Germinal – Educação e Trabalho

Soluções criativas em Educação, Educação Profissional e Gestão do Conhecimento

Escola deveria ser garagem 9 de março de 2012

Filed under: Escritos nossos e de outros — José Antonio Küller @ 11:23 am
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Por  Alexandre Sayad, publicado originalmente no Portal Aprendiz em 08/03/2012

 

Pensar em modelos de educação que inovem ironicamente não é uma novidade. A morte do currículo foi decretada cinicamente algumas vezes – o paradigma de não seccionar o conhecimento em áreas de conhecimento chega a ser um discurso cansativo, proferido por quem acredita em uma “educação contemporânea”. O fato é que o mundo da educação padece por ser formado em sua maioria por pensadores, e não executores. Mudar um sistema de ensino é muito complexo; realizar experiências pontuais – construir escolas ideais – que sirvam de exemplo e instiguem mudanças maiores, não tanto. Mesmo assim educadores preferem elaborar teorias a realizar experiências e correr riscos.
Há alguns dias fui provocado por dois jovens e inteligentes documentaristas, Antonio Lovato e Raul Perez, a dar um depoimento sobre “a escola que considero ideal”. Nunca havia pensado de forma totalmente onírica e livre sobre esse tema, então coloquei minha mente para rodar antes da câmera ser ligada. Viajei muito no Brasil e no mundo para conhecer escolas; ouvi outras tantas de amigos. Nesse meu fluxo de pensamento interno me lembrei dos laboratórios do MIT (Massachusetts Institute of Technology), do
Schumacher College, da Escola da Ponte, da Cidade Escola Aprendiz, de uma escola dinamarquesa relatada pelo Rubem Alves, em que estudantes aprendiam a construir uma casa e também da Oregon Episcopal School, a OPS, que me encantou. Todos os exemplos têm elementos em comum: ignoram o currículo, pois trabalham por projetos – teoria que data dos anos 40. E todas são idealizadas e coordenadas por educadores fora dessa cátedra.
Antes de dar a reposta cara a cara com os dois cineastas, pensei, muito centralmente, nas minhas experiências com jovens produzindo comunicação – como o Idade Mídia, do Colégio Bandeirantes. Vivências em que os estudantes se apropriam do espaço escolar e aprendem muito mais assim: quando sua expressão surge no universo do aprendizado; e quando são estimulados a acreditar na sua capacidade de realização de um projeto – no caso uma revista ou um documentário. Mas quando comecei a falar, quis dar um passo atrás do meu sonho de escola educomunicativa para ser mais desamarrado de conceitos, e procurei achar pontos em comum a todas elas. E percebi: são experiências de e para “garagens”. Me lembrei daquelas garagens de casas antigas, onde se acumulam
bugigangas, mas há sempre uma mesa para se sentar e organizar as ideias. Portanto, cheguei a conclusão que minha escola ideal assemelha-se a uma garagem. Dessas mesmo onde as crianças têm a tentação de montar robôs com peças velhas.
Lá, o foco está na criação e inovação do estudante. O professor é um tutor que circula entre os objetos, orienta as criações e aprende muito também. Um tablet conectado à internet seria o material básico. Os produtos lá desenvolvidos trariam um pouco de cada disciplina. Quando terminei a entrevista, tive a estranha sensação de ter vivido essa atmosfera de garagem, na maioria das vezes, em ambientes educomunicativos. Fui induzido a pensar na comunicação novamente. Muito porque ela está no DNA do estudante antes mesmo da escolarização chegar. Este é seu ponto mais forte – joga a favor do estudante. A garagem tem um apelo tão forte para a educação que, se nenhum projeto for capaz de brotar daquele ambiente, ainda é possível vender limonada (como fazem os norte-americanos) ou montar uma banda de rock (como faz qualquer jovem). O que, em ultima instância, são também projetos.
 

Revista Nova Escola e Os Protótipos Curriculares de Ensino Médio 13 de outubro de 2011

Marilza Regattieri. Foto: Carol de GóesA revista Nova Escola – Gestão Escolar, de agosto/setembro de 2011, publica uma longa matéria sobre o currículo do Ensino Médio. A matéria inclui uma  entrevista com Marilza Regattieri da UNESCO. Na entrevista, Marilza fala sobre os Protótipos Curriculares de Ensino Médio e de Ensino Médio Integrado, sobre os quais já escrevemos aqui. Transcrevemos abaixo um excerto da entrevista de Marilza:

Como funciona o protótipo de Ensino Médio de formação geral, criado pela Unesco em parceria com o MEC?


MARILZA Ele segue o modelo-padrão das escolas públicas brasileiras: três anos de duração e carga horária anual de 800 horas. O diferencial, porém, é que o currículo tem um núcleo de preparação básica para o trabalho e demais práticas sociais, que ocupa 25% do tempo letivo (200 horas anuais) e consiste num trabalho interdisciplinar que envolve todos os professores e estudantes de uma mesma série. Esse grupo irá desenvolver um projeto focado em atividades de pesquisa e trabalho tendo, para cada ano do Ensino Médio, um tema norteador – no primeiro, escola e moradia como ambientes de aprendizagem, no segundo, ação comunitária, e no terceiro, vida e sociedade. Essa formação curricular considera as áreas de conhecimento – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias – e a matriz de competências e habilidades do novo Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Leva em conta ainda o que chamamos de dimensões articuladoras do projeto – Ciência, Cultura, Tecnologia e Trabalho.

A íntegra da matéria pode ser lida clicando aqui.

 

Rio Grande do Sul vai mudar ensino médio 10 de outubro de 2011

 

O portal IG São Paulo, em texto de  Cinthia Rodrigues, no dia 08/10/2008, publicou a seguinte notícia:

 

 

A partir do ano que vem, escolas no Estado terão menos tempo de aulas exclusivas de uma disciplina e mais para projetos integrados

A partir de 2012, os estudantes do 1º ano do ensino médio na rede pública do Rio Grande do Sul deixarão de ter a tradicional divisão das aulas em química, física, biologia, história, geografia, sociologia, filosofia, língua, língua estrangeira, educação física e matemática. No lugar entrarão projetos temáticos interdisciplinares que contemplem as mesmas quatro áreas de conhecimento cobradas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): linguagens, matemática, ciências humanas e ciências da natureza e as respectivas tecnologias.

A proposta apresentada em setembro pela Secretaria Estadual de Educação gaúcha ainda passa por debate com a rede durante este mês, mas a mudança é certa. “Todas as 1.053 escolas vão mudar em 2012”, garante a assessora do ensino médio do Departamento Pedagógico, Vera Maria Ferreira. Este ano, o Conselho Nacional de Educação (CNE) votou uma nova diretriz para o ensino médio que segue linha similar, mas a proposta aguarda homologação do ministro da Educação, Fernando Haddad.
A proposta também é congruente com os Protótipos Curriculares de Ensino Médio e de Ensino Médio Integrado, desenvolvidos pela UNESCO. Para ter acesso ao texto integral da matéria, clique aqui.
 

Aprender a aprender 30 de junho de 2009

Com o vídeo Aprendre a Aprendre, iniciamos uma nova categoria no blog: Educação Em Vídeo.


Sobre o vídeo, como um comentário breve, é importante destacar as características indispensáveis à incorporação dos esquemas operatórios do aprender com autonomia, que estão presentes na primeira fase do vídeo:

  1. o despertar do interesse pela aprendizagem;
  2. o lançamento, pelo mestre,  de um desafio (problema, projeto) passível de ser superado pelo aprendiz (o vaso de cerâmica);
  3. a indicação do resultado esperado (o vaso) e não do processo de obtenção dele;
  4. a indução, pelo mestre, da repetição do processo de fazer – refletir –  refazer;
  5. o mestre espera, com paciência e a distância que o aprendiz supere o desafio;
  6. a valorização do resultado obtido (o abraço).

Já na segunda parte do vídeo, o processo educativo tem caracaterísticas diferentes.


Utilizando essa diferença entre as duas partes do vídeo, em capacitação de educadores, sugere-se a seguinte forma de explorar o recurso:


 

1. Solicitar que os professores em capacitação relacionem as características do aprender a aprender presentes na primeira etapa do vídeo, como fizemos acima.


 

2. Depois, perguntar pela diferença entre os dois momentos educativos (confecção do vaso e a sequência posterior);


 

3. Lançar a pergunta: a segunda parte do vídeo pode ser considerada uma forma de facilitar o aprender a aprender, como foi a primeira?


 

4. Debater;


 

5 Concluir.

 

O MEC anuncia: a aula expositiva e a demonstração estão proibidas 12 de junho de 2009

Piet Mondrian - Opposition of Lines

Piet Mondrian - Opposition of Lines

É claro que o título deste post é uma ficção.

A aula expositiva é seguramente o método didático mais difundido e de uso quase exclusivo nas quatro últimas séries do Ensino Fundamental, em todo Ensino Médio e no Ensino Superior. A demonstração (mostrar como se faz e pedir para repetir) é ainda o método prevalecente na educação profissional e no ensino que envolva um saber fazer qualquer.

Um Ministro da Educação que ousasse uma proibição desse tipo de práticas provavelmente seria considerado louco e perderia seu cargo no dia seguinte. Se não perdesse e a proibição vigorasse para valer, milhares de professores não teriam nada o que fazer na próxima aula. No mesmo dia, milhões de alunos seriam retirados de sua passividade recorrente ou de sua atividade subserviente.

A proibição não seria um ato despropositado? Daria resposta a uma questão importante? Face aos problemas da educação brasileira parece uma medida superlativa, tratando de coisa menor. Não é.

Desconsiderando a pouca efetividade deles, sabe-se que os métodos centrados no professor nem sempre partem e sempre dependem do saber existente em um determinado grupo-classe. Assim, o “bom professor” ajusta sua fala ou sua demonstração ao saber prévio de seus alunos.

O professor inclusivo, preocupado com promoção de todos os seus alunos, especialmente dos mais carentes, ajusta sua palavra ou demonstração para atender aos que menos sabem. Foca no grupo dos 25% mais fracos, digamos. Já o professor “durão”, preocupado com a “qualidade” do ensino, ajusta seu foco nos que mais sabem.

Um e outro perdem 50% da turma. Um por desinteresse e o outro por incompreensão. A proibição teria o mérito de parar com essa perda inconcebível e irreparável.

Robbi Mussers - The Four Faces of  Whiskres

Robbi Musser - The Four Faces of Whiskres

Proibida a exposição e a demonstração, o que colocar no lugar?

Qualquer método centrado na atividade dos alunos, orientada por problemas, desafios ou projetos teria o mérito de focar o ensino no grupo mais avançado sem deixar para trás os que menos sabem (Vigotski, zona de desenvolvimento proximal). Basta um mínimo de organização dos pequenos grupos.

Em um conjunto ainda inacabado de artigos temos abordado uma alternativa metodológica à exposição e à demonstração, que denominamos de aprendizagem criativa. É uma insignificante parte do repertório metodológico disponível como alternativa à fala e ao gesto magistral. Não é a ausência de opções que mantém as velhas práticas excludentes.

Neste blog, temos discutido as causas do imobilismo. Em uma série, também ainda inconclusa, sobre o Ensino Médio localizamos quatro causas: o currículo imutável, o sistema de formação de professores, a atual facilidade de operação administrativa do ensino (de teor taylorista/fordista) e o pensamento pedagógico dominante.

Um monstro de quatro faces segura a evolução. Quem terá a coragem de enfrentar tal animal? Armas inusitadas precisam ser usadas. Senhor Ministro, que tal proibir a aula expositiva e a demonstração?

 

Maria Nilde Mascellani 24 de fevereiro de 2009

 

Este texto, release de Maria Nilde Mascellani – foi lido na inauguração do Ciep em Americana que levou seu nome, em 11 agosto 2007. O texto foi reproduzido do blog Vocacional: ontem, hoje e sempre na mente, onde outras informações sobre os Ginásios Vocacionais podem ser encontradas.


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Principal figura ligada aos Ginásios Vocacionais, a professora e pedagoga Maria Nilde Mascellani nasceu em São Paulo a 03 de abril de 1931.

 

Filha do dentista Dr Tito Mascellani, descendente de imigrantes italianos, e da dona-de-casa Margarida Swoboda Mascellani, de origem austríaca, Maria Nilde tinha mais três irmãos. Estudou a partir da 2ª série ginasial, atual 6º série, na Escola Estadual Padre Anchieta no Brás, bairro onde a família morava.

 

Foi na adolescência que os primeiros sinais da doença que a acompanharia durante toda a sua vida se manifestaram. Vítima de reumatismo deformante, quando adulta caminhava com dificuldade, sentia muitas dores e só suportava as crises a base de analgésicos. Essa terrível enfermidade, no entanto, não impediu que Maria Nilde dedicasse toda sua energia para o problema da educação e suas alternativas, tornando-se uma das maiores educadoras que o Brasil já teve.Concluído o ginásio, seguiu o Curso Normal (Curso de Formação de Professores) na mesma escola, o Padre Anchieta. No ano de sua formatura como professora primária, ingressou no curso de Pedagogia da Universidade de São Paulo. Foi aluna e depois se tornou muito amiga do professor Florestan Fernandes, seu mestre e inspirador.

Como professora de Educação, lecionou em escolas públicas do Estado. Foi trabalhar no Instituto de Educação da pequena cidade paulista de Socorro, e em 1959, faz parte da equipe das Classes Experimentais de Socorro que, fundamentadas na linha pedagógica da Escola de Sévres (França), viriam a ser a semente do Sistema de Ensino Vocacional.

 

Luciano Carvalho, secretário da Educação do Estado de São Paulo na época, formou uma comissão de educadores para elaborar um projeto piloto de educação que levasse em conta a vocação do aluno e abrisse as portas da escola para a comunidade e suas aspirações. Maria Nilde Mascellani foi um dos nomes chamados para fazer parte da montagem do S.E.V. (Serviço de Ensino Vocacional) e após sua criação em 1961, tornou-se sua coordenadora, ficando no cargo até o ano de sua extinção, em 1969.

 

O S.E.V. constituiu-se como um órgão especializado, diretamente subordinado ao Gabinete do Secretário da Educação do Estado. Foram instaladas seis unidades em todo Estado. A unidade da capital começou a funcionar em 1962, bem como as unidades da cidade de Americana (zona industrializada) e Batatais (zona agrícola). Em 1963, instalaram-se as unidades de Rio Claro (centro ferroviário), Barretos (zona agropecuária) e, em 1968, entrou em funcionamento a unidade de São Caetano do Sul. Todas ofereciam o então 1º ciclo do ensino secundário (de quatro anos) em período integral. A partir de 1967, instalou-se na unidade da capital, Oswaldo Aranha,o ensino médio de 2º grau e o curso noturno que atendia aos jovens trabalhadores do bairro com escolaridade tardia. Nos seus oito anos de existência, as Escolas Vocacionais desenvolveram-se em termos estrutural-administrativos e conceituais.

 

Os Ginásios Vocacionais continham uma proposta pedagógica revolucionária que utilizava estratégias de integração curricular, como os estudos do meio e os projetos de intervenção na comunidade e planejamento curricular através da pesquisa junto à comunidade. Na construção do currículo, procurava-se trazer a realidade social para o interior da escola.Os GVs foram definidos como escolas comunitárias instaladas a partir de sondagens das características culturais e socioeconômicas da localidade.

 

Procuravam executar programas de interesses comuns com outras instituições, particularmente outras escolas primárias e secundárias. Suas linhas diretrizes na condução da prática pedagógica eram a apreensão integrada do conhecimento, o valor do trabalho em grupo, o desenvolvimento de condições de maturidade intelectual e social, o exercício consciente do trabalho, a definição de opções de estudo e ocupações, a disposição para atuação no próprio meio e a descoberta da responsabilidade social.

 

A área de maior peso era a de Estudos Sociais, que incluía noções de História, Geografia, Economia, Sociologia e Antropologia. Uma ou outra dessas disciplinas poderia ser explorada mais profundamente, dependendo da unidade em estudo. A partir dos Estudos Sociais desenvolvia-se um sistema de relações com as demais áreas: Português, Matemática, Ciências, Física, Biologia, Economia Doméstica, Artes Industriais, Práticas Comerciais e Agrícolas, Artes Plásticas e Educação Musical e, conforme o tipo de situação-problema, seriam obtidos diferentes esquemas integratórios.

 

Esse currículo integrado exigia, para sua execução, a ação articulada de professores, funcionários e demais técnicos.

 

O processo de avaliação nessas escolas também era considerado inovador: substituía as notas por conceitos. Os alunos se auto-avaliavam em relação aos objetivos, aos métodos e estratégias, conteúdos e atitudes. Atribuíam a seu próprio desempenho um conceito que era levado aos Conselhos de Classe e aí eram discutidos.

 

GV de Batatais

Implantada em um momento de intenso debate político e desenvolvida em grande parte sob o regime militar, a experiência do Serviço de Ensino Vocacional foi constantemente objeto de controvérsias, sabotagens e, por fim de aberta repressão. Maria Nilde sofreu muitas pressões como coordenadora do S.E.V. Em 1965, por exemplo, no governo Adhemar de Barros, o S.E.V. recebia inúmeros pedidos de contratação de professores e técnicos e de vagas para alunos que não tinham passado pelo processo de seleção. Diante da resistência em atender esses pedidos, o S.E.V. começou a receber ameaças de corte de verbas e de demissões de funcionários não comissionados. A primeira grande crise, conhecida dentro do S.E.V. como a “crise de 65”, aconteceu diante da negativa de matricular um candidato a aluno que era filho de um funcionário de confiança do secretário de Educação, e que não tinha passado no processo de seleção no Oswaldo Aranha. Esta atitude causou o afastamento de Maria Nilde da coordenação do S.E.V e da diretora administrativa do Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha.

 

Esta intervenção mobilizou todos os professores e funcionários da rede de Ensino Vocacional e das Associações de Pais e Amigos do Vocacional, órgãos de representação dos pais de alunos que tinham grande envolvimento com a escola.

 

Houve muita mobilização, assembléias na capital e no interior. O envolvimento de pais, professores, pessoas representativas da comunidade e com a grande imprensa dando cobertura ao movimento, fez com que o governo voltasse atrás e reconduzisse, através de um decreto, Maria Nilde ao cargo de coordenadora e nomeasse Joel Martins e Lygia Furquim Sim como diretores do Oswaldo Aranha.

 

Aula de economia doméstica

GV de Batatais

 

 

 

O último período de vida do Ensino Vocacional coincidiu com o endurecimento do regime ditatorial. Com a criação do Ato lnstitucional n° 5, o governo adquiria armas para reprimir as liberdades democráticas. No Ensino Vocacional isso significou a prisão de orientadores, professores e alunos, e a invasão policial-militar em ação conjugada para todos os Ginásios Vocacionais no dia 12 de dezembro de 1969. Vários professores e funcionários foram detidos. Em janeiro de 1970, Maria Nilde foi aposentada com base no AI-5.

 

Impedida de trabalhar pela ditadura, Maria Nilde, juntamente com alguns ex-companheiros de serviço público, também perseguidos pelo regime militar, criou a Equipe RENOV, entidade de assessoria, projetos, pesquisa e plane­jamento de ação comunitária e educacional, com atuação na defesa dos direitos humanos e dos per­seguidos políticos do regime militar. O RENOV (Relações Educacionais e do Trabalho), foi a alternativa encontrada para, a partir da área privada, continuar formando educadores, jovens de grupos populares e outros. Em janeiro de 74, o RENOV foi invadido por policiais militares e Maria Nilde e seus companheiros foram presos por cerca de um mês.

 

Levada para o SEDES pela psicóloga Lélia Vizanni, sua amiga desde a juventude, Maria Nilde logo abriu seu espaço dentro da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Criou um centro educacional e se tornou professora de psicologia educacional. Professora da PUC a partir de 1970, orientou teses de inúmeros alunos, deixando para segundo plano, a sua própria tese de doutorado. Em toda a sua carreira como pedagoga, trabalhou com Educação Popular em programas educacionais, formais ou informais, para a população de baixa renda excluída da escola. Colaborava com os programas educacionais da CNBB desde 62. A partir de 1972, esta colaboração se dá por intermédio do RENOV. Neste mesmo ano, implantou um programa para mulheres de baixa renda na Favela Buraco Quente junto à paróquia Nossa Senhora do Guadalupe, no Campo Belo, e prestou assessoria ao projeto Educacional junto a Favela do Jaguaré, também na capital.

 

Em 1995, a Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT) procurou algumas instituições de ensino e pesquisa (PUC-SP, UFRJ, UNICAMP, CEFET-SP) para estabelecer uma parceria com o objetivo de estruturar, inicialmente no âmbito estadual e posteriormente no nacional, um amplo projeto de qualificação profissional para metalúrgicos e ex-metalúrgicos, Era o projeto INTEGRAR. A principal idealizadora deste programa foi a professora Maria Nilde Mascellani (PUC-SP). Ela conseguiu reunir sindicalistas, intelectuais, professores e trabalhadores e juntos, montaram um currículo formado por disciplinas básicas e técnicas que estavam relacionadas à experiência dos alunos (o saber acumulado) e à comunidade da qual faziam parte. Nestes anos todos, foram realizados vários cursos para trabalhadores desempregados, empregados e dirigentes sindicais sempre articulando o diálogo entre o mundo do trabalho, a certificação em nível de ensino fundamental, médio e de extensão e a ação concreta para a transformação social.

 

Maria Nilde não se casou e nem teve filhos. Em 19 de dezembro de 1999, vítima de um infarto fulminante, morreu aos 68 anos em São Paulo, interrompendo uma trajetória marcada pela honestidade intelectual, sensibilidade aos pro­blemas do ensino e coragem. Finalmente, acabara de defender na Faculdade de Educação da USP, no dia nove do mesmo mês, sua tese de doutorado Uma Pedagogia para o Trabalhador: o Ensino Vocacional como base para uma proposta pedagógica de capacitação profissional de trabalhadores desempregados (Programa Integrar CNM/CUT), que versava sobre duas de suas realizações: o Ensino Vocacional e a Pedagogia do Programa Inte­grar, da Confederação Nacional dos Metalúrgicos.

 

O trabalho de Maria Nilde faz parte da história da educação brasileira desde os anos 60 e sua proposta de ensino vocacional como base da capacitação de trabalhadores, realizada no projeto Integrar, resgata uma dívida social sem ter assumido uma forma assistencialista.

 

Portal do Futuro 16 de outubro de 2008

 

Portal do Futuro é um projeto destinado para jovens em situação de risco de exclusão social, desenvolvido pelo Senac Rio, com consultoria da Germinal. O projeto destina-se à capacitação básica de jovens para atuação no Setor de Comércio e Serviços. Para tanto, está organizado em torno de competências básicas e gerais requeridas por toda ocupação de comércio ou de serviços.

 

A Germinal participou ativamente no desenho do Programa e prestou consultoria na elaboração dos manuais dos docentes das oficinas que constituem os três módulos fundamentais do programa: Ser Pessoa, Ser Cidadão e Ser Profissional.

 

O programa foi desenhado e implementado no ano de 2.000. Desde o seu lançamento, já foi desenvolvido em 45 municípios do Estado do Rio de Janeiro e atendeu um número superior a 6.000 jovens. Muitas páginas da internet falam do Portal do Futuro.

 

O site do Senac Rio, informa:

 

 O programa Portal do Futuro insere, no mercado de trabalho, jovens com idades entre 16 e 21 anos em situação de risco social, tendo como base métodos pedagógicos modernos, sintonizados com as tendências socioambientais do novo milênio.

 

Organizado por projetos: Ser Pessoa, Ser Cidadão e Ser Profissional, propõe desafios que levam o participante à produção de trabalhos relevantes para seu amadurecimento pessoal e profissional. O programa  já passou por 45 municípios, capacitando mais de seis mil jovens.

Muitas empresas são parceiras desse projeto, que demonstra  resultados de impacto para o participante, sua família, para as comunidades e para os mercados.

 

Mais informações:
Centro de Educação para o Trabalho e a Cidadania do Senac Rio
Tel.: 21 2473-8671

 

 

O Correio do Senac, publicação do SENAC Nacional, complementa:

 

Em seu quarto ano de realização, o Portal do Futuro mostra-se como um programa de sucesso na preparação de jovens para o Primeiro Emprego. Ao longo desse período, o programa atendeu 3.500 adolescentes, tendo encaminhado 68% ao mercado de trabalho.


Coordenado pelo Centro de Educação para o Trabalho e Cidadania, o programa é resultado de um convênio firmado entre o Ministério do Trabalho e Emprego, a Confederação Nacional do Comércio, com a interveniência do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador – CODEFAT, visando o desenvolvimento de ações de educação profissional a serem executadas pelo
Senac Rio.

 

 

A Agência Brasil cita o Programa:

 

Rio de Janeiro – Cerca de 150 jovens de baixa renda, com idades entre 16 e 24 anos, moradores de Irajá, zona norte do Rio de Janeiro, vão receber até o fim do ano qualificação para o mercado de trabalho. Eles participam do Portal do Futuro, uma iniciativa do Senac.

 

O ministro Paulo Vannuchi, da SEDH, em visita hoje (17) às instalações do Portal do Futuro, afirmou que se trata de uma experiência importante porque é capaz “dar uma virada” na vida de jovens que poderiam se envolver com o crime organizado ou daqueles que já tiveram algum tipo de problema com a lei. Além de qualificar jovens da comunidade, o programa também recebe adolescentes que cumprem medidas socioeducativas de liberdade assisitida.

 

 

 

A publicação Desafios do Desenvolvimento, a revista mensal de informações e debates do IPEA e do PNUD, também fala do Portal do Futuro:

 

Emprego
Caminhando contra o vento
Como na canção de Caetano Veloso, os jovens brasileiros enfrentam momentos difíceis. Pesquisa do Ipea mostra que 48% dos desempregados têm entre 15 e 24 anos. Sociedade e governo buscam soluções para a crise dos jovens
Walter Clemente

 

(…) merece atenção o Portal do Futuro, programa de inclusão social para jovens de baixa renda do Centro de Educação para o Trabalho e Cidadania do Senac do Rio de Janeiro. Tarcísio de Carvalho, de 18 anos, procurou o Portal do Futuro para fazer um estágio. Filho de um frentista de posto de gasolina em São João do Meriti, na Baixada Fluminense, encontrou emprego como auxiliar de escritório numa escola em Duque de Caxias, também na Baixada, e escolheu sua carreira:”Vou ser psicólogo”. O Portal do Futuro atua em Irajá, no subúrbio carioca, e há cinco anos prepara jovens de baixa renda para o mundo do trabalho.” Meninos e meninas saem daqui com um plano de vida”, diz Mônica Volpato, gerente do projeto.

 

 

 

O blog FOCO DESIGN divulga o trabalho realizado na edição dos manuais que referenciam a ação dos docentes do Portal:

 

 

 

 

 

 

 

 

Esses são os livros do Portal do Futuro, um projeto maravilhoso e importantíssimo do Centro de Educação para o Trabalho e a Cidadania do Senac Rio. Já tinha feito uma versão desses livros com o Marcos Castilho, meu sócio na época; alguns anos depois o CET encomendou um novo projeto, totalmente diferente do anterior. Foram desenvolvidos pictogramas baseados na marca Portal do Futuro (que não é minha) para ilustrar as três fases do programa (“ser pessoa”, “ser profissional” e “ser cidadão”), e mais uma família da mais de 16 pictogramas para as oficinas (“conhecendo meu bairro”, “toque a tecla”, “escrever é fácil” e “aprendendo a aprender”).

 

 

A matéria publicada no site da São Rafael, Sociedade de Previdência Privada, ajuda a apresentar a estrutura básica do Programa:

 

Teoria aprendida na prática

As oficinas do Portal do Futuro desenvolvem competências específicas, que possibilitam a entrada do jovem no mercado. Mas além da manipulação da Internet e do aprendizado do idioma inglês, o programa se preocupa em formar um cidadão responsável, capaz de dirigir seu futuro com liberdade e responsabilidade.

 

Para isso, os jovens começam no programa com as oficinas do projeto “Ser Pessoa”, onde o produto final é a redação de um livro sobre sua vida. Para que o aluno cumpra bem esta tarefa, ele passa por aulas práticas de redação e técnicas de expressão, formas literárias e de edição de texto no computador, por exemplo.

 

Passado este estágio, o aluno ingressa nas aulas do “Ser Cidadão”, que incentiva os jovens a identificarem as necessidades e possibilidades de melhoria na rua, no bairro ou cidade onde mora. Assuntos como qualidade de vida e respeito ao meio ambiente são debatidos para a realização da tarefa estabelecida: um pedido formal para a intervenção de órgãos competentes nos problemas socioculturais identificados pelos próprios alunos.

 

O projeto “Ser Profissional” está subdivido em duas áreas que atendem as expectativas do aluno, que poderá escolher pelo grupo interessado em trabalhar em uma empresa ou pelo grupo que pretende abrir seu primeiro negócio. As aulas práticas abordam temas como as relações interpessoais, análise de oportunidades, noções básicas de inglês e Internet e legislação trabalhista.

 

Para completar o ciclo do programa Portal do Futuro, o jovem vai a campo, ver como funciona o dia-a-dia de uma empresa. “As parcerias comerciais do Senac Rio estão sempre de portas abertas para os nossos alunos e aproveitamos este relacionamento para ampliar os conhecimentos dos jovens participantes do programa. Acreditamos que com estes três projetos, aumentamos as chances de uma inclusão no mercado de trabalho”, conclui Giselle.

 

 

O JB ONLINE Mostra uma das possibilidades de desdobramento do Portal do Futuro:

 

Em Irajá, a escola do samba

Compositor Ney Lopes comanda projeto que ensina música a jovens carentes

Waleska Borges

Gabriel Jauregui

Ney e a turma do Portal do Futuro

Ney e a turma do Portal do Futuro: aulas resgatam auto-estima dos jovens de Irajá e bairros vizinhos

Eles são jovens, moram em comunidades carentes do subúrbio carioca e gostam de samba. Cheios de sonhos e com um objetivo em comum: fazer da arte a fonte de renda. Nas aulas de canto e dramaturgia, eles descobrem profissões como de contra-regra, noções de figurino, cenário e iluminação. Para 30 jovens do Rio, com idades entre 16 e 21 anos, o programa O Samba e o Irajá, do projeto Portal do Futuro, desenvolvido pelo Senac, representa a oportunidade do primeiro emprego.

 

 

 

 

O site PetBr mostra uma outra possibilidade de desdobramento:

 

Portal do Futuro Forma a Primeira Turma de Profissionais para Pet Shop Através da Parceria da Iams do Brasil e o Senac Rio.

No final do mês de maio forma-se a primeira turma do curso de “Formação de Mão de Obra ao Mercado Pet”, promovido, gratuitamente, pela Iams do Brasil (fabricante dos alimentos Iams e Eukanuba para cães e gatos) e o Senac Rio, para jovens de baixa renda entre 16 a 21 anos.

 

 

 

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Clique aqui (p. 205) ou aqui se quiser informações mais detalhadas sobre o plano de curso do projeto ou então consulte: Küller, J.A. e Freitas, W.B. (org.) Construindo a Proposta Pedagógica do Senac Rio. Rio de Janeiro, Editora Senac Rio, 2000.

 

Competências básicas para o trabalho e para a vida: a experiência da Oficina de Comunicação Oral e Escrita no Programa de Aprendizagem Rural 13 de setembro de 2008

 

O Programa de Aprendizagem Rural, destinado aos jovens aprendizes, foi desenvolvido pela Germinal Consultoria para o SENAR de São Paulo. Busca desenvolver competências básicas para o trabalho, competências gerais para o trabalho rural e competências para o empreendedorismo. Para o desenvolvimento dessas competências, tem uma organização curricular composta por Projetos e Oficinas, como pode ser visto aqui. Para cada um desses componentes curriculares foi elaborado um manual para o coordenador docente, outro para o participante, de modo a propiciar um referencial para a ação docente e facilitar a integração e o treinamento dos professores do Programa.

 

Como na amostra da Oficina de Comunicação Oral e Escrita publicada no post anterior, o manual do coordenador docente contém sugestão para o desenvolvimento da Oficina, detalhada passo a passo. Os manuais estão desenhados de forma a promover a integração entre as diferentes unidades curriculares. Esta integração é feita pelo projeto que articula cada eixo temático ou dimensão do Programa. No caso da Oficina de Comunicação Oral e Escrita, Ser Pessoa é o eixo temático e o Projeto de Vida é o que articula o currículo do eixo.

 

Todos os eixos do Programa (Ser Pessoa, Ser cidadão, Ser Profissional, Ser Profissional da Agricultura e da Pecuária, Ser Empreendedor) são articulados pelo Projeto “Tornar uma Área Produtiva de Forma Sustentável”, que implica no trabalho em um terreno experimental. Assim, o trabalho concreto é a dimensão que integra todo o currículo. A forma como os conteúdos se integram através dos projetos pode ser vista claramente na quarta sessão de aprendizagem da Oficina, postada anteriormente.

 

Esses manuais já foram utilizados por um conjunto de coordenadores docentes do Programa de Aprendizagem Rural, em diferentes localidades do Estado de São Paulo. Posteriormente, em reunião de avaliação, os docentes relataram experiências com o desenvolvimento do Programa, em suas diferentes oficinas.

 

 

 

 

 

 

 

Resultados

 

 

 

 

 Os relatos dos resultados obtidos com a Oficina de Comunicação Oral e Escrita foram particularmente interessantes, e em alguns casos surpreendentes, porque iniciaram uma mudança positiva mais ampla na vida dos aprendizes.

 

Vários coordenadores docentes que utilizaram efetivamente as sugestões do manual, em diferentes localidades, comunicaram resultados similares, tais como:

 

  • Os jovens se envolveram,  e com prazer, nas atividades de expressão oral e escrita propostas;
  • Escrever e falar sobre si mesmo, seus planos, perspectivas e necessidades reais funcionou como um estímulo para a superação das dificuldades de expressão oral e escrita;
  • Escrever sobre as atividades do Projeto Articulador “Tornar uma Área Produtiva de Forma Sustentável” constituia um ato efetivo de comunicação, o que tornava motivadora a escrita.
  • A utilização intensiva da competência de ler e escrever foi uma experiência motivadora e importante para a continuação do aprendizado;
  • Coordenadores docentes receberam comunicações espontâneas de escolas regulares freqüentadas pelos aprendizes sobre progressos surpreendentes que os alunos haviam feito na disciplina Língua Portuguesa, após sua inserção no Programa de Aprendizagem Rural.
  • Alguns dos coordenadores docentes chegaram a relatar ter recebido avaliações das escolas traduzidas como “salto de desenvolvimento” dos alunos na comunicação escrita.
  • Outros receberam notícias sobre progressos pontuais importantes, reconhecidos pela escola regular, como, por exemplo, melhor compreensão da leitura e mais qualidade na comunicação escrita e, ainda, mais e melhor expressão oral.
  • Houve depoimentos com afirmativas de que alunos que não escreviam passaram a escrever. 

Comentários sobre a importância desses resultados para os aprendizes, na vida e no trabalho, no contexto da educação nacional hoje, são desnecessários por serem evidentes. Entretanto, pensar em como chegar a eles pode ser de grande valia.

O que a Oficina fez foi muito simples: proporcionou condições para que ocorressem experiências significativas de comunicação oral e escrita.

 

Quais foram essas condições? Entre outras, merecem destaque:

 

1. A experiência de comunicar através da escrita e da fala com envolvimento emocional sobre o conteúdo comunicado:

  • comunicando conteúdo relevante que diz respeito diretamente ao comunicador;
  • trocando idéias com os pares sobre essas comunicações pessoais;
  • fazendo continuamente auto-avaliação de desempenho nas experiências de comunicação e buscando superação.

2. A superação de dificuldades técnicas da escrita e da fala:

  • tirando lições a partir da reflexão sobre a própria experiência de comunicação oral e escrita;
  • comparando e discutindo suas lições com as lições das experiências dos outros;
  • buscando adicionalmente informações sobre a adequação à norma culta através da literatura e fazendo novas tentativas de comunicação, aplicando-as, com ganho de qualidade.
Salvador Dali, Person in the window
Salvador Dali, Person in the window

 

 O fato do aprendiz concluir a Oficina com a convicção pessoal de ser capaz de comunicar-se oralmente e por escrito, é outro resultado inestimável. Proporciona o impulso para continuar melhorando a capacidade de comunicação, qualidade imprescindível para o bem viver e para o desempenho profissional futuro.

 

 

 

Jovem Aprendiz Rural ganha sede própria em Taguaí 3 de setembro de 2008

 

O jornal Sudoeste do Estado divulga uma notícia sobre a implementação do Jovem Aprendiz Rual no Município de Taguaí (SP), que reproduzimos a seguir. Para saber mais sobre o Programa Jovem Aprendiz Rural e sobre a participação da Germinal no design e implementação do Programa, clique aqui. Para saber mais sobre o Projeto Articulador “Tornar uma área produtiva de forma sustentável”, clique aqui.

 

Observem que as fotos não fazem parte do contexto da notícia e foram incluídas por nós. Duas delas ilustram o projeto de criação de uma revista eletrônica, proposta na Oficina de Informática. A outra mostra uma repesentação teatral, recurso para o desenvolvimento de competências básicas para o trabalho, que junto com o desenvolvimento das competências gerais para o trabalho rural e das competências para o empreendedorismo, constituem o propósito do curso.

 

Capa da revista eletônica da turma de Viradouro (SP) – 2008

“Uma parceria entre o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e a Prefeitura Municipal de Taguaí está garantindo a adolescentes taguaienses a chance de aprenderem noções sobre agricultura e pecuária, em um espaço apropriado, já que o antigo matadouro municipal foi reformado e reformulado para atender as necessidades do Programa Jovem Aprendiz Rural.

 

Desde junho o projeto ganhou uma sede nova, pois antes funcionava no anfiteatro da Escola Pedro Soldera, e agora já pode atender da melhor forma cerca de 30 adolescentes, entre meninos e meninas de 14 a 17 anos, que freqüentam a escola no período da manhã e ao saírem dirigem-se ao projeto, onde recebem almoço fornecido pela Cozinha Piloto de Taguaí e participam de aulas teóricas e práticas.

 

Capa da revista eletônica da turma de Miguelópolis (SP) - 2008
Capa da revista eletônica da turma de Miguelópolis (SP) – 2008

Das 13:00 horas às 17:00 horas os adolescentes participam do programa, orientados pelas instrutoras Carolina Andrade (zootecnista) e Elisângela de Oliveira (pedagoga). Os cursos ministrados por Carolina são voltados a área da agricultura e pecuária, abordando temas como a degradação do meio ambiente, aulas sobre o plantio e cultivo de milho, mandioca, cana-de-açúcar, legumes, verduras, ervas medicinais, além da criação de animais de pequeno porte como coelho, codorna e frango.

 

Já a orientadora Elisângela cuida da parte pedagógica do programa, transmitindo aos adolescentes lições de trabalho em equipe, como alcançarem seus objetivos pessoais e profissionais, como se comunicarem melhor verbalmente, entre outras. As aulas teóricas são ministradas dentro da sala, de uma forma que leve os participantes a interagirem com os colegas, permitindo a participação de todos em debates e discussões, facilitando a aprendizagem e a compreensão.

 

Jovem Aprendiz Rural de Itu (SP) - 2007
Jovem Aprendiz Rural de Itu (SP) – 2007

Além da parte didática os jovens atendidos pelo programa também participam de projetos de teatros, viagens e visitas, pois assim os instrutores procuram ensinar de uma forma divertida, com mais brincadeiras e menos rigidez. Um exemplo é a viagem que está programada para Rubião Junior, à Faculdade de Agronomia, Zootecnia e Veterinária, tudo para que os adolescentes conheçam a realidade das profissões que sonham ter.

 

Outra parte importante do programa Jovem Aprendiz Rural são as aulas de informática, que levará os participantes a aprendem a criar seus próprios blogs, páginas na Internet, tudo para que futuramente possam divulgar seus trabalhos.

 

Segundo o coordenador e médico veterinário, Neto Lança, neste último sábado, 09, o grupo participou da Campanha de Vacinação, no Centro de Saúde, expondo os produtos cultivados na sede do programa, dando sementes e orientações sobre o seu cultivo às pessoas que por lá passavam, visando incentivar adultos e crianças a consumirem legumes e verduras.

O programa segue até novembro, quando os participantes receberão um certificado de conclusão do curso.”

 

Curso Especial de Formação Pedagógica 25 de julho de 2008

 

 

O excerto de projeto de Curso Especial de Formação Pedagógica, elaborado pela Germinal Consultoria e apresentado a seguir, faz parte de um Projeto de Instituto Superior de Educação (ISE) não implementado, por questões estranhas ao projeto técnico.

 

Totem

  

 “A arquitetura como construir portas,
de abrir;
ou como construir o aberto;
construir; não como ilhar ou prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.[…].”  [1]  
 João Cabral de Melo Neto

 

 

 

 

O presente projeto pedagógico é um detalhamento do Projeto Pedagógico do Instituto Superior de Educação (ISE), elaborado pela Germinal Consultoria.  O Projeto Institucional atribui ao Projeto Pedagógico a tarefa de integrar em um único currículo duas distintas trajetórias de capacitação para o magistério. Em uma delas, o currículo adiante desenhado cartografa o fim de uma trajetória para a formação docente. Capacita para o magistério os egressos do ensino superior, que não foram licenciados (Programa Especial de Formação Pedagógica). Na outra trajetória, o mesmo currículo está colocado no início do processo destinado à capacitação de docentes. Será o módulo inicial de todas as formações propostas pelo ISE (Módulo I – Módulo   Básico de Formação Pedagógica).

 

No presente projeto pedagógico une-se o começo e o fim. Ao colocar a formação pedagógica mínima e comum no início e no final da trajetória de capacitação para o magistério, efetua-se uma junção de duas perspectivas educacionais opostas. A colocação da formação pedagógica no término do processo de capacitação docente implica em considerar necessário saber antes de ensinar. Implica, ainda, em dividir os tempos de aprender dos tempos de ensinar.  Sugere, por fim, uma dicotomia entre os papéis do ser que aprende e do ser que ensina.

 

 A formação pedagógica colocada no início do processo de capacitação para o magistério insinua afirmações opostas. Pode-se ensinar antes de aprender ou, pelo menos, pode-se aprender ensinar ensinando. Os tempos de aprender e ensinar podem ser simultâneos. Os papéis de mestre e aprendiz podem se confundir em uma trajetória comum de construção do conhecimento.

 

 A união das trajetórias distintas é, então, uma junção de opostos. Toda junção de opostos requer criatividade e pode ser um momento criativo[2]. A criatividade é freqüentemente mediada por símbolos. Um símbolo tradicional veicula uma imagem similar à situação vivida aqui. Trata-se do uróboro[3]. O uróbolo pode ser símbolo de uma situação sem saída ou do eterno retorno. Pode também representar um salto qualitativo em uma linha evolutiva. Ao juntar o velho e o novo, o princípio e o fim, espera-se que este projeto pedagógico não repita as deficiências atuais dos cursos destinados à formação para o magistério, inúmeras vezes reconhecidas. Espera-se um salto qualitativo e a definição de um novo padrão e a fixação de uma nova referência para a formação de docentes.

 

 

O Programa Especial de Formação Pedagógia

 

Jeanine Chételat Forjaz (JANIC) - Leque - escultura

A primeira trajetória a ser integrada é a formação para o magistério de egressos do ensino superior. Nesta vertente está prevista a licenciatura em todos os campos do saber. Tal possibilidade é aberta pelo Programa Especial de Formação Pedagógica, que visa a preparação de docentes especialistas para as disciplinas do currículo do ensino fundamental, do ensino médio e da educação profissional de nível médio.

 

A lei brasileira de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional já prevê a existência de um programa destinado a egressos do curso superior interessados na carreira do magistério. Ela diz explicitamente:

 

“Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:

II – programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica;”[4]

 

Na lei, o programa é destinado aos portadores de diplomas de educação superior que queiram dedicar-se à educação básica. Conforme a Resolução CNE no. 2, de 26 de junho de 1997, o programa “destina-se a suprir a falta de professores habilitados, em determinadas disciplinas e localidades, em caráter especial”. Atende portadores de diplomas de nível superior, em cursos relacionados com a habilitação pretendida. Segundo a Resolução, o programa terá uma duração mínima de 540 horas, incluindo a parte teórica e a parte prática. A teoria e a prática devem ser concomitantes, vedada a parte prática exclusivamente ao final do programa. O profissional de nível superior que concluir o programa especial de formação pedagógica receberá certificado e registro profissional equivalente à licenciatura plena.

 

 Nesta primeira vertente, a formação docente parece ser muito semelhante com a que convencionalmente é hoje praticada. A formação do especialista precede e é prioritária em relação à formação docente. A formação do especialista demanda mais tempo, em geral três anos. A formação docente tem formação mais reduzida, em geral um ano. Assim posto, o Programa Especial de Formação Pedagógica nada mais será que uma repetição do esquema 3×1[5], com a diferença que a formação técnica poderá ser feita em outra Instituição de Ensino Superior e a formação pedagógica após a certificação da conclusão da formação técnica ou especializada.

 

A forma legal do Programa carrega no mínimo duas suposições prévias. Está implícito, tal como no esquema 3×1, que o domínio de um saber especializado é um pré-requisito e uma porta aberta para a docência. Supõe-se também que a formação mínima para a docência exige as citadas 540 horas de duração. O senso comum não questiona a primeira suposição. A segunda, mesmo com base no senso comum, já é muito discutível.

 

 

 O Módulo Básico de Formação Pedagógica

 

Charles Pery - Duality - escultura em bronze

 

Integrada ao mesmo programa, a segunda vertente de capacitação contraria e coloca em questão a necessidade de um saber prévio ao ato de ensinar. Assim, o mesmo currículo do Programa Especial de Formação Pedagógica será adotado como currículo do Módulo Básico de Formação Pedagógica. Este será o módulo inicial (Módulo I) de capacitação para todos os profissionais da educação (docentes, técnicos e gestores) a serem formados pelo ISE. Nele serão matriculados, prioritariamente, jovens egressos do Ensino Médio supostamente ainda distantes daquele saber atribuído aos que já concluíram o ensino superior. A visão esquemática do ISE (anexo 1) pode auxiliar na visualização desta dupla destinação do Programa.

 

 Nesta segunda vertente, principalmente no caso da formação inicial de futuros professores especialistas para disciplinas das quatro últimas séries do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e no caso de futuros professores de Educação Profissional e Corporativa, a construção do saber pedagógico é simultânea à abordagem do conteúdo específico e objeto de ensino do futuro professor. O Módulo Básico de Formação Pedagógica é colocado pelo Instituto Superior de Educação como centro do Projeto Institucional e assumido como Instrumento fundamental da formação comum de todos os profissionais de educação.

 

 

 

A junção dos opostos

 

“Adotando o princípio de economia de esforços e o de racionalização do trabalho, ambos aplicados ao desenho curricular, o ISE junta as perspectivas de formação comum e de formação especial em uma só. Com duração de 645 horas, o Instituto oferece a complementação pedagógica (e licenciatura) para os portadores de diplomas de ensino superior. No caso, é mantida a designação de Programa Especial de Formação Pedagógica, enquanto for de direito. Oferece, paralelamente e ao mesmo tempo, como Módulo Básico de Formação Pedagógica, a preparação comum mínima para a formação inicial de todos os professores de educação básica”[6].

 

Charles Perry - Continuum - Escultura em bronze

O desenvolvimento do presente projeto deverá demonstrar que as duas vertentes de capacitação docentes já referidas só são contraditórias face à visão do papel da escola e do professor como vetores de transmissão do conhecimento.

 

 Na situação presente, a contradição é aumentada com a atual concepção curricular e organização do trabalho no ensino superior que separa e distancia o bacharelado da licenciatura.

 

 Complementa o quadro contraditório a vigente separação entre a teoria e a prática, tanto na formação especializada como na capacitação docente. Superar a contradição significa, também, superar uma determinada concepção de educação, de educação dos educadores e de educação profissional em nível superior.

 

 A fusão do Módulo Básico de Formação com o Programa Especial de Formação Pedagógica é possível na medida em que a capacitação para o magistério esteja centrada no desenvolvimento de competências para a docência. Aí, o desenvolvimento das capacidades especificamente pedagógicas será feito ao mesmo tempo em que se facilita o domínio necessário do campo profissional ou de conhecimento básico ou especializado. O conhecimento especializado ou genérico e o conhecimento pedagógico serão construídos ou ampliados simultaneamente com a constituição das competências para a docência.

 

 A competência para a docência é mais complexa do que o domínio do referencial teórico da área especializada (disciplina ou área de estudo) e de uma teoria pedagógica de referência. Envolve a possibilidade de mobilizar (ou de buscar, construir ou criar quando não disponível) os conhecimentos já referidos, as habilidades específicas de coordenação e animação do processo de ensino e o conjunto de valores implicados na arte de ensinar.

 

O papel do docente do ISE, expresso na prática efetiva e tomado como modelo de comportamento, será o de facilitar a aprendizagem ao propor e coordenar as atividades, as iniciativas individuais e coletivas de resolução de problemas e o desenvolvimento de projetos que possibilitam a constituição das competências docentes. O desenho do currículo será orientado, então, pela definição do papel docente (expresso no perfil profissional de conclusão) e pelas competências docentes a serem constituídas.

 

 

 

 Perfil Profissional de Conclusão

 

 O perfil profissional de conclusão referir-se-á ao Programa Especial de Formação Pedagógica e ao Módulo Básico de Formação Pedagógica. No primeiro caso, o perfil deverá expressar o rol mínimo de competências a serem demonstradas pelo professor formado pelo ISE. Isto significa que os concluintes do Módulo Básico de Formação Pedagógica também já terão constituído essas competências, mesmo no início do processo formativo. Vale dizer que, mais que a ampliação do rol de competências, nos demais módulos da formação inicial de docentes (Normal Superior, demais Licenciaturas) buscar-se-á um nível sempre mais especializado e complexo de domínio das mesmas competências definidas para o Programa Especial de Formação Pedagógica.

 

Ao final do Programa Especial, o aluno terá condições de assumir as funções profissionais básicas do professor especialista da Educação Básica (últimas quatro séries do Ensino Fundamental e Ensino Médio) e da Educação Profissional (básica e técnica de nível médio), apresentando as seguintes características:

 

 

PERFIL PROFISSIONAL DE CONCLUSÃO

 

1· Procura manter-se atualizado em relação aos avanços nos campos da sociedade e da cultura, da ciência e da técnica, da saúde e do meio ambiente, da política e da filosofia de vida e, especialmente, da educação, definindo sua posição e forma de participação em relação a cada um desses avanços, consciente de que é um modelo importante para os seus alunos e que a educação é uma forma de intervenção no mundo.

2· Participa ativamente, organiza e estimula a participação dos alunos no desenvolvimento social , cultural e econômico do entorno comunitário da escola, aproveitando ao máximo o seu potencial educativo.

3· Lida de forma cada vez mais competente com problemas, reconhecendo-os, analisando-os e resolvendo-os, desenvolvendo continuamente suas capacidades relacionadas ao processamento da informação, ao pensamento e ação estratégicos, ao planejamento, à gestão do tempo e à avaliação.

4· Entende que sua missão profissional de ensinar não é a de transferir conhecimento, mas de criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção dentro de um processo de constituição de competências, e que o ensino é inválido se não resulta em aprendizagem, se o aluno não se tornou capaz de recriar ou de refazer o que foi ensinado.

5·Zela pela aprendizagem dos alunos e cria condições para a constituição de competências que cada vez mais:

·   preservem e estimulem a curiosidade do educando, que deve passar de ingênua a crítica através da reflexão sobre a prática;

·   respeitem a identidade cultural do educando;

·   respeitem e solicitem a capacidade criadora e os saberes do educando;

·   reconheçam o valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição;

·   estimulem a autonomia do educando;

·   abram espaço para a assunção de riscos e a consideração do novo;

·   cultivem e valorizem o prazer como um importante atributo da aprendizagem;

·   rejeitem qualquer forma de discriminação.

6· Fundamenta seu trabalho cotidiano em referências teóricas, éticas e estéticas e em métodos e recursos didáticos compatíveis com uma concepção de educação compartilhada e/ou construída ou reconstruída pela equipe escolar.

7· Avalia continuamente seu trabalho de ensino, a aprendizagem dos alunos e a execução do projeto pedagógico da escola como instrumento de aprimoramento pessoal e profissional e de melhoria de processos e resultados.

8· Formula suas demandas de educação profissional continuada e realiza investimentos pessoais em seu aperfeiçoamento profissional contínuo.

9· Cultiva, a partir da análise da sua própria experiência dentro da escola e fora da escola, qualidades indispensáveis à prática educativa que interferem diretamente em seu desempenho como educador:

·   humildade[7]

·   amorosidade ao aluno e ao processo de ensinar;

·   tolerância, como virtude que ajuda a conviver com o diferente;

·   disponibilidade para o diálogo;

·   capacidade de decisão;

·   segurança, que por sua vez requer competência científica, clareza política e integridade ética;

·   parcimônia verbal, em prol de um discurso na medida e com o tempero certo.

·   alegria de viver, para poder estimular e lutar pela alegria na escola[8].

10· Integra-se de modo ativo na sua categoria profissional.

 

 

 

 

 

Princípios Pedagógicos

 

Zhang Jing Sheng - High Tide Season - Oil on the linen

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Projeto Institucional Pedagógico do Instituto Superior de Educação definiu um conjunto de princípios orientadores para a formação inicial de professores. Esses princípios também orientarão o desenho do Programa Especial de Formação Pedagógica, no mínimo pela sua identidade com o Módulo I – Módulo Básico de Formação Pedagógica, módulo inicial para todas as demais carreiras docentes. No Programa Especial de Formação Pedagógica, no entanto, eles ganham alguma especificidade. A ver:

 

 

Da formação comum para a específica

 

O primeiro princípio diz que o desenvolvimento das competências necessárias e comuns a todos os professores precederá à específica. Este princípio confere ao ISE uma identidade como instituição centralmente preocupada com a formação para o magistério. O objetivo do ISE é a formação de professores e não a formação de especialistas ou técnicos que possam vir a ser professores.

No caso do Programa Especial de Formação Pedagógica, no entanto, a formação técnica ou especializada terá precedido a formação docente. Mesmo aqui, a formação comum terá precedência sobre a formação especializada. Isto fica claro no perfil profissional de conclusão. A ênfase é na formação do professor e o perfil descrito não é o de um professor especialista. Isto implica em prioridade da didática geral sobre a específica. Implica ainda em considerar os conteúdos da área específica como meios para o desenvolvimento das competências previstas para a educação básica. Significa, por fim, fazer da formação técnica um instrumento na constituição das competências docentes necessárias a todos os professores[9].

 

 

Da ação para a reflexão e da reflexão para a ação

 

O Projeto Institucional Pedagógico do ISE diz que todo o “percurso da formação básica e inicial de docentes será desenvolvido a partir da ação (prática, criativa, transformadora). A toda ação seguir-se-á momentos estruturados de reflexão. A reflexão deverá sempre resultar em uma ação renovada, mais rica e complexa. Essa ação melhorada dará início a um novo movimento de reflexão e transformação. A melhoria contínua da atuação docente é princípio inerente ao currículo(…)”[10].

No caso do Programa Especial de Formação Pedagógica, a ação e a reflexão repetidas e renovadas, em grau crescente de complexidade, devem incluir uma revisão do conteúdo da área de especialização, tendo em vista a constituição de competências, e uma crítica ao processo de formação especializada anterior. Desconstruir a visão de escola enquanto transmissora de conhecimentos e apagar a marca dos modelos anteriores de professor podem ser alvos necessários desse fazer e refazer repetidos e intermediados pela reflexão.

 

 

A formação docente estará orientada para a constituição de competências

 

Toda a formação de docentes, técnicos e gestores da educação a ser proporcionada pelo ISE será orientada para constituição de competências. No caso da formação de professores, todos os cursos, na definição das competências a serem constituídas, irão pautar-se pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica , em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.

 

 

Os projetos articulam o currículo

 

A prática, entendida como o engajamento em uma atividade criativa e transformadora e orientada para a elaboração, execução, avaliação e sistematização dos resultados de projetos, constitui o cerne da proposta curricular e institucional do ISE/SENAC-SP. São quatro projetos  que articulam todos os currículos:

Projeto 1: Operação de programas especiais de educação básica e/ou de educação profissional

Projeto 2: Operação de Escola ou Centro de Aplicação

Projeto 3: Aplicação na Escola

 Projeto 4: Cidade Educativa

 

No caso de formação de professores, os projetos estarão direta ou indiretamente ligados à prática docente. Na formação inicial de docentes, os projetos dizem respeito à regência de classes de Educação Básica ou de Educação Profissional. No caso do Programa Especial de Formação Pedagógica, a prática docente se fará em Programas Especiais de Educação Básica ou de Educação Profissional.  As atividades de projeto incluem o planejamento e a avaliação da prática de ensino. O conjunto dessas atividades envolve cerca de 50% (300 horas) da carga horária prevista.

No Programa Especial de Formação Pedagógica, a partir do eixo do projeto, de um lado, circularão Oficinas Pedagógicas que terão como foco a abordagem sistemática de uma ou mais competências docentes, como forma de facilitar a preparação, execução, avaliação ou sistematização das atividades de projeto. Estas ações educativas, constituirão cerca de 25% da duração total dos cursos.

Complementando a visão circular também no desenho do currículo, do outro lado do centro constituído pelas atividades de projeto, completando os 25% de tempo restante, estão as Oficinas Temáticas voltadas para o desenvolvimento e instrumentalização das competências ligadas à uma especialidade profissional ou a um campo específico do conhecimento. No caso do Programa Especial de Formação Pedagógica, serão, aí, abordadas a Área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, a Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e a Área de Ciências Humanas Sociais e suas Tecnologias. Essas áreas abordarão as competências próprias da Educação Básica, cujo domínio é fundamental para a capacitação de todos os profissionais docentes que atuarão neste nível de ensino.

Ao projeto está destinada a constituição das competências mais amplas e complexas ligadas ao perfil de conclusão projetado. No caso do Programa Especial de Formação Pedagógica e, portanto, do Módulo Básico de Formação Pedagógica, a articulação do currículo será feita pelo Projeto 1 (Operação de Programas Especiais de Educação Básica e de Educação Geral) e pelo Projeto 4 – fase  inicial (Aprender a Cidade). Para as Oficinas Pedagógicas e Temáticas está destinado o papel de constituição de competências instrumentais à constituição das competências mais complexas, estas últimas objeto das atividades de projeto.

 

 

A constituição de competências orientará a avaliação

 

Todo o processo de avaliação do ISE será orientado no sentido de acompanhar e aquilatar o nível de constituição das competências previstas. A avaliação será uma tarefa coletiva (beneficiários, dirigentes, professores, companheiros, alunos) e estará prioritariamente orientada para a melhoria contínua de processos e resultados. Uma descrição mais detalhada do processo de avaliação está contida em tópico específico deste documento.

 

 

 

 Os Núcleos Curriculares

O Programa Especial de Formação Pedagógica tem uma duração prevista de 645 horas. Com a mesma duração, o Módulo Básico de Formação Pedagógica é o primeiro módulo e ocupa uma terça parte dos dias letivos do primeiro ano destinado à formação de novos professores. A responsabilidade pela constituição de competências comuns a todos os professores de educação básica está distribuída entre as ações educativas dos Núcleos Contextual, Estrutural e Integrador, previstos pela Resolução CNE nº2/97. Tal como na Resolução, estão previstas 300 horas de prática. Tal como o prescrito pela Resolução, teoria e prática serão desenvolvidas de forma simultânea e integrada.

 

Os núcleos previstos na Resolução CNE nº2/97 foram adotados como a estrutura básica e centralizadora de todos os cursos do Instituto Superior de Educação. Eles são também  a estrutura curricular do Programa Especial e do Módulo Básico de Formação Pedagógica. A saber:

 

 

Núcleo Integrador: com a duração de 345 horas correspondente à parte prática, abrigará as atividades diretamente relacionadas ao Projeto 1, Operação de Programas Especiais de Educação Básica ou de Educação Profissional, e ao Projeto 4, Cidade Educativa. Da duração total, 100 horas estarão destinadas à execução em sala de aula (docência, tutoria) do Projeto 1. Outras 100 horas serão destinadas à preparação da operação (planejamento e organização do trabalho escolar). Outras tantas 100 horas serão usadas na avaliação e sistematização dos resultados (a partir de diferentes perspectivas teóricas). Nesses tempos, dividida em pequenos grupos, cada turma do Módulo Básico ou Programa Especial de Formação Pedagógica vai operar completamente pelo menos um dos programas especiais. Finalmente, nas 45 horas restantes será executada a primeira fase, Aprender a Cidade, do Projeto Cidade Educativa.

 

Núcleo Contextual: visa a constituição de competências didáticas específicas que facilitem o planejamento, a condução e a avaliação do processo de ensino aprendizagem previstos nos programas objeto do Projeto 1 ou de mobilização comunitária prevista no Projeto 4. Não deve ser entendido como um componente curricular destinado à teoria pedagógica ou social isoladas das instâncias de aplicação. A construção teórica no ISE decorre da prática, refere-se sempre a ela e a ilumina. O Núcleo Contextual terá a duração de 150 horas de trabalho efetivo.

 

Núcleo Estrutural: inclui a busca e a pesquisa de conteúdos curriculares relacionados às diferentes especialidades e necessários à constituição de competências e à ampliação do repertório do futuro professor para que ele possa orientar processos de buscas semelhantes, embora em menor grau de profundidade e complexidade. No caso do Módulo Básico de Formação Pedagógica está centrado na garantia do domínio das competências previstas para a Educação Básica. No caso do Programa Especial de Formação Pedagógica destina-se, sempre que possível, à ampliação do nível de constituição das competências previstas para a Educação Básica. Deve também facilitar o domínio de competências referentes à didática especial e necessárias ao tratamento interdisciplinar. O Núcleo Estrutural terá a duração de 150 horas de trabalho escolar efetivo.

 

 

 

Estrutura Curricular do Programa Especial de Formação Pedagógica

 

 

NÚCLEO CONTEXTUAL

150 Horas

 

 

 

NÚCLEO INTEGRADOR

300 Horas

 

 

NUCLEO ESTRUTURAL

150 Horas

 

 

Oficinas Pedagógicas

 

 

 

Atividades de Projeto

 

Oficinas Temáticas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Desenvolvimento do Papel Profissional

 

50 horas

 

 

 

Planejamento da Prática Docente (Projeto 1)

 

100 Horas

 

 

 

Linguagens, Códigos, e suas Tecnologias

 

50 horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Criação e Adaptação de Métodos e Recursos Didáticos

 

50 Horas

 

 

 

Prática Docente (Projeto 1)

 

100 Horas

 

 

 

Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias

50 horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ação Comunitária

 

50 horas

 

 

 

Avaliação da Prática Docente (Projeto 1)

 

100 Horas

 

 

 

Ciências Humanas e Sociais e suas Tecnologias

50 Horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cidade Educativa (Projeto 4) – Conhecer a Cidade

 

45 horas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                               

 

 

 

NOTAS

 

1. João Cabral de Melo Neto. Fábula de um Arquiteto. In: Obra Completa – A Educação pela Pedra, Editora Nova Aguilar, 1999, p. 345.

 

2. Vide Jung.

 

3. “Serpente que morde a própria cauda e simboliza um ciclo de evolução encerrado nele mesmo. (…) Ao desenhar uma forma circular, a serpente que morde a sua própria cauda, rompe com uma evolução linear e marca uma transformação de tal natureza que parece emergir para um nível de ser superior (…). Chevalier, Jean e Gheerbrant, Alain, Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1995, p. 922.

 

4. Lei 9394/96

 

5. Três anos de formação técnica ou especializada seguido de um ano de formação para a docência.

 

6. Jose Anonio Küller, Projeto Institucional Pedagógico do Instituto Superior de Educação São Paulo, 2002.

 

7.  “Sem humildade dificilmente ouviremos com respeito a quem consideramos demasiadamente longe de nosso nível de competência”. Freire, Paulo. Das Qualidades Indispensáveis ao melhor Desenvolvimento de Professores e Professoras Progressistas.

 

8. Os termos em itálico dos demais tópicos deste item também são de Freire. Foram retirados do texto antes citado ou de: Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Editora Paz e Terra, 1996.

 

9. MEC. Diretrizes Curriculares Nacionais – Educação Básica / Educação Profissional de Nível Técnico (Documento Síntese), Brasília, Setembro de 2001.

 

10. Observe-se que, para os alunos de ensino médio, trata-se de agir como se eles já soubessem o que vão ensinar e, para os egressos do ensino superior, como se eles desconhecem o conteúdo de sua formação técnica ou especializada anterior.

 

 

 
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