Germinal – Educação e Trabalho

Soluções criativas em Educação, Educação Profissional e Gestão do Conhecimento

Aprender a aprender nas organizações 10 de novembro de 2011

Entendemos que o conhecimento e a competência são resultantes de processos educativos radicalmente distintos dos constituídos pela simples transmissão, recepção, registro e acumulação de dados ou informações. Conhecer ou ser competente decorre de uma relação viva, significativa e apaixonada do sujeito com o objeto de estudo, a disciplina, a arte ou técnica.

Ninguém ensina ninguém. Aprendemos todos em sociedade, envolvidos na busca da satisfação de desejos e da superação das necessidades, dos desafios e problemas que tornam plena de sentido, viva e intensa a nossa relação com um campo de conhecimento ou uma área de competência. Se aprender é envolver-se com ações de transformação em busca do desejável ou do necessário, aprender a aprender consiste em aprimorar as formas de vivenciar e atuar nesses processos de transformação.

Facilitar o aprender tanto das pessoas quanto das organizações requer o desenho de metodologias de construção do conhecimento e desenvolvimento de competências apropriadas. Elas devem ser baseadas na troca e no diálogo, em que a ação, a resolução de problemas e os projetos desenvolvidos em situações reais são os modos essenciais de aprender.

Da mesma forma, na direção da aprendizagem do aprender, tanto o modo individual quanto o coletivo de agir, de resolver problemas e de desenvolver projetos precisam ser constantemente objetos de reflexão, submetidos à crítica e aprimorados sistematicamente.

O trabalho com as organizações exige, no entanto, uma adequação na forma de estimular o aprender a aprender que dá uma especificidade à metodologia de desenvolvimento organizacional, quando comparada à de desenvolvimento pessoal. As organizações têm fins, modos e meios de fazer que transcendem e muitas vezes conflitam com os desejos e necessidades dos indivíduos que as constituem.

Se para aprender é fundamental o envolvimento do sujeito que aprende, a questão metodológica central na perspectiva do desenvolvimento organizacional é, então, aproximar, articular e integrar dinamicamente as aspirações e necessidades individuais com as coletivas. Essa é uma proposta de conjunção de orientações potencialmente opostas que exige uma postura criativa (Jung).

A visão de construção e funcionamento de “organizações de aprendizagem” e de “comunidades de aprendizagem” é um tipo de abordagem criativa. Nela, as pessoas e os grupos expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam; surgem novos, elevados e dialéticos padrões de raciocínio; a aspiração coletiva é libertada e as pessoas aprendem continuamente a aprender individualmente e em grupo (Senge).

Essa construção pode ser feita em cinco amplos e complexos níveis de atuação: a qualificação profissional e as condições de trabalho; a orientação mercadológica; os processos de trabalho; a visão e a orientação estratégica; e, por fim, a inserção comunitária. Esses
níveis dão origem a cinco correspondentes focos de atuação: Qualidade Profissional, Orientação para o Cliente e Mercado, Excelência na Produção e na Prestação de Serviços, Organização de Aprendizagem e Comunidade de Aprendizagem.

Em textos posteriores, vamos tratar de cada um desses cinco focos de atuação.

 

O uso do vídeo na educação – Uma segunda chance 28 de setembro de 2010

Um filme denominado Uma segunda chance pode ser usado para discutir a dinâmica das funções conscietes de Jung : pensamento, sentimento, percepção e intuição. O filme  é um exemplo do processo de integração da função inferior ao conjunto das funções concientes da psiquê .

No início da história, um brilhante advogado é retratado. A própria natureza da atividade do personagem indica o uso da função pensamento como função superior. No retrato do cotidiano, o advogado é mostrado como uma pessoa fria e distante. O trabalho deixa pouco espaço para a relação familiar. A sua relação com o outro é utilitária e não consegue expressar os seus sentimentos para ninguém, nem para a esposa ou a filha. Não parece ter uma vida feliz.

Ao comprar cigarros em estabelecimento comercial que está sendo assaltado, o advogado é ferido gravemente na cabeça. O tiro afeta o cérebro e o faz perder a memória (e com ela todos os conhecimentos anteriores), os movimentos e a fala.

O processo de recuperação em uma clínica especializada envolve fisioterapia e reaprendizagem de praticamente tudo: falar, andar, relacionar-se… É como uma volta à primeira infância. A competência de relacionamento com o mundo foi abrupta e radicalmente reduzida. Tudo tem de ser reaprendido. Um fisioterapeuta é seu ego auxiliar nesse momento.

Apartado da família e isolado na clínica, o personagem vai recuperando as habilidades mais básicas de relacionamento com o outro e com o mundo. Uma mudança de forma e de disposição na relação, no entanto, vai ficando clara. Agora ele interage com as situações a partir de valorizações e de afetos. A função inferior, sentimento, começa a ganhar predominância na orientação geral do comportamento. As falas do personagem passam a ser pontilhadas de “eus gostares”, de “eus quereres”, de “eus sentires”…

Já de retorno ao lar, o processo de desenvolvimento continua, agora assistido pela filha (ela o reensina a ler, por exemplo). O ponto de apoio da retomada continua sendo a função inferior e os mais próximos espantam-se com sua mudança . Uma passagem crucial é a volta ao trabalho. Ali, o personagem apoiado pela função superior, pensamento, tinha prosperado e feito carreira. Mesmo ainda não sofisticada e diferenciada, a nova orientação é perceptível. É vista na nova forma de ele tratar as pessoas. É notada na descoberta de uma omissão durante um processo (feita por seu “outro eu”), com o único intuito de ganhar a causa, na base do “os fins justificam os meios”.

Com base na nova orientação, que prioriza os valores, questiona a condução anterior do processo. Como conseqüência, passa a ser impedido de ter acesso aos arquivos da companhia. Henry, o advogado, torna-se perigoso por seguir, sem hesitação, os ditames da nova orientação. Essa inocência é uma característica da criança e de quem está integrando a função inferior. Há uma entrega sem limites à nova forma de orientação e a pessoa não consegue perceber e jogar com outras alternativas. Além de ser incapaz de mostrar o desempenho anterior, o que traz de novo põe em questão a forma de proceder da firma. Henry passa a ser ridicularizado nos bastidores.

Quando percebe sua inadequação, um momento crítico no processo de desenvolvimento, o advogado é procurado pelo seu fisioterapeuta. Eis o diálogo deles:

Henry:    Pensei que podia voltar à minha vida, mas não posso. Eu não gosto de quem eu era. Eu não me encaixo.

Fisioterapeuta:      Tenho problemas nos joelhos. Tenho joelhos ruins. Pergunte por quê.

Henry:    Por quê?

Fisioterapeuta:      Por quê? Futebol. Estraguei os joelhos jogando futebol. Cara, o futebol era a minha vida. O que mais havia? Mais nada. Entrada da área. O filho da mãe atirou uma espiral perfeita… e eu peguei. Caiu do céu. Foi o auge. Veio o bloqueio e senti os joelhos estalarem… E sabia que já era. Fim de jogo. Estava acabado. Minha vida acabara, Henry. Agora pergunte se ligo para meus joelhos.

Henry:    Você liga…

Fisioterapeuta:      Não! De jeito nenhum. Foi um teste. Tinha que me reencontrar. O fisioterapeuta que me fez andar era tão seguro. Pensei: é o que quero fazer. Quando contei, os meus colegas riram. Chamaram-me de enfermeira e tudo o mais. Mas, olhe bem. Você está andando. Está falando e bebendo cerveja da boa. Tenho algo a ver com isso. Não fosse o meu joelho e eu não o teria conhecido. Não me importo de ter joelhos ruins. Não! Vou lhe dizer algo. Não dê ouvidos a quem tenta dizer o que você é. Pode levar algum tempo, mas vai se descobrir.

Similarmente à aventura do personagem, a incorporação da função inferior implica, sempre e em certa medida, um mergulho no inconsciente. É daí que ela emerge em estado bruto, energicamente carregada, plena de frescor e de inocência. Se o abandono da  função superior é doloroso, ao mesmo tempo favorece uma renovação de vida e abre caminho para a criação do novo e para um reencontro consigo mesmo. Ao incorporar a função sentimento, Henry se renova e parte para a busca de uma vida revigorada de sentido.

O texto anterior foi retirado, com pequenas alterações, do livro Ritos de Passagem – Gerenciando pessoas para a qualidade, de José Antonio Küller, Editora Senac/SP, 1996.

 

2001 – Uma odisséia no espaço e o processo criativo 15 de julho de 2009

 

Texto que publicamos a seguir, com pequenas alterações e sem as ilustrações, foi extraído de : Küller, J.A. Ritos de Passagem – Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996, pg. 304 a 307. Para mais informações sobre o Livro, clique aqui.

 

 

A partir de um filme de ficção, vamos fazer uma breve leitura do processo criativo. A cena inicial do filme 2001 – uma odisséia no espaço servirá de ilustração do especial entendimento do processo criativo que será adotado aqui. A seqüência inicial do filme mostra as condições de vida de um primata. Ele é herbívoro e disputa folhas e raízes com um ruminante, parecido com a capivara. O primata é facilmente atacado e subjugado por carnívoros, contra os quais não tem defesa. Vive em bando e disputa o suprimento de água com bandos rivais. Mora em cavernas e à noite, no escuro, seus olhos brilham de medo.

Em uma manhã, um estranho monolito aparece no território dos primatas. É uma longa pedra cubiforme e polida. Uma reação, também estranha, apodera-se dos macacos. Eles são irresistivelmente atraídos para a pedra. Freneticamente, cheiram-na e tocam-na. Como fundo musical da cena, ouve-se Lux aeternea (luz eterna).

 

Corte rápido, um outro momento e uma outra cena. Um dos primatas está em frente ao monolito, olhando para ele, e, distraidamente, mexe com um osso que é parte do esqueleto de um dos ruminantes. Aparece, no horizonte, uma conjugação entre Sol e Lua. De repente, ele se agita. Passa a bater o osso, em ritmo e força crescentes, sobre o resto do esqueleto. O movimento culmina quando o osso, agora arma, esmaga o crânio descarnado da capivara. Ao mesmo tempo, o primata, agora homem, visualiza o animal ainda vivo tombando sob o golpe desferido na imaginação.

 

Da imagem ao ato. Na cena seguinte, o bando, agora projeto de tribo ou de grupo, come a carne do animal efetivamente abatido. Segue-se a conquista do bebedouro. O grupo armado enfrenta os rivais. O chefe do bando inimigo é morto e o suprimento de água é conquistado. Na euforia da vitória, um dos homens lança para cima o osso, instrumento primeiro, que, lá no alto, se transforma em espaçonave. É uma cena brilhante. Em um segundo, toda a epopéia da evolução tecnológica e humana é insinuada.

 

 

O que é dito na seqüência do filme sobre o processo criativo? Em primeiro lugar, o foco do processo é apresentado: a defesa e a obtenção de suprimentos. Todo o processo criativo é focado e limitado por um campo de aplicação que, por motivos internos, seja necessidade, desafio, paixão ou desejo, adquire uma relevância para o sujeito. As cenas iniciais de 2001 apresentam em detalhes o cenário em que o ato criativo virá à luz e a situação de impotência do primata. Numa rede de influências recíprocas tem-se, no exterior, uma área de aplicação. E no interior do homem, uma pulsão orientada, delimitada e intensificada pelo campo, assim tornado foco, como necessidade desesperada de sobrevivência, fazendo explodir a criação.

 

No filme, o criativo emerge associado a dois símbolos: o monolito e a conjunção entre Sol e Lua. O que querem dizer aí? O monolito é um objeto estranho e inexplicável no contexto em que aparece. Sua forma perfeitamente retilínea indica que a pedra foi intencionalmente recortada e polida. Naquele estágio de desenvolvimento humano, só por isso já é um objeto misterioso. A intensa atração que ele exerce sobre os primatas e a sua presença dominante no ato da criação são outras facetas de seu mistério.

 

O monolito pode ser visto como símbolo do próprio impulso criativo. O impulso e a sua origem são misteriosos como o monolito. Está além da atual compreensão humana o conhecimento da origem e natureza da criatividade. Jung denomina-a instinto. Como tal, está além da consciência e além da psique. Brota do, pertence ao e mistura-se com o mistério da vida. Para os religiosos, a criatividade brota de e está implicada com a divindade. No filme, a música Luz eterna, que acompanha o aparecimento do monolito, parece ser uma indicação nesse sentido.

 

“O instinto criativo (…). Não é um dom ou uma graça especial, um talento ou uma artimanha. É antes uma imensa energia originada além da psique humana e que impulsiona a autodedicação via um ou outro meio específico (…). Por isso, nossa relação com a criatividade favorece a atitude religiosa e nosso modo de descrevê-la muitas vezes se serve desta linguagem” (James Hillman, O mito da análise: três ensaios sobre de psicologia arquetípica, Riode Janeiro, Paz e Terra, p.41).

 

A Lua e o Sol, aparecendo juntos sobre o monolito, simbolizam a conjugação dos opostos. No irromper do criativo há uma conjugação de inconsciente e consciente. Uma agitação toma conta do primata e ao gesto inconsciente da mão, que a anuncia, soma-se o aparecimento da idéia, que brota na consciência como imagem. Uma imagem significativa dos antecedentes, da situação atual e da potencial transformação global e não como pensamento analítico. No caso, a intuição é o canal do impulso criativo para o consciente e não o pensamento. O veículo é a imagem.

 

As referências dos grandes criadores sobre o nascimento da idéia criativa parecem reforçar a preferência do impulso pelo canal da intuição. “De repente, surgiu uma luz… Quando não estava pensando mais no assunto, a idéia toda veio de súbito.” Raramente existe uma explicação clara de como a compreensão (mais que a idéia) surgiu. Raramente, ela surge a partir de uma dedução lógica. Tem uma característica de compreensão global e súbita. Surge nos momentos em que o indivíduo nem sequer está pensando no assunto. Aparece no banho, no sonho, ao acordar… Seja por meio de uma imagem significativa, de uma iluminação instantânea ou de um sonho, o impulso criativo emerge à consciência e é acompanhado de uma emoção especial.

 

O filme também retrata todo o processo de acúmulo gradativo da tensão criativa na relação entre o criador e o campo. Mostra a intensa emoção do primata durante a passagem do impulso pela barreira que separa o inconsciente do consciente. Explicita, finalmente, as emoções que sucedem a passagem: euforia e liberação. Aspectos da função consciente sentimento parecem estar presentes na intensificação do campo, na irrupção do impulso e após sua liberação. A conjugação Sol (pensamento e percepção) e Lua (sentimento e intuição) é necessária para a irrupção do criativo.

 


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Aprendizagem criativa: a amplificação 2 de janeiro de 2009

Em posts anteriores iniciamos a discusão de uma abordagem educativa inovadora que denominamos Aprendizagem Criativa. Dessa abordagem, já discutimos de forma geral a Metodologia e, dela, sua primeira fase: a Focalização . Similarmente ao método Junguiano, a segunda fase da Aprendizagem Criativa consiste em uma amplificação dos símbolos que foram utilizados ou emergiram dessa primeira fase anterior.

 

Durante a segunda fase, a amplificação objetiva pode ser, circunstancialmente, utilizada. Na amplificação objetiva, a análise é efetuada pela busca das inter-relações do símbolo em questão com a tradição simbólica da humanidade.  A partir daí, em nosso caso, busca-se identificar o significado do símbolo naquele determinado processo de desenvolvimento individual, grupal ou organizacional.

 

A amplificação subjetiva tem a desvantagem de exigir um amplo conhecimento da tradição simbólica da humanidade e da interpretação de símbolos. Um dicionário de símbolos minimiza a dificuldade, mas não a elimina.

 

A ampliação subjetiva é mais facilmente manejável pelo mentor, coach, educador, aprendiz ou grupo. A amplificação subjetiva consiste em procurar um sentido e um significado do símbolo válido para aquele indivíduo ou para aquele grupo particular. Não é uma ampliação do significado suportado pela tradição simbólica, mas pelo sentido que o sujeito da interpretação atribui ou relaciona, subjetivamente, ao símbolo.

 

A amplificação subjetiva é feita a partir de um conjunto de atividades, em geral derivadas das artes, em torno da expressão simbólica original. Em princípio, toda a forma artística pode ser utilizada para a ampliação subjetiva.

 

Nas amostras de trabalho deste site, especialmente nas sessões de aprendizagem do Programa de Desenvolvimento de Chefias e Supervisores, esse uso pode ser constatado. Pintar, compor e tocar músicas, cantar, dançar, esculpir, elaborar poemas ou colagens e, encerrando por excesso e não por esgotamento, efetuar uma representação teatral do símbolo, são formas que facilitam a ampliação subjetiva.

 

A experiência tem mostrado que o teatro ou uma utilização específica do psicodrama  é mais produtiva nessa fase. A amostra de sessão de aprendizagem Estação de Trabalho de Organização e Adminisração, do Programa de Educação para o Trabalho, é exemplar nesse uso.  

 

O teatro tem a dupla possibilidade de articular as diferentes artes e de poder ser operado de forma pobre (Grotowiski, Jerzy, Em Busca de um Teatro Pobre, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1992), exigindo apenas atores e espectadores, o que facilita a economia de recursos.

 

Também existe uma propensão generalizada à representação teatral, talvez devido à vivência de múltiplos episódios de desempenho de papel (Katz & Khan -1987) no cotidiano da vida e do trabalho.Essa propensão facilita a utilização de “dramaturgias simultâneas” (Boal) na ampliação subjetiva dos símbolos.

 

A utilização de algumas técnicas oriundas do psicodrama são facilitadas pelos mesmos motivos, adicionados ao fato de que a etapa anterior (focalização) já pode ter produzido o efeito de aquecimento para a representação. De qualquer modo, a seqüência psicodramática de condução de uma sessão (aquecer, representar, compartilhar…(Moreno, J.L., Psicodrama, Editora Cultrix, São Paulo, 1975) pode ser utilizada na ampliação subjetiva, com a ajuda do teatro ou do psicodrama. Técnicas oriundas das duas vertentes como o sociodrama, a dramatização, a improvisação teatral (Spolin) e a sociometria temática também podem ser úteis nessa fase.

 

O importante é que a técnica, o meio utilizado permita explorar e ramificar a multiplicidade de significados suscitados pelo símbolo gerado ou apresentado na fase de focalização e simbolização. Permita gerar um universo simbólico referente ao tema em estudo. O momento é similar à fase de de geração de idéias na técnica do brainstorming, mas muito mais rico e profundo por possibilitar a emersão de conteúdos inconscientes. No brainstorming são geradas idéias muits vezes triviais, banais  e pouco criaitivas. Aqui são geradas ressonâncias simbólicas. É a fase propriamente criativa da Aprendizagem Criativa.

 

O texto anterior parte de um já publicado em Küller, José Antonio. Ritos de Passagem -Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996.

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Aprendizagem criativa 18 de novembro de 2008

 

 

Nas múltiplas amostras de trabalho veiculadas no blog Germinal – Educação e Trabalho e, especialmente, nos posts relacionados com o Programa de Desenvolvimento de Chefias e Supervisores: (4) Supervisores – Administração de Conflitos e Negociação; (3)Supervisão e Criatividade de Grupo; (2) O uso metodológico da arte na educação profissional e corporativa e (1) Desenvolvimento de Supervisores: o uso pedagógico da arte; temos procurado delinear os contornos de uma proposta educativa, que acreditamos original. Na falta de uma denominação melhor, vamos chamá-la de Aprendizagem Criativa.

 

A Aprendizagem Criativa, na forma como é posta em prática nos exemplos citados, aproveita-se da abordagem da Escola Nova, do Construtivismo e da chamada Pedagogia das Competências. Da Escola Nova, valoriza-se a atividade e o interesse do aprendiz e não a do professor ou instrutor. Do Construtivismo assume-se que o saber acumulado pela humanidade tem que ser reapropriado  e resignificado por cada um e que todo conhecimento é uma construção pessoal e única. Da Pedagogia das Competências assume-se que competência só é desenvolvida  ao se enfrentar os problemas e os desafios que a requeiram.

 

Essas referências, laços históricos com as abordagens contemporâneas, não esgotam as da Aprendizagem Criativa. É preciso adicionar o tempero  e a liga da criatividade. Ora, é sabido que a criatividade é um traço humano fundamental. No entanto, a educação que sempre praticamos carece de criatividade. Se a repetição, o apego à permanência, não fosse uma outra característica humana fundamental, poderíamos dizer que nossa educação escolar padece de falta de humanidade. Entendendo, no humano, uma dialética entre permanência e transformação, só podemos afirmar que a nossa educação tem sido unilateral.

 

Quiçá por necessidade, comodidade, amarras estruturais ou imposição histórica de modos de produção, a escola sempre esteve do lado da permanência. Como conseqüência,  a criatividade é uma flor rara e estranha nos espaços educativos formais. Na minha formação como educador e na minha prática educativa inicial, nunca a criatividade foi considerada como foco ou como centro de uma proposta educativa.

 

A transmissão do conhecimento; a mudança de comportamentos;  a pedagogia crítica dos conteúdos; as teorias crítico-reprodutivistas; a apropriação do conhecimento humano acumulado; o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes, a operacionalização dos objetivos educacionais; mais avançadamente: a conscientização, a formação política, a educação  para a cidadania e a liberdade estavam alternativamente no centro das preocupações e das discussões, fossem elas contra ou a favor. Nunca se falava em criatividade. Eu mesmo nunca tinha criado nada.

 

Para fazer um  intervalo na leitura, o vídeo postado a seguir também fala disso de uma maneira leve e divertida.

 

 

Um dia, para a construção do Programa de Desenvolvimento de Chefias e Supervisores, comecei estudando o perfil do supervisor que era necessário para o momento e para o futuro. Para enfrentar uma crise estrutural e a transformação social e organizacional respondentes, ficou claro que a critividade  seria cada vez mais necessária. Ser criativo é fundamental  para participar, sendo sujeito, das mudanças cada vez mais rápidas e abrangentes da sociedade e das organizações de trabalho.

O Lingüista, por Fernando Gerheim

 

Para atender ao diagnóstico, precisava criar um programa de treinamento e desenvolvimento que tivesse a critividade como centro. Fui à busca de referências. Até que um dia deparei-me com um texto que classificava a Psicanálise Junguiana como uma psicologia da criatividade. Ora, uma psicologia da criatividade, como a de Jung, poderia auxiliar na busca de um método e no desenho de um programa centrado na critividade.

 

De fato, o método Junguiano, embora esteja voltado para a psicoterapia e para a criatividade individual (entendida como a criação de si mesmo), forneceu muitas pistas.

 

Carl Gustav Jung entendia a doença mental como resultante de uma obstrução do desenvolvimento em direção a uma atualização de si mesmo. Entendia também haver um relação compensatória entre consciente e inconsciente. Obstruído o desenvolvimento consciente, o inconsciente começa a criar problemas na operação cotidiana da vida e enviar mensagens ao consciente sobre sua situação de estagnação e sobre as formas de superação (criatividade psicológica).

 

Uma via régia para o envio de tais mensagens é o sonho. O veículo de transmissão é o símbolo. O símbolo é um conhecimento consciente em gestação. Diferentemente do conceito que é tão mais operacional quanto mais preciso, o símbolo foca um sentido e abre uma multiplicidade de significados. É necessário desvendá-lo.

 

A partir do sonho, veiculador de símbolos, Jung estimula a análise através de duas formas metodológicas alternativas ou complementares: a amplificação objetiva e a amplificação subjetiva.

 

Na amplificação objetiva, a análise é efetuada pela busca das inter-relações do símbolo em questão com a tradição simbólica da humanidade. Este específico motivo simbólico já surgiu na história da humanidade? Que interpretações foram construídas em seu redor? A partir daí, busca-se identificar o sentido do sonho e o significado do símbolo naquele determinado processo de desenvolvimento individual.

 

Robert Rauschenberg, Charlene, 1954
Robert Rauschenberg, Charlene, 1954

 

A segunda forma procura efetuar uma amplificação subjetiva do significado do símbolo. O paciente dança, pinta, elabora poemas, interpreta teatralmente, esculpe em torno do motivo simbólico, de forma a ramificar os seus significados. Ao esforço de compreensão o inconsciente responde com outros motivos simbólicos. Estabele-se um diálogo consciente/inconsciente orientado para a resolução do conflito que suscitou o estancamento do crescimento.

 

Em um processo não linear, mas em circulação, o significado do símbolo, como em um romance policial, é descoberto. A disposição psicológica muda. O crescimento, gradativamente desimpedido, retorna. A crise vai sendo superada. Uma nova realidade psicológica emerge.

 

Em próximo post, mostraremos como, a partir da psicologia da criatividade de Jung, construímos uma metodologia e desenhamos o Programa.

 

O texto anterior parte de um já publicado em Küller, José Antonio. Ritos de Passagem -Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996.

 

O uso metodológico da Arte na educação profissional e corporativa 30 de outubro de 2008

 

 

Em um conjunto de posts relacionados, estamos apresentando a metodologia utilizada em  um amplo e modular Programa de Formação e Desenvolvimento de Supervisores de Primeira Linha, desenvolvido e inicialmente implementado em parceria da Germinal com o SENAC de São Paulo.

 

O programa foi desenhado a partir de um estudo em profundidade sobre as necessidades estratégicas de desenvolvimento profissional do supervisor de primeira linha, desenvolvido para a ABTD.

 

Foi implementado em empresas como: Villares, Belgo-Mineira, Cosmoquímica, Macsol, Caio, Metalúrgica Nova Americana, … Com alterações também foi implementado na COPENE, hoje Brasken.

 

É um Programa exemplar da perspectiva da Germinal de aproximar os universos da arte e do trabalho, como forma de facilitar a aprendizagem significativa e a construção criativa do conhecimento. O Programa é composto por sete módulos, com duração de 30 horas cada um. Para o desenho metodológico, cada módulo do Programa tem uma arte como referência, como mostra o quadro a seguir.

 

 
Programa de Desenvolvimento de Supervisores
 
Módulo
Arte de Referência
1. Supervisão e Trabalho Participativo
Teatro
2. Desenvolvimento do Papel de Supervisão e Chefia
Dramaturgia
3. Supervisão e Relações de Trabalho
Artes Plásticas
4. Administração de Conflitos e Negociação
Jogo Dramático
5. Desenvolvimento de Recursos Humanos
Literatura
6. Supervisão e criatividade de grupo
Música
7. Elaboração de Planos de Autodesenvolvimento
Poesia

 

 

Todas as formas de arte, citadas na coluna “Arte de Referência” são utilizadas simultaneamente em todos os módulos no Programa. Em cada módulo, no entanto, uma específica forma artística é usada como modelo ou como eixo do desenvolvimento metodológico. Além do conteúdo apresentado na primeira coluna, é isso que distingue um módulo do outro: a forma artística que articula a utilização das demais artes. A utilização intensiva da arte para efeitos didáticos é uma das inovações do Programa.

Pablo Picasso, Espanha (1881-1973), L'Atelier 1955

 

No Módulo III, Supervisão e Relações de Trabalho,  Artes Plásticas  é a forma artística que exerce um papel articulador. 

 

Em comum com os demais módulos do “Programa de Formação e Desenvolvimento de Supervisores”, a metodologia deste curso é fundada em um conjunto de princípios e articulada com uma leitura específica da evolução das organizações de trabalho.

 

 

I. Princípios:

 

1. Nutrição

O método deve proporcionar ao educando o domínio de novos conhecimentos. Emtodo caso e, especialmente, no caso de educação de adultos, o conhecimento novo deve articular-se com o saber já adquirido  e resignificá-lo.

 

2. Procriação

O método deve proporcionar uma relação pedagógica caracterizada pelo intercâmbio e pela troca, ao nível do pensar e ao nível afetivo pelo encontro direto, pessoal e amoroso entre educando-educando e educando-educador.

 

3. Atividade

O método deve promover a ação livre e espontânea do educando sobre o material em estudo. Uma relação lúdica com o conteúdo (visto como “opus”).

 

4. Reflexão

O método deve proporcionar uma gradativa passagem da ação espontânea para a ação consciente. Passagem intermediada pela Reflexão, entendida como uma interrupção da ação espontânea, num voltar-se para dentro onde a energia do impulso originário é transformada em atividade endo-psíquica, antes de manifestar-se enquanto ato humano (Jung). A partir da reflexão, a ação ganha em liberdade e variabilidade.

 

Vejamos um exemplo. Defronto-me com um campo. O impulso originário é correr pela relva. Detenho-me. Imagino-me correndo (atividade endo-psíquica). Se o impulso é suficientemente forte, ele se manifesta como ato, porém transformado. Posso realizá-lo como expressão verbal (É gostoso correr pela relva, digo.); como pensamento abstrato (como são livres as crianças…); como representação dramática (corro tal criança); como comportamento ético (corro, porque sou livre); como feito científico (estabeleço diferenças entre o comportamento infantil e adulto) ou como obra de arte (desenho, componho músicas, faço poesias, etc. sobre o tema).

 

5. Criatividade

É importante que o método propicie condições de geração de conhecimento, na medida em que o homem é um ser que cria (ver módulo Supervisão e Criatividade de Grupos).

 

 Os princípios derivam dos impulsos humanos fundamentais identificados por Jung. Para um   aprofundamento ver: Determinantes Psicológicos do Comportamento Humano, in: Jung, C.G. A Natureza da Psique. Petrópolis, Vozes, 1984.   

 

 

II. Evolução das Organizações do Trabalho

 

Para um certo olhar, a história da organização do trabalho é também a história da desqualificação do trabalho. De fato, a partir da destruição do Artesanato, a ação produtiva individual vem sendo gradativamente despojada de amplitude, complexidade, pensamento e criatividade (Braverman).

 

Tal desqualificação ganha em sistematização com a introdução do Taylorismo. Do Taylorismo dois processos nos interessam de perto: (1) a separação, no trabalho, entre pensamento e execução e (2) a fragmentação e simplificação das funções de execução (ver crítica de Charlie Chaplin, em Tempos Modernos).

 

A evolução da função de supervisão de grupos de trabalho é um capítulo particular dessa história. Nele, assiste-se à transformação do mestre-artesão, cuja perspectiva era o domínio cada vez mais aprofundado de seu campo de trabalho e a formação de novos mestres, no supervisor clássico, despojado de saber próprio, responsável pela transmissão de conhecimentos advindos do corpo técnico-gerencial e pelo controle da força de execução. No taylorismo, o supervisor é participante e vítima do movimento de desqualificação.

 

As organizações de trabalho ainda vivem, hoje, entretanto, a crise do taylorismo. Crise que foi provocada pela redução da produtividade dos modelos tayloristas e limitação de sua eficácia no controle da força de trabalho. Na base inicial da crise: os movimentos coletivos do trabalho (tentando recuperar o controle do trabalho sobre o trabalho) e a reação individual (impontualidade, absenteísmo, rotatividade, sabotagem, fadiga, esquiva, doença; formas de denúncia de um trabalho desmotivador).

 

Esses movimentos indidviduais e coletivos corroem a adesão do trabalhador à organização. Ora, como nenhuma organização pode prescindir da adesão do trabalhador, alternativas de organização do trabalho são sempre tentadas e propostas. O fundo comum dessas tentativas e propostas é a recuperação do pensar no trabalho e ampliação da complexidade de cada posto (reversão do Taylorismo).

 

A função do supervisor flutua em função dos recuos e avanços da organização do trabalho. Ao mesmo tempo, passa a ser figura importante na busca de soluções organizacionais alternativas, dada a sua posição estrutural.

 

 

 Um novo papel

Tendo em vista que propostas efetivamente inovadoras têm que contar, necessariamente, com a participação da força de trabalho, o supervisor é chamado a um novo papel – o de articulador e coordenador de seu grupo de trabalho na formulação de alternativas organizacionais. Para tanto, na sua formação, necessita:

 

1) Adquirir conhecimentos mais amplos sobre evolução e tendências da organização do trabalho (Nutrição).

 

2) Estabelecer relações de solidariedade com seu grupo de trabalho (Procriação).

 

3) Recuperar espaço para o exercício de sua própria iniciativa (Atividade).

 

4) Recuperar a capacidade de pensar o próprio trabalho e promover o pensamento de seu grupo de colaboradores (Reflexão).

 

5) Criar alternativas de coordenação e desenvolvimento de seu grupo de trabalho (Criatividade).

 

Os princípios metodológicos e a leitura sobre a evolução das organizações de trabalho desta forma se articulam.

 

 Uma ampliação dessa visão da evolução das organizações de trabalho pode ser encontrada em:  Küller, J.A. – Ritos de Passsagem: Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996. 

 

 

III. Procedimentos Metodológicos

 

Tendo em vista os princípios metodológicos definidos, utilizar-se, no desenvolvimento do módulo, a seguinte estratégia:

Catfish Mondrian, por Roger Smith, Flickr

Catfish Mondrian, por Roger Smith, Flickr

 

a) Apresentação do conhecimento supostamente novo (Nutrição) através de um estímulo aberto (Símbolo). A apresentação do conteúdo de forma simbólica será efetuada através da música, da poesia, literatura, pintura, escultura e cinema.

 

b) Exploração do conteúdo e intercâmbio de conhecimentos entre os participantes através de ação espontânea (pelo não domínio do código). Para tanto, serão utilizadas técnicas decalcadas das Artes Plásticas.

 

c) Análise do material produzido (Reflexão), via debates em painel e em pequenos grupos, seguida de síntese do docente.

 

d) Elaboração de propostas de ação alternativas (Criatividade), ainda utilizando o suporte das Artes Plásticas.

 

A integração e amorização (Lauro de Oliveira Lima) dos participantes serão efetuadas e mantidas através de procedimentos especificamente (ou não) destinados a esse fim, durante todo o transcorrer do módulo.

 

 
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