunos têm mais expectativas da escola”, resume.

Artexes acredita que o caminho da mudança é esse, ainda que dependa da adesão dos Estados e da criatividade das equipes pedagógicas de cada escola. “O Brasil é uma federação, e os Estados têm autonomia para conduzir o ensino médio, que é responsabilidade deles. Mudanças radicais, como as da China, acontecem em culturas autoritárias. Nós não queremos isso”.

 

Foto: Fabio Guinalz/Fotoarena

Liliane Oliveira estagia no laboratório de informática da escola: aprende e ensina

Secretários conhecerão novas diretrizes em março

A mesma linha segue o Conselho Nacional de Educação, que discute desde agosto do ano passado novas diretrizes para o ensino médio. O relator da comissão, José Fernandes de Lima, diz que as ideias estão prontas, mas como muitos responsáveis pelas secretarias estaduais foram trocados com os novos governos empossados este ano, haverá uma nova conversa, já agendada para 30 e 31 de março.

(continua no iG Educação)

 

 
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