Por Alexandre Sayad, publicado originalmente no Portal Aprendiz em 08/03/2012
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Pensar em modelos de educação que inovem ironicamente não é uma novidade. A morte do currículo foi decretada cinicamente algumas vezes – o paradigma de não seccionar o conhecimento em áreas de conhecimento chega a ser um discurso cansativo, proferido por quem acredita em uma “educação contemporânea”. O fato é que o mundo da educação padece por ser formado em sua maioria por pensadores, e não executores. Mudar um sistema de ensino é muito complexo; realizar experiências pontuais – construir escolas ideais – que sirvam de exemplo e instiguem mudanças maiores, não tanto. Mesmo assim educadores preferem elaborar teorias a realizar experiências e correr riscos. Há alguns dias fui provocado por dois jovens e inteligentes documentaristas, Antonio Lovato e Raul Perez, a dar um depoimento sobre “a escola que considero ideal”. Nunca havia pensado de forma totalmente onírica e livre sobre esse tema, então coloquei minha mente para rodar antes da câmera ser ligada. Viajei muito no Brasil e no mundo para conhecer escolas; ouvi outras tantas de amigos. Nesse meu fluxo de pensamento interno me lembrei dos laboratórios do MIT (Massachusetts Institute of Technology), do |
Schumacher College, da Escola da Ponte, da Cidade Escola Aprendiz, de uma escola dinamarquesa relatada pelo Rubem Alves, em que estudantes aprendiam a construir uma casa e também da Oregon Episcopal School, a OPS, que me encantou. Todos os exemplos têm elementos em comum: ignoram o currículo, pois trabalham por projetos – teoria que data dos anos 40. E todas são idealizadas e coordenadas por educadores fora dessa cátedra. Antes de dar a reposta cara a cara com os dois cineastas, pensei, muito centralmente, nas minhas experiências com jovens produzindo comunicação – como o Idade Mídia, do Colégio Bandeirantes. Vivências em que os estudantes se apropriam do espaço escolar e aprendem muito mais assim: quando sua expressão surge no universo do aprendizado; e quando são estimulados a acreditar na sua capacidade de realização de um projeto – no caso uma revista ou um documentário. Mas quando comecei a falar, quis dar um passo atrás do meu sonho de escola educomunicativa para ser mais desamarrado de conceitos, e procurei achar pontos em comum a todas elas. E percebi: são experiências de e para “garagens”. Me lembrei daquelas garagens de casas antigas, onde se acumulam |
bugigangas, mas há sempre uma mesa para se sentar e organizar as ideias. Portanto, cheguei a conclusão que minha escola ideal assemelha-se a uma garagem. Dessas mesmo onde as crianças têm a tentação de montar robôs com peças velhas. Lá, o foco está na criação e inovação do estudante. O professor é um tutor que circula entre os objetos, orienta as criações e aprende muito também. Um tablet conectado à internet seria o material básico. Os produtos lá desenvolvidos trariam um pouco de cada disciplina. Quando terminei a entrevista, tive a estranha sensação de ter vivido essa atmosfera de garagem, na maioria das vezes, em ambientes educomunicativos. Fui induzido a pensar na comunicação novamente. Muito porque ela está no DNA do estudante antes mesmo da escolarização chegar. Este é seu ponto mais forte – joga a favor do estudante. A garagem tem um apelo tão forte para a educação que, se nenhum projeto for capaz de brotar daquele ambiente, ainda é possível vender limonada (como fazem os norte-americanos) ou montar uma banda de rock (como faz qualquer jovem). O que, em ultima instância, são também projetos. |
Escola deveria ser garagem 9 de março de 2012
Aprendizagem Criativa – Focalização e simbolização 28 de novembro de 2008
Em artigo anterior apresentamos rapidamente a metodologia da Aprendizagem Criativa. Para acessá-la, clique aqui. Neste post vamos nos deter na primeira das etapas da metodologia: a Focalização e Simbolização.
Focalização
O impulso criativo está presente em todo indivíduo. A criatividade é também instintiva e, assim, requerente de consumação. A criatividade também requer um objeto, um campo de aplicação que a atraia desde seu profundo mistério até o visível. Ela precisa ancorar-se no real. Requer focalização.
A focalização é, então, a fase inicial da aprendizagem criativa. Um determinado campo de aplicação necessita tornar-se muito significativo para o indivíduo ou grupo. Seja por uma necessidade premente, seja por um desafio auto ou heterocolocado, seja por um intenso desejo ou paixão, um determinado recorte da realidade, um campo, precisa assumir especial interesse para o sujeito da criação.
A não ser na criação de uma nova área de atividade humana, o que é raro, todo campo do criativo já é depósito de uma tradição, muitas vezes secular, resultado da experimentação e criação dos homens que nos antecederam. Pense, por exemplo, na pintura, na poesia ou mesmo na organização do trabalho como searas do processo criativo. O processo de focalização compreende, então, um domínio mais ou menos profundo da tradição, ou seja, a aprendizagem dos conhecimentos, habilidades e valores relacionados com o campo.
É importante repetir que o campo tem de ser especialmente atrativo para que a focalização se dê. Só assim, as produções culturais anteriores dentro do campo podem ser incorporadas ao trabalho do grupo como elementos de facilitação da aprendizagem criativa, como no espírito da seguinte fala de Stanislavski:
Nosso método nos serve porque somos russos, porque somos este determinado grupo de russos aqui. Aprendemos por experiências, mudanças, tomando qualquer conceito de realidade gasto e substituindo-o por alguma coisa nova, algo cada vez mais próximo da verdade. Vocês devem fazer o mesmo. Mas ao seu modo e não ao nosso. (…) Vocês estão aqui para observar e não para copiar. Os artistas têm de aprender a pensar e sentir por si mesmos e a descobrir novas formas. Nunca devem contentar-se com o que um outro já fez ( Constantin Stanislavski, A construção do personagem, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1983, p. 17) .
Na aprendizagem criativa, a focalização pode ser feita por um conjunto de meios. No imediato, usa-se o recurso do aquecimento no início das sessões de aprendizagem como forma de focar a atenção sobre o que virá. Ao longo do processo, o desafio, o problema, a atividade lúdica e, especialmente, os projetos visam moblilizar o interesse dos participantes em relação ao campo em estudo.
O símbolo como veículo
Hillman afirma que Jung se serve, dentre outras, da concepção de “função transcendente formadora de símbolos” para se referir ao impulso criativo. A função transcendente é uma função que articula consciente e inconsciente e que resulta da incorporação da função inferior e implica a fusão das quatro funções conscientes (pensamento, sentimento, intuição e percepção), produzindo símbolos. Isso pede um melhor desenvolvimento, que não será feito aqui.
Para Jung, o símbolo “pressupõe sempre que a expressão escolhida constitui a melhor designação ou a melhor fórmula possível para um estado de coisas relativamente desconhecido, mas que se reconhece como existente ou como tal é reclamado”. Acrescenta: “A expressão que se supõe adequada para algo conhecido nunca passa de um mero signo, jamais sendo um símbolo. (…) Todo produto psíquico, embora no momento possa constituir a melhor expressão possível de uma ordem de coisas ignorada ou só relativamente conhecida, poderá ser concebido como símbolo na medida em que admitamos que a expressão pretende designar o que apenas se pressente ou não se conhece ainda de modo claro” (C. G. Jung, Tipos psicológicos, Rio de Janeiro, Zahar, 1981, p. 543-5 44) Ora, esta é situação do aprendiz de qualquer campo.
O símbolo é então a expressão de algo que já brotou da noite do desconhecimento e não foi ainda claramente percebido, pensado, intuído ou sentido. O perfeitamente e claramente conhecido não pode ser expresso simbolicamente. O símbolo é uma tentativa de apreensão de um saber que ainda, de alguma maneira, escapa. É prenhe de significados e não tem nenhum sentido preciso. É uma ponte entre o sabido e o desconhecido. O símbolo, no limite do campo de saber, é um veículo do novo. Na busca de conhecimento do campo, é o motor da aprendizagem feita de forma criativa.
É interessante notar que, para Jung, o inapreensível veiculado pelo símbolo não é necessariamente desconhecido de todos. Assim, uma dada expressão pode ser um símbolo para um e um signo para outro. Isso é para observar que professor e aluno, em relação ao campo, podem estar em posições distintas. O professor supostamente conhece o campo. Para ele, na abordagem do campo, o conceito é ou devia ser a linguagem natural. Para o aluno, no entanto, a aproximação simbólica é mais adequada.
Simbolização
No símbolo existem significados e sentidos ainda não claramente conhecidos. Utilizam-se símbolos para exprimir algo pressentido e não muito claro.
Derivam desse duplo entendimento, também, duas facetas de utilização do símbolo no processo de facilitação da criatividade individual e grupal e na resolução dos problemas, desafios e projetos utilizados na focalização que, como já vimos, é a primeira fase da aprendizagem criativa.
Na primeira forma de facilitação, o símbolo é utilizado como suporte de conteúdos culturais já disponíveis no campo focalizado. Isso significa identificar e selecionar e operar com símbolos relacionados com os conteúdos culturais já produzidos pelo campo de saber.
A arte, enquanto veiculadora de símbolos, pode ser uma fonte de busca de material simbólico relacionado a esses conteúdos. Como exemplo, pode-se apontar para as músicas, poesias e filmes utilizados como suporte ou contraponto para o desenvolvimento de muitas das amostras de trabalho apresentadas neste blog. Para consulta de um texto exemplar, ver: Uma Amostra de Sessão de Aprendizagem de Administração e Organização, clicando aqui.
Existe uma outra possibilidade de facilitação da criatividade grupal, usando o símbolo. Nessa vertente, o próprio grupo produz o símbolo de referência para o trabalho grupal. Face a um campo de conteúdo, o grupo simboliza. Elabora uma forma de expressão daquilo que representa o limite grupal de possibilidades de conhecimento do campo. Aquilo que, no máximo da intensificação do campo, é pressentido.
A arte, novamente, é um suporte adequado para esse processo de simbolização. Dramatizações, colagens, esculturas e outras produções artísticas dos alunos podem criar o referencial simbólico original que vai ser explorado posteriormente. O texto de Uma Amostra de Sessão de Aprendizagem de Administração e Organização é, outra vez, exemplar.
Outras formas de suscitar expressões simbólicas, como a imaginação ativa ou a viagem imaginária, podem ser utilizadas. A viagem imaginária é uma forma de “sonhar acordado” induzida externamente (ver: Perls, Fritz. A abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1981). A imaginação ativa é uma técnica desenvolvida por Jung e consiste em acompanhar a produção do inconsciente, quando o consciente é intencionalmente rebaixado até um limiar próximo ao do sono. No filme “Sonhos”, o episódio “Corvos” é um exemplo da técnica.
No processo de simbolização toda forma de rebaixamento do controle consciente é coadjuvante. Nesse sentido, em nossa sociedade, formas metodológicas que intensifiquem a emoção e estimulem a intuição são favoráveis. Nos exemplos apresentados neste site, o uso permanente de formas simbólicas carregadas de sentimento e a abordagem histórica e estrutural recorrente têm por objetivo trabalhar com as duas funções conscientes menos privilegiadas: sentimento e intuição.
Concluindo, em troca de uma apresentação ou discussão em torno do que os participantes já conhecem do conteúdo do campo, eles são estimulados a expressar, através de símbolos, o que pressentem e o que ainda não sabem muito bem. A dinâmica do grupo, aí, já não se dá em torno do conhecido e sim em torno de um conhecimento em gestação. O resultado já não é um ruminar de conhecimento velho e, sim, um lançar-se na hipótese e na construção do conhecimento novo.
O texto anterior parte de um já publicado em Küller, José Antonio. Ritos de Passagem -Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996.
Cursos Técnicos – Uma estrutura curricular inovadora 10 de outubro de 2008
A Germinal Consultoria tem significativa experiência em prestar assessoria no desenho e implementação de cursos técnicos de nivel médio. Parte dessa experiência foi obtida no Senac/Rio. A Germinal ajudou a definir e acompanhou toda a estratégia de desenho dos curriculos e de implementação dos cursos técnicos daquele Regional do Senac. Já no primeiro movimento, em 2000, foram desenhados cerca de 30 diferentes cursos técnicos. A maioria desses cursos foi implementada em 2001 e continua, com aperfeiçoamentos, a ser oferecida até hoje (2008).
No desenho original, todos os cursos técnicos do Senac Rio foram desenvolvidos a partir de uma mesma estrutura comum. Esta estrutura curricular concretizava um conjunto de inovações educacionais das quais tratamos em artigo anterior. Clique aqui para acessar o artigo. O texto postado a seguir difere um pouco daquele constante dos Planos de Cursos originais do Senac Rio. Também foi editado de uma forma diferente da publicação original.
A estrutura curricular dos cursos técnicos
“Dessa forma, um currículo para a qualificação ou habilitação de um técnico em uma área profissional, desenhado na perspectiva da construção de competências, é composto, essencialmente de um eixo de projetos, problemas e/ou desafios significativos do contexto produtivo da área, envolvendo situações simuladas ou, sempre que possível e preferencialmente reais. (…) Atividades de apropriação de conteúdos de suporte de bases tecnológicas, organizados em disciplinas ou não, e de acompanhamento, avaliação e assessoria às ações de desenvolvimento dos projetos, são programadas e convergem para esse eixo de currículo”. (MEC/SEMTEC, Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico, Brasília, DF, p.25.)
(Ilustração: Liang Wei, A Northern Trip, Oil on Canvas, 48″x60″)
Módulo I: O Núcleo Básico do Setor de Comércio e Serviços
Todos os currículos dos cursos técnicos do Senac Rio fundam-se em três dimensões: ser pessoa, ser cidadão, ser profissional. Esses currículos são centrados em projetos. Basicamente dois tipos de projetos estruturam o currículo destes cursos. Um primeiro projeto e que é o mesmo para todos os cursos técnicos, é denominado Minha Vida, Minha Imagem, Meu Trabalho. Este projeto articula o Núcleo Básico do Setor de Comércio e Serviços e tem como produto individual, um livro sobre a vida passada, presente e futura do participante.
O Núcleo Básico do Setor de Comércio e Serviços, detalhado a seguir, é comum a todos os cursos técnicos. Ele não é terminal e está dividido em duas partes. A primeira parte do Módulo I constitui a parte inicial de todos os cursos e o projeto Minha Vida, Minha Imagem e Meu Trabalho articula um conjunto de Workshops, como indicado abaixo:
Módulo I – primeira parte |
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Projeto: Minha Vida, Minha Imagem, Meu Trabalho |
Workshop |
C.H |
Produtos |
O Novo Mercado de Trabalho |
9 horas |
Contrato de aprendizagem
Código de Ética e Cidadania
Plano de Desenv. Pessoal e Profissional
Livro: Minha Vida, Meu Trabalho
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Aprender a Aprender |
12 h |
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Imagem Pessoal |
8 h |
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Falar e Ouvir |
4 h |
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Projeto |
23 h |
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Total de horas da primeira parte |
56 h |
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Colocada no início de todos os cursos técnicos, a primeira parte tem como produtos mais imediatos a definição de um contrato de aprendizagem e de um código coletivo de ética e cidadania. Ambos serão, ao final dos cursos, singularizados e incorporados ao livro de cada um dos participantes.
Na segunda parte do Módulo I, o projeto articula um conjunto de Oficinas distribuídas ao longo do curso. Essas Oficinas focam setores emergentes de atividades terciárias e, em seu conjunto, buscam o desenvolvimento de competências básicas necessárias ao desempenho de todas as atividades de Comércio e Serviços.
Módulo I: Segunda Parte |
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OFICINAS |
CARGA HORÁRIA |
OFICINAS |
CARGA HORÁRIA |
INFORMÁTICA |
28 HORAS |
MEIO AMBIENTE |
20 HORAS |
ORGANIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO |
20 HORAS |
ATENDIMENTO AO CLIENTE |
20 HORAS |
COMUNICAÇÃO |
20 HORAS |
SAÚDE |
20 HORAS |
As Oficinas da segunda parte do Módulo I estão distribuídas entre os módulos posteriores e fazem parte da carga horária deles. Observe-se que, no entanto, o número de Oficinas varia (de 5 a 6) em função da área. Na área de Informática, por exemplo, a Oficina de Informática não é incluída no Núcleo Básico de Comércio e Serviços. Nesse caso, as competências a serem desenvolvidas pela Oficina, passam a ser desenvolvidas pelo Módulo II: o Núcleo Básico da Área de Informática. O mesmo é válido para a área de Saúde e para a Oficina de Saúde e para as demais oficinas que correspondem a uma área.
As competências desenvolvidas pelo Módulo I, dado seu nível de generalidade, são também importantes no existir individual e na convivência social. Nos cursos técnicos, os projetos estão ligados simultaneamente às três dimensões de desenvolvimento do participante: ser pessoa, ser cidadão, ser profissional.
As aprendizagens referentes ao primeiro projeto são sistematizadas ao final de cada módulo posterior ao primeiro e também ao final do curso, culminando com a redação do livro Minha Vida, Meu Trabalho, onde cada participante registra as aprendizagens significativas produzidas pelas experiências e vivências proporcionadas pelo curso e projeta uma trajetória pessoal e profissional.
O livro embute um plano de desenvolvimento pessoal e profissional. Mesmo admitindo módulos terminais, visando qualificar em nível técnico e habilitar o técnico, o pressuposto subjacente é que a aprendizagem não se encerra no curso. Ele é um ponto de inflexão e de impulso em uma trajetória, posto que humana, imersa no aprender.
Módulo II: Núcleo Básico da Área

Malcolm Martin & Gaynor Dowling, 1000 openings, 2006-2007, Courtesy of Martin and Dowling Sarah Myerscough Fine Art, Collect 2008
Além da parte comum a todos os cursos do setor de comércio e serviços, nos currículos dos cursos técnicos foi previsto um núcleo comum a todos os cursos de uma determinada área (Artes, Comunicação, Saúde, etc.).
O Módulo II tem uma duração e uma composição curricular que é típica de cada área. Em geral, destina-se ao desenvolvimento das competências comuns àquela área de atividades profissionais. Os componentes curriculares e o desenvolvimento do Módulo II podem ou não estar articulados pelos outros tipos de projetos que funcionam como segundo elemento estruturante do currículo dos cursos técnicos. O Módulo II, quando presente como Núcleo Básico da Área, é especificado em cada Plano de Curso.
Módulos com Terminalidade (de III a N)
A partir do Módulo II, todos os demais são terminais. Conduzem a uma qualificação de nível técnico e/ou à habilitação do técnico. As ações educativas compreendidas pelos módulos terminais são articuladas por um segundo tipo de projetos. Os projetos agora são relacionados diretamente com a formação técnica objetivada pelo módulo.
Os projetos desse segundo tipo tratam de criar, transformar ou melhorar as atividades do Setor de Comércio e Serviços, onde atuará o profissional de nível técnico em formação.
Destinam-se a desafiar o participante e a problematizar o corpo de saberes já constituído. Estão no rumo da desconstrução do saber já pronto e do favorecer a construção do conhecimento e a incorporação das competências pelo aluno. Esses projetos serão relacionados com situações reais e objetivam mudanças efetivas nas formas de praticar o comércio e/ou de prestar serviços. Objetivam formar um agente de mudanças.
Em cursos técnicos de Educação Profissional e na perspectiva de formação do agente de mudança, a escola é um espaço insuficiente para a mudança proposta e para a conseqüente produção de conhecimento dela derivada. A ação do projeto tem que transcender os muros da escola. O espaço de aprendizagem precisa abranger as atividades produtivas e sociais reais onde as funções profissionais ganham sentido e o profissional a ser formado pode enfrentar os desafios e desenvolver as competências necessárias à tarefa de transformação.
Essa proposta transcende, em muito, a noção de estágio ou prática supervisionada. No estágio e na prática supervisionada, trata-se, no máximo, de aprender o trabalho tal como ele já está posto. Aqui, não. Trata-se de olhar a prática com olhos críticos. Uma crítica não derivada de uma teoria previamente assimilada e sim de uma teoria que se constrói na própria busca da transformação. Engajar os participantes em um processo de crítica e mudança, visando a melhoria das atividades terciárias e, com elas, a melhoria da qualidade de vida, é a característica comum dos projetos que articulam os módulos terminais dos cursos técnicos.
Um único projeto, dividido ou não em subprojetos, pode articular as ações educativas de todos os módulos terminais. Esses projetos ou subprojetos terão um produto específico e estarão destinados ao desenvolvimento das competências necessárias para o desempenho eficaz do profissional a ser qualificado em nível técnico.
Nos Planos de Curso são especificadas, em cada módulo, as ações educativas (oficinas, ciclo de pesquisas, workshops) que são articuladas pelo projeto. O próprio projeto e os subprojetos, quando houver, são neles definidos. Aos projetos e às ações educativas são também atribuídas cargas horárias mínimas que possibilitem manter uma unidade entre os diversos cursos desenvolvidos pela instituição educacional.
Ensino Médio – Cursos Técnicos 7 de outubro de 2008
A Germinal Consultoria tem significativa experiência em prestar assessoria no desenho e implementação de cursos técnicos de nivel médio.
Parte dessa experiência foi obtida no Senac/Rio. A Germinal ajudou a definir e acompanhou toda a estratégia de desenho dos curriculos e de implementação dos cursos técnicos daquele Regional do Senac. Já no primeiro movimento, em 2000, foram desenhados cerca de 30 diferentes cursos técnicos. A maioria desses cursos foi implementada em 2001 e continua, com pequenos aperfeiçoamentos, a ser oferecida até hoje (2008).
No desenho original, todos os cursos técnicos do Senac Rio foram desenvolvidos a partir de uma mesma estrutura comum. Esta estrutura curricular concretizava um conjunto de inovações educacionais que vale a pena destacar. Para connecer a estrutura básica dos cursos técnicos do Senac Rio, clique aqui.
1. Educação básica para o trabalho e para a cidadania
A legislação atribui ao Ensino Médio, como um todo, o objetivo de educação básica para o trabalho e a cidadania. O objetivo de preparação básica para o trabalho deve ser buscado pelo Ensino Médio mesmo quando ele não é profissionalizate. De forma básica, no mínimo, todo egresso do ensino médio deveria estar preparado para o trabalho. Segundo o Parecer CNE/CEB 15/1998, a educação básica para o trabalho, deve ser entendida como a base da formação de todos e para todos os tipos de trabalho.
É sabido, no entanto, que o Ensino Médio de caráter geral não realiza essa preparação básica para o trabalho. A maioria dos cursos técnicos de nível médio também não se preocupa com ela. A educação profissional , quando desenvolvida de forma concomitante ou seqüencial ao Ensino Médio, é geralmente desenvolvida a partir de um currículo centrado no desenvolvimento de competências técnicas específicas.
Todos os levantamentos e análises de mercado, no entanto, apontam que as competências básicas para o trabalho são muito importantes na obtenção do primeiro emprego e na manutenção dele.
A experiência da Geminal, no assesoramento da implementação de programas de educação básica para o trabalho, permite conclusão similar. Programas centrados nas competências básicas são efetivos na inclusão de jovens no mercado de trabalho. Superam inclusive os programas de qualificação destinados ao desenvolvimento de competências técnicas específicas para uma ocupação determinda.
Iniciativas como o Programa de Educação para o Trabalho (PET) do Senac de São Paulo, Portal do Futuro do Senac Rio e Trilha Jovem – Turismo e Responsabilidade Social do Instituto de Hospitalidade (IH) têm como resultado um número de jovens incluídos no mercado de trabalho em proporção superior aos convencionais programas de qualificação profissional.
Mais recentemente, também as competências ligadas ao exercício da cidadania vêm ganhando importância nos processos seletivos, especialmente nas grandes organizações.
Levando em consideração esses estudos, análises e constatações, no currículo das habilitações profissionais de nível médio do Senac Rio foi incluído um módulo para o desenvolvimento de competências básicas parao exercício de profissões do Setor de Comércio e Serviços: O Núcleo Básico de Comércio e Serviços.
O Núcleo abrange competências básicas para a vida (ser pessoa ou saber ser), para o exercício da cidadania (ser cidadão ou saber conviver) e para o trabalho (ser profissional ou saber fazer). Esta última dimensão é depois complementada pelo desenvolvimento das competências necessárias para o trabalho em uma determinada área profissional e, por fim, pelas competências requeridas por uma habilitação específica.
No desenho curricular proposto, a educação básica para o trabalho e a cidadania (LDBN – Artig.35, II) não é o que contextualiza o currículo, embora também o faça ou possa fazer. Não é resultado de um trabalho interdisciplinar, embora facilite a interdisciplinaridade. Também não é produto da “compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando teoria com a prática, no ensino de cada disciplina” (LDBN – Art. 35, IV), embora possa se beneficiar disso.
É importante observar que se trata de uma inovação curricular. Ao conjunto de experiências de aprendizagem que resultam na educação básica para o trabalho é reservado um componente curricular específico. O projeto que articula o Núcleo de Comércio e Serviços – a edição do livro MInha Vida, Meu Trabalho – é também aquele que articula o currículo como um todo. A educação básica para o trabalho e cidadania não é a alma do currículo. É o coração dele. Isso será exemplificado em um artigo posterior.
2. Currículo integrado
Mais recentemente, a proposta do Parecer CNE/CEB 15/1998 tem sido questinada. A educação básica para o trabalho, como lá entendida, tem sido considerada insuficiente para a superação da histórica dualidade do Ensino Médio. O currículo integrado de formação geral e educação profissional tem sido proposto por muitos educadores.
Observa-se, no entanto, que um currículo do Ensino Médio em ato não é apenas dual. Ele é fragmentado em disciplinas desconexas e descontextualizadas. A contextualização e a interdisplinaridade, embora normativas, não são praticadas. Em geral, não há o que integre de forma efetiva as partes ou as disciplinas do currículo, quer sejam de formação geral ou de educação profisional.
Embora restrito à parte de educação profissional, os cursos técnicos do Senac Rio são um modelo de integração curricular. O perfil profisional de conclusão de cada curso é um primeiro fator de integração. Dele decorrem as unidades curriculares que compõem o Núcleo Básico de cada área e os Módulos destinados à terminalidade, com uma qualificação ou habilitação profissional específica.
Um segundo motor de integração é constituído pelos projetos. Eles articulam o currículo inteiro, como é o caso do livro Minha Vida, Meu Trabalho. Articulam também cada um dos módulos que compõem a estrutura curricular.
A arquitetura do currículo considera o projeto um componente curricular, com atribuição de carga horária para seu desenvolvimento. Atribui aos projetos o desenvolvimento das competências mais gerais e mais próximas do enfrentamento dos desafios e problemas da vida pessoal, cidadã ou profissional, especialmente as competências previstas no perfil profissional.
O currículo é completado pelas oficinas que giram em torno dos projetos, desenvolvendo as competências mais específicas ou os elementos de competência que vão ser requeridos pelas competências em desenvolvimento nos projetos. Esse desenho será mostrado em exemplo a ser postado posteriormente.
3. Aprender a aprender
O incíso IV do artigo 35 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional qualifica a educação profissional básica que se pretende. Ele diz: “preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar a novas condições de ocupação ou aprefeiçoamento posterior”.
Para continuar aprendendo é necessário que o educando adquira mecanismos próprios de aprendizagem. Na vida profissional, é necessário que seja capaz de extrair aprendizagem a partir do enfrentamento dos desafios cotidianos do trabalho e da adaptação aos movimentos dos processos produtivos em evolução. Isso só é possível a partir de um exercício continuado de cliclos de ação – reflexão e ação, que devem ser feitos em condições transitórias e cambiantes.
Em príncípio, as condições da aprendizagem do aprender são providas pela metodologia de ensino-aprendizagem, que deve ser desenhada para produzir tais efeitos. Em geral, é uma questão metodológica.
Aí também a estrutura curricular dos cursos técnicos do Senac Rio é inovadora. Ela qualifica os projetos a serem desenvolvidos, configurando-os para a facilitação do aprender a aprender. Os projetos que articulam a porção especificamente profissionalizante dos currículos, por exemplo, devem “criar, transformar ou melhorar as atividades do Setor de Comércio e Serviços, onde atuará o profissional de nível técnico em formação”.
Os projetos não devem recriar ou simular as condições de vida, de participação comunitária ou do futuro trabalho dos educandos. Eles devem envolver os participantes em processos de transformação de tais condições de vida, de excercío da cidadania e de trabalho. Eles não visam uma adaptação dos educandos à condições mutantes do mercado de trabalho. Eles visam preparar agentes de transformação.
Do enfrentamento dos desafios gerados no envolvimento em processos de mudança é que decorre a aprendizagem do aprender. A perspectiva pedagógica de fundo postula que só se aprende efetivamente, de forma própria e significativa, enfrentando os desafios da transformação pessoal, social ou produtiva.
O texto está ficando muito longo. Voltaremos ao tema oportunamente.
Notícia sobre o Programa Jovem Aprendiz Rural 24 de setembro de 2008
O Informativo FAESP – SENAR/SP, de junho de 2008, traz a seguinte notícia sobre o Programa Jovem Aprendiz Rural:
“Cem jovens do Programa Jovem Aprendiz Rural dos municípios de Guaira e Santa Fé do Sul também visitaram o estande FAESP-SENAR-AR/SP e Sebrae-SP, na 15ªAgrishow. O Programa “Jovem Aprendiz Rural”, do SENAR-AR/SP, visa atender a legislação vigente e preparar o púbico jovem para o mundo do trabalho, por intermédio de práticas agrosilvopastoris e orientações quanto ao uso correto das tecnologias mais apropriadas para o aumento da produtividade nas propriedades rurais.
O Programa tem como público-alvo jovens de 14 a 17 anos incompletos, cursando o ensino fundamental ou programas de educação de jovens e adultos (no mínimo na 5ª série ou equivalente), ou que já tenham concluído o ensino fundamental, contratados como aprendizes em organizações agropecuárias.
A duração do Programa é de 600 horas, o que equivale a 150 dias letivos, com 4 horas diárias, cinco dias por semana.
Neste ano, o SENAR-AR/SP está capacitando os participantes de 80 turmas do Programa Jovem Aprendiz Rural, em diversos municípios do Estado de São Paulo.”
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