Germinal – Educação e Trabalho

Soluções criativas em Educação, Educação Profissional e Gestão do Conhecimento

Metodologia de desenvolvimento de competências 21 de maio de 2012

Este artigo descreve uma metodologia de desenvolvimento de competências. É uma metodologia que foi desenvolvida para apoiar a capacitação de docentes de educação profissional, e constitui uma síntese dos mais comuns métodos centrados na iniciativa e na atividade dos educandos. É uma alternativa para o desenho de situações de aprendizagem, e não de aulas magistrais. Em cada situação de aprendizagem são propostos sete passos: contextualização e mobilização; definição da atividade de aprendizagem; organização da atividade de aprendizagem; coordenação e acompanhamento; análise e avaliação da atividade de aprendizagem; outras referências; e síntese e aplicação.

Com o resumo apresentado no parágrafo anterior, o Boletim Técnico do SENAC (Volume 38 – Número 1 – Janeiro/Abril 2012) acaba de publicar o artigo Metodologia de Desenvolvimento de Competências, de autoria dos sócios-diretores da Germinal Consultoria: José Antonio Küller e Natália Rodrigo. Para ler o artigo completo, clique aqui.

 

A hora e a vez do ensino médio 29 de junho de 2010

 

WANDA ENGEL


Há problemas de cobertura, modalidade de currículo e forma de atendimento, com graves reflexos no fluxo e no desempenho dos alunos


A sociedade brasileira parece ainda não ter-se dado conta da verdadeira crise de audiência que vem afetando nosso ensino médio, com previsíveis consequências para o desenvolvimento sustentável do país. Trata-se de uma verdadeira bomba-relógio.           

  

Para entendermos a gravidade da situação, o primeiro fato a encarar é o de que vivemos em uma sociedade do conhecimento, que exige, como passaporte mínimo para que os jovens sejam inseridos no mercado de trabalho, o diploma do ensino médio.


Também para os países, a vantagem competitiva passa a ser esse nível de escolaridade de sua população. Entretanto, a média brasileira de anos de estudo ainda é de sete anos e apenas 16% da população economicamente ativa concluiu o ensino médio.

 

Sem dúvida, isso é fruto de um processo histórico, mas, se os dados atuais fossem animadores, poderíamos prever boas perspectivas para o futuro. Infelizmente, é justamente aí que se processa a montagem da bomba-relógio.

 

O ensino médio no Brasil sofre de males seríssimos. Há problemas de cobertura, modalidade de currículo e forma de atendimento, com graves reflexos no fluxo e no desempenho dos alunos. Em termos de cobertura, menos da metade daqueles que deveriam estar nesse nível pode ser aí encontrada.

 

Parte ainda está no fundamental e quase 20% estão fora da escola. O mais grave é que, na faixa de 18 a 24 anos, 68% estão nessa situação.

 

Quanto ao currículo, observa-se que menos de 10% dos alunos cursam o ensino profissionalizante. Ou seja, mais de 90% dos jovens estão sendo “preparados” para uma universidade na qual a maioria não pisará.

 

O dado mais incompreensível é o turno em que o ensino médio regular é ofertado. Mais de 40% dos alunos estudam à noite, inclusive nos Estados mais ricos, quando apenas 17% conjugam escola com trabalho. A soma desses fatores está por trás de uma verdadeira sangria, responsável pela perda de metade de nossos alunos (entram 3,6 milhões e concluem 1,8 milhão).

 

Estamos perdendo esses jovens para o desemprego, para a reprodução da pobreza (22% dos mais pobres já têm filhos) e para a violência. Dos que concluem, apenas 9% (em matemática) e 24% (em português) apresentam um desempenho considerado adequado.

 

Em face dessa situação, cabe a pergunta: quem é o responsável pela oferta do ensino médio? De fato, 86% das matrículas estão nos sistemas estaduais, cujos governantes serão eleitos neste ano.

 

O voto de cada um de nós deveria estar condicionado a propostas dos candidatos sobre como pretendem enfrentar tais problemas.

 


Seria necessário um compromisso com metas claramente definidas, tais como universalizar o acesso e a permanência dos jovens entre 15 e 17 anos, melhorar o desempenho e diminuir o abandono, aumentar a autonomia das escolas, promover maior estabilidade das equipes de direção e flexibilizar os currículos, mas definindo mínimos para cada série.
 
 
 

 

Outras metas possíveis são aumentar o ensino profissionalizante, criar formas de articulação entre educação e trabalho, concentrar o ensino médio regular nos turnos diurno e vespertino, reservando o noturno apenas para a EJA (Educação de Jovens e Adultos, a partir de 18 anos), e criar sistemas de incentivos baseados em resultados.

 

Além disso, os candidatos poderiam definir as metas de usar os resultados de avaliações como instrumento pedagógico e de contribuir para mudanças na formação de professores.


Os candidatos poderiam assumir essas ou outras propostas, mas deveriam explicitar seu forte compromisso com a melhoria do ensino médio, sem o que não mereceriam nosso voto.

 
 


WANDA ENGEL ADUAN, 65, doutora em educação pela PUC-RJ, é superintendente-executiva do Instituto Unibanco.

Texto publicado na Folha de São Paulo, edição de 29/06/2009.

 

A Escola-Comuna em defesa da Escola Única 25 de maio de 2010

Lançado em 20 de novembro na Escola Nacional “Florestan Fernandes”, com palestra de Luiz Carlos de Freitas durante encontro de formadores da Via Campesina, o documento histórico inédito sobre a construção da Escola Única no período mais fértil da revolução soviética faz avançar o debate
sobre a educação brasileira

 

Por Cecília Luedemann

 

 

 No prefácio dessa edição em russo, N. K. Krupskaya, do Comissariado Nacional da Educação da União Soviética, explica essa primeira da série de publicações da Seção Científico-Pedagógica, biblioteca da revista Caminhos para a nova escola: “A coletânea publicada, que descreve a vida da primeira Escola-Comuna experimental do Comissariado Nacional da Educação, reflete o enorme trabalho feito. Ela narra como a escola cresceu internamente e desenvolveu-se – percorre todo o caminho do seu desenvolvimento, momentos críticos, crises de crescimento, dificuldades que teve que superar”.

A publicação de A Escola-Comuna, coletânea de textos escrita por educadores que participaram da construção da Escola Única, organizada por Moisey M. Pistrak, é tão importante quanto a publicação de Poema Pedagógico, de Anton S. Makarenko, nos anos de 1980 no Brasil. No entanto, esse relato literário sobre a educação de uma nova geração de revolucionários na “Colônia Gorki” já era conhecido, nas traduções em espanhol, nos anos de 1950, diferente de A Escola-Comuna, publicado em 1924 em Moscou e nunca traduzido.

 
 

 

Essa magnífica contribuição sobre as primeiras experiências de construção da Escola Única no primeiro período da revolução socialista só foi possível chegar em nossas mãos com a pesquisa de Luiz Carlos de Freitas (Unicamp-SP) sobre fontes bibliográficas, entre elas a obra de Pistrak, durante seis meses na Rússia, em 1996. O seu retorno com esse livro inédito custou-lhe 10 anos de dedicação para traduzir para a língua portuguesa do Brasil, com a colaboração de Alexandra Marenich.   
 
 
 

Além do precioso documento, a edição traz a pesquisa realizada por Freitas sobre a Pedagogia do Meio: “Não devemos perder de vista neste processo que uma pedagogia do meio é, antes de mais nada, uma pedagogia crítica de seu meio e que, portanto, forma sujeitos históricos (auto-organizados)”.

 

 Embora A Escola-Comuna tenha demorado para chegar ao conhecimento do público brasileiro, a obra retoma o debate sobre a Escola Única justamente em uma dos momentos mais críticos da educação brasileira. A crise educacional aparece na mídia corporativa como um “mal”, mas nunca como as mazelas da escola capitalista ou como dívidas do Estado.

 

De acordo com censo do Ministério da Educação sobre a educação básica, em 2009, quatro em dez alunos não estão matriculados no ensino fundamental de nove anos. Além do acesso não estar garantido a todos, questiona-se a qualidade do ensino público. O dedo acusador dos governantes aponta os culpados: os professores, pelo mau preparo, e os alunos, pelo vandalismo.

 

Na academia, o modelo neoliberal implantado nas universidades destina verbas para pesquisas fragmentadas e imediatistas das teorias pós-modernas: analisam formação docente, estudam currículo, questionam a avaliação, e vai por aí afora. O Estado capitalista não pode resolver os impasses colocados pela crise educacional. Somente um Estado sob comando dos trabalhadores pode construir uma escola única, que rompa o dualismo: a educação para os filhos da elite, para comandar, e a educação para os filhos da massa trabalhadora, para serem comandados, ou, ainda, entre a cidade e o campo.

 
A escola socialista é garantida pelo Estado para todos e está articulada com o Meio, sob o princípio educativo do trabalho, com um conteúdo geral único, com a participação diferenciada e cultural tanto da cidade quanto do campo.
 

A leitura de A Escola-Comuna nos mostra a construção de uma nova escola – totalmente oposta ao que conhecemos hoje no capitalismo – no período da guerra civil, de 1918-1923, depois da tomada do poder pelos trabalhadores. O livro está organizado em duas partes: a escola do trabalho do período de transição, escrito por Pistrak, e os relatos dos educadores sobre o trabalho com as disciplinas de Matemática, Ciências Naturais, História e Ciências Sociais, Ciências Econômicas, Literatura e Artes Plásticas. Aqui encontramos restabelecido o princípio da totalidade contra o da fragmentação. A escola é um todo, indivisível, dirigido sob o princípio do trabalho, escola que não separa a formação intelectual da criação manual e sob a direção coletiva de educadores e educandos, nem a participação dos estudantes nas lutas gerais da classe trabalhadora. Por isso a dedicatória dos autores aos alunos da escola experimental de Moscou: “Participantes invisíveis, indiretos, mas longe de serem os últimos na criação desta coletânea, devem-se considerar, com pleno direito, nossos camaradas mais novos – nossos mopshks – os estudantes da comuna escolar”.

 

Um livro raro, único, que não busca receitas, nem modelos. Ao contrário, revela a construção da nova escola socialista sob os dilemas históricos e lutas de posições políticas diante dos objetivos da educação. Uma experiência educacional dirigida por Pistrak dentre as 100 escolas experimentais que vivenciaram a construção de uma nova pedagogia para a escola única sob a direção de Lunatcharsky e Krupskaia, pela formação científica, cultural e política ampla e pela criação da autodireção. Pela defesa desses princípios revolucionários, os pedagogos Pistrak e Pinkevich foram fuzilados em 1937, pelo Estado estalinista, quando a reforma educacional retomou definitivamente a aula como centro da escola e a formação técnica como objetivo da industrialização soviética na tese do socialismo num só país. 

Uma teoria presente nas experiências de formação pedagógica e política do Instituto Educacional “Josué de Castro” e pelas escolas itinerantes do MST. Um livro de referência para todos: educadores, educandos e trabalhadores comprometidos com a luta socialista. 

 

Cecília Luedemann é jornalista, educadora e colaboradora da Editora Expressão Popular e do setor de educação do MST.
 

 

O que faz um colégio ser bom no ENEM? 12 de novembro de 2009

 

Em post anterior, discutindo uma tabela publicada no jornal Folha de São Paulo em: Melhores colégios tem até 50 candidatos por vaga, concluímos  que os colégios são bem colocados porque selecionam os melhores alunos já no início do Ensino Médio. A seleção se faz por meio de exames de admissão e/ou através da condição sócio-econômica dos candidatos. Os colégios são tão bons quanto os alunos que os frequentam.

 

Em outro post, Resultados do ENEM e Mudanças no Ensino Médio , perseguindo a relação entre a inovação na arquitetura escolar e os resultados do ENEM, fizemos uma busca no google/imagens e nos sites dos 10 colégios mais bem classificados no Brasil, tendo como referência o ENEM de 2008. Constatamos que eles não inovam na arquitetura escolar e que provavelmente também não são inovadores na metodologia de ensino que adotam.

 

Usando os mesmos recursos de pesquisa vamos investigar os 10 “melhores” colégios paulistas. Nesta busca, estamos tentendo responder à seguinte pergunta: os colégios paulistas mais bem classificados no ENEM inovam na arquitetura escolar ou na metodologia que adotam,

 

Inicialmente, estudamos os dois primeiros colocados: Vértice e Bandeirantes. Neste post vamos investigar os colégios classificados em terceiro e quarto lugares: O Colégio Móbile e o CEFET/SP, hoje IFSP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia).

 

Colégio Móbile

Apresentamos abaixo o que de mais significativo encontramos no Colégio Móbile sobre arquitetura escolar e e metodologia de ensino.

 

Externamente, o prédio do Colégio Móbile é  muito bonito. O prédio do Ensino Médio foi projetado pelo arquiteto Paulo Sofhia e premiado na III Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.

 

O projeto pedagógico é tratado de forma mais extensiva do que o comum dos projetos de escolas particulares. Entretanto, sobre metodologia ele é meio evasivo. O textos citados abaixo, retirados do site do colégio, são os mais representativos que encontramos sobre metodologia e sobre a arquitetura esolar interna.

 

“Crianças e adolescentes se convertem em sujeitos ativos do processo de aprendizagem quando despertados para o prazer e a responsabilidade de aprender. Essa atitude participativa é o ponto de partida indispensável para desenvolver a capacidade de pensar, de discriminar valores, de cooperar, de ter a habilidade de se adaptar às novas exigências do grupo e do meio.”

 

“O conceito básico das salas de aula é o de sala-ambiente. Os alunos – e não os professores – mudam de espaço, conforme o horário de cada série. Isso possibilitará que cada sala tenha a melhor estrutura para o ensino das disciplinas. Da mesma forma, as disciplinas de Química, Física e Biologia têm seus próprios laboratórios, com aproximadamente 100 metros quadrados de área cada um. A sala de Informática com equipamentos modernos, uma sala de artes, um teatro, uma biblioteca multimídia e uma quadra poliesportiva completam os recursos disponíveis para o aluno do Ensino Médio.”

 

As fotos a seguir mostram dois desses ambientes.

 

Observe que este primeiro, na foto ao lado, não está organizado de forma a estimular a referida atitude participativa.

 

 

 

 

 

Uma  segunda foto de uma  dessas salas ambientes mostra um arranjo físico mais compatível com a atitude participativa prevista na proposta pedagógica do Colégio.

Não vimos fotos de salas convencionais ou pelo menos fotos de salas denominadas assim.

 

No entanto, a foto com o professor conversando com o aluno, também extraída do site, mostra um arranjo (em auditório) convencional e deixa uma dúvida. Não seriam todas as salas de aula convencionais organizadas dessa maneira.

 

 

IFSP (unidade da capital)

Ao contrário das escolas privadas, a única escola pública na lista dos dez colégios mais bem classificados no ENEM, em seu site, não dá muita importância às fotos. Assim, não temos foto de sala de aula a mostrar. A pequisa de imagens no Google também não permitiu identificar fotos que fossem de salas de aula da antiga Escola Técnica Federal de São Paulo.

 

Também ao contrário das escolas particulares, o site dedica 15 páginas de texto à proposta pedagógica da instituição de ensino. É a primeira vez que vemos textos claros e detalhados sobre a metodologia de ensino proposta. Como exemplo:

“Assim, o estudante é estimulado, via rotineiras e diversificadas metodologias problematizadoras, mediadas pelo outro e pela cultura, aprende a ser, aprende a conviver, aprende a fazer e aprende a aprender.

Esse paradigma de aprendizagem se ancora também nos pressupostos vygotskyanos, quer por considerar o aprendizado como um processo eminentemente social, quer por ressaltar a influência da cultura e das relações sociais na formação dos processos mentais superiores.

Opondo-se às teorias inatistas e ambientalistas, crê num sujeito histórico interferente e produtivo, onde:
– A consciência nasce da atividade prática e é construída pela interação homem-mundo, mudando de acordo com as mudanças sociais.
– A interação sujeito-objeto é mediada pelo uso de signos.
– A internalização dos signos desenvolve as funções mentais superiores.
– A apropriação do conhecimento se dá por um processo ativo do indivíduo em suas relações de trocas com o meio e o outro.
– A aprendizagem é processo social, caracterizada pelas multi inter-relações entre o sujeito e o meio.
– A linguagem no interior dos grupos é básica por exercer a função mediadora, ampliando as relações sociais e da apreensão da experiência humano- social.”

 

Na ausência de fotos, postamos uma tabela que resume a infra-estrutura do IFSP (unidade da capital):

NFRA-ESTRUTURA FÍSICA – UNIDADE SÃO PAULO
Ambientes Didáticos Quantidade
Salas de Aula Tradicionais 59
Auditório 03
Salas de Projeção 05
Biblioteca Multi-Área 01
Laboratórios de Informática Integrados em Rede Internet 16
Salas de Desenho 07
Laboratórios de Física, Química e Biologia 06
Laboratórios de Geografia e Redação 06
Laboratórios de Construção Civil 08
Laboratórios de Eletrotécnica 07
Laboratórios de Eletrônica e Telecomunicações 07
Laboratórios de Mecânica: 10
Laboratórios de Automação 04
Célula de Manufatura 01
Oficinas de Praticas Profissionais de Eletrônica, Eletrotécnica e Telecomunicações. 03
Oficinas de Produção Mecânica de Tornearia, Frenagem, Retificadora e Maquinas Especiais 04
Oficinas de Produção Mecânica de Soldas Elétricas e Oxiacetileno 02
Laboratórios de Turismo 01
Laboratório de Educação Musical 01
Ateliê de Artes 01
Estúdio de Rádio e TV 01
Pista de Atletismo 01
Campo de Futebol 01
Quadras Poli – Esportivas  

 

Observe-se que a tabela informa a existência de 59 salas tradicionais. Quase apostamos que elas estão, na maior parte do tempo, no formato de auditório. Somadas ao auditório propriamente dito e às 5 salas de projeção temos  um total de 65 salas em formato de auditório. As demais, ao todo 88, certamente não estão organizadas assim.

 

Pela primeira vez encontramos um colégio, dentre os que vão bem no ENEM, que valoriza a metodologia ativa e que tem a maioria das salas de aula organizadas em formatos não-tradicionais.

 

Poderíamos concluir que metodologias e espaços mais modernos de ensino não são incompatíveis com o sucesso no ENEM. Infelizmente nos lembramos a tempo que, nos exames seletivos para o ingresso IFSP, concorrem 50 candidatos por uma vaga. Também nos recordamos que a mensalidade no Ensino Médio do Móbile supera os R$ 1.700,00. Isso repesenta muito mais que o salário médio no Brasil.

 

De fato o ENEM não discrimina nem seleciona. Quanto ele acontece na vida escolar da população estudantil brasileira a seleção já foi feita.

 

Canteiro de Flores 20 de julho de 2009

  

  

No Programa Jovem Aprendiz Rural, o Canteiro de Flores é a primeira e pode ser a mais significativa atividade do Projeto Articulador: Tornar uma Área Produtiva de Forma Sustentável. 

O canteiro de flores é um micro-cosmo, que, se ampliado, será o terreno experimental onde o projeto é desenvolvido, que, no futuro, resultará em unidades rurais sustentáveis, que, ampliadas, ajudarão na construção de uma agricultura sustentável. 

 O canteiro de flores é um símbolo e, ao mesmo tempo, a síntese de uma concepção e prática pedagógicas. 

  

Temos denominado de Aprendizagem Criativa a essa concepção e prática educativa. O excerto abaixo retirado do Manual do Instrutor do Projeto Articulador do Programa Jovem Aprendiz Rural é um exemplo concreto da Aprendizagem Criativa: 

  

A construção do Canteiro de Flores

Faça a projeção do segmento “Demônio Chorão’ do filme “Sonhos” de Akira Kurosawa. Também pode ser utilizado o segmento “Povoado dos Moinhos”, do mesmo filme. Solicite a atenção de todos para o filme.  

   

   

Ao final da projeção, abra espaço pra uma breve discussão. Interrompa-a depois de cinco minutos, mesmo sem ter havido uma conclusão.  

   

Informe que, hoje, o grupo de aprendizagem vai conhecer o terreno experimental e fazer a primeira intervenção nele: plantar um pequeno canteiro de flores. Informe os participantes que eles têm, sobre a mesa, sementes de 30 espécies diferentes de flores. Na seleção das espécies de flores é interessante escolher aquelas que possam ter uma função no equilíbrio ecológico do terreno experimental. As sementes estão identificadas por etiquetas feitas com Post-it. Cada participante deve escolher apenas uma espécie de flor.  

   

Após a escolha, cada participante deve apresentar a sua flor e dizer o motivo de tê-la escolhido. Durante as falas, os participantes devem iniciar a construção do quadro a seguir. Ele deve ser completado até o fim do Programa de Aprendizagem Rural. 

   

  

Tabela 5: Canteiro de  flores

Nome do Participante 

Espécie Escolhida 

Viva até … 

Época(s) de florada(s) 

Destino das Flores 

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

  

Aproveite o momento em que os participantes falam sobre suas escolhas e a tabela em construção como instrumentos para a memorização dos nomes dos participantes. Associar o nome do participante à espécie de flor escolhida pode auxiliar nessa tarefa.  

   

Informe aos participantes qual é o primeiro desafio da atividade do projeto: plantar a sua espécie de flor e mantê-la viva até o final do Programa, colher pelo menos uma florada e dar um destino nobre às flores colhidas. 

   

Plantio 

O plantio deve ser feito imediatamente. Para tanto, o grupo deve escolher o local do canteiro de flores. Deve preparar um ou mais canteiros, cuja área total não exceda 4 metros quadrados. A escolha do local, a preparação do solo, a divisão do espaço total, a distribuição das espécies, o plantio e os cuidados posteriores ao plantio devem ser feitos sem nenhuma interferência sua ou do coordenador. Mesmo que solicitado, não responda a perguntas, a não ser as relativas à qualidade do solo. Se perguntado, informe que o PH do solo já foi corrigido. 

   

O momento é de diagnóstico dos conhecimentos e das competências já existentes no grupo. É momento também de verificar o nível de desenvolvimento das competências para o trabalho em equipe da turma. A observação da forma de tomada de decisão em grupo, em especial o nível de consenso nas decisões grupais, é importante para subsidiar um debate mais focado a ser travado na Oficina de Trabalho em Equipe. 

   

Após o plantio, cada participante deve identificar o seu espaço no canteiro com seu nome e o nome da espécie de flor por ele escolhida. Esse é outro momento que você deve aproveitar para memorizar o nome de cada aprendiz. A partir de agora procure chamar cada participante pelo seu nome. Em caso de dúvida, pergunte o nome do aprendiz a quem você vai se dirigir ou consulte o coordenador que conhece o grupo a mais tempo. 

   

Logo depois do plantio, os participantes devem planejar os cuidados posteriores com o canteiro e, se necessário, transmitir e recomendar esses cuidados ao auxiliar responsável pelas atividades de manutenção do terreno experimental. Feito isso, convide os participantes para um breve intervalo. 

  

Observação para o coordenador 

O canteiro de flores pode ser visto como a expressão da alma coletiva do grupo e como a síntese do conhecimento previamente existente e a construir. Permite aplicar e resumir, em um pequeno espaço, todas as competências já existentes no grupo e todas as competências em processo de desenvolvimento. Quanto mais o canteiro for significativo, mais pleno de sentido, mais depositário da emoção e da afetividade do grupo, maior será a importância dele no desenvolvimento do projeto. Cada instrutor, segundo sua própria sensibilidade, em função das características do grupo, encontrará a forma de dotar de encanto e magia o pequeno pedaço de terra destinado às flores.  

  

  

O vídeo incluído a seguir, mostra, nas cenas de dinâmicas coletivas realizadas fora da sala de aula, o canteiro de flores plantado pelos jovens aprendizes rurais de Itapetininga. O canteiro de flores não é imeditamente visível e não está explicitamente no centro da cena. O símbolo é assim. O canteiro de flores está no pé da cena que o reproduz, concretiza e humaniza: uma roda de jovens de mãos dadas. O canteiro torna-se círculo: símbolo da perfeição. 

  

  

 

O MEC anuncia: a aula expositiva e a demonstração estão proibidas 12 de junho de 2009

Piet Mondrian - Opposition of Lines

Piet Mondrian - Opposition of Lines

É claro que o título deste post é uma ficção.

A aula expositiva é seguramente o método didático mais difundido e de uso quase exclusivo nas quatro últimas séries do Ensino Fundamental, em todo Ensino Médio e no Ensino Superior. A demonstração (mostrar como se faz e pedir para repetir) é ainda o método prevalecente na educação profissional e no ensino que envolva um saber fazer qualquer.

Um Ministro da Educação que ousasse uma proibição desse tipo de práticas provavelmente seria considerado louco e perderia seu cargo no dia seguinte. Se não perdesse e a proibição vigorasse para valer, milhares de professores não teriam nada o que fazer na próxima aula. No mesmo dia, milhões de alunos seriam retirados de sua passividade recorrente ou de sua atividade subserviente.

A proibição não seria um ato despropositado? Daria resposta a uma questão importante? Face aos problemas da educação brasileira parece uma medida superlativa, tratando de coisa menor. Não é.

Desconsiderando a pouca efetividade deles, sabe-se que os métodos centrados no professor nem sempre partem e sempre dependem do saber existente em um determinado grupo-classe. Assim, o “bom professor” ajusta sua fala ou sua demonstração ao saber prévio de seus alunos.

O professor inclusivo, preocupado com promoção de todos os seus alunos, especialmente dos mais carentes, ajusta sua palavra ou demonstração para atender aos que menos sabem. Foca no grupo dos 25% mais fracos, digamos. Já o professor “durão”, preocupado com a “qualidade” do ensino, ajusta seu foco nos que mais sabem.

Um e outro perdem 50% da turma. Um por desinteresse e o outro por incompreensão. A proibição teria o mérito de parar com essa perda inconcebível e irreparável.

Robbi Mussers - The Four Faces of  Whiskres

Robbi Musser - The Four Faces of Whiskres

Proibida a exposição e a demonstração, o que colocar no lugar?

Qualquer método centrado na atividade dos alunos, orientada por problemas, desafios ou projetos teria o mérito de focar o ensino no grupo mais avançado sem deixar para trás os que menos sabem (Vigotski, zona de desenvolvimento proximal). Basta um mínimo de organização dos pequenos grupos.

Em um conjunto ainda inacabado de artigos temos abordado uma alternativa metodológica à exposição e à demonstração, que denominamos de aprendizagem criativa. É uma insignificante parte do repertório metodológico disponível como alternativa à fala e ao gesto magistral. Não é a ausência de opções que mantém as velhas práticas excludentes.

Neste blog, temos discutido as causas do imobilismo. Em uma série, também ainda inconclusa, sobre o Ensino Médio localizamos quatro causas: o currículo imutável, o sistema de formação de professores, a atual facilidade de operação administrativa do ensino (de teor taylorista/fordista) e o pensamento pedagógico dominante.

Um monstro de quatro faces segura a evolução. Quem terá a coragem de enfrentar tal animal? Armas inusitadas precisam ser usadas. Senhor Ministro, que tal proibir a aula expositiva e a demonstração?

 

Arquitetura escolar e indução pedagógica 15 de abril de 2009

 

Uma escola do ano 2000, imaginada em 1910. Muda a tecnologia, mas não a visão de educação.

Para iniciar a minha participação na blogagem coletiva Arquitetura e Educação, proposta pelo meu amigo e professor Jarbas Novelino Barato, em Boteco Escola, vasculhei os livros sobre educação que tenho reunido nos últimos 25 anos. Neles, o tema não é tratado. Há uma única exceção. Trata-se do livro A Formação de Adultos, de Roger Mucchielli (São Paulo, Martins Fontes, 1981). O livro dedica menos de duas páginas ao tema (p.143-144).

 

Embora viciada, a amostra é exemplar de como o assunto tem sido pouco explorado. Reforça também a importância da blogagem coletiva proposta por Jarbas e a necessidade de se colocar as relações entre arquitetura e educação na agenda das discussões educacionais. Penso que essa discussão deveria estar presente, no mínimo, no interior do atual movimento de expansão da rede de escolas dedicadas ao ensino técnico e tecnológico (clique aqui).

 

Como a pesquisa em minha biblioteca resultou pobre, não tenho como construir um texto a partir das contribuições dela decorrentes. Assim, publico sem modificações o pouco que encontrei. O texto, extraído do livro de Mucchielli, é postado a seguir. As ilustrações foram incluídas por mim.

 

 

A Indução em Situações Pedagógicas

 

N. B. – A palavra indução é aqui empregada no sentido psicológico de determinação-provocação de um tipo de resposta ou de reação.

 

  • Indução devida ao dispositivo espacial e arquitetural. Aqui mesmo, nesta sessão, eu faço uma exposição sobre a situação pedagógica. Vocês estão diante de mim numa sala de aula. Ao entrar, vocês ocuparam os lugares de ouvintes e eu ocupei o estrado de conferencista. Esta disposição das mesas e do estrado, com nossos respectivos nomes bem visíveis, induzia por si mesma a situação pedagógica tradicional, a do Magister desenvolvendo suas idéias diante de um auditório supostamente atento. Induzia a situação de informação-espetáculo.

 

Desde o início, pelo simples fato de cedermos quase que automaticamente à sugestão do dispositivo, o comportamento de vocês e o meu já estavam determinados. Suas aspirações tomavam forma, meu papel já estava traçado de antemão.

 

Já tivemos ocasião de ver e avaliar as conseqüências do sistema.

 

Esse fenômeno começa a ser suficientemente conhecido, de modo que os organizadores evitam a topografia da classe tradicional e colocam os participantes em círculo, mantendo, ao mesmo tempo, o princípio da exposição do mestre. Eu próprio já vi dispositivos em retângulo, em torno do qual deviam colocar-se os ouvintes, o que lhes causava torcicolo. Mas a disposição em círculo é indutora; a em retângulo também; assim como a forma geral da sala e, em volta dela, a arquitetura, seja qual for…

 

Da mesma forma que o dispositivo de anfiteatro universitário induz o curso professoral e tende a ser obstáculo às interações, assim o dispositivo em círculo favorece as interações e é um obstáculo ao curso professoral, ao passo que o dispositivo retangular favorece o diálogo dos subgrupos vizinhos e impede as verdadeiras interações. Assim, prever um dispositivo em U, com o conferencista na curva do U, é menos favorável que os arcos concêntricos, caso se queira fazer uma exposição; e este dispositivo em arcos concêntricos destrói toda a eficácia de uma discussão, no decorrer da qual o animador deseje suscitar interações.

 

É preciso, portanto, ajustar, pelo menos, as intenções do formador e as induções do dispositivo, não hesitando em mudar o dispositivo espacial conforme os diversos momentos de um seminário (ou mudar de sala, cada uma delas tendo uma disposição e uma arquitetura “funcional”, isto é, adaptada à situação pedagógica intencionalmente procurada).

 

Por outro lado, o dispositivo, tal qual é preparado a priori, implica a previsão de um número de participantes. Sabemos que o número, por sua vez, é indutor de fenômenos psicossociais e inibidores de outros fenômenos; por exemplo, um grupo de mais de oito ou dez pessoas não pode discutir eficazmente (com a participação de todos) num tempo limitado de uma hora e trinta ou duas horas (isto até mesmo quando coordenado por um método adaptado).

 

N. B. – Refletir sobre as induções topográficas é uma primeira e essencial medida a ser tomada pelo pedagogo. Da mesma forma que um grupo de trabalho em discussão só pode funcionar se o dispositivo for circular, se o número for reduzido e se não houver tensões internas, assim também uma comissão oficial de 25 pessoas, colocadas em torno de mesas formando um retângulo alongado, não pode absolutamente entabular uma discussão criadora, ou mesmo simplesmente eficaz (utilizando as interações de todos os participantes), seja qual for o tempo de que dispõe e sejam quais forem as competências de seus membros. Os hábitos sociais levam então a recorrer à estruturação autoritária (graças à qual seis ou sete participantes têm um status social diferente para participar, enquanto os demais formam o público) e a procedimentos rígidos de “decisão de grupo” (o voto ponto por ponto, por exemplo).

 

Programa Jovem Aprendiz Rural no Assentamento Bela Vista 11 de janeiro de 2009

Reproduzimoa, a seguir, um artigo já antigo (set/out de 2006) da Revista Problemas Brasileiros, publicado no Portal do SESC de São Paulo.

O artigo menciona a pedagogia da alternância, um método de ensino rural que surgiu na França, na década de 1930, e que chegou ao Brasil no final dos anos 1960.  Tal pedagogia propõe que os jovens combinem a educação formal com a manutenção dos vínculos com seu meio social de origem. O artigo informa que existam, no Brasil, em 2006, 248 Centros Familiares de Formação por Alternância (Ceffas).

O artigo também faz referência à escola do  Assentamento Bela Vista (Araraquara / São Paulo) como um modelo de ensino fundamental adequado ao campo. Complementando a ação pedagógica do Programa Municipal Escola do Campo, em 2008, o Programa Jovem Aprendiz Rural (desenhado pela Germinal para o SENAR) foi implementado no assentamento. Parte das atividades desenvolvidas no assentamento pode ser acompanhada no blog da turma de 2008: Jovem Aprendiz Rural de Araraquara/SP.

Na escola rural, realidade urbana

Ensino nas áreas agrícolas não leva em conta a vida do campo

FLÁVIO CARRANÇA

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Arte PB

Num relatório divulgado este ano pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Brasil aparece em trigésimo lugar num ranking de 45 países com alto índice de repetência escolar entre alunos das quatro primeiras séries do ensino fundamental. Em 2004, o percentual de reprovação nessa faixa passou de 20% do total de estudantes matriculados. Dentro desse quadro, já tão grave, a situação mais desoladora é a do ensino no meio rural. O último Censo Demográfico revelou que, enquanto na zona urbana a taxa de analfabetismo é de 10,3% da população adulta, no campo chega a 29,8%. Segundo o Ministério da Educação (MEC), em 2003, o período médio de estudo da população de 15 anos ou mais na área urbana do país era de 7 anos, enquanto na zona rural somava apenas 3,4 anos.

Em alguns estados, principalmente do norte e do nordeste, continuam a funcionar as precárias escolas multisseriadas, em que um único professor ensina para alunos de diferentes séries numa mesma sala. Em outras regiões, estabelecimentos desse tipo vêm sendo sistematicamente fechados e substituídos pelo transporte dos alunos para as cidades, o que além de custar caro contribui para o êxodo rural.

“Sair do campo rumo à cidade para estudar e ser alguém na vida.” Essa frase soa familiar porque expressa uma visão de mundo que predominou por muitos anos e ainda tem forte influência no Brasil: a idéia de que apenas a industrialização e a vida urbana são sinônimos de desenvolvimento e civilização – mas que tem como contrapartida a desvalorização do mundo rural. Segundo o sociólogo e ex-professor da Universidade de São Paulo (USP) José de Souza Martins, um estudioso dos problemas do campo brasileiro, nas últimas décadas observou-se no país a mudança para as cidades de muitos trabalhadores e pequenos proprietários rurais, a fim de assegurar aos filhos o acesso a um ensino de melhor qualidade e também para escapar aos improvisos e limitações escolares.

“Salvo raras exceções, a escola rural no Brasil é uma espécie de escola urbana mal equipada, com professores leigos e mal pagos, completamente desprovida de uma estratégia voltada para o campo”, afirma o antropólogo Carlos Rodrigues Brandão, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Os temas são os mesmos no interior ou na cidade, e os períodos de férias e de aulas, totalmente inadequados ao calendário agrícola de muitas regiões do Brasil. Ou seja, é uma escola que não leva em conta a realidade na qual está inserida”, acrescenta. Para Brandão, uma das causas da baixa qualidade do ensino no campo é a descontinuidade das políticas públicas voltadas para essa área, pois, segundo ele, cada governo federal, estadual ou municipal que entra destrói as iniciativas de gestões anteriores. Vale lembrar que a educação rural é, quase em sua totalidade, uma responsabilidade das prefeituras: 93% dos alunos do campo estudam em escolas municipais.

A comparação entre o último Censo Escolar, realizado em 2005, e o de 2002 mostra que em três anos foram fechados mais de 10 mil estabelecimentos de ensino no campo. Nesse período, o total, que era de 107 mil – praticamente a metade da rede de nível básico do país –, caiu para 96.460. Deve-se considerar, ainda, que grande parte das escolas rurais no país são pequenas – cerca de 50% delas contam com uma única sala de aula – e quase todas oferecem somente as quatro primeiras séries do ensino fundamental. Além disso, apenas 10% dos professores das quatro primeiras séries têm formação superior, contra quase 40% na rede urbana. O professor José Marcelino de Rezende Pinto, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP em Ribeirão Preto (SP), observa também que a maioria das escolas rurais do Brasil se situa nas regiões pobres do nordeste, onde os recursos dos municípios para o gasto com alunos são bastante reduzidos.

A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), entidade que congrega os secretários municipais de ensino do país, defende uma expansão do parque escolar que assegure aos alunos do campo o direito de estudar próximo de suas residências e de ter acesso a uma aprendizagem de qualidade. Segundo Edla de Araújo Lira Soares, do Projeto Relatores Nacionais em Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais (DhESC), os principais problemas do ensino rural no país são o fechamento de escolas, a ausência de um programa de expansão do parque escolar e a persistência de uma política de transporte que retira os alunos do campo.

Onde fica a escola?

Rezende Pinto afirma que em alguns municípios gasta-se mais com o transporte de alunos do que com o ensino e cita o exemplo da cidade paulista de São Carlos, onde a frota de ônibus escolares roda mais de 3 mil quilômetros por dia para buscar e levar crianças dispersas em uma grande área. “Isso tem um custo muito elevado e, do ponto de vista pedagógico, é muito ruim. Algumas vezes, o aluno fica muito mais tempo no veículo que na sala de aula, chega empoeirado à cidade ou com os pés sujos de barro, o que reforça preconceitos e reduz a auto-estima, comprometendo o rendimento escolar.”

Antonio Munarin, coordenador-geral de educação no campo do MEC, garante que a intenção do atual governo é substituir o transporte de crianças para a cidade pela construção de escolas rurais. Ele reconhece que o sistema atual, apesar de garantir a oferta de ensino fundamental à população do campo, acaba gerando problemas. Segundo ele, essa estratégia foi adotada na década de 1990 para fazer cumprir a lei que obriga o Estado a oferecer educação a todos. “O déficit educacional no campo era tão elevado que o governo entendeu que ficaria mais barato estimular o transporte para as cidades do que construir escolas”, explica.

Outro ponto considerado importante para a melhoria do ensino no campo é a formação específica de professores. Rodrigues Brandão, autor de O Trabalho de Saber: Cultura Camponesa e Escola Rural, um dos poucos livros sobre esse tema publicados no Brasil, lembra que não havia no passado e não existe hoje um programa de formação do educador rural e que a invisibilidade da escola do campo resulta no reduzido interesse acadêmico pelo assunto. “Nos programas de graduação e pós-graduação dificilmente se encontra uma linha dedicada à educação rural”, afirma. Munarin reconhece essa carência, mas lembra que está em andamento uma proposta de implantação de licenciaturas em educação do campo, destinadas à formação de professores da quinta à oitava série.

O fato de a educação brasileira ter se desenvolvido a partir de uma visão que privilegia o centro urbano em detrimento do meio rural também se reflete no material didático utilizado. Quem chama a atenção para esse ponto é Rubneuza de Souza, coordenadora do Setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de Pernambuco. “Os livros didáticos não trazem as realidades regionais, mas uma visão que se torna hegemônica e que pauta as demais, a ponto de a cultura nortista e nordestina ser entendida como inferior às demais, assim como o campo é considerado inferior à cidade e não um espaço que tem sua especificidade.”

Além da expansão da rede escolar, da formação específica do professor e da produção de material didático apropriado, a implantação de um ensino diferenciado exige também financiamento adequado. Segundo Edla Soares, um projeto em discussão no Congresso Nacional aponta nessa direção, ao prever que sejam distintos os valores destinados pelo Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) ao ensino na cidade e no campo. “Dentro do Fundeb, o custo-aluno anual da primeira à quarta série passaria a ser de R$ 620,56 nas escolas urbanas e de R$ 632,97 nos estabelecimentos rurais. Isso ainda não responde à necessidade, mas anuncia uma política educacional que tem a preocupação de considerar a diversidade do campo”, afirma Edla.

O mercado de trabalho

Um estudo realizado pelo sociólogo e professor da USP Ricardo Abramovay entre filhos de pequenos produtores rurais do oeste de Santa Catarina mostrou que ficam no campo os que têm pior escolaridade, e serão eles que terão a responsabilidade de gerir a propriedade no futuro. A pesquisa constatou que dois terços dos jovens entre 15 e 24 anos que permaneciam na área rural tinham completado apenas a quarta série do ensino fundamental, o que realça a importância, para a agricultura familiar, do estímulo à educação. Abramovay fala também de um processo de envelhecimento e de masculinização no campo, já que as moças tenderiam a freqüentar mais a escola, o que serviria como uma espécie de passaporte para o ingresso nos ambientes urbanos de trabalho.

Outra especialista afirma, porém, que essa constatação não pode ser generalizada. Maria José Teixeira Carneiro, antropóloga, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), diz que a situação apontada por Abramovay reflete sobretudo a realidade da região sul do Brasil, onde as famílias vivem da atividade agrícola. Segundo Maria José, as mulheres jovens saem dessas áreas porque não têm lugar em sua unidade de produção familiar, mas em estados do nordeste a situação é diferente. Num sentido mais geral, ela confirma que as pessoas que não tiveram condições de receber educação formal de melhor qualidade permanecem com a família porque não vêem outra saída. Mas faz uma ressalva: nas famílias mais bem-sucedidas, os jovens com mais escolaridade também permanecem na propriedade porque têm condições de investir na modernização da agricultura ou desenvolver outros projetos. Maria José afirma que, embora o ambiente urbano já não exerça tanta atração como há alguns anos, o jovem que permanece no meio rural deseja uma boa qualidade de vida. “Por dispor de informação e transitar entre a cidade e o campo, ele quer ter acesso a bens de consumo, assim como a esporte e lazer.”

Fazer com que os jovens combinem a educação formal com a manutenção dos vínculos com seu meio social de origem é o principal objetivo da pedagogia da alternância, um método de ensino rural que surgiu na França, na década de 1930, e que chegou ao Brasil no final dos anos 1960, implantado inicialmente no Espírito Santo e no Paraná. Existem hoje no Brasil 248 Centros Familiares de Formação por Alternância (Ceffas) – escolas geridas por associações locais, nas quais dois terços dos integrantes são agricultores.

David Rodrigues de Moura, secretário executivo da União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil (Unefab), explica que o trabalho é desenvolvido com filhos de pequenos agricultores, com o objetivo de capacitá-los a trabalhar na comunidade em que vivem. Chamados em alguns estados de Casa Familiar Rural e em outros de Escola Família Agrícola, esses centros atendem cerca de 15 mil alunos em todo o país e já formaram mais de 30 mil jovens, 87% dos quais permanecem no meio rural. Um dos princípios básicos do sistema é a chamada alternância integrativa, que permite ao aluno passar parte do tempo na escola e parte com a família. “No decorrer do curso, o jovem desenvolve o que chamamos de projeto profissional, que depois aplicará dentro da propriedade ou na comunidade em que vive. Esse projeto não precisa necessariamente ser direcionado à agricultura, pois existem hoje alternativas econômicas ligadas à área rural, como o ecoturismo”, diz David.

A formação profissional dos trabalhadores do campo é também a missão do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), órgão ligado à Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Daniel Klüppel Carrara, secretário executivo da entidade, explica que os cursos do Senar estão direcionados às 157 atividades que compõem o conjunto do trabalho rural. Eles acontecem dentro das propriedades, em parceria com cooperativas e sindicatos de trabalhadores e de produtores rurais, que levantam e avaliam as demandas locais. Carrara conta que, somente em 2005, 1 milhão de pessoas passaram pelos cursos e treinamentos gratuitos, ministrados em cerca de 3 mil municípios.

As atividades do Senar atendem o empregado das médias e grandes propriedades rurais e também um bom número de pequenos proprietários e seus familiares, atingindo toda a gama de trabalhadores do campo no país. Segundo Carrara, as deficiências na escolaridade trazem algumas dificuldades: “Imagine o que é formar um operador de máquinas agrícolas que não tenha condição de ler um manual ou um rótulo de óleo, ou um aplicador de defensivos que não consiga ler uma bula. E isso acontece, é um problema que a gente enfrenta”.

Educação e reforma agrária

Fato novo na história da luta pela democratização do acesso à terra no Brasil, os assentamentos rurais constituem um universo formado por mais de 5 mil projetos e envolvem mais de 500 mil famílias. A Pesquisa Nacional da Educação na Reforma Agrária (Pronera), realizada pelo MEC em 2004, revelou que nos 5.595 assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) existiam 8.679 escolas, com 987.890 alunos. Desse total, 45% estão no nordeste, 32% no norte, 13% no centro-oeste, 5% no sudeste e 5% no sul.

Em outro levantamento, realizado nos anos 2000 e 2001 pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em 92 assentamentos distribuídos pelo país, verificou-se que em 86% deles existiam escolas. Os pesquisadores chamam a atenção para o fato de a maior parte desses estabelecimentos terem sido criados por reivindicação dos assentados. Segundo Rubneuza de Souza, o MST defende uma política de ensino voltada para o campo: “Queremos uma escola pública de qualidade, mas não somos só demandantes. Desejamos ter voz para repetir o que disse Paulo Freire: ‘Não dá para o educador ensinar sem conhecer o entorno de seu educando, seu contexto social e geográfico’”.

Uma experiência considerada modelo no ensino fundamental em assentamentos é desenvolvida em Araraquara, no interior de São Paulo. O Programa Municipal Escola do Campo é um projeto pedagógico construído a partir de discussões com a sociedade civil da região. São três escolas, duas delas instaladas dentro de assentamentos e outra em um distrito rural. Desde 2003, esses estabelecimentos adotaram nove anos de ensino fundamental, antecipando aquilo que agora o governo federal tornou obrigatório. O programa é desenvolvido em ciclos de formação e não por séries, o que significa que a criança é alocada de acordo com o conhecimento que possui e não por idade. As escolas dos assentamentos Monte Alegre e Bela Vista e do distrito de Bueno de Andrade não são multisseriadas e têm uma política pedagógica que procura transmitir às 504 crianças matriculadas um olhar crítico sobre a realidade.

Clélia Mara Campos, secretária de educação de Araraquara, conta que o projeto considera que a escola não se limita à sala de aula. Por exemplo, noções de português, história, geografia, biologia e matemática são transmitidas durante o preparo de um prato na cozinha da unidade. Estão também incluídas no programa visitas a lavouras, onde o aluno aprende com quem conhece o trabalho na terra. Existe, ainda, transporte dentro do assentamento para que as crianças não percorram longas distâncias. “Hoje, o saldo já é bastante positivo”, diz Clélia. “Além de não apresentar evasão, essa escola nos ensina que é preciso trabalhar ao mesmo tempo com as crianças e seus familiares e que o campo é um espaço de vários saberes e de produção de conhecimento.”

 

Aprendizagem Criativa – Focalização e simbolização 28 de novembro de 2008

 

Em artigo anterior apresentamos rapidamente a metodologia da Aprendizagem Criativa. Para acessá-la, clique aqui. Neste post vamos nos deter na primeira das etapas da metodologia:  a Focalização e Simbolização.

 

Focalização

O impulso criativo está presente em todo indivíduo. A criatividade é também instintiva e, assim, requerente de consumação. A criatividade também requer um objeto, um campo de aplicação que a atraia desde seu profundo mistério até o visível. Ela precisa ancorar-se no real. Requer focalização.

 

A focalização é, então, a fase inicial da aprendizagem criativa. Um determinado campo de aplicação necessita tornar-se muito significativo para o indivíduo ou grupo. Seja por uma necessidade premente, seja por um desafio auto ou heterocolocado, seja por um intenso desejo ou paixão, um determinado recorte da realidade, um campo, precisa assumir especial interesse para o sujeito da criação.

 

A não ser na criação de uma nova área de atividade humana, o que é raro, todo campo do criativo já é depósito de uma tradição, muitas vezes secular, resultado da experimentação e criação dos homens que nos antecederam. Pense, por exemplo, na pintura, na poesia ou mesmo na organização do trabalho como searas do processo criativo. O processo de focalização compreende, então, um domínio mais ou menos profundo da tradição, ou seja, a aprendizagem dos conhecimentos, habilidades e valores relacionados com o campo.

 

É importante repetir que o campo tem de ser especialmente atrativo para que a focalização se dê. Só assim, as produções culturais anteriores dentro do campo podem ser incorporadas ao trabalho do grupo como elementos de facilitação da aprendizagem criativa, como no espírito da seguinte fala de Stanislavski:

Nosso método nos serve porque somos russos, porque somos este determinado grupo de russos aqui. Aprendemos por experiências, mudanças, tomando qualquer conceito de realidade gasto e substituindo-o por alguma coisa nova, algo cada vez mais próximo da verdade. Vocês devem fazer o mesmo. Mas ao seu modo e não ao nosso. (…) Vocês estão aqui para observar e não para copiar. Os artistas têm de aprender a pensar e sentir por si mesmos e a descobrir novas formas. Nunca devem contentar-se com o que um outro já fez ( Constantin Stanislavski, A construção do personagem, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1983, p. 17) .

Na aprendizagem criativa, a focalização pode ser feita por um conjunto de meios. No imediato, usa-se o recurso do aquecimento no início das sessões de aprendizagem como forma de focar a atenção sobre o que virá. Ao longo do processo, o desafio, o problema, a atividade lúdica e, especialmente, os projetos visam moblilizar o interesse dos participantes em relação ao campo em estudo.

 

O símbolo como veículo

Blue Star, 1927, Juan Miró

Blue Star, 1927, Joan Miró

Hillman afirma que Jung se serve, dentre outras, da concepção de “função transcendente formadora de símbolos” para se referir ao impulso criativo. A função transcendente é uma função que articula consciente e inconsciente e que resulta da incorporação da função inferior e implica a fusão das quatro funções conscientes (pensamento, sentimento, intuição e percepção), produzindo símbolos. Isso pede um melhor desenvolvimento, que não será feito aqui.

 

Para Jung, o símbolo “pressupõe sempre que a expressão escolhida constitui a melhor designação ou a melhor fórmula possível para um estado de coisas relativamente desconhecido, mas que se reconhece como existente ou como tal é reclamado”. Acrescenta: “A expressão que se supõe adequada para algo conhecido nunca passa de um mero signo, jamais sendo um símbolo. (…) Todo produto psíquico, embora no momento possa constituir a melhor expressão possível de uma ordem de coisas ignorada ou só relativamente conhecida, poderá ser concebido como símbolo na medida em que admitamos que a expressão pretende designar o que apenas se pressente ou não se conhece ainda de modo claro” (C. G. Jung, Tipos psicológicos, Rio de Janeiro, Zahar, 1981, p. 543-5 44 Ora, esta é situação do aprendiz de qualquer campo.

 

O símbolo é então a expressão de algo que já brotou da noite do desconhecimento e não foi ainda claramente percebido, pensado, intuído ou sentido. O perfeitamente e claramente conhecido não pode ser expresso simbolicamente. O símbolo é uma tentativa de apreensão de um saber que ainda, de alguma maneira, escapa. É prenhe de significados e não tem nenhum sentido preciso. É uma ponte entre o sabido e o desconhecido. O símbolo, no limite do campo de saber, é um veículo do novo. Na busca de conhecimento  do campo, é o motor da aprendizagem feita de forma criativa.

 

É interessante notar que, para Jung, o inapreensível veiculado pelo símbolo não é necessariamente desconhecido de todos. Assim, uma dada expressão pode ser um símbolo para um e um signo para outro.  Isso é para observar que professor e aluno, em relação ao campo, podem estar em posições distintas. O professor supostamente conhece o campo. Para ele, na abordagem do campo, o conceito é ou devia ser a linguagem natural. Para o aluno, no entanto, a aproximação simbólica é mais adequada.

 

Simbolização

Blue Star, 1927, Joan Miró

Blue Star, 1927, Joan Miró

No símbolo existem significados e sentidos ainda não claramente conhecidos. Utilizam-se símbolos para exprimir algo pressentido e não muito claro.

 

Derivam desse duplo entendimento, também, duas facetas de utilização do símbolo no processo de facilitação da criatividade individual e grupal e na resolução dos problemas, desafios e projetos utilizados na focalização que, como já vimos, é a primeira fase da aprendizagem criativa.

 

Na primeira forma de facilitação, o símbolo é utilizado como suporte de conteúdos culturais já disponíveis no campo focalizado. Isso significa identificar e selecionar e operar com símbolos relacionados com os conteúdos culturais já produzidos pelo campo de saber.

 

A arte, enquanto veiculadora de símbolos, pode ser uma fonte de busca de material simbólico relacionado a esses conteúdos. Como exemplo, pode-se apontar para as músicas, poesias e filmes utilizados como suporte ou contraponto para o desenvolvimento de muitas das amostras de trabalho apresentadas neste blog. Para consulta de um texto exemplar, ver: Uma Amostra de Sessão de Aprendizagem de Administração e Organização, clicando aqui.

 

Existe uma outra possibilidade de facilitação da criatividade grupal, usando o símbolo. Nessa vertente, o próprio grupo produz o símbolo de referência para o trabalho grupal. Face a um campo de conteúdo, o grupo simboliza. Elabora uma forma de expressão daquilo que representa o limite grupal de possibilidades de conhecimento do campo. Aquilo que, no máximo da intensificação do campo, é pressentido.

 

A arte, novamente, é um suporte adequado para esse processo de simbolização. Dramatizações, colagens, esculturas e outras produções artísticas dos alunos podem criar o referencial simbólico original que vai ser explorado posteriormente. O texto de Uma Amostra de Sessão de Aprendizagem de Administração e Organização é, outra vez, exemplar.  

 

Outras formas de suscitar expressões simbólicas, como a imaginação ativa ou a viagem imaginária, podem ser utilizadas. A viagem imaginária é uma forma de “sonhar acordado” induzida externamente (ver: Perls, Fritz. A abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1981). A imaginação ativa é uma técnica desenvolvida por Jung e consiste em acompanhar a produção do inconsciente, quando o consciente é intencionalmente rebaixado até um limiar próximo ao do sono. No filme “Sonhos”, o episódio “Corvos” é um exemplo da técnica.

 

No processo de simbolização toda forma de rebaixamento do controle consciente é coadjuvante. Nesse sentido, em nossa sociedade, formas metodológicas que intensifiquem a emoção e estimulem a intuição são favoráveis. Nos exemplos apresentados neste site, o uso permanente de formas simbólicas carregadas de sentimento e a abordagem histórica e estrutural recorrente têm por objetivo trabalhar com as duas funções conscientes menos privilegiadas: sentimento e intuição.

 

Concluindo, em troca de uma apresentação ou discussão em torno do que os participantes já conhecem do conteúdo do campo, eles são estimulados a expressar, através de símbolos, o que pressentem e o que ainda não sabem muito bem. A dinâmica do grupo, aí, já não se dá em torno do conhecido e sim em torno de um conhecimento em gestação. O resultado já não é um ruminar de conhecimento velho e, sim, um lançar-se na hipótese e na construção do conhecimento novo.

 

 

O texto anterior parte de um já publicado em Küller, José Antonio. Ritos de Passagem -Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996.

 

Aprendizagem criativa – metodologia 26 de novembro de 2008

 

Falamos em post anterior que a Aprendizagem Criativa, enquanto proposta educativa, funda-se na psicologia da criatividade de Jung. No mesmo post, Aprendizagem Criativa, falamos um pouco dessa psicologia da criatividade. Dissemos que ela foi fundamental no desenho de uma proposta educativa, consubstanciada em um Programa de Desenvolvimento de Chefias e Supervisores, que tinha a criatividade como centro.

 

Claude Monet Charing Cross Bridge, Fog in the Thames 1899-1901. Oil on canvas. Lent by the Fogg Art Museum, Harvard University Art Museums, Cambridge Massachusetts

Ao extrair, da contribuição de Jung, um método de facilitação da criatividade individual e grupal na situação de ensino-aprendizagem, é evidente uma primeira constatação.

 

Não se pode partir dos sonhos do treinando ou do educando para, em torno do referencial simbólico que deles emerge, buscar os significados e as possibilidades de superação dos conflitos que estancam o desenvolvimento organizacional, grupal ou individual.

 

O sonho, a via régia de produção e veiculação de símbolos, não é factível de ser usado em situações formais de aprendizagem. Mas existem variantes para iniciar o processo de circunsimbolização.

 

 A aprendizagem criativa é uma dessas variantes de facilitação da criatividade grupal que pode ser utilizada pelo educador no ambiente de ensino-aprendizagem, a partir de uma reversão radical dos procedimentos metodológicos em vigor e a partir de um ato de coragem (a coragem é um requisito de todo criar). O método envolve quatro etapas:

 

1) a focalização e simbolização;

2) a amplificação subjetiva ou objetiva do(s) símbolo(s);

3) a análise do conteúdo da ampliação, e

4) síntese e decorrências.

 

Os links incluídos nos itens numerados darão acesso a outros posts em que cada uma dessas fases é abordada de forma mais específica e detalhada.

 

O texto anterior parte de um já publicado em Küller, José Antonio. Ritos de Passagem -Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996.

 

 
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