O material apresentado neste post refere-se a um excerto do programa desenvolvido no Projeto Articulador: Tornar uma Área Produtiva de Forma Sustantável , do Programa Jovem Aprendiz Rural, desenvolvido para o SENAR – Administração Regional de São Paulo. O excerto foi extraído do Manual do Instrutor. A Germinal Consultoria, sob supervisãso da equipe técnica do SENAR, desenvolveu todos os Manuais do Instrutor e as Cartilhas dos Alunos de 19 unidades didáticas (Oficinas e Projetos). O excerto deve ser encarado como uma amostra do trabalho que pode ser desenvolvido pela Germinal. A edição original do Manual do Instrutor difere do excerto apresentado aqui.
Parte I: Planejar e Programar a Produção Agropecuária
Três meses antes do início da Parte I, o solo do terreno experimental já deverá ter sido analisado. No primeiro uso como terreno experimental da área, devem ser feitas as correções do solo, que exigem de dois a três meses de antecedência ao plantio. Material orgânico capaz de fertilizar um canteiro de flores de 4 metros quadrados deve estar disponível. Os materiais, equipamentos e implementos agrícolas previstos no Plano de Curso também devem estar disponíveis. Nesta parte, com duração de cinco (5) sessões de quatro (4) horas serão desenvolvidas as competências de planejar e programar a produção agropecuária, divididas nos seguintes elementos:
- Identificar mercados consumidores.
- Definir culturas a serem plantadas e animais a serem criados
- Definir área de plantio e criação.
- Definir rotatividade de culturas.
- Especificar o sistema de produção.
- Definir o itinerário técnico
- Definir tipo e quantidade de insumos agropecuários.
É necessário que os participantes levem a Cartilha do Aprendiz para o terreno experimental. Esta sessão deve ser realizada em uma sala próxima ao terreno experimental ou no próprio terreno experimental. Havendo a possibilidade do uso de uma sala, antes do início da sessão, usando o retroprojetor, deixe projetado em uma das paredes do ambiente, o poema de Cora Coralina: O Cântico da Terra. No caso de não haver, nas proximidades, uma sala disponível , a projeção do poema, pode ser substituída por uma leitura coletiva.
Texto de Apoio 1: O Cântico da Terra
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Eu sou a terra, eu sou a vida. |
Eu sou a fonte original de toda vida. |
Sou a razão de tua vida.De mim vieste pela mão do Criador, |
Eu sou a grande Mãe Universal. |
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu. |
E um dia bem distante |
Plantemos a roça. |
Juntamente com o coordenador do Programa, receba os participantes na porta da sala ou no terreno experimental. O coordenador deve apresentá-lo a cada um deles. Aproveite para entregar uma folha ou um cartão em branco a cada aprendiz. No papel ele deverá escrever o nome pelo qual gosta de ser chamado.
Escritos os nomes, os papéis devem ser fixados nas carteiras dos aprendizes ou no peito. O objetivo do crachá é permitir que, desde a primeira sessão, você chame cada participante pelo seu nome. Na sala, o seguinte texto deverá estar escrito no flip-chart ou em um cartaz. O mesmo texto pode ser encontrado no Manual do Aprendiz.
“O desenvolvimento sustentável pretende combater a miséria humana sem repudiar a natureza ou desconsiderar as especificidades locais. Introduz o objetivo global de crescimento econômico e social duradouro, pensado com equidade e certeza científica, e que não dilapide o patrimônio natural das nações ou perturbe desastradamente os equilíbrios ecológicos” (Agenda 21, 1996).
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Aquecimento Inicial
Não discuta os textos ainda. Solicite que todos abram a Cartilha do Aprendiz na página em que está localizada a letra de Passarim, música de Antonio Carlos Jobim . Com o aparelho de som da sala ou com um equipamento portátil, coloque para tocar a música, solicitando que os aprendizes acompanhem a audição lendo a letra da canção.
Texto de Apoio 3: Passarim |
Passarim quis pousar, não deu, voou Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou Passarinho, me conta, então me diz: Por que que eu também não fui feliz? Cadê meu amor, minha canção? Que me alegrava o coração.. Que me alegrava o coração.. Que iluminava o coração.. Que iluminava a escuridão.. Cadê meu caminho? A água levou
Cadê meu rastro? A chuva apagou E a minha casa? O rio carregou E o meu amor me abandonou Voou, voou, voou Voou, voou, voou E passou o tempo e o vento levou Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou Passarinho, me conta então, me diz: Por que que eu também não fui feliz? Cadê meu amor, minha canção? Que me alegrava o coração.. Que me alegrava o coração.. Que iluminava o coração.. Que iluminava a escuridão.. E a luz da manhã? O dia queimou Cadê o dia? Envelheceu E a tarde caiu e o sol morreu E de repente escureceu E a lua, então, brilhou Depois sumiu no breu E ficou tão frio que amanheceu (Passarim quis pousar, não deu, voou) Passarim quis pousar não deu Voou, voou, voou, voou, voou Música de Antonio Carlos Jobim
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Após a audição da música, estimule uma discussão dos participantes, solicitando que comparem os dois textos (conceito de desenvolvimento sustentável e letra de Borzeguim). O objetivo aqui é fixar o conceito de desenvolvimento sustentável. Uma conclusão definitiva da comparação não é necessária. Quando sentir que a discussão explorou as várias dimensões do conceito, passe para a próxima atividade.
Interrompa a discussão anterior num momento em que ela deixou de ser envolvente. Faça a projeção do segmento “Demônio Chorão’ do filme “Sonhos” de Akira Kurosawa.[4]
Solicite a atenção de todos para o filme. Ao final da projeção, abra espaço pra uma breve discussão. Interrompa-a depois de cinco minutos, mesmo sem ter havido uma conclusão.
Canteiro de flores
Informe que, hoje, o grupo de aprendizagem vai conhecer o terreno experimental e fazer a primeira intervenção nele: plantar um pequeno canteiro de flores. Informe os participantes que eles têm, sobre a mesa, sementes de 30 espécies diferentes de flores[5]. Na seleção das espécies de flores é interessante escolher aquelas que possam ter uma função no equilíbrio ecológico do terreno experimental. As sementes estão identificadas por etiquetas feitas com Post-it. Cada participante deve escolher apenas uma espécie de flor.
Após a escolha, cada participante deve apresentar a sua flor e dizer o motivo de tê-la escolhido. Durante as falas, os participantes devem iniciar a construção do quadro a seguir. Ele deve ser completado até o fim do Programa de Aprendizagem Rural.
Tabela 5: Canteiro de flores
Nome do Participante |
Espécie Escolhida |
Viva até … |
Época(s) de florada(s) |
Destino das Flores
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…
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Aproveite o momento em que os participantes falam sobre suas escolhas e a tabela em construção como instrumentos para a memorização dos nomes. Associar o nome do participante à espécie de flor escolhida pode auxiliar nessa tarefa.
Informe aos participantes qual é o primeiro desafio da atividade do projeto: plantar a sua espécie de flor e mantê-la viva até o final do Programa, colher pelo menos uma florada e dar um destino nobre às flores colhidas.
Plantio
O plantio deve ser feito imediatamente. Para tanto, o grupo deve escolher o local do canteiro de flores. Deve preparar um ou mais canteiros, cuja área total não exceda 4 metros quadrados. A escolha do local, a preparação do solo, a divisão do espaço total, a distribuição das espécies, o plantio e os cuidados posteriores ao plantio devem ser feitos sem nenhuma interferência sua ou do coordenador. Mesmo que solicitado, não responda a perguntas, a não ser as relativas à qualidade do solo. Se perguntado, informe que o PH do solo já foi corrigido.
O momento é de diagnóstico dos conhecimentos e das competências já existentes no grupo. É momento também de verificar o nível de desenvolvimento das competências para o trabalho em equipe da turma. A observação da forma de tomada de decisão em grupo, em especial o nível de consenso nas decisões grupais, é importante para subsidiar um debate mais específico, a ser travado na Oficina de Trabalho em Equipe.
Após o plantio, cada participante deve identificar o seu espaço no canteiro com seu nome e o nome da espécie de flor por ele escolhida. Esse é outro momento que você deve aproveitar para memorizar o nome de cada aprendiz. A partir de agora procure chamar cada participante pelo seu nome. Em caso de dúvida, pergunte o nome do aprendiz a quem você vai se dirigir ou consulte o coordenador que conhece o grupo a mais tempo.
Logo depois do plantio, os participantes devem planejar os cuidados posteriores com o canteiro e, se necessário, transmitir e recomendar esses cuidados ao auxiliar responsável pelas atividades de manutenção do terreno experimental. Feito isso, convide os participantes para um breve intervalo.
Observação para o coordenador
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O canteiro de flores pode ser visto como a expressão da alma coletiva do grupo e como a síntese do conhecimento previamente existente e a construir. Permite aplicar e resumir, em um pequeno espaço, todas as competências já existentes no grupo e todas as competências em processo de desenvolvimento. Quanto mais o canteiro for significativo, mais pleno de sentido, mais depositário da emoção e da afetividade do grupo, maior será a importância dele no desenvolvimento do projeto. Cada instrutor, segundo sua própria sensibilidade, em função das características do grupo, encontrará a forma de dotar de encanto e magia o pequeno pedaço de terra destinado às flores.
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Coletando amostra do solo do terreno experimental
Logo depois do intervalo, informe que os participantes devem colher uma amostra para efetuar a análise do solo do terreno experimental. Na análise do solo, eles vão supor uma dimensão de 20 ha para o terreno. Assim, supondo o terreno experimental topograficamente homogêneo, a amostra final do terreno experimental deve resultar da coleta em 20 subamostras em diferentes pontos do terreno. (Na eventualidade do terreno experimental não ser topograficamente homogêneo, iniciar pelo mapeamento topográfico que pode estar conectado com a divisão do terreno segundo o provável uso.).
Antes da coleta, os participantes devem fazer uma divisão hipotética do terreno experimental, segundo a sua provável utilização. Ou seja:
- 30% para olericultura, incluindo o canteiro de flores nesta parte do terreno.
- 30% para cultura perene;
- 30% para cultura anual (milho, feijão);
- 8% para criação de pequenos animais (aves, coelhos);
- 2% para minhocultura;
A partir daí, os participantes devem:
- Definir os pontos de amostragem;
- Coletar as subamostras;
- Homogeneizar a(s) amostra(s),
- Preparar a(s) amostra(s) para envio ao laboratório;
- Identificar a(s) amostra(s).
Para facilitar o trabalho, a turma pode ser dividida em grupos depois de definidos os pontos de amostragem. Durante todas as operações, deixe que os aprendizes atuem segundo seu conhecimento anterior ou segundo sua intuição. No caso de procedimento incorreto, faça questões que levem o grupo à reflexão e a fazer propostas alternativas de ação. Continue o questionamento até que o procedimento sugerido seja cientificamente correto e/ou eficaz.
Não dê respostas prontas. Não demonstre procedimentos. Faça com que o grupo pense. Estimule a experimentação de procedimentos alternativos sempre que exista a possibilidade de diferentes cursos de ação.
Mapa provisório do uso do solo
Nos mesmos grupos que atuaram na atividade anterior, baseando-se no modelo de mapa mental, aprendido na Oficina de Aprender a Aprender, os participantes vão elaborar um Mapa Provisório do Uso do Solo. Os grupos trabalharão com as variáveis presentes no desenho a seguir:
Os mapas, depois de concluídos, deverão ser copiados na Cartilha do Aprendiz de cada participante. Eles não serão discutidos nesta sessão. Deverão ser reservados para uso em sessão posterior.
No entanto, você deverá verificar se não existem erros muito sérios em relação às culturas perenes, semiperenes e anuais consideradas adequadas ao terreno experimental. Essa informação será usada na próxima sessão para selecionar fontes de pesquisa para o levantamento dos sistemas de produção e levantamento de itinerários técnicos utilizados na região.
Finalizando e Avaliando a Sessão
Reúna os aprendizes depois da elaboração dos mapas. Se você não tiver feito isso no início da sessão, promova uma leitura coletiva em estilo jogral do poema “Cântico da Terra”, de Cora Coralina. Após a leitura, incentive uma breve fala de cada participante sobre como vivenciou a sessão.
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