Não gosto dos chamados vídeos didáticos. Em geral, são tentativas de substituir a aula magistral com o uso da tecnologia. São exemplos de uma modernização conservadora.
Existem raras exceções. Lembro-me especialmente de um vídeo produzido no Japão que se chama (em português) “A última ceia em Nova Iorque”. Não o encontrei no Youtube.
Nesse vídeo, uma professora de arte leva uma réplica da pintura “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci, pelas ruas e escolas da cidade de Nova Iorque. Para explorar o quadro ela parte de um problema: Na pintura, quem é Judas? O vídeo mostra as reações da população em geral e a de um grupo de estudantes à pintura e ao problema colocado. O problema proposto induz a uma exploração da pintura e a uma construção do conhecimento sobre ela que nenhuma aula tradicional produziria.
Gosto também muito do vídeo que posto a seguir. Ele se chama “Aprender a Aprender”. Ele não é muito diferente dos usuais vídeos didáticos?
O título deste post estabelece uma relação que não sei se existe. Não sei se a arquitetura escolar influencia de alguma forma os resultados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
A possiblidade da existência de uma relação foi-me suscitada por um artigo da revista da Folha de São Paulo, do último domingo (19/04/2009). A matéria referia-se ao Colégio de Aplicação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Nela, encontramos a informação que o Colégio de Aplicação ficou em primeiro lugar entre as escolas públicas (excetuando-se as técnicas) do município de São Paulo, no último Enem, com média de 63,4 contra a média geral de 48,7.
Como estava procurando referências para mais uma participação na blogagem coletiva Arquitetura e Educação , proposta pelo blog Boteco Escola, chamou-me a atenção a foto que ilustra a matéria e que reproduzimos ao lado. A foto é da sala de aula da quinta série do Colégio de Aplicação da USP.
Observem que a sala de aula retratada é adequada para o desenvolvimento do que temos denominado Aprendizagem Criativa. As mesinhas individuais são móveis e seu formato permite a organização delas em pequenos grupos, em grande círculo ou em semicírculo. O tamanho da sala permite essas organizações das mesinhas. O espaço é amplo permitindo múltiplos usos, incluindo os necessários para operar estratégias que impliquem em ações coletivas, envolvendo todos os alunos da sala. O piso e as paredes podem ser utilizados para apoiar estratégias que impliquem em produção e exposição de trabalhos escritos, desenhados, moldados (esculturados) ou pintados pelos alunos.
Também é interessante notar, que embora sendo possível outras configurações, a sala de aula está organizada para o que Muchielli denominou de situação de informação-espetáculo ou em dispositivo em arcos concêntricos, que, como ele observou,”destrói toda a eficácia de uma discussão, no decorrer da qual o animador deseje suscitar interações”.
Independentemente do uso retratado na foto, dela e da reportagem surgiu-me a pergunta: existe alguma relação entre o espaço físico da sala de aula, incluindo os dispositivos arquitetônicos que ela comporta, e os resultados do Enem?
Vou iniciar uma pré-investigação nesse sentido. Quem puder colaborar, por ter indicações que afirmem ou rejeitem a existência da relação, será bem recebido no espaço para comentários.
Esta é uma amostra do trabalho desenvolvido para o Trilha Jovem. A primeira versão do Projeto Trilha Jovemderivou de uma proposta curricular desenvolvida, em 2001, pela Germinal Consultoria para o Instituto de Hospitalidade (IH),de Salvador, na Bahia. Essa primeira versão foi alterada pelo IH nas primeiras implementações. Depois, a versão original e a inicialmente implementada foram fundidas na versão atual. A Germinal também contribuiu nesse trabalho.
Por fim, a partir da crítica, sistematização, reformulação e ampliação dos planos de aula utilizados nas primeiras implementações, a Germinal criou as Referências para a Ação Docente, que são manuais que apresentam sugestão, passo a passo, de desenvolvimento de todas as unidades curriculares do Projeto. Para mais informações sobre o Trilha Jovem, clique aqui.
O texto a seguir é a referência para a ação docente no desenvolvimento de uma das Sessões de Aprendizagem do Plano de Vida e Carreira, projeto articulador do Eixo III – Construir um Plano de Vida e Careira – do Projeto Trilha Jovem. O excerto foi retirado das Referências para a Ação Docente, desenvolvidas pela Germinal e publicadas pelo Instituto de Hospitalidade. O texto não foi originalmente editado da forma como é apresentado aqui. Ele constitui apenas uma amostra do trabalho da Germinal na formatação de programas de educação básica para o trabalho.
Dois textos já publicados aqui no blog fundamentam a escolha do conteúdo e e a opção metodológica utilizada na aula apresentada e na unidade didática Projeto de Vida e Carreira. Para acessar o texto Reflexões em torno de uma Oficina de Apresentação Pessoal, clique aqui. Para acesso ao texto Como trabalhar metodologias na educação profissional, clique aqui.
No início da sessão, a sala está obscurecida. Em contraste com a penumbra, o retroprojetor ilumina o poema “Sonho de Herói”, de Murilo Araújo. Ouve-se um fundo musical suave e que induz à reflexão (O Adagietto da Sinfonia Nº 5 de Mahler, por exemplo. Existem muitas gravações. Pode ser usada a gravação existente em: KARAJAN, H.V. Karajan forever. Hamburgo, Deutsche Grammophon, 2003. CD.)
Observe que foi sugerida uma repetição de parte do cenário. Recomenda-se a mesma sala obscurecida. O obscurecimento da sala é acessório. Nesse início, o importante são os poemas, que introduzem, de forma simbólica, o tema do dia. Obscurecer a sala é um recurso para destacar o poema. Se não for possível o obscurecimento da sala ou se você quiser variar o recurso, outras possibilidades de destaque do poema podem ser usadas.
Como sempre, receba os jovens na porta do ambiente de aprendizagem (Assim você pode dar um exemplo de pontualidade, atitude fundamental no sucesso profissional dos jovens na área de turismo). Solicite que entrem e permaneçam em silêncio para um momento de reflexão e recapitulação do dia anterior. Retorne à iluminação normal. Proceda ao sorteio do relator e solicite a leitura do Log Book.
Abra espaço para a oitava apresentação individual de qualidade, acontecimento e música feita por um dos jovens.A partir desta aula, as apresentações podem ser estimuladas a partir da seguinte provocação: alguém tem uma música que pode ser apropriada para este momento? Continue a construção do Mural das Qualidades Humanas.
Em painel, anuncie a exibição da seqüência inicial do filme “Sociedade dos Poetas Mortos (”SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. Dirigido por Peter Weir. EUA, Buena Vista, 1989. 1 DVD. A primeira seqüência termina no fim da cena que acontece fora da sala de aula, no corredor da escola, onde o professor mostra as fotografias dos ex-alunos e exorta: “Carpe Diem!”).
Após a exibição, sem comentários, projete novamente o poema, agora com as luzes acessas. Peça que um voluntário leia o poema para a classe, em voz alta.
SONHO DE HERÓI
Com um galho de bambu verde
e dois ramos de palmeira
eu hei de fazer um dia o meu cavalo – com asas!
Subirei nele, com vento, lá bem alto,
de carreira,
por sobre o arvoredo e as casas.
Voarei, roçando o mato,
as copas em flor das árvores,
como se cruzasse o mar…
e até sobre o mar de fato
passarei nas nuvens pálidas
muito acima das montanhas, das cidades, das cachoeiras,
mais alto que a chuva, no ar!
E irei às estrelas,
ilhas dos rios de além,
ilhas de pedras divinas,
de ribeiras diamantinas
com palmas, conchas, coquinhos nas suas praias também…
praias de pérola e de ouro
onde nunca foi ninguém…
ARAÚJO, M. Poemas completos de Murilo Araújo. Rio de Janeiro: Pongetti. 1960, pág. 84.
Promova, a seguir, um breve debate sobre o filme, seguido da comparação entre filme, poema e atividades das sessões anteriores.
Missão
Em momento apropriado, solicite que os jovens, individualmente, definam uma possível missão de vida (o que fará a minha vida extraordinária / o que fará a minha vida bela / qual meu sonho de herói?) e a visão pessoal (que pretendo vir a ser como pessoa nos próximos anos. As definições devem ser curtas e claras e escritas em apenas duas tarjetas de cores diferentes.
Quando os jovens terminarem, em painel, solicite a apresentação, uma a uma, das missões e visões propostas. Promova uma breve discussão das missões e visões apresentadas. Faça indicações de melhoria da redação, se necessário. Possibilite um tempo aos que queiram fazer uma revisão da missão e da visão pessoal.
Proponha, inicialmente, a definição de regras estéticas para a vida. Cada jovem deve trabalhar a partir da seguinte questão: que regras de vida eu devo definir para atingir a minha visão e missão e, assim, tornar bela minha existência? As regras devem ser escritas de forma sucinta e clara e transcritas em tarjetas de cor diferente daquelas usadas para a visão e a missão. O conjunto das tarjetas de cada jovem pode inspirar mais uma página do livro “Minha Vida, Minha Carreira”.
Depois do trabalho individual de elaboração das regras, divida os jovens em quatro grupos. Atribua a tarefa aos grupos: criação e preparo de um videoclipe a partir de uma música determinada. Todos os grupos trabalharão sobre o mesmo tema: como fazer a vida bela ou como fazer da vida uma obra de arte.
O videoclipe poderá ter duração superior à da música e deve conter uma rápida verbalização de cada um dos integrantes do grupo. A verbalização deverá incluir a leitura das tarjetas que contenham as regras estéticas da existência (como tornar a vida bela) assumidas por aquele participante. Não se trata de simplesmente ler as tarjetas, mas sim, com esses elementos, embelezar a cena.
As músicas propostas são: Beleza Pura; Sonho Impossível; Tocando em Frente e Redescobrir. Você pode substituir as músicas por outras mais ao gosto da região ou dos jovens desde que, em suas letras, elas façam menção direta ou simbólica ao tema em pauta. Apresentam-se a seguir os vídeos e as letras das músicas sugeridas.
Grupo A: Beleza Pura
Não me amarra dinheiro não
mas formosura
Dinheiro não
a pele escura
Dinheiro não
a carne dura
Dinheiro não
Moça preta do Curuzu
Beleza pura
Federação
Beleza pura
Boca do Rio
Beleza pura
Dinheiro não
Quando essa preta começa a tratar do cabelo
É de se olhar
Toda a trama da trança a transa do cabelo
Conchas do mar
Ela manda buscar pra botar no cabelo
Toda minúcia
Toda delícia
Não me amarra dinheiro não
mas elegância
Não me amarra dinheiro não
mas a cultura
Dinheiro não
a pele escura
Dinheiro não
a carne dura
Dinheiro
não
Moço lindo do Badauê
Beleza Pura
Do Ilê aiyê
Beleza Pura
Dinheiro Yeah
Beleza Pura
Dinheiro não
Dentro daquele turbante dos filhos de Gandhi
É o que há
Tudo é chique demais, tudo é muito elegante
Manda botar
Fina palha da corte e que tudo se trance
todos os búzios
todos os ócios
Não me amarra dinheiro não.
Mas os mistérios.
VELOSO, C. Beleza Pura. In: Cinema transcendental: a outra banda da terra. Polygram, 1999, 1 CD.
Grupo B: Sonho Impossível
Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão
DARION, J. e LEIGH, M. Versão Chico Buarque e Ruy Guerra. Sonho Impossível. In: Sonho impossível. Maria Bethânia, EMI, 2003, 1 CD
Grupo C: Tocando Em Frente
Ando devagar
Porque já tive pressa
Levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco eu sei
Eu nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
Ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada
Eu vou
Estrada eu sou
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora um dia
A gente chega
E o outro vai embora
Cada um de nós
Compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz.
SATER, A., TEIXEIRA, R. Tocando em frente. In: Um Violeiro Toca. Som Livre, 2006, 1 CD.
Grupo D: REDESCOBRIR
Como se fora brincadeira de roda
Memória
Jogo do trabalho na dança das mãos
Macias
O suor dos corpos na canção da vida
História
O suor da vida no calor de irmãos
Magia
Como um animal que sabe da floresta
Memória
Redescobrir o sal que está na própria pele
Macia
Redescobrir o doce no lamber das línguas
Macias
Redescobrir o gosto e o sabor da festa
Magia
Vai o bicho homem fruto da semente
Memória
Renascer da própria força a própria luz e fé
Memória
Entender que tudo é nosso, sempre esteve em nós
História
Somos a semente, ato, mente e voz
Magia
Não tenha medo meu menino povo
Memória
Tudo principia na própria pessoa
Beleza
Vai como a criança que não teme o tempo
Mistério
Amor se fazer é tão prazer que é como fosse dor
Magia
GONZAGA JR, L. Redescobrir. In: Elis: saudades do Brasil, Warner, 2001, CD duplo.
Apresentação dos grupos
Em painel, coordene a apresentação dos videoclipes. A apresentação de cada videoclipe (incluindo a cena com as tarjetas) deverá ter, no mínimo, a duração da música e, no máximo, cinco (5) minutos.
Após a apresentação, organize a formação de um grande quadro com as regras estéticas para a vida, integrando as tarjetas de todos os jovens. As tarjetas são colocadas no chão e, sem falar ou usar mímica, a classe organiza as tarjetas por tema ou âmbito de aplicação das regras: trabalho, cuidados pessoais, relações familiares etc.
Promova uma discussão aberta sobre a vivência. Depois, oriente a numeração das tarjetas para facilitar recomposições posteriores do quadro. O quadro pode ser individualmente recriado e ser uma outra página do livro “Minha Vida, Minha Carreira”. Outra possibilidade é a recriação do quadro para o evento de inserção profissional previsto para o final do Trilha Jovem.
Faça a distribuição de um ovo por participante. Os jovens devem cuidar dos ovos como se fossem filhos, relatando a experiência no Log Book. Ao cuidar dos “filhos”, os jovens devem obedecer às seguintes regras:
·trazer seus “filhos” para as atividades do Trilha Jovem, todos os dias até a aula 6/7 de PVC;
·quando um “filho” for quebrado, o jovem deverá pagar uma prenda, acordada previamente pelo grupo e o educador;
·quando um jovem deixar de trazer seu “filho” para as atividades do Trilha Jovem, também deverá pagar uma prenda (uma prenda para cada dia de ausência do “filho”).
Oriente um trabalho individual de arte plástica com os ovos. Os ovos devem ganhar uma identidade, permitindo a identificação dos “filhos”. Solicite também que os jovens definam os nomes dos “filhos”. Por fim, defina, junto com os jovens, as prendas a serem pagas.
Em painel, localize um voluntário que tenha a música apropriada para o momento, para fazer a última apresentação individual de qualidade, acontecimento e música, encerrando o dia.
EmAprendizagem Criativa – A análise (II) – O grupo-sujeitofalamos que, na constituição do grupo-sujeito, já na apresentação inicial, é “preciso confrontar os participantes com formas de expressão em que os maneirismos já desenvolvidos para esses momentos de apresentação não possam ser utilizados. É necessário usar formas de expressão que devolvam aos participantes a espontaneidade perdida. É produtivo, já de início, destruir as falsas defesas, os esteriótipos e os fomalismos típicos dos primeiros encontros.”
Afirmamos também que a “criação de uma situação inusitada de apresentação com o uso da arte tem-se mostrado eficiente na produção desses efeitos.”
Neste post publicaremos, como exemplo, o roteiro de uma apresentação inicial com essas características. Trata-se da primeira sessão de aprendizagem de um programa de capacitação de professores (Coordenadores Docentes) para o Programa Jovem Aprendiz Rural. A Germinal Consultoria foi responsável pela capacitação dos docentes do SENAR/SP, nas cidades que implementaram o Programa em 2006 e 2007.
CAPACITAÇÃO PRESENCIAL De Coordenadores docentes
SESSÃO 1/6
OBJETIVOS
Situação de Aprendizagem
(atividade)
Recursos
Tempo
Apropriação da proposta do programa “Jovem Aprendiz Rural” (Plano de Curso).
Vivenciar estratégias pedagógicas previstas, possibilitando um acesso envolvente e significativo à metodologia do programa.
1. Cenário.
Texto. Retroprojetor. Som. Música: Adágio de Albinoni.
10’
2. Apresentação.
Vídeo. Filme Sonhos.
45’
3. Expectativas.
Som. Música: Bolero, de Ravel.
45’
INTERVALO
15’
4. O Caminho do Programa.
Kit-bagunça. Cartolinas. Som. Música: Meditação de Thais e Missa da Coroação, de Mozart.
120’
5. Fechamento.
5’
1. Cenário
Antes do início e da entrada dos participantes para a primeira sessão de trabalho, se possível, você deve reduzir a luz da sala. Coloque, como fundo musical, uma música suave e que induza à reflexão. Use o Adágio de Albinoni, por exemplo. No CD Karajan Forever, Hamburgo, Deutsche Grammophon, 2003, existe uma gravação do Adágio que pode ser usada aqui. Projete o poema de Borges, denominado O Espelho em uma das paredes da sala. Observe que a ambientação é uma reprodução parcial de um dos cenários utilizados no componente curricular Projeto de Vida.
Reflexos 1943 – Eduardo P. L
O Espelho
Por que persistes, incessante espelho?
Por que repetes, misterioso irmão,
O menor movimento de minha mão?
Por que na sombra o súbito reflexo?
És o outro eu sobre o qual fala o grego
E desde sempre espreitas. Na brunidura
Da água incerta ou do cristal que dura
Me buscas e é inútil estar cego.
O fato de não te ver e saber-te
Te agrega horror, coisa de magia que ousas
Multiplicar a cifra dessas coisas
Que somos e que abarcam nossa sorte.
Quando eu estiver morto, copiarás outro
E depois outro, e outro, e outro, e outro…
Jorge Luiz Borges, O espelho. Do livro de poesias “O Ouro dos Tigres”, em “Jorge Luis Borges – Obras Completas II”, São Paulo, Editora Globo, 2000, pág. 550.
Sobre as cadeiras, dispostas em círculo, em número idêntico aos dos participantes, coloque cópias do texto A Nova Flauta ou, no momento oportuno, solicite a leitura do texto no Manual da Oficina Aprender a Aprender.
A Nova Flauta
Um deus pode fazê-lo. Mas como um
homem pode penetrar as cordas da lira?
RANIER MARIA RILKE
Uma nova flauta foi inventada na China. Descobrindo a sutil beleza de sua sonoridade, um professor de música japonês levou-a para o seu país, onde dava concertos por toda parte. Uma noite, tocou com uma comunidade de músicos e amantes da música que viviam numa certa cidade. No final do concerto, seu nome foi anunciado. Ele pegou a nova flauta e tocou uma peça. Quando terminou, fez-se silêncio na sala por um longo momento. Então, a voz do homem mais velho da comunidade se fez ouvir do fundo da sala: “Como um deus!”
No dia seguinte, quando o mestre se preparava para partir, os músicos o procuraram e lhe perguntaram quanto tempo um músico habilidoso levaria para aprender a tocar a nova flauta. “Anos”, ele respondeu. Eles lhe perguntaram se aceitaria um aluno, ele concordou. Depois que o mestre partiu, os homens se reuniram e decidiram enviar-lhe um jovem e talentoso flautista, um rapaz sensível à beleza, dedicado e digno de confiança. Deram-lhe dinheiro para custear suas despesas e as lições de música, e o enviaram à capital, onde o mestre vivia.
O aluno chegou e foi aceito pelo professor, que lhe ensinou uma única e simples melodia. No início, recebeu uma instrução sistemática, mas logo dominava todos os problemas técnicos. Agora, chegava para a sua aula diária, sentava-se e tocava a sua melodia – e tudo o que o professor lhe dizia era: “Falta alguma coisa”. O aluno se esforçava o mais que podia, praticava horas a fio, dia após dia, semana após semana, e tudo o que o mestre dizia era: “Falta alguma coisa”. Implorava ao mestre que escolhesse outra música, mas a resposta era sempre “não”. Durante meses e meses, todos os dias ele tocava e ouvia “Falta alguma coisa”. A esperança de sucesso e o medo do fracasso foram se tornando cada vez maiores, e o aluno oscilava entre a agitação e o desânimo.
Finalmente, a frustração o venceu. Ele fez as malas e partiu furtivamente. Continuou a viver na capital por mais algum tempo, até que seu dinheiro acabou. Passou a beber. Finalmente, empobrecido, voltou à sua província natal. Com vergonha de mostrar-se a seus antigos colegas, foi viver numa cabana fora da cidade. Ainda mantinha sua flauta, ainda tocava, mas já não encontrava nenhuma nova inspiração na música. Camponeses que por ali passavam ouviam-no tocar e enviavam-lhe seus filhos para que ele lhes desse lições de música. E assim ele viveu durante anos.
Uma manhã, bateram à sua porta. Era o mais antigo mestre da cidade, acompanhado de seu mais jovem aluno. Eles lhe contaram que naquela noite haveria um concerto e que todos haviam decidido que não tocariam sem ele. Depois de muito esforço para vencer seu medo e sua vergonha, conseguiram convencê-lo, e foi quase num transe que ele pegou uma flauta e os acompanhou. O concerto começou. Enquanto esperava atrás do palco, no final do concerto, seu nome foi anunciado. Ele subiu ao palco com fúria. Olhou para as mãos e percebeu que havia escolhido a nova flauta.
Agora ele sabia que não tinha nada a ganhar e nada a perder. Sentou-se e tocou a mesma melodia que tinha tocado tantas vezes para o mestre no passado. Quando terminou, fez-se silêncio por um longo momento. Então, a voz do homem mais velho se fez ouvir, soando suavemente do fundo da sala: “Como um deus!”
Nachmanovitch, Stephen. Ser Criativo. São Paulo, Summus Editorial, pág. 13 à 15
2. Apresentação
Comece a primeira sessão com a projeção, em vídeo, do episódio “Povoado dos Moinhos” do filme “Sonhos” (Kuroshawa).
Após a projeção, solicite uma breve apresentação de cada participante (nome, formação, local de trabalho, experiência educacional com jovens). A apresentação deve ser concluída com uma breve relação entre o texto A Nova Flauta, o filme Povoado dos Moinhos e o Programa “Jovem Aprendiz Rural.
Antes de iniciar a apresentação, conceda uns 5 minutos para que cada um pense na sua apresentação (e na relação entre texto, filme e Programa) de forma que a fala de cada um seja a mais bonita e sintética possível e não ultrapasse 1 minuto.
Termine apresentando-se, comentando as relações efetuadas e fazendo uma breve exposição sobre os símbolos contidos no filme e no texto. Relacione-os com a proposta geral do Programa “Jovem Aprendiz Rural, sua metodologia e a educação profissional orientada por competências (“Como Um Deus”).
3. Expectativas
Inicie a situação de aprendizagem colocando como música de fundo o Bolero, de Ravel. Depois apresente à classe o seguinte desafio: fazer, em subgrupos, uma representação em três tempos:
Como estou chegando.
Como espero que a capacitação seja desenvolvida.
Como quero sair do processo de capacitação.
A sinfonia dos salmos, coreografia Antonio Gomes, foto Isabel Gouvêa
Isso significa representar as expectativas presentes no subgrupo em relação ao curso que se inicia. A representação deverá ser feita através de expressão corporal e movimentos rítmicos, da forma mais bela (plástica) e expressiva possível. A palavra não deve ser utilizada. O som pode ser usado. A música que dará ritmo à apresentação será o Bolero, que poderá ser ouvido no fundo.
Organize os subgrupos. Os subgrupos deverão criar e ensaiar a coreografia em pé para que possam manter a mobilidade e agilidade necessária e concluir o trabalho em torno de 10 minutos. Concluída a preparação, todos ainda em pé, o primeiro subgrupo se apresenta. Terminada a apresentação do grupo, todos os participantes, inclusive os do subgrupo protagonista, replicam a coreografia. Depois, o segundo subgrupo se apresenta e assim sucessivamente. Durante cada apresentação, o aumente o volume da música de fundo e transforme-o no tema musical da apresentação.
Ao final da última apresentação, retorne com os participantes ao semicírculo para análise e julgamento dos trabalhos. Uma a uma as coreografias serão analisadas pelo grupo, que interpretam as expectativas expressas na representação. O trabalho em foco será interpretado pelos que o assistiram e, em seguida, o grupo criador apresenta a intenção da expressão, fazendo o confronto com as interpretações antes apresentadas.
Por fim, apresente rapidamente o programa da Capacitação Presencial, indicando quais expectativas serão atendidas e formas de superar as necessidades dos participantes que não serão atendidas pelo programa.
Ao final, convide os participantes para um pequeno intervalo. Procure respeitar o tempo previsto (15 minutos).
4. O Caminho do Programa
Antes da volta dos participantes, coloque como música de fundo Meditação de Thais (música composta por Jules Massenet. Pode ser usada a gravação de Karajan em: Karajan Forever, Hamburgo, Deutsche Grammophon, 2003). Distribua o texto Jardim de Infância pelas carteiras ou, no momento oportuno, solicite a leitura do texto na página 7 do Manual da Oficina de Aprender a Aprender.
Jardim da Infância
Grande parte do que eu realmente precisava saber a respeito da vida, de como viver, do que fazer e de como ser, aprendi no jardim de infância. A sabedoria não estava no cume da montanha da faculdade, mas ali na caixa de areia da escola maternal. Essas são as coisas que aprendi: compartilhe tudo; seja leal; não magoe as pessoas; recoloque as coisas no lugar onde as encontrou; limpe aquilo que sujar; não pegue o que não for seu; peça desculpas quando machucar alguém; lave as mãos antes de comer…
Biscoitos quentes e leite frio são bons para você; leve uma vida equilibrada; aprenda um pouco, pense um pouco, desenhe, pinte, cante, dance, brinque e trabalhe um pouco a cada dia; tire uma soneca todas as tardes; quando sair para o mundo, fique atento no trânsito; dê as mãos e mantenha-se unido; perceba a maravilha…
Pense como o mundo seria melhor se todos nós – o mundo inteiro – tivesse biscoito e leite por volta de três horas de todas as tardes e depois deitasse com suas mantas para tirar um cochilo, ou se tivéssemos uma política básica em nossa nação e em outras nações de sempre recolocar as coisas no lugar onde as encontramos e limpássemos as sujeiras que fizéssemos. E isto continua a ser verdade, não importa a idade: quando sair para o mundo, é melhor dar as mãos e manter-se unido.
Robert Fulghum
Citado no livro “O Empresário Criativo”, de Roger Evans e Peter Russel, São Paulo, Editora Cultrix, pg.169.
Ao final da leitura, estimule os aprendizes a fazerem comentários sobre a compreensão que tiveram.
Valorizada a aprendizagem do jardim de infância, proponha uma atividade nela inspirada. Em pequenos grupos, os participantes, utilizando os materiais disponíveis, vão criar uma colagem, instalação, pintura e/ou representação gráfica que representem o público alvo (Retrato do Jovem Rural), a trajetória (Caminho do Programa) e os resultados (Retrato do Egresso) do Programa “Jovem Aprendiz Rural”.
Divida a classe em pequenos grupos e determine o tempo de 40 minutos para a construção das representações. Coloque como música de fundo uma missa de Mozart.
Após a construção, o produto de cada pequeno grupo é analisado por um dos outros grupos. As conclusões da análise deve ser organizadas em torno dos temas: Características do Público Alvo, Proposta do Programa “Jovem Aprendiz Rural” e Resultados do Programa. As conclusões devem se registradas em tarjetas brancas (público), amarelas (proposta) e verdes (resultados esperados). Antes da análise, construa, com tarjetas, um quadro com a orientação para o registro das conclusões.
Tarjetas – regras de utilização
·Escreva nas tarjetas com pincel atômico (azul ou preto).
·Só registre uma conclusão por tarjeta.
·Escreva em letra de forma, maiúscula.
·Não use mais do que três linhas em cada tarjeta.
·Garanta que o texto escrito na tarjeta possa ser visto a distância.
·Use cores diferentes para assuntos diferentes.
Os grupos constroem painéis com as conclusões. O tempo total para a escrita das conclusões e para a elaboração do painel será de 40 minutos. Os painéis de conclusão terão o seguinte formato:
Jovem Rural
Caminho do Programa
Retrato do Egresso
Tarjeta 1
Tarjeta 1
Tarjeta 1
Tarjeta 2
Tarjeta 2
Tarjeta 2
Tarjeta 3
Tarjeta 3
Tarjeta 3
Tarjeta 4
Tarjeta 4
Tarjeta 4
Tarjeta 5
Tarjeta 5
Tarjeta 5
Tarjeta n
Tarjeta n
Tarjeta n
Em seguida, os grupos apresentam rapidamente suas conclusões. Sem falar, os participantes transformam os vários painéis em um único painel de conclusões. Os diversos painéis vão dar origem a um único painel-síntese, que representará a compreensão dos participantes a respeito do público, da proposta do programa e dos resultados desejados. Concluindo a atividade promova a comparação e compare o painel final com o plano de curso do Programa “Jovem Aprendiz Rural”.
5. Encerramento
Peça que os participantes avaliem a sessão com uma única palavra.
Germinal presta serviços no desenho e implementação de soluções educacionais criativas. Seu foco é a construção dos saberes (conhecer, aprender, fazer...), a gestão do conhecimento e o desenvolvimento de competências para a vida, o trabalho e o exercício da cidadania.
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