Germinal – Educação e Trabalho

Soluções criativas em Educação, Educação Profissional e Gestão do Conhecimento

PRECE 13 de agosto de 2012

Reproduzimos hoje um posta já publicado no Blog Aprender com Poesia. O texto trata do uso do poema Prece, de Fernando Pessoa, em situações de aprendizagem criativa.

O poema Prece foi musicado por André Luiz Oliveira, juntamente com alguns dos outros poemas do livro Mensagem, de Fernando Pessoa, incluindo Padrão, já publicado neste blog.

Em situações ou dinâmicas de aprendizagem na empresa ou na escola, pode-se  optar por usar a música na interpretação de Gilberto Gil, disponível no CD Mensagem.

O poema Prece fala da possibilidade humana de renascimento, sempre presente, ainda que a situação esteja distante dos tempos áureos. Aponta a chama da vida como a condição única para novas viagens, novos projetos, novas distâncias a percorrer.

Uma leitura ou a audição da música com o acompanhamento do texto do poema é bastante pertinente nas situações de aprendizagem em que é necessário um estímulo para a mudança. Quando a descrença, ou desesperança, ameaça comprometer o desenvolvimento de uma proposta de trabalho, o poema Prece dá o toque certo e aponta o caminho para a conquista da distância possível: a que seja nossa!

O poema tem sido inserido em  dinâmicas de aprendizagem criadas pela Germinal Consultoria, para uso em empresas, escolas e órgãos públicos.

    PRECE                                       

  Fernando Pessoa

Senhor, a noite veio e a alma é vil.

Tanta foi a tormenta e a vontade!

Restam-nos hoje, no silêncio hostil,

O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,

Se ainda há vida ainda não é finda.

O frio morto em cinzas a ocultou:

A mão do vento pode ergue-la ainda.

Dá o sopro, a aragem, – ou desgraça ou ânsia –

Com que a chama do esforço se remoça,

E outra vez conquistemos a Distância –

Do mar ou outra, mas que seja nossa!

Ouça o poema musicado e interpretado por André Luiz Oliveira.

Se preferir ouvir Prece na voz de Gilberto Gil, clique no link abaixo:

http://leaoramos.blogspot.com/2007/01/fernando-pessoa-gilberto-gil-em-prece.html

 

Vamos salvar o Domínio Público? 29 de agosto de 2011

Todos sabemos que a Internet democratiza a publicação e a circulação do discurso e da opinião. Todos também percebemos a imensa riqueza da Internet  na democratização e ampliação do acesso à informação. É também inegável a sua importância na comunicação entre as pessoas e sua potencialidade na geração e organização de movimentos populares na defesa de interesses que, de outra forma, não teriam como se manifestar.

Entretanto, é preciso certo cuidado com o que é veiculado na Internet. A facilidade de publicação, exige uma atitude mais crítica quanto às fontes e ao conteúdo da informação. Isso é mais relevante no caso de engajamento em causas e movimentos que circulam pela Internet.

Cito como exemplo o caso de uma campanha recorrente em defesa do portal Domínio Público. Segundo certa corrente veiculada na Internet ele estaria para ser fechado por falta de acessos. Por isso, precisaria do apoio dos internautas. Na verdade, o perigo de encerramento do site nunca existiu. O site é mantido pelo MEC e não precisa do apoio que é solicitado na corrente para permanecer no ar.

Entretanto a colaboração dos Internautas é bem vinda. O próprio site tem um espaço onde é dito: “Você pode colaborar com o Portal Domínio Público como:

Voluntário (digitalizando obras que já se encontram em domínio público);
Autor (cedendo obras de sua autoria, se você é escritor, músico, fotógrafo, ilustrador, cineasta etc); ou
Parceiro (cedendo os direitos autoriais de obras que a sua organização – pessoa jurídica – detenha).
Tradutor (traduzindo obras que já se encontram em domínio público );

Há muito tempo frequento o site. Devo reconhecer que a falsa campanha tem uma certa utilidade, pelo menos para mim. Sempre que recebo a já antiga e repetitiva mensagem, volto a acessar o Domínio Público. Na última vez, detive-me na obra de Machado de Assis, que está integralmente publicada no site. Da extensa obra, escolhi rever as Crônicas e delas as publicadas entre 1892 e 1984. Dessa coletânea retirei a pérola que republico a seguir.

SALTEADORES DA TESSÁLIA

(Machado de Assis, 1893, novembro)

Tudo isto cansa, tudo isto exaure. Este sol é o mesmo sol, debaixo do qual, segundo uma palavra antiga, nada existe que seja novo. A lua não é outra lua. O céu azul ou embruscado, as estrelas e as nuvens, o galo da madrugada, é tudo a mesma coisa. Lá vai um para a banca da advocacia, outro para o gabinete médico, este vende, aquele compra, aquele outro empresta, enquanto a chuva cai ou não cai, e o vento sopre ou não; mas sempre o mesmo vento e a mesma chuva. Tudo isto cansa, tudo isto exaure.

Tal era a reflexão que eu fazia comigo, quando me trouxeram os jornais. Que me diriam eles que não fosse velho? A guerra é velha, quase tão velha como a paz. Os próprios diários são decrépitos. A primeira crônica do mundo é justamente a que conta a primeira semana dele, dia por dia até o sétimo em que o Senhor descansou. O cronista bíblico omite a causa do descanso divino; podemos supor que não foi outra senão o sentimento da caducidade da obra.

Repito, que me trariam os diários? As mesmas notícias locais e estrangeiras, os furtos do Rio e de Londres, as damas da Bahia e de Constantinopla, um incêndio em Olinda, uma tempestade em Chicago, as cebolas do Egito, os juízes de Berlim, a paz de Varsóvia, os Mistérios de Paris, a Lua de Londres, o Carnaval de Veneza… Abri-os sem curiosidade, li-os sem interesse, deixando que os olhos caíssem pelas colunas abaixo, ao peso do próprio fastio. Mas os diabos estacaram de repente, leram, releram e mal puderam crer no que liam. Julgai por vós mesmos.

Antes de ir adiante, é preciso saber a idéia que faço de um legislador, e a que faço de um salteador. Provavelmente, é a vossa. O legislador é o homem deputado pelo povo para votar os seus impostos e leis. É um cidadão ordeiro, ora implacável e violento, ora tolerante e brando, membro de uma câmara que redige, discute e vota as regras do governo, os deveres do cidadão, as penas do crime. O salteador é o contrário. O ofício deste é justamente infringir as leis que o outro decreta.

Inimigo delas, contrário à sociedade e à humanidade, tem por gosto, prática e religião tirar a bolsa aos homens, e, se for preciso, a vida. Foge naturalmente aos tribunais, e, por antecipação, aos agentes de polícia. A sua arma é uma espingarda; para que lhe serviriam penas, a não serem de ouro? Uma espingarda, um punhal, olho vivo, pé leve, e mato, eis tudo o que ele pede ao céu. O mais écom ele.

Dadas estas noções elementares, imaginai com que alvoroço li esta notícia de uma de nossas folhas: “Na Grécia foi preso o deputado Talis, e expediu-se ordem de prisão contra outros deputados, por fazerem parte de uma quadrilha de salteadores, que infesta a província de Tessália”. Dou-vos dez minutos de incredulidade para o caso de não haverdes lido a notícia; e, se vos acomodais da monotonia da vida, podeis clamar contra semelhante acumulação. Chamai bárbara  à moderna Grécia, chamai-lhe opereta, pouco importa. Eu chamo-lhe sublime.

Sim, essa mistura de discurso e carabina, esse apoiar o ministério com um voto de confiança às duas horas da tarde, e ir espreitá-lo às cinco, à beira da estrada, para tirar-lhe os restos do subsídio, não é comum, nem rara, é única. As instituições parlamentares não apresentam em parte nenhuma esta variante. Ao contrário, quaisquer que sejam as modificações de clima, de raça ou de costumes, o regímen das câmaras difere pouco, e, ainda que difira muito, não irá ao ponto de pôr na mesma curul Catão e Caco. Há alguma coisa nova debaixo do sol.

Durante meia hora fiquei como fora de mim. A situação é, na verdade, aristofanesca. Só a mão do grande cômico podia inventar e cumprir tão extraordinária facécia. A folha que dá a notícia não conta nada da provável confusão de linguagem que há de haver nos dois ofícios. Quando algum daqueles deputados tivesse de falar na Câmara, em vez de pedir a palavra, podia muito bem pedir a bolsa ou a vida. Vice-versa, agredindo um viajante, pedir-lhe-ia dois minutos de atenção. E nada ficaria, em absoluto, fora do seu lugar; com doisminutos de atenção se tira o relógio a um homem, e mais de um na Câmara preferiria entregar a bolsa a ouvir um discurso.

Mas, por todos os deuses do Olimpo! não há gosto perfeito na terra. No melhor da alegria, acudiu-me à lembrança o livro de Edmond About, onde me pareceu que havia alguma coisa semelhante à notícia. Corri a ele; achei a cena dos maniotas, que ameaçavam brandamente um dos amigos do autor, se lhes não desse uma pequena quantia. O chefe do grupo era empregado subalterno da administração local. About chega, ameaça por sua vez os homens, e, para assustá-los, cita onome de um deputado para quem levava carta de recomendação. “Fulano! exclamou o chefe da quadrilha, rindo; conheço muito, é dos nossos.”

Assim, pois, nem isto é novo! Já existia há quarenta anos! A novidade está no mandado de prisão, se é a primeira vez que ele se expede, ou se até agora os homens faziam um dos dois ofícios discretamente. Fiquei triste. Eis aí, tornamos à velha divisão de classes, que a terra de Homero podia destruir pela forma audaz de Talis. Aí volta a monotonia das funções separadas, isto é, uma restrição à liberdade das profissões. A própria poesia perde com isto; ninguém ignora que o salteador, na arte, é um caráter generoso e nobre. Talis, se é assim que se lhe escreve o nome, pode ser que tivesse ganho um par de sapatos a tiro de espingarda; mas estou certo que proporia na Câmara uma pensão à viúva da vítima. São duas operações diversas, e a diversidade é o próprio espírito grego. Adeus, minha ilusão de um instante! Tudo continua a ser velho; nihil sub sole novum.

 

Eu pediria o perdão de Talis, se pudesse ser ouvido. Condenem os demais, se querem, mas deixem um, Talis ou outro qualquer, um funcionário duplo, que tire ao parlamento grego o aspecto de uma instituição aborrecida. Que a Hélade deite os ministérios abaixo, se lhe apraz, mas não atire às águas do Eurotas um elemento de aventura e de poesia. Acabou com o turco, acabe com este modernismo, que é outro turco, diferente do primeiro em não ser silencioso. Não esqueça que Byron, um dos seus grandes amigos, deixou o parlamento britânico para fugir à discussão da resposta à fala do trono. E repare que não há, entre os seus poemas, nenhum que se chame O presidente do conselho, mas há um que se chama O Corsário.

 

50.000 Acessos! 10 de março de 2009

Foto: Smithsonian - National Museum of Natural History

Foto: Smithsonian - National Museum of Natural History

 

 

O ESFORÇO é grande e o homem é pequeno.

Eu, Diogo Cão, navegador, deixei

Este padrão ao pé do areal moreno

E para deante naveguei.

 

A alma é divina e a obra é imperfeita.

Este padrão signala ao vento e aos céus

Que, da obra ousada, é minha a parte feita:

O por-fazer é só com Deus.

 

E ao imenso e possível oceano

Ensinam estas Quinas, que aqui vês,

Que o mar com fim será grego ou romano:

O mar sem fim é portuguez.

 

E a cruz ao alto diz que o que me há na alma

E faz a febre em mim de navegar

Só encontrará de Deus na eterna calma

O porto sempre por achar.

 

Fernando Pessoa, Padrão. In: Mensagem – Fernando Pessoa: Obra Poética. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1986, p 79.

 

 

 

Estamos comemorando 50.000 acessos em Germinal – Educação e Trabalho. O número foi obtido entre o dia 23/07/2008 e 10/03/2008. Um pouco menos de oito meses.  Como diz o poema, o esforço foi grande, por isso estamos contentes. Agradecemos a todos os que nos tem visitado.

 

 

Além dos 50.000 acessos, acompanhando o dedo da ilustração que aponta para o alto, temos um outro número a comemorar. Em fevereiro, superamos pela primeira vez a marca de 10.000 acessos em um único mês. Em março, provavelmente, essa marca será superada. Com isso, temos a expectativa de completar 100.000 acessos antes do primeiro aniversário do blog.

 

Sabemos que esse número de acessos é pequeno quando comparado aos blogs que são “campeões de audiência”. É pequeno mesmo quando comparado ao número de acessos dos blogs educativos mais populares. Apesar disso, o número tem para nós um significado especial. É um marco, um padrão que motiva a continuidade do trabalho e estimula a busca de aperfeiçoamento contínuo. O porto sempre por achar…

 

 
%d blogueiros gostam disto: