Germinal – Educação e Trabalho

Soluções criativas em Educação, Educação Profissional e Gestão do Conhecimento

2001 – Uma odisséia no espaço e o processo criativo 15 de julho de 2009

 

Texto que publicamos a seguir, com pequenas alterações e sem as ilustrações, foi extraído de : Küller, J.A. Ritos de Passagem – Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996, pg. 304 a 307. Para mais informações sobre o Livro, clique aqui.

 

 

A partir de um filme de ficção, vamos fazer uma breve leitura do processo criativo. A cena inicial do filme 2001 – uma odisséia no espaço servirá de ilustração do especial entendimento do processo criativo que será adotado aqui. A seqüência inicial do filme mostra as condições de vida de um primata. Ele é herbívoro e disputa folhas e raízes com um ruminante, parecido com a capivara. O primata é facilmente atacado e subjugado por carnívoros, contra os quais não tem defesa. Vive em bando e disputa o suprimento de água com bandos rivais. Mora em cavernas e à noite, no escuro, seus olhos brilham de medo.

Em uma manhã, um estranho monolito aparece no território dos primatas. É uma longa pedra cubiforme e polida. Uma reação, também estranha, apodera-se dos macacos. Eles são irresistivelmente atraídos para a pedra. Freneticamente, cheiram-na e tocam-na. Como fundo musical da cena, ouve-se Lux aeternea (luz eterna).

 

Corte rápido, um outro momento e uma outra cena. Um dos primatas está em frente ao monolito, olhando para ele, e, distraidamente, mexe com um osso que é parte do esqueleto de um dos ruminantes. Aparece, no horizonte, uma conjugação entre Sol e Lua. De repente, ele se agita. Passa a bater o osso, em ritmo e força crescentes, sobre o resto do esqueleto. O movimento culmina quando o osso, agora arma, esmaga o crânio descarnado da capivara. Ao mesmo tempo, o primata, agora homem, visualiza o animal ainda vivo tombando sob o golpe desferido na imaginação.

 

Da imagem ao ato. Na cena seguinte, o bando, agora projeto de tribo ou de grupo, come a carne do animal efetivamente abatido. Segue-se a conquista do bebedouro. O grupo armado enfrenta os rivais. O chefe do bando inimigo é morto e o suprimento de água é conquistado. Na euforia da vitória, um dos homens lança para cima o osso, instrumento primeiro, que, lá no alto, se transforma em espaçonave. É uma cena brilhante. Em um segundo, toda a epopéia da evolução tecnológica e humana é insinuada.

 

 

O que é dito na seqüência do filme sobre o processo criativo? Em primeiro lugar, o foco do processo é apresentado: a defesa e a obtenção de suprimentos. Todo o processo criativo é focado e limitado por um campo de aplicação que, por motivos internos, seja necessidade, desafio, paixão ou desejo, adquire uma relevância para o sujeito. As cenas iniciais de 2001 apresentam em detalhes o cenário em que o ato criativo virá à luz e a situação de impotência do primata. Numa rede de influências recíprocas tem-se, no exterior, uma área de aplicação. E no interior do homem, uma pulsão orientada, delimitada e intensificada pelo campo, assim tornado foco, como necessidade desesperada de sobrevivência, fazendo explodir a criação.

 

No filme, o criativo emerge associado a dois símbolos: o monolito e a conjunção entre Sol e Lua. O que querem dizer aí? O monolito é um objeto estranho e inexplicável no contexto em que aparece. Sua forma perfeitamente retilínea indica que a pedra foi intencionalmente recortada e polida. Naquele estágio de desenvolvimento humano, só por isso já é um objeto misterioso. A intensa atração que ele exerce sobre os primatas e a sua presença dominante no ato da criação são outras facetas de seu mistério.

 

O monolito pode ser visto como símbolo do próprio impulso criativo. O impulso e a sua origem são misteriosos como o monolito. Está além da atual compreensão humana o conhecimento da origem e natureza da criatividade. Jung denomina-a instinto. Como tal, está além da consciência e além da psique. Brota do, pertence ao e mistura-se com o mistério da vida. Para os religiosos, a criatividade brota de e está implicada com a divindade. No filme, a música Luz eterna, que acompanha o aparecimento do monolito, parece ser uma indicação nesse sentido.

 

“O instinto criativo (…). Não é um dom ou uma graça especial, um talento ou uma artimanha. É antes uma imensa energia originada além da psique humana e que impulsiona a autodedicação via um ou outro meio específico (…). Por isso, nossa relação com a criatividade favorece a atitude religiosa e nosso modo de descrevê-la muitas vezes se serve desta linguagem” (James Hillman, O mito da análise: três ensaios sobre de psicologia arquetípica, Riode Janeiro, Paz e Terra, p.41).

 

A Lua e o Sol, aparecendo juntos sobre o monolito, simbolizam a conjugação dos opostos. No irromper do criativo há uma conjugação de inconsciente e consciente. Uma agitação toma conta do primata e ao gesto inconsciente da mão, que a anuncia, soma-se o aparecimento da idéia, que brota na consciência como imagem. Uma imagem significativa dos antecedentes, da situação atual e da potencial transformação global e não como pensamento analítico. No caso, a intuição é o canal do impulso criativo para o consciente e não o pensamento. O veículo é a imagem.

 

As referências dos grandes criadores sobre o nascimento da idéia criativa parecem reforçar a preferência do impulso pelo canal da intuição. “De repente, surgiu uma luz… Quando não estava pensando mais no assunto, a idéia toda veio de súbito.” Raramente existe uma explicação clara de como a compreensão (mais que a idéia) surgiu. Raramente, ela surge a partir de uma dedução lógica. Tem uma característica de compreensão global e súbita. Surge nos momentos em que o indivíduo nem sequer está pensando no assunto. Aparece no banho, no sonho, ao acordar… Seja por meio de uma imagem significativa, de uma iluminação instantânea ou de um sonho, o impulso criativo emerge à consciência e é acompanhado de uma emoção especial.

 

O filme também retrata todo o processo de acúmulo gradativo da tensão criativa na relação entre o criador e o campo. Mostra a intensa emoção do primata durante a passagem do impulso pela barreira que separa o inconsciente do consciente. Explicita, finalmente, as emoções que sucedem a passagem: euforia e liberação. Aspectos da função consciente sentimento parecem estar presentes na intensificação do campo, na irrupção do impulso e após sua liberação. A conjugação Sol (pensamento e percepção) e Lua (sentimento e intuição) é necessária para a irrupção do criativo.

 


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Aprendizagem Criativa – Variações na apresentação da análise (IV) 27 de março de 2009

 

 

 

Em uma série de posts anteriores, temos discutido uma abordagem educacional, possivelmente inovadora, que denominamos de Aprendizagem Criativa. Dela já postamos as características gerais, a metodologia e alguns de seus passos metodológicos. Os links a seguir permitem o acesso aos posts anteriores, na ordem lógica da apresentação, que estamos desenvolvendo em capítulos:

 

1. Aprendizagem Criativa

2. Aprendizagem Criativa – Metodologia

3. Aprendizagem Criativa – Focalização e simbolização

4. Aprendizagem Criativa – A amplificação

5. Aprendizagem Criativa – A análise (I) – falar e ouvir

6. Aprendizagem Criativa – A análise (II) – o grupo-sujeito

7. Variações criativas na dinâmica dos grupos – Aprendizagem criativa – A análise (III)

 

 

Além desses textos mais teóricos, postamos quatro artigos sobre aplicaçações metodológicas e questões correlatas:

 

1.Dinâmica de apresentação (Grupo-sujeito)

2. Falar e ouvir

3. Dinâmica do Circuito dos Elementos

4.  Arquitetura escolar e Aprendizagem Criativa

 

 

Neste post, vamos continuar descrevendo as caracaterísitcas da fase de Análise na Aprendizagem Criativa.

 

Variações Criativas na Apresentação da Análise

A análise da amplificação ( ver item 4, acima) pode ser feita individualmente, em pequenos grupos, em painel ou assembléia. Para todos esses casos, coloca-se o problema de como organizar e apresentar os dados da reflexão e/ou discussão. Embora parecendo um problema de ordem menor, a forma de registro e apresentação da análise pode ter um peso significativo na eficácia e no envolvimento dos participantes com a situação de aprendizagem.

 

Um registro mal organizado e uma apresentação enfadonha da análise podem comprometer toda a situação de aprendizagem, por melhor que tenham sido os momentos anteriores. Já existem inúmeras alternativas técnicas para a apresentação da análise. Também aqui é possível ser criativo.

 

Vamos começar com as alternativas já conhecidas. Vamos desconsiderar, por banais, a apresentação oral ou da transcrição de um resumo das conclusões para folhas de flip-chart ou de cartolina, seguidas de apresentação oral e debates. Dentre as alternativas já conhecidas existem formas mais promissoras.

 

 

1. Usando tarjetas para registro e apresentação da análise

  A tarjeta é um cartão retangular e colorido, com gramatura variando de 80 a 120, na medida-padrão de 11 por 22 cm. É utilizada para visualização da contribuição individual e para organizar as conclusões de processos participativos de discussão. Para facilitar a visualização com o uso de tarjetas, é importante que o participante (aluno, aprendiz, treinando):

  • Só registre uma conclusão por tarjeta.
  • Escreva com pincel atômico (azul ou preto).
  • Escreva em letra de forma, maiúscula.
  • Não use mais do que três linhas.
  • Garanta que o texto possa ser visto a distância.
  • Use cores diferentes para assuntos diferentes.
  • Com fita crepe, cole as tarjetas nos locais indicados do painel

Em reuniões do grupo-classe, com o uso de tarjetas na apresentação das conclusões, é possível construir painéis para visualização das contribuições dos indivíduos ou pequenos grupos. Esses painéis podem tornar-se construções sofisticadas e esteticamente atraentes, com o uso de títulos com formatos diferentes e variando-se a cor das tarjetas segundo uma definição prévia das variáveis a serem utilizadas na análise.

 

Depois da apresentação dos indivíduos ou dos grupos, como cada conclusão está registrada em uma tarjeta, é possível facilmente mudá-las de lugar para sistematizar e tornar consensual a análise. Pode-se eliminar as tarjetas repetitivas e  promover discussões em torno das tarjetas que contém idéias divergentes ou contraditórias. Chegando-se ao consenso, se necessário, outras tarjetas podem ser rapidamente escritas para substituir as que eram anteriormente objeto de discordância.

 

Por fim, o coordenador (professor, facilitador) pode contribuir com a análise, incluindo outras tarjetas e enriquecendo o painel de conclusões.

 

Em post a ser ainda publicado, apresentaremos um exemplo de utilização de tarjetas na análise.

 

 

2. Usando Mapas Mentais para registro e apresentação da análise

 

 Mapas mentais são diagramas hierárquicos (em árvore) que podem representar os dados da análise da amplificação:

na forma de texto, ilustração ou ambas;

• de forma sintética;

• de forma organizada e nivelada.

 

Na figura a seguir, apresentamos um exemplo de mapa mental que foi  utilizado para apresentar as informações essenciais sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): 

 

mapa mental_IDH

 

 Observem que a partir de um tópico central (IDH), também chamado de título ou raiz, derivam-se tópicos (O que é; Parâmetros, …) que são ligados à raiz através de linhas.  Cada tópico pode conter um texto, ilustração ou ambas, como mostra um outro exemplo apresentado a seguir. Nele, o mapa mental foi utilizado para representar o tempo de degradação de alguns materiais:

 

mm_Tempos_degradação

Dos tópicos derivam-se sub-tópicos, que por sua vez podem comportar outros sub-tópicos. O resultado é uma organização hierárquica. Nesta, há um crescente detalhamento e os registros são cada vez mais específicos. A formatação da ilustração em geral segue esta orientação. As linhas são cada vez mais finas, as figuras e as fontes do texto cada vez menores.

 

“Há duas linhas básicas de elaboração de mapas mentais: à mão e em software. O criador da técnica, o inglês Tony Buzan, enfatiza a elaboração à mão, sendo alguns dos argumentos o desenvolvimento da criatividade e a integração dos lados esquerdo e direito do cérebro. Há muitos seguidores de Buzan que são fiéis a suas diretrizes. Um das limitações dessa linha é que a produtividade da elaboração de mapas mentais à mão é muito baixa, devido ao redesenho, sendo mais adequada para conteúdo estável e pessoal. Sob uma perspectiva prática, quando usamos um recurso de estruturação, é porque não estamos conseguindo lidar com um conteúdo e é natural esperar que comecemos com fragmentos que serão depurados e organizados, o que envolve vários ciclos de trabalho, assim como para um texto ou outro documento cuja estrutura ainda não está madura.” ( Virgílio Vasconcelos Vilela, in: Mapas Mentais)

 

Em post futuro, apresentaremos um exemplo de utilização do Mapa Mental na análise da amplificação.

 

Para não tornar o post muito longo, este artigo continua em próxima postagem.  Nela, apresentaremos outras alternativas técnicas para o registro e a apresentação da análise, tais como as transparências (retroprojetor), o Data-Show e o uso das ferramentas básicas do Movimento da Qualidade.

 

A Sala de Aula como Cenário 18 de fevereiro de 2009

 

Em post anterior, Arquitetura Escolar e Aprendizagem Criativa, um texto que surgiu de um comentário a um artigo da série sobre Arquitetura e Educação, que vem sendo publicado pelo blog Boteco Escola, falamos sobre o dispositivo arquitetônico que configura um determinado ambiente em espaços destinados à aprendizagem.

 

Afirmamos que o tradicional formato em auditório é ainda predominante. Comentamos que esse uso do espaço induz uma determinada relação professor/aluno. O mestre fala, o discípulo ouve. Um ensina, os outros aprendem. Um manda, os outros obedecem. O dipositivo arquitetônico configura e induz uma relação de aprendizagem hierarquicamente definida.

 

Mas, o formato em auditório tem outras implicações. Ele reduz o locus das  transmissões que visam a aprendizagem. Apenas do palco frontal são emitidas mensagens com um objetivo educacional intencional e consciente. Dalí, o professor, o data-show, a tela do retroprojetor, o texto escrito na lousa, ou um aluno que eventualmente ocupe aquele lugar emite mensagens com fins conscientes de ensinar.

 

Todo o resto do espaço, a inteligência que o habita e as múltiplas interações possíveis estão perdidos para a tarefa de educar. Mudar o espaço e o ambiente da sala de aula é uma questão de economia. É preciso potencializar o espaço da sala de aula e toda a inteligência e relações que o ocupam na tarefa de produzir aprendizagens significativas.

 

Usando da mesma analogia, se até hoje apenas a frente da sala é palco, é preciso transformar  toda a sala de aula em palco para o drama da aprendizagem. Isso implicaria, entre outras coisas, em pensar o teto, o chão, todas as paredes, o som ambiente, a disposição do mobiliário, o que for colocado sobre móveis e carteiras, enfim tudo o que houver na sala, como potenciais meios de despertar a curiosidade, produzir desequilíbrios, facilitar e apoiar a aprendizagem…

 

O texto a seguir, excerto de um material já publicado por nós, mostra como, mesmo em um espaço convencional (quadrado ou retangular), é possível criar um ambiente de aprendizagem que aproveita todos os recursos disponíveis para fins conscientemente educativos.

 

 

SESSÃO I: ORGANIZAÇÃO CLÁSSICA DO TRABALHO                                                                                                  

 

CENÁRIO-BASE  

A Estação de Trabalho, no formato de um curso-drama será desenvolvido em uma sala-palco, que manterá durante todos os seus atos um mesmo cenário padrão. A sala-palco conterá:

 

1. Cadeiras universitárias ou mesinhas individuais, em número idêntico (exatamente) ao de atores participantes, incluindo os atores-coordenadores.  Assim, cada carteira vazia indica uma ausência.

 

2. Dois suportes para álbum-seriado, com respectivas folhas (em branco) já colocadas.

 

3. Móveis:

  • Aparador para recursos cênicos (textos, pastas, fitas de vídeo, áudio…).
  • Aparador para aparelho de TV, vídeo e som.
  • Aparador para retroprojetor ou data-show.
  • Arquivo.
  • Armário.

 

 4. Nas paredes:

  • Quadro negro.
  • Quadro de avisos (grande).
  • Sempre que possível: um quadro com uma mandala e outro com a imagem simbólica do velho sábio.
  • Outros elementos decorativos (discriminados em cada ato).
  • Projeção do poema “Profissão do Poeta”(Geir Campos. A Profissão do Poeta. In: Fernandes, Millor e Rangel, Flávio. Liberdade, Liberdade. São Paulo, L&PM, 1987, p. 22.)

 

O Poeta, Chagall

 

PROFISSÃO DO POETA

 

Operário do canto, me apresento

sem marca ou cicatriz, limpas as mãos,

minha alma limpa, a face descoberta,

aberto o peito, e – expresso documento –

a palavra conforme o pensamento.

 

Fui chamado a cantar e para tanto

há um mar de som no búzio de meu canto.

Trabalho à noite e sem revezamentos.

Se há mais quem cante cantaremos juntos;

sem se tornar com isso menos pura,

a voz sobe uma oitava na mistura.

 

Não canto onde não seja a boca livre,

onde não haja ouvidos limpos

e almas afeitas a escutar sem preconceito.

Para enganar o tempo – ou distrair

criaturas já de si tão mal atentas,

não canto…

Canto apenas quando dança,

nos olhos dos que me ouvem, a esperança. 

 

5. No chão e no centro da sala: o desenho de um grande círculo (desenhado com fita crepe, por exemplo). As cadeiras estão dispostas em torno do círculo central, com uma abertura na direção do quadro negro (semicírculo) e com espaço suficiente para que os pés dos participantes não toquem o interior do círculo.

No interior do círculo está desenhado um pequeno quadrado e, saindo do meio de cada um dos seus lados, quatro retas que dividem o círculo e o espaço total da sala em quatro partes e as cadeiras dos participantes em quatro grupos. Dentro de cada uma dessas partes, escrita em uma tarjeta ou cartolina e referindo-se a cada grupo de participantes, está colocada uma das seguintes palavras: Gerente, Técnico, Supervisor ou Operador.

 

6. Um vaso com flores naturais, colocado sobre um dos móveis.

 

7. Iluminação indireta, se possível.

 

 

O texto anterior afirma que nas paredes seriam colocados outros elementos decorativos, que seriam descritos em cada ato (aula ou unidade de estudo). A seguir, revelamos os acréscimos no cenário-base para a realização do primeiro ato. Observe que o primeiro ato trata da formação do grupo-classe. Na perspectiva do Aprendizagem Criativa e da constituição do grupo-sujeito, como já dissemos em outro lugar, esse momento é fundamental.

 

Modificações no Cenário-Base para o Ato I : Formação do Elenco

1. Outros elementos decorativos nas paredes: quadros, ampliações fotográficas, recortes de revistas, etc., contendo cenas diversificadas de trabalho e produção: trabalho artesanal, trabalho em fábricas, linhas de montagem operadas com trabalho humano e com robôs, trabalho em equipe, operação de fábricas automáticas…

 

2. Quadro negro apagado.

 

3. Aparelhos de som e vídeo já testados.

 

4. Fixados no quadro de avisos:

  • Uma relação completa dos participantes.
  • Um dos textos que será utilizado no drama.
  • Um programa do espetáculo teatral.
  • Uma frase: Ator convidado para o drama, conquiste o seu espaço!
  • Um horário do espetáculo diário (início e término).

5. Sobre as cadeiras ou mesinhas individuais: programa do espetáculo teatral, cópias dos poemas: Contratados e O Relógio.

 

6. Música de fundo: Bolero, de Ravel.

 

Observem que é previsto o uso de uma música de fundo em todo o desenvolver do trabalho. Em post futuro discutiremos essa forma de usar a música para fins educacionais e suas consequências.

 

Para os interessados, é possível acessar o texto todo da aula clicando aqui. Alí, é possível perceber como todo o arranjo ambiental é utilizado para facilitar o desenvolvimento das situações de aprendizagem. Alguns dos símbolos (quadrado, círculo, …) que são utilizados no trabalho (ver Aprendizagem Criativa – Focalização e Simbolização) também são ali tratados.

 

Por fim, é importante observar que, em escolas convencionais, muita mudança precisaria ser feita no espaço e nos equipamentos disponíveis para que uma aula que usasse o cenário descrito neste post pudesse ser desenvolvida. Que arquitetura escolar daria conta do recado?

 

Dinâmica do Circuito dos Elementos 13 de fevereiro de 2009

 

Em Variações Criativas na Dinâmica de Grupos – Aprendizagem Criativa / A análise III, damos um exemplo de inovação da dinâmica dos grupos na fase da Síntese.

 

Falamos que, em post posterior, iríamos mostrar um exemplo em que o pensamento seria predominante e a dinâmica possibilitaria a apresentação de conclusões mais verbais e objetivas. Sempre mantendo, porém, a preocupação de tornar a dinâmica agradável e desafiadora e de demandar o uso simultâneo das quatro funções conscientes (pensamento, sentimento,percepção e intuição).

 

O exemplo é a dinâmica: “Circuito dos Elementos”, parte de um programa de desenvolvimento gerencial em Gestão Estratégica em Agenciamento e Operações Turísticas, destinado a gestores de Agências de Viagens, que apresentamos a seguir:

 

 

Circuito dos elementos

 

Na volta do intervalo, o coordenador informa que o grupo vai vivenciar a segunda situação de aprendizagem – Circuito dos Elementos – que está prevista para o desenvolvimento da seguinte competência: identificar e projetar tendências de mercado.

 

Como forma de desenvolver a competência, os participantes vão enfrentar o seguinte desafio:

 

Miltom Avery, Dark Forest, 1958
Miltom Avery, Dark Forest, 1958

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Elaborar diferentes cenários sobre o futuro do mercado e dos negócios de agenciamento e operações turísticas, tendo como horizonte o ano 2017.

 

  

 Cada grupo deverá elaborar um diferente tipo de cenário. A saber:

 

Grupo Água (azul) – o grupo deverá desenhar um cenário tendencial. O cenário tendencial é construído a partir do prolongamento ou inflexão de tendências passadas. O coordenador informa que o cartaz no centro do quadrado traz um exemplo de cenário tendencial construído sobre o prolongamento de tendências passadas.

 

  

Cenário Tendencial I: a exaustão de um modelo de negócio

 

Questão para o futuro

 

Cenário tendencial I (2017)

1. As agências adotarão um posicionamento estratégico?

R1. As agências continuarão sem um foco estratégico definido. Não optarão por foco no preço, no relacionamento com o cliente ou na qualidade do produto.

2. Como será feita a segmentação de mercado?

R1. Os segmentos mais atendidos continuarão sendo os interessados em turismo de lazer e o turismo de negócios / corporativo, sendo os clientes tratados de forma padronizada.

3 Os produtos e serviços serão diversificados?

R1. Venda de passagens aéreas, pacotes e meios de hospedagem ainda representarão 80% dos negócios das agências.

4. Como serão remunerados os serviços de agenciamento e operações turísticas?

R1: O processo de desintermediação estará quase completo.

R2. Serão reduzidos ou extintos os pagamentos de comissões.

R3: A maioria das agências não cobrará pelos seus serviços.

5. Como serão distribuídos os produtos e serviços turísticos?

R1. As companhias aéreas e as operadoras aumentarão significativamente a venda direta de passagens aéreas e pacotes turísticos.

R 2. Metade das transações turísticas será feita via Internet.

6. Como será a qualidade da prestação de serviços?

R1. Não existirá uma preocupação sistemática com a melhoria da qualidade dos serviços.

R2. As agências não investirão significativamente na qualificação do pessoal.

7. As agências estarão atualizadas tecnologicamente?

R1. A tecnologia de comunicação e informação não será usada para melhorar o relacionamento com os clientes, para aprimorar a gestão ou para a formatação de novos produtos.

8. A agências participarão de iniciativas relacionadas com a sustentabilidade dos destinos?

R1. Não existirá preocupação e não serão tomadas medidas que garantam a sustentabilidade dos destinos.

 

O coordenador explora as previsões do Cenário Tendencial I, mostrando que elas foram construídas a partir da Pesquisa Setorial – Agências de Viagem no Brasil, que foi distribuída juntamente com as pastas aos participantes. O grupo deve, no entanto, descrever um cenário em que estas tendências passadas são revertidas ou reorientadas.

 

Grupo Terra (VERDE) – O grupo deverá elaborar um cenário exploratório. O cenário exploratório descreve um ou mais futuros possíveis. O qrupo pode trabalhar com questões diferentes ou enfocando ângulos diferentes daqueles incluídos no Cenário Tendencial I.

 

Grupo fogo (vermelho) – O grupo vai elaborar um cenário normativo. O cenário normativo descreve um futuro desejado. As variáveis usadas para descrever o futuro desejado serão de escolha do grupo.

 

Grupo ar (amarelo)  –  O grupo vai descrever um cenário intuitivo. O cenário intuitivo é qualitativo e fruto da imaginação. Difere do normativo na medida em que não precisa, necessariamente, ser um futuro desejado. É um futuro criado pela livre imaginação de seus autores.

 

O coordenador promove a formação dos quatro (4) grupos. Se, na escolha original, os participantes se distribuíram de forma equilibrada (numericamente) entre os elementos, o coordenador utiliza a mesma formação grupal resultante do movimento “Eu e os elementos”. Se os grupos resultantes daquele movimento forem numericamente muito diferentes, o coordenador promove uma redistribuição, de forma a equilibrar o número de participantes em cada grupo.

 

 

 

Primeiro Movimento: Síncrese

 

Jackson Pollock, Reflection of the Big Dipper, 1947

Cada grupo dirige-se ao canto da sala onde está um cartaz com o cenário relacionado ao seu elemento. Os grupos são informados que, nesse movimento, será utilizada a técnica da Tempestade de Idéias. Nela, o participante deve, sem censura, produzir o maior número possível de idéias que descrevam o cenário implicado no desafio.

 

Nos cantos, os participantes ouvirão, como fundo musical, o Chorus 1 – Saint Matthew Passion – BWV 244, de Bach, para propiciar a fluência das idéias. Individualmente, sem comunicação com os demais integrantes do grupo, os participantes registram, em tarjetas da cor representativa do seu elemento, frases que descrevem o cenário (o futuro) relacionado ao seu elemento.

 

Antes do início do registro das idéias, o coordenador apresenta um cartaz que orienta a apresentação de conclusões através de tarjetas. Através de uma tarjeta escrita por ele, exemplifica a aplicação das regras.

 

Atenção – tarjetas

  • Escreva com pincel atômico (azul ou preto
  • Só registre uma idéia por tarjeta.
  • Escreva em letra de forma, maiúscula.
  • Seja sintético. Não use mais do que três linhas.
  • Garanta que o texto possa ser visto a distância.
  • Use cores diferentes para assuntos diferentes.

 

 

As tarjetas contendo descrições de futuros, individualmente produzidas, são fixadas nas paredes do canto da sala destinado a cada elemento (ar, fogo, terra e ar) e cenário e, portanto, a cada grupo.

 

 

Mark Rothko, Aubade, 1944
Mark Rothko, Aubade, 1944

Segundo Movimento : Análise

 

O Coordenador distribui e comenta rapidamente os Cenários Alternativos A e B, propostos pelo Ministério do Turismo no documento “Turismo no Brasil 2006 / 2010”.

 

 

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Os grupos mudam de canto (caminhando para a esquerda). O coordenador distribui a poesia “Ou isto ou aquilo”, de Cecília Meireles, para ser lida por todos, sob a forma de jogral. Cada verso poderá ser lido por um grupo correspondente a um dos elementos. O quinto verso de cada série pode ser lido por todos. Para tanto, marcar na poesia, ao lado dos versos: fogo, terra, água, ar, todos juntos, como pode ser visto no texto adiante apresentado.

 

OU Isto ou Aquilo

Todos juntos

 

 

Ou se tem chuva e não se tem sol

Água

ou se tem sol e não se tem chuva!

Terra

 

 

Ou se calça a luva e não se põe o anel,

Ar

ou se põe o anel e não se calça a luva!

Fogo

 

 

Quem sobe nos ares não fica no chão,

Todos juntos

quem fica no chão não sobe nos ares.

Todos juntos

 

 

É uma grande pena que não se possa

Água

estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Terra

 

 

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,

Ar

ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Fogo

 

 

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…

Todos juntos

e vivo escolhendo o dia inteiro!

Todos juntos

 

 

Não sei se brinco, não sei se estudo,

Água

se saio correndo ou fico tranqüilo.

Terra

 

 

Mas não consegui entender ainda

Ar

 qual é melhor: se é isto ou aquilo

 

 Fogo

Meirelles, C. Ou Isto ou Aquilo. In: Poesia Completa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001, p. 1483

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Após a leitura, os grupos trabalham sobre as descrições de futuro que foram registradas em tarjetas pelos participantes do grupo que ocupou aquele canto anteriormente. O coordenador pede que selecionem as descrições organizando-as em três conjuntos: (1) as repetidas; (2) as adequadas; e as (3) contraditórias. Pede que descartem as repetidas e as contraditórias e que complementem as descrições adequadas de futuro, sempre respeitando o tipo de cenário em construção.

 

 

Kandinsky, Seven, 1943
Kandinsky, Seven, 1943

 

Terceiro Movimento: classificação

 

 

Os grupos mudam novamente de canto e no mesmo sentido da mudança anterior.  Antes de apresentar a nova atividade, o coordenador distribui o texto de apoio 5, que apresenta as propostas do Ministério do Turismo relativas à Segmentação e à Produção Associada, para o período de 2006 a 20010.

 

        Turismo no Brasil de 2006 / 2010

 

1.2.2. Segmentação

 

clip_image001      Identificar os segmentos e as atividades envolvidas com a cadeia produtiva do turismo nas regiões turísticas mapeadas.

clip_image001      Elaborar metodologia para desenvolver os segmentos do turismo eqüestre, observação de aves, pesca, dentre outros.

clip_image001      Identificar destinos referenciais nas diversas atividades como cavalgada, histórico / cultural, pedagógico, caminhada, agroturismo, etc. realizando a qualificação específica de guias, condutores, multiplicadores, e empreendedores, dentre outros.

clip_image001      Identificar o papel e a forma de participação do segmento de turismo rural nos roteiros que se apresentam a cada ano no Salão do Turismo.

clip_image001      Inserir o conceito e o entendimento das atividades de entretenimento e animação turística como um dos principais eixos de intervenção de crescente importância no turismo doméstico e internacional.

clip_image001      Criar um programa integrado de desenvolvimento do segmento do turismo de negócios, eventos e incentivos.

clip_image001      Apoiar e fomentar a requalificação da produção associada ao turismo, especialmente o artesanato, criando mecanismos para promover o manejo ambiental adequado dos recursos naturais utilizados.

clip_image001      Apoiar a implementação do uso público nas Unidades de Conservação Ambiental ampliando a oferta do segmento do ecoturismo, através de parcerias público privadas.

clip_image001      Promover o desenvolvimento de parques temáticos e atrações turísticas como âncora para o crescimento do turismo familiar.

 

1.2.3. Produção Associada

 

clip_image001      Apoiar o desenvolvimento das comunidades locais, dinamizando e realizando articulações intersetoriais para a geração de renda e trabalho com a distribuição dos benefícios do crescimento econômico gerado pelo turismo, integrando a cadeia produtiva e ampliando os produtos associados trabalhados.

clip_image001      Criar mecanismos condicionantes para a inclusão das comunidades locais como mão-de-obra ou fornecedora de produtos e serviços para os empreendimentos turísticos com investimentos impactantes no desenvolvimento socioeconômico local.

clip_image001      Pesquisar a variedade e a diversificação da fruticultura tropical do Brasil, para agregar valor econômico à gastronomia, no foco do patrimônio cultural.

clip_image001      Fortalecer os roteiros turísticos através da agregação de valor das várias formas de produção caracterizando os territórios pelas suas especificidades, como produtores ou como destinos turísticos (artesanato, agroturismo, festas populares, gemas e jóias, vestuário, moda, etc.).

clip_image001      Incentivar a implementação de planos de desenvolvimento, com agenda de ações hierarquizadas e pactuadas em Arranjos Produtivos Locais – APLs com gestão cooperada e compartilhada entre o setor público e privado.

clip_image001      Desenvolver programa contínuo de fomento à produção associada ao turismo, em seus diversos segmentos econômicos para a agregação de valor a oferta turística.

clip_image001      Criar programa de apoio ao desenvolvimento de fornecedores para a cadeia produtiva do turismo.

clip_image001      Criar mecanismos que permitam aos turistas nacionais e internacionais o entendimento da gastronomia brasileira como elemento do patrimônio cultural, constituindo um diferencial de competitividade.

 

O coordenador informa que os grupos vão classificar as tarjetas existentes em cada cenário nas seguintes categorias: Mercado; Clientela; Segmentação / Diversificação; Distribuição; Qualidade; Tecnologia; e Sustentabilidade. Distribui a cada grupo um conjunto de sete tarjetas brancas. Em cada tarjeta está impresso o nome de uma categoria. Por fim, o coordenador descreve rapidamente o nome de cada categoria.

 

1. Mercado: onde devem estar colocadas as tarjetas que façam previsões relacionadas ao crescimento ou redução do mercado de agenciamento e operações turísticas.

 

2. Clientela: Tarjetas que fazem previsões sobre as mudanças nas características da clientela e no atendimento aos clientes.

 

3. Segmentação / diversificação: onde devem ser colocadas as tarjetas que fazem previsões relacionadas aos segmentos de mercado e à diversificação de produtos e serviços.

 

4. Distribuição: onde devem ser incluídas as tarjetas que fazem previsões de modificações nas atuais formas de distribuição dos produtos e serviços de agenciamento e operações turísticas (divisão do mercado entre companhias aéreas, consolidadoras, operadoras, agências, etc).

 

5. Qualidade: Onde serão classificadas as previsões sobre mudanças relacionadas à qualidade de produtos e serviços.

 

6. Tecnologia: Tarjetas que fazem previsões sobre mudanças tecnológicas e seus efeitos.

 

7. Sustentabilidade: Tarjetas relacionadas ao desenvolvimento sustentável do turismo.

 

Se necessário, os grupos podem criar novas categorias e complementar as previsões em função do texto do Ministério do Turismo ou das categorias apresentadas. Para tanto, tarjetas brancas não impressas estarão disponíveis. Da atividade de cada grupo resultará um painel similar ao apresentado no quadro a seguir.

 

cenário tendencial (ou exploratório, ou normativo ou intuitivo)

Mercado

tarjeta 1

tarjeta 2

tarjeta 3

tarjeta 4

tarjeta 5

Clientela

tarjeta 1

tarjeta 2

tarjeta 3

tarjeta 4

tarjeta 5

Segmentação

tarjeta 1

tarjeta 2

tarjeta 3

 

 

Distribuição

tarjeta 1

tarjeta 2

tarjeta 3

tarjeta 4

 

Qualidade

tarjeta 1

tarjeta 2

tarjeta 3

tarjeta 4

tarjeta 5

Tecnologia

tarjeta 1

tarjeta 2

tarjeta 3

 

 

Sustentabilidade

tarjeta 1

tarjeta 2

tarjeta 3

tarjeta 4

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Quarto Movimento: Avaliação

Kandinsky, In the Black Circle, 1923
Kandinsky, In the Black Circle, 1923

 

 

Os grupos voltam a mudar de canto, no mesmo sentido. O coordenador apresenta rapidamente um slide com a segmentação utilizada pelo Ministério do Turismo e apresentada no quadro a seguir.

 

segmentação do turismo

Turismo Social

Ecoturismo

Turismo Cultural

Turismo de Estudos e Intercâmbio

Turismo de Esportes

Turismo de Pesca

Turismo Náutico

Turismo de Aventura

Turismo de Sol e Praia

Turismo de Negócios e Eventos

Turismo Rural

Turismo de Saúde

 

MINTUR. Segmentação do turismo – marcos conceituais. Disponível em: http://institucional.turismo.gov.br/

Acesso em: 26 jan. 2007.

 

 

Baseados nesta segmentação, no conhecimento, experiência profissional e intuição de seus integrantes, cada grupo avalia o painel resultante das intervenções dos grupos que anteriormente passaram por aquele canto. De acordo com a avaliação, os grupos alteram o painel, mexendo em todas as colunas e tarjetas que considerem inapropriadamente colocadas. Nessa tarefa de avaliar e alterar, os grupos procuram respeitar a característica fundamental (tendencial, normativo, exploratório ou intuitivo) do cenário em construção.

 

 

Quinto Movimento: conclusão

Mondrian, Tableau No. 2/Composition No. VII, 1913
 
 
 
 
 
 
 

 

 

Os grupos mudam novamente de canto, ainda no mesmo sentido. Com este movimento, cada grupo retorna ao seu ponto de origem. Ouvem, antes de iniciar o trabalho final, a música “Tempo Rei”, cuja letra é distribuída previamente para os participantes e adiante apresentada.

 

 

 

Tempo rei

Não me iludo
Tudo permanecerá do jeito que tem sido
Transcorrendo
Transformando
Tempo e espaço navegando todos os sentidos
Pães de Açúcar
Corcovados
Fustigados pela chuva e pelo eterno vento
Água mole
Pedra dura
Tanto bate que não restará nem pensamento
Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei
Transformai as velhas formas do viver
Ensinai-me, ó, pai, o que eu ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei
Pensamento
Mesmo o fundamento singular do ser humano
De um momento
Para o outro
Poderá não mais fundar nem gregos nem baianos
Mães zelosas
Pais corujas
Vejam como as águas de repente ficam sujas
Não se iludam
Não me iludo
Tudo agora mesmo pode estar por um segundo
Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei
Transformai as velhas formas do viver
Ensinai-me, ó, pai, o que eu ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei
 
 
 
 
GIL, G. Tempo Rei. In: Gil Luminoso. Brasil, Biscoito Fino, 1999. 1 CD.

 

   

Cada grupo toma conhecimento do resultado do trabalho dos demais grupos sobre a sua produção inicial de idéias e anota concordâncias e sugestões de mudanças. Em painel, cada grupo apresenta suas concordâncias e sugestões de mudança, negociando-as com os demais grupos. Neste momento, além do grupo que está expondo, todos poderão contribuir com intervenções para crítica e enriquecimento dos vários cenários.

 

Variações Criativas na Dinâmica de Grupo (Aprendizagem criativa / A análise – III) 10 de fevereiro de 2009

 Em uma série de posts anteriores temos procurado explicitar as caracaterísticas de uma abordagem educacional possivelmente inovadora que denominamos de Aprendizagem Criativa. Dela já postamos as características gerais, a metodologia e algumas de suas linhas e passos metodológicos. Os links a seguir permitem o acesso aos posts anteriores, na ordem lógica da apresentação, que estamos desenvolvendo em capítulos:

1. Aprendizagem Criativa

2. Aprendizagem Criativa – Metodologia

3. Aprendizagem Criativa – Focalização e simbolização

4. Aprendizagem Criativa – A amplificação

5. Aprendizagem Criativa – A análise (I) – falar e ouvir

6. Aprendizagem Criativa – A análise (II) – o grupo-sujeito

Além desses textos mais teóricos, postamos dois artigos sobre aplicaçações metodológicas:

1.Dinâmica de apresentação (Grupo-sujeito)

2. Falar e ouvir

Neste post vamos continuar descrevendo as caracaterísitcas da fase de Análise na Aprendizagem Criativa.

 

Variações Criativas na Dinâmica de Grupos

Andrew Bains - Escultura Humana - foto by Ian Waldie

A análise pode ser o momento menos agradável de uma abordagem que até agora foi lúdica e imaginativa. É o momento em que predomina o exercício da função pensamento (ver Jung). A escola tem usado a função pensamento quase exclusivamente. Então,  a fase de análise pode parecer um retorno à escola convencional e aos métodos ativos mais tradicionais. Em geral, nas escolas que utilizam métodos mais ativos, há uma predominância da discussão em pequenos grupos e de debates em painel, entendido o painel como o momento de apresentação e discussão das conclusões dos pequenos grupos.

Já vimos que a análise pode ser criativa quando o grupo assume a coragem de criar suas próprias referências teóricas e inventar seus meios de fazer e praticar (grupo-sujeito). Mas, aqui, a criatividade do educador é também solicitada. É preciso inventar meios de fazer com que a síntese seja invadida pela atuação das outras funções conscientes (percepção, intuição e sentimento). É factível que isso aconteça a partir de dinâmicas grupais mais criativas, que superem a convencional sequência: discussão em pequenos grupos, a apresentação oral das conclusões e debate em painel.

Em um primeiro momento podemos modificar e tornar criativa a forma de apresentação das conclusões dos pequenos grupos. Ao mudar a forma de apresentação mudamos também a dinâmica do debate no interior dos pequenos grupos.

A arte pode ser, de novo, um recurso importante nessa etapa. Imagine se os pequenos grupos forem instados a apresentar as suas conclusões sobre  a fase anterior (Amplificação) utilizando uma sequência de esculturas feitas com os corpos dos próprios participantes. Tal desafio mudará radicalmente a dinâmica do trabalho no interior dos pequenos grupos.

Além da fala e do pensamento, precisarão usar outras formas de representação e outras funções conscientes. Os corpos alternarão momentos de movimentação com breves “congelamentos” para se tornarem expressivos. Terão que usar a percepção e o sentimento para constatar e avaliar se a apresentação será bela e agradável para o público, em geral composto pelos integrantes dos outros grupos. A intuição será necessária para criar uma unidade na comunicação produzida pela alternância dos momentos de parada e movimentação.

O painel também é transformado. Na apresentação dos grupos, a fala  é substituída por uma série de representações artísticas sobre o tema. Todas as funções conscientes são demandadas para acompanhar, compreender, analisar e avaliar as apresentações. A discussão posterior às apresentações também sofre uma transformação. Agora não estamos discutindo sobre conclusões abstratas. As conclusões de cada grupo literalmente se consubstanciaram. Ao fazê-lo, ganham vida e profundidade emocional. O debate é aceso, vivo, quente, pouco burocrático, criativo…

É claro que este é apenas um exemplo de inovação da dinâmica dos grupos na fase da Síntese. Em post posterior vamos mostrar um exemplo em que o pensamento é predominante e a dinâmica possibilita a apresentação de conclusões mais verbais e objetivas. Mas, mesmo neste novo exemplo, se mantém a preocupação de tornar a dinâmica agradável e desafiadora e, sempre, de demandar o uso simultâneo das quatro funções conscientes (pensamento, sentimento,percepção e intuição). Até lá!

 

Dinâmica de apresentação (Grupo-sujeito) 30 de janeiro de 2009

 

Em Aprendizagem Criativa – A análise (II) – O grupo-sujeito falamos que, na constituição do grupo-sujeito, já na apresentação inicial, é “preciso confrontar os  participantes com formas de expressão em que os maneirismos já desenvolvidos para esses momentos de apresentação não possam ser utilizados. É necessário usar formas de expressão que devolvam aos participantes a espontaneidade perdida. É produtivo, já de início, destruir as falsas defesas, os esteriótipos e os fomalismos típicos dos primeiros encontros.”

 

Afirmamos também que a “criação de uma situação inusitada de apresentação com o uso da arte tem-se mostrado eficiente na produção desses efeitos.” 

 

Neste post publicaremos, como exemplo, o roteiro de uma apresentação inicial com essas características. Trata-se da primeira sessão de aprendizagem de um programa de capacitação de professores (Coordenadores Docentes) para o Programa Jovem Aprendiz Rural. A Germinal Consultoria foi responsável pela capacitação dos docentes do SENAR/SP, nas cidades que implementaram o Programa em 2006 e 2007.

 

 

CAPACITAÇÃO PRESENCIAL De Coordenadores docentes

SESSÃO 1/6

OBJETIVOS

Situação de Aprendizagem

(atividade)

Recursos

Tempo

Apropriação da proposta do programa “Jovem Aprendiz Rural” (Plano de Curso).

 

Vivenciar estratégias pedagógicas previstas, possibilitando um acesso envolvente e significativo à metodologia do programa.

1. Cenário.

Texto. Retroprojetor. Som. Música: Adágio de Albinoni.

10’

2. Apresentação.

Vídeo. Filme Sonhos.

45’

3. Expectativas.

Som. Música: Bolero, de Ravel.

45’

INTERVALO

15’

4. O Caminho do Programa.

Kit-bagunça. Cartolinas. Som. Música: Meditação de Thais e Missa da Coroação, de Mozart.

120’

5. Fechamento.

 

5’

 

1. Cenário

Antes do início e da entrada dos participantes para a primeira sessão de trabalho, se possível, você deve reduzir a luz da sala. Coloque, como fundo musical, uma música suave e que induza à reflexão. Use o Adágio de Albinoni, por exemplo. No CD Karajan Forever, Hamburgo, Deutsche Grammophon, 2003, existe uma gravação do Adágio que pode ser usada aqui. Projete o poema de Borges, denominado O Espelho em uma das paredes da sala. Observe que a ambientação é uma reprodução parcial de um dos cenários utilizados no componente curricular Projeto de Vida.

Reflexos 1943 - Eduardo P. L.
Reflexos 1943 – Eduardo P. L

  

 

 

O Espelho

 

Por que persistes, incessante espelho?

Por que repetes, misterioso irmão,

O menor movimento de minha mão?

Por que na sombra o súbito reflexo?

 

És o outro eu sobre o qual fala o grego

E desde sempre espreitas. Na brunidura

Da água incerta ou do cristal que dura

Me buscas e é inútil estar cego.

 

O fato de não te ver e saber-te

Te agrega horror, coisa de magia que ousas

Multiplicar a cifra dessas coisas

Que somos e que abarcam nossa sorte.

Quando eu estiver morto, copiarás outro

E depois outro, e outro, e outro, e outro…

 

Jorge Luiz Borges, O espelho. Do livro de poesias “O Ouro dos Tigres”, em “Jorge Luis Borges – Obras Completas II”, São Paulo, Editora Globo, 2000, pág. 550.

 

 

 

 

Sobre as cadeiras, dispostas em círculo, em número idêntico aos dos participantes, coloque cópias do texto A Nova Flauta ou, no momento oportuno, solicite a leitura do texto no Manual da Oficina Aprender a Aprender.

 

 

A Nova Flauta

Um deus pode fazê-lo. Mas como um

homem pode penetrar as cordas da lira?

RANIER MARIA RILKE

 

Uma nova flauta foi inventada na China. Descobrindo a sutil beleza de sua sonoridade, um professor de música japonês levou-a para o seu país, onde dava concertos por toda parte. Uma noite, tocou com uma comunidade de músicos e amantes da música que viviam numa certa cidade. No final do concerto, seu nome foi anunciado. Ele pegou a nova flauta e tocou uma peça. Quando terminou, fez-se silêncio na sala por um longo momento. Então, a voz do homem mais velho da comunidade se fez ouvir do fundo da sala: “Como um deus!”

No dia seguinte, quando o mestre se preparava para partir, os músicos o procuraram e lhe perguntaram quanto tempo um músico habilidoso levaria para aprender a tocar a nova flauta. “Anos”, ele respondeu. Eles lhe perguntaram se aceitaria um aluno, ele concordou. Depois que o mestre partiu, os homens se reuniram e decidiram enviar-lhe um jovem e talentoso flautista, um rapaz sensível à beleza, dedicado e digno de confiança. Deram-lhe dinheiro para custear suas despesas e as lições de música, e o enviaram à capital, onde o mestre vivia.

O aluno chegou e foi aceito pelo professor, que lhe ensinou uma única e simples melodia. No início, recebeu uma instrução sistemática, mas logo dominava todos os problemas técnicos. Agora, chegava para a sua aula diária, sentava-se e tocava a sua melodia – e tudo o que o professor lhe dizia era: “Falta alguma coisa”. O aluno se esforçava o mais que podia, praticava horas a fio, dia após dia, semana após semana, e tudo o que o mestre dizia era: “Falta alguma coisa”. Implorava ao mestre que escolhesse outra música, mas a resposta era sempre “não”. Durante meses e meses, todos os dias ele tocava e ouvia “Falta alguma coisa”. A esperança de sucesso e o medo do fracasso foram se tornando cada vez maiores, e o aluno oscilava entre a agitação e o desânimo.

Finalmente, a frustração o venceu. Ele fez as malas e partiu furtivamente. Continuou a viver na capital por mais algum tempo, até que seu dinheiro acabou. Passou a beber. Finalmente, empobrecido, voltou à sua província natal. Com vergonha de mostrar-se a seus antigos colegas, foi viver numa cabana fora da cidade. Ainda mantinha sua flauta, ainda tocava, mas já não encontrava nenhuma nova inspiração na música. Camponeses que por ali passavam ouviam-no tocar e enviavam-lhe seus filhos para que ele lhes desse lições de música. E assim ele viveu durante anos.

Uma manhã, bateram à sua porta. Era o mais antigo mestre da cidade, acompanhado de seu mais jovem aluno. Eles lhe contaram que naquela noite haveria um concerto e que todos haviam decidido que não tocariam sem ele. Depois de muito esforço para vencer seu medo e sua vergonha, conseguiram convencê-lo, e foi quase num transe que ele pegou uma flauta e os acompanhou. O concerto começou. Enquanto esperava atrás do palco, no final do concerto, seu nome foi anunciado. Ele subiu ao palco com fúria. Olhou para as mãos e percebeu que havia escolhido a nova flauta.

Agora ele sabia que não tinha nada a ganhar e nada a perder. Sentou-se e tocou a mesma melodia que tinha tocado tantas vezes para o mestre no passado. Quando terminou, fez-se silêncio por um longo momento. Então, a voz do homem mais velho se fez ouvir, soando suavemente do fundo da sala: “Como um deus!”

 

Nachmanovitch, Stephen. Ser Criativo. São Paulo, Summus Editorial, pág. 13 à 15

 

 

2. Apresentação

Comece a primeira sessão com a projeção, em vídeo, do episódio “Povoado dos Moinhos” do filme “Sonhos” (Kuroshawa).

 

Após a projeção, solicite uma breve apresentação de cada participante (nome, formação, local de trabalho, experiência educacional com jovens). A apresentação deve ser concluída com uma breve relação entre o texto A Nova Flauta, o filme Povoado dos Moinhos e o Programa “Jovem Aprendiz Rural.

 

Antes de iniciar a apresentação, conceda uns 5 minutos para que cada um pense na sua apresentação (e na relação entre texto, filme e Programa) de forma que a fala de cada um seja a mais bonita e sintética possível e não ultrapasse 1 minuto. 

 

Termine apresentando-se, comentando as relações efetuadas e fazendo uma breve exposição sobre os símbolos contidos no filme e no texto. Relacione-os com a proposta geral do Programa “Jovem Aprendiz Rural, sua metodologia e a educação profissional orientada por competências (“Como Um Deus”).

 

3. Expectativas

Inicie a situação de aprendizagem colocando como música de fundo o Bolero, de Ravel. Depois apresente à classe o seguinte desafio: fazer, em subgrupos, uma representação em três tempos:

clip_image001    Como estou chegando.

clip_image001    Como espero que a capacitação seja desenvolvida.

clip_image001    Como quero sair do processo de capacitação.

 

A sinfonia dos salmos, coreografia Antonio Gomes, foto Isabel Gouvêa

A sinfonia dos salmos, coreografia Antonio Gomes, foto Isabel Gouvêa

Isso significa representar as expectativas presentes no subgrupo em relação ao curso que se inicia. A representação deverá ser feita através de expressão corporal e movimentos rítmicos, da forma mais bela (plástica) e expressiva possível. A palavra não deve ser utilizada. O som pode ser usado. A música que dará ritmo à apresentação será o Bolero, que poderá ser ouvido no fundo.

 

Organize os subgrupos. Os subgrupos deverão criar e ensaiar a coreografia em pé para que possam manter a mobilidade e agilidade necessária e concluir o trabalho em torno de 10 minutos. Concluída a preparação, todos ainda em pé, o primeiro subgrupo se apresenta. Terminada a apresentação do grupo, todos os participantes, inclusive os do subgrupo protagonista, replicam a coreografia. Depois, o segundo subgrupo se apresenta e assim sucessivamente. Durante cada apresentação, o aumente o volume da música de fundo e transforme-o no tema musical da apresentação.

 

Ao final da última apresentação, retorne com os participantes ao semicírculo para análise e julgamento dos trabalhos. Uma a uma as coreografias serão analisadas pelo grupo, que interpretam as expectativas expressas na representação. O trabalho em foco será interpretado pelos que o assistiram e, em seguida, o grupo criador apresenta a intenção da expressão, fazendo o confronto com as interpretações antes apresentadas.

 

Por fim, apresente rapidamente o programa da Capacitação Presencial, indicando quais expectativas serão atendidas e formas de superar as necessidades dos participantes que não serão atendidas pelo programa.

 

Ao final, convide os participantes para um pequeno intervalo. Procure respeitar o tempo previsto (15 minutos).

 

4. O Caminho do Programa

Antes da volta dos participantes, coloque como música de fundo Meditação de Thais (música composta por Jules Massenet. Pode ser usada a gravação de Karajan em: Karajan Forever, Hamburgo, Deutsche Grammophon, 2003). Distribua o texto Jardim de Infância pelas carteiras ou, no momento oportuno, solicite a leitura do texto na página 7 do Manual da Oficina de Aprender a Aprender.

 

 

Jardim da Infância 

Grande parte do que eu realmente precisava saber a respeito da vida, de como viver, do que fazer e de como ser, aprendi no jardim de infância. A sabedoria não estava no cume da montanha da faculdade, mas ali na caixa de areia da escola maternal. Essas são as coisas que aprendi: compartilhe tudo; seja leal; não magoe as pessoas; recoloque as coisas no lugar onde as encontrou; limpe aquilo que sujar; não pegue o que não for seu; peça desculpas quando machucar alguém; lave as mãos antes de comer…

Biscoitos quentes e leite frio são bons para você; leve uma vida equilibrada; aprenda um pouco, pense um pouco, desenhe, pinte, cante, dance, brinque e trabalhe um pouco a cada dia; tire uma soneca todas as tardes; quando sair para o mundo, fique atento no trânsito; dê as mãos e mantenha-se unido; perceba a maravilha…

Pense como o mundo seria melhor se todos nós – o mundo inteiro – tivesse biscoito e leite por volta de três horas de todas as tardes e depois deitasse com suas mantas para tirar um cochilo, ou se tivéssemos uma política básica em nossa nação e em outras nações de sempre recolocar as coisas no lugar onde as encontramos e limpássemos as sujeiras que fizéssemos. E isto continua a ser verdade, não importa a idade: quando sair para o mundo, é melhor dar as mãos e manter-se unido.

                                                                                       Robert Fulghum

 

 

Citado no livro “O Empresário Criativo”, de Roger Evans e Peter Russel, São Paulo, Editora Cultrix, pg.169.

 

 

 Ao final da leitura, estimule os aprendizes a fazerem comentários sobre a compreensão que tiveram.

 Andrew Wyeth, Christinas World, 1948

 

 

Valorizada a aprendizagem do jardim de infância, proponha uma atividade nela inspirada. Em pequenos grupos, os participantes, utilizando os materiais disponíveis, vão criar uma colagem, instalação, pintura e/ou representação gráfica que representem o público alvo (Retrato do Jovem Rural), a trajetória (Caminho do Programa) e os resultados (Retrato do Egresso) do Programa “Jovem Aprendiz Rural”.

 

Divida a classe em pequenos grupos e determine o tempo de 40 minutos para a construção das representações. Coloque como música de fundo uma missa de Mozart.

 

Após a construção, o produto de cada pequeno grupo é analisado por um dos outros grupos. As conclusões da análise deve ser organizadas em torno dos temas: Características do Público Alvo, Proposta do Programa “Jovem Aprendiz Rural”  e Resultados do Programa. As conclusões devem se registradas em tarjetas brancas (público), amarelas (proposta) e verdes (resultados esperados). Antes da análise, construa, com tarjetas, um quadro com a orientação para o registro das conclusões.

 

 

Tarjetas – regras de utilização

·         Escreva nas tarjetas com pincel atômico (azul ou preto).

·         Só registre uma conclusão por tarjeta.

·         Escreva em letra de forma, maiúscula.

·         Não use mais do que três linhas em cada tarjeta.

·         Garanta que o texto escrito na tarjeta possa ser visto a distância.

·         Use cores diferentes para assuntos diferentes.

 

 

Os grupos constroem painéis com as conclusões.  O tempo total para a escrita das conclusões e para a elaboração do painel será de 40 minutos. Os painéis de conclusão terão o seguinte formato:

 

Jovem Rural

Caminho do Programa

Retrato do Egresso

Tarjeta 1

Tarjeta 1

Tarjeta 1

Tarjeta 2

Tarjeta 2

Tarjeta 2

Tarjeta 3

Tarjeta 3

Tarjeta 3

Tarjeta 4

Tarjeta 4

Tarjeta 4

Tarjeta 5

Tarjeta 5

Tarjeta 5

Tarjeta n

Tarjeta n

Tarjeta n

 

Em seguida, os grupos apresentam rapidamente suas conclusões. Sem falar, os participantes transformam os vários painéis em um único painel de conclusões. Os diversos painéis vão dar origem a um único painel-síntese, que representará a compreensão dos participantes a respeito do público, da proposta do programa e dos resultados desejados. Concluindo a atividade promova a comparação e compare o painel final com o plano de curso do Programa “Jovem Aprendiz Rural”.

 

5. Encerramento

Peça que os participantes avaliem a sessão com uma única palavra.

 

Aprendizagem Criativa – A análise (II): O grupo-sujeito 26 de janeiro de 2009

 

 

Nesta série de artigos, estamos apresentado uma abordagem educacional que acreditamos inovadora.

 

Já falamos dela em Aprendizagem criativa. Depois esboçamos sua proposta metodológica em Aprendizagem criativa – metodologia. Nos dois artigos seguintes escrevemos sobre as duas primeiras fases da metodologia: Aprendizagem Criativa – Focalização e simbolização e Aprendizagem criativa- a amplificação.

 

Em post anterior,  iniciamos a discussão da terceira fase da metodologia: A Análise I: Falar e Ouvir . Nele afirmamos que a autonomia ou a busca da autonomia em direção a um funcionamento como grupo-sujeito é uma das condições requeridas pela fase de análise da Aprendizagem Criativa.

 

 

 

Formação e Desenvolvimento do Grupo – Sujeito

O que vai caracterizar um processo de singularização (que, durante certa época, eu chamei de “experiência do grupo sujeito”) é que ele seja automodelador. Isto é, que ele capte os elementos da situação, que construa seus próprios tipos de referências práticas e teóricas, sem ficar nessa posição constante de dependência em relação ao poder global, a nível econômico, a nível do saber, a nível técnico, a nível das segregações, dos tipos de prestígio que são difundidos. A partir do momento em que os grupos adquirem essa liberdade de viver seus processos, eles passam a ter uma capacidade de ler sua própria situação e aquilo que passa em torno deles. Essa capacidade é que vai lhes dar um mínimo de possibilidade de criação e permitir preservar exatamente esse caráter de autonomia tão importante (Félix Guattari e Suely Rolnik, Micropolítica – Cartografias do desejo, Petrópolis, Vozes, 1993).

Paul Klee, The Bavarian Don Giovanni, 1919 - Watercolor and ink on wove paper

 Desde o primeiro encontro, a contínua ampliação da autonomia grupal na definição de seus objetivos e das suas formas de funcionamento e avaliação é uma das bases da Aprendizagem Criativa. A autonomia é requerida para a ampliação das possibilidades de criação, incluindo a criação das formas de leitura e interpretação da situação grupal e a criação dos referenciais teóricos e práticos que sustentam a evolução da dinâmica do grupo. 

 

 

1. Constituindo a equipe de trabalho

Na constituição do grupo-sujeito, a apresentação pessoal dos integrantes é a tarefa de facilitação mais imediata. É fundamental no início do grupo e na inclusão de um novo participante. A apresentação deve ser vista quase como um ritual de início dos processos de aprendizagem (cursos, encontros, oficinas etc.). No entanto não deve nunca ser concluída nessa fase e, sim, ser continuamente refeita e aprofundada.

Roberto Matta, Untitled, 1997

Roberto Matta, Untitled, 1997

 

Não é uma apresentação formal qualquer a que se propõe. Envolve, em especial, a visão de cada um sobre o significado do tema em estudo ou das competências em desenvolvimento. Requer um encontro e confronto dos valores com eles relacionados e dos resultados vislumbráveis a partir do momento e da situação em que se troca e se conversa.

 

Os grandes focos do curso ou encontro de aprendizagem ( objetivos, conteúdo, competências a desenvolver) são também os desse conversar e trocar inicial. Desta forma, a apresentação fornece um dignóstico  sobre o estágio inical do grupo em relação ao tema a ser estudado ou da competência a ser desenvolvida. Nesse mesmo movimento, levanta-se a forma como o grupo gostaria de conduzir seu processo de aprendizagem.

 

É muito raro que o grupo deseje outra forma de funcionamento que não a de grupo-sujeito. Mas, para tanto, a linguagem verbal não deve ser a utilizada no início da conversa. É preciso confrontar os  participantes com formas de expressão em que os maneirismos já desenvolvidos para esses momentos de apresentação não possam ser utilizados. É necessário usar formas de expressão que devolvam aos participantes a espontaneidade perdida. É produtivo já de início destruir as falsas defesas, os esteriótipos e os fomalismos típicos dos primeiros encontros.

 

A criação de uma situação inusitada de apresentação com o uso da arte tem-se mostrado eficiente na produção desses efeitos. Em próximo post publicaremos uma sessão de apresentação com essa característica.

 

 

 

2. Integrando a equipe

Tecendo a Manhã

 

 

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito que um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.

 

(João Cabral de Melo Neto, “Tecendo a manhã”, in: Cabral – antologia poética, Rio de Janeiro, José Olympio, 1979, p. 17.)

 

 

Roberto Matta, Petites danseuses, 1995

Roberto Matta, Petites danseuses, 1995

É na trajetória de uma clara afirmação valorativa da autonomia de cada participante é que são propostas as atividades de apropriação do tema em estudo ou de desenvolvimento da competência desejada. Aí um galo sózinho não tece uma manhã. Aí se dialoga. Não se veiculam verdades prontas, teorias a-críticas, formas de fazer consagradas, ou requisitos sagrados oriundos de pessoas ou grupos egoístas e isolados. O saber é tecido a partir do canto (conhecimento expresso) de cada galo. As sinapses são negociadas, renegociadas ou estabelecidas por estados momentâneos de desejo, afeto ou afeição.

 

Feito o encontro e tecido o saber já existente no grupo, há um duplo retorno. Um deles debruça-se sobre essa construção tida como provisória, com o propósito de revisá-la e transformá-la. O outro questiona o saber já sedimentado sobre o tema ou as formas estabelecidas de fazer, tendo em vista a sua incorporação, transformação e recriação pelo confronto com o saber tecido no grupo.

 

É nesse debruçar repetido e autônomo sobre o desafio que constitui a tarefa de apendizagem que o grupo-sujeito vai se integrando em um compromisso com o aprender.

 

 

 

3. Ensaiando a orquestra

O título do tópico é relativo ao filme Ensaio de orquestra, de Fellini (Frederico Fellini, Ensaio de orquestra, RAI, distribuído em vídeo pela Globo Vídeo).  O filme acompanha o ensaio de uma importante orquestra, regida por um maestro de renome internacional.

Roberto Matta, Jazz Bande 1973

Roberto Matta, Jazz Bande 1973

 

A orquestra não apresenta os costumeiros problemas relacionados com a redução da complexidade e desafio da atividade operacional. O ofício de músico mantém a complexidade e o desafio da aprendizagem e criatividade permanente. No filme percebe-se a relação amorosa do músico, como indivíduo, com sua arte e seu instrumento de trabalho.

 

Apesar disso tudo, no filme, o ensaio culmina em rompimento de todos os laços entre os integrantes da orquestra, em confusão, em tumulto, em violentas agressões, na revolta, na destruição ambiental e no caos.

 

O filme como um todo é um grande símbolo. Comporta então múltiplos significados. Mas, parecem centrais na geração da situação caótica: 1. a relação inadequada entre os músicos e entre os subgrupos ou naipes (cordas, metais, percussão…), o desrespeito e a competição, por exemplo, são claramente mostrados; 2. a relação de indiferença e até desprezo dos músicos para com a atividade que os une, ou seja, a música orquestral; e, finalmente, 3. na relação vertical e autoritária entre maestro e músicos. No filme, do caos brota o fascismo.

 

O filme é um antimodelo para as situações de ensaio. No ensaio, em direção ao grupo-sujeito, o conflito que surge do compromisso, da vontade de participação de cada um e do confronto das diferenças, não pode ser encoberto ou superado por um ato de autoridade ou do recurso à liderança do professor.

 

No prefácio à edição americana de O anti-Édipo, livro de Gilles Deleuze e Félix Guattari, Michel Foucault considera-o um livro de ética e resume “as linhas de força daquele guia da vida cotidiana – contrário ao fascismo em todas as suas formas – em sete consignas principais:

 

1. liberar a ação política de toda a forma de paranóia unitária e totalizante;

 

2. alastrar a ação, o pensamento e o desejo por proliferação, justaposição e disjunção (e não por hierarquização piramidal);

 

3. libertar-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta), investindo o positivo, o múltiplo, o nômade;

 

4. desvincular a militância da tristeza (o desejo pode ser revolucionário);

 

5. libertar a prática política da noção de Verdade;

 

6. recusar o indivíduo como fundamento para reivindicações políticas (o próprio indivíduo é um produto do poder);

 

7. desconfiar do poder” (Peter Pál Pelbart, “Estratégias para o próximo milênio”, Folha de S. Paulo, Jornal de Resenhas, 14 jun. 1996).

 

 

4. Desenvolvendo a equipe

Paul Klee, Arches of the Bridge Break Ranks, 1937, Charcoal on cloth, mounted on paper

 

 

Tais consignas podem, também, orientar as situações de ensaio e todo o processo de desenvolvimento do grupo-sujeito. Para utilizá-las, é necessário que o grupo use seu potencial criativo sobre a sua própria dinâmica. É necessário que o grupo invente e reinvente a sua própria organização e seu próprio funcionamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

5. O grupo-sujeito

Nóis tamo aprendendo porque logo cada cabeça é um mundo. Na sua cabeça você traiz um mundo pra eu. Eu, na minha cabeça, dô outro mundo a você. Dentro dessa vida, cada um dia nóis se modifica. E, assim, vai virando os dia que nem vai virando um disco e nóis tem de todo dia vivê. Numa vida só, nóis vive muitas vidas. Porque eu tô com 54 anos e nesses 54 anos eu acho que eu já vivi muito mais do que 54 vida. Aprendi no tempo mesmo, não é? Aprendi na vida, pensando… Pensando na vida…(Fala de um campones do agreste pernambucano, extraída do documentárioÓ Xente, Pois não! Documentário produzido pela FASE.

  

Paul Klee, The One Who Understands, 1934, Oil and gypsum on canvas

 

Agora, o grupo-sujeito está constituído. Durante o processo foi necessário ir discutindo e definindo as formas de articulação interna. A proposta de autonomia foi vivida na própria carne. A organização interna do trabalho foi definida. As formas grupais de participação e de tomada de decisão foram definidas e mantidas ou transformadas.

 

No mesmo processo, formas de valorização e de avaliação grupal foram estabelecidas e utilizadas. Provavelmente valorizaram-se outras formas de avaliação externas ao grupo, além das do professor; praticou-se a auto-avaliação; experimentaram-se e fixaram-se formas de avaliação em grupo e intergrupos.

 

Isso tudo implicou olhar o pequeno e o grande do homem. Olhar no olhar do outro e se reconhecer como possibilidade e negação. Tudo foi e continuará sendo posto em questão.

 

 

 

O texto anterior parte de um já publicado em Küller, José Antonio. Ritos de Passagem -Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996.
 

Aprendizagem Criativa – A análise (I): falar e ouvir 15 de janeiro de 2009

 

 

Nesta série de artigos, estamos apresentado uma abordagem educacional que acreditamos inovadora. Já falamos dela em Aprendizagem criativa. Depois esboçamos sua proposta metodológica em Aprendizagem criativa – metodologia. Nos dois artigos seguintes escrevemos sobre as duas primeiras fases da metodologia: Aprendizagem Criativa – Focalização e simbolização e Aprendizagem criativa- a amplificação.

 

Neste post vamos iniciar a discussão da terceira fase da metodologia: a análise.

 

O trabalho criativo feito nas duas fases anteriores prossegue. Depois da Focalização e Simbolização, depois da Amplificação do Conteúdo Simbólico, é tempo de análise. Mas, não, não se trata nunca de uma análise estéril e redutora aos termos prevalecentes.

 

É comum que a memória individual recorra a referências do passado. É corriqueiro que a memória coletiva e o professor busquem apoios naquilo que já está posto como conhecimento e verdade. É bastante previsível que a memória arquetípica tenda a sondar símbolos recorrentes. Mas, aqui, não se trata de buscar recursos de memória, nem de ensino. Trata-se de criar conceitos e referências inéditas.

 

Para tanto, é preciso, até com certa ingenuidade, deter-se sobre o acontecido nas fases anteriores. O símbolo de referência e a produção simbólica decorrente da arte, ou técnica utilizada no processo de amplificação (dança, teatro, escultura, representação psicodramática, sociodrama temático etc.),  é que devem ser as bases para a construção teórica ou de referências para prática.

 

Todo o processo criativo anterior seria abortado se uma teoria específica fosse utilizada para analisar o acontecimento, ou se o acontecimento fosse utilizado para referendar uma concepção pré-existente, especialmente quando ela deriva do professor. Para ser criativa, a análise precisa deixar de referenciar-se em modelos ou concepções já prontas e estabelecidas. O saber deve ser retirado da análise do momento anterior.

 

De imediato, em sala de aula ou em encontros com fins educacionais, duas condições são necessárias nesse tipo de análise: liberar a fala e ampliar a capacidade de ouvir. Em escolas ou grupos acostumados com a voz do professor ou a de comando, a liberação da fala é uma dificuldade inicial. Podada pelo autoritarismo e pelo medo de errar, a fala espontânea custa a acontecer.

 

No início do processo, é preciso adotar medidas que estimulem a fala. A tarefa do docente ou do coordenador do grupo, neste momento, é agir de forma a incentivar e distribuir a fala entre os integrantes do grupo. Nesse início, é produtivo iniciar a análise com uma rápida rodada de falas onde todos os participantes do grupo possam dizer algo sobre o acontecido, sem incorrer em erro.

 

A ausência de erro decorre da própria característica do símbolo. Ao contrário do conceito, que é mais útil quanto mais preciso, o símbolo foca um sentido e se abre para múltiplos significados e interpretações. Cada pessoa encontrará um significado distinto em função de sua sensibilidade, de seu ângulo de olhar, de sua vivência e experiências anteriores.

 

cid_002701c97744aef345f06400a8c0clienteAssim é possível que um grupo de 40 pessoas, analisando uma representação dramática, por exemplo, emita 40 interpretações diferentes e todas potencialmente verdadeiras. São possíveis tantas análises quanto pessoas presentes. É frequente que, na fase seguinte da Aprendizagem Criativa, todas essas análises sejam aproveitadas na síntese, sem descartar nenhuma.

 

O mais comum é que a diversidade das interpretações surpreenda e encante os participantes. De repente somos confrontados com a riqueza das possibilidades humanas. Múltiplas perspectivas emergem da análise. A visão se amplia.

 

Mas, para que isso aconteça, é preciso saber ouvir. A escola não tem facilitado a aprendizagem de um ouvir competente. Como reação a uma fala professoral, unilateral e, muitas vezes, monocórdia, os alunos tem se acostumado a refugiar na fantasia ou nos seus próprios pensamentos. Como um segundo requisito para a análise e fundamental para a fase posterior (síntese), é preciso despertar e desenvolver a capacidade de ouvir.

 

Técnicas de sensibilização para a importância do ouvir e outras que ajudem a produzir a concentração necessária podem ser necessárias, durante as primeiras sessões de análise. Em um próximo post, daremos um exemplo de tais técnicas.

 

Para não tornar este post muito longo, vamos dividir a fase de análise em vários pequenos artigos. No próximo abordaremos mais uma condição para o sucesso da fase de análise da Aprendizagem Criativa: a constituição do grupo-sujeito.

 

 

Aprendizagem criativa: a amplificação 2 de janeiro de 2009

Em posts anteriores iniciamos a discusão de uma abordagem educativa inovadora que denominamos Aprendizagem Criativa. Dessa abordagem, já discutimos de forma geral a Metodologia e, dela, sua primeira fase: a Focalização . Similarmente ao método Junguiano, a segunda fase da Aprendizagem Criativa consiste em uma amplificação dos símbolos que foram utilizados ou emergiram dessa primeira fase anterior.

 

Durante a segunda fase, a amplificação objetiva pode ser, circunstancialmente, utilizada. Na amplificação objetiva, a análise é efetuada pela busca das inter-relações do símbolo em questão com a tradição simbólica da humanidade.  A partir daí, em nosso caso, busca-se identificar o significado do símbolo naquele determinado processo de desenvolvimento individual, grupal ou organizacional.

 

A amplificação subjetiva tem a desvantagem de exigir um amplo conhecimento da tradição simbólica da humanidade e da interpretação de símbolos. Um dicionário de símbolos minimiza a dificuldade, mas não a elimina.

 

A ampliação subjetiva é mais facilmente manejável pelo mentor, coach, educador, aprendiz ou grupo. A amplificação subjetiva consiste em procurar um sentido e um significado do símbolo válido para aquele indivíduo ou para aquele grupo particular. Não é uma ampliação do significado suportado pela tradição simbólica, mas pelo sentido que o sujeito da interpretação atribui ou relaciona, subjetivamente, ao símbolo.

 

A amplificação subjetiva é feita a partir de um conjunto de atividades, em geral derivadas das artes, em torno da expressão simbólica original. Em princípio, toda a forma artística pode ser utilizada para a ampliação subjetiva.

 

Nas amostras de trabalho deste site, especialmente nas sessões de aprendizagem do Programa de Desenvolvimento de Chefias e Supervisores, esse uso pode ser constatado. Pintar, compor e tocar músicas, cantar, dançar, esculpir, elaborar poemas ou colagens e, encerrando por excesso e não por esgotamento, efetuar uma representação teatral do símbolo, são formas que facilitam a ampliação subjetiva.

 

A experiência tem mostrado que o teatro ou uma utilização específica do psicodrama  é mais produtiva nessa fase. A amostra de sessão de aprendizagem Estação de Trabalho de Organização e Adminisração, do Programa de Educação para o Trabalho, é exemplar nesse uso.  

 

O teatro tem a dupla possibilidade de articular as diferentes artes e de poder ser operado de forma pobre (Grotowiski, Jerzy, Em Busca de um Teatro Pobre, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1992), exigindo apenas atores e espectadores, o que facilita a economia de recursos.

 

Também existe uma propensão generalizada à representação teatral, talvez devido à vivência de múltiplos episódios de desempenho de papel (Katz & Khan -1987) no cotidiano da vida e do trabalho.Essa propensão facilita a utilização de “dramaturgias simultâneas” (Boal) na ampliação subjetiva dos símbolos.

 

A utilização de algumas técnicas oriundas do psicodrama são facilitadas pelos mesmos motivos, adicionados ao fato de que a etapa anterior (focalização) já pode ter produzido o efeito de aquecimento para a representação. De qualquer modo, a seqüência psicodramática de condução de uma sessão (aquecer, representar, compartilhar…(Moreno, J.L., Psicodrama, Editora Cultrix, São Paulo, 1975) pode ser utilizada na ampliação subjetiva, com a ajuda do teatro ou do psicodrama. Técnicas oriundas das duas vertentes como o sociodrama, a dramatização, a improvisação teatral (Spolin) e a sociometria temática também podem ser úteis nessa fase.

 

O importante é que a técnica, o meio utilizado permita explorar e ramificar a multiplicidade de significados suscitados pelo símbolo gerado ou apresentado na fase de focalização e simbolização. Permita gerar um universo simbólico referente ao tema em estudo. O momento é similar à fase de de geração de idéias na técnica do brainstorming, mas muito mais rico e profundo por possibilitar a emersão de conteúdos inconscientes. No brainstorming são geradas idéias muits vezes triviais, banais  e pouco criaitivas. Aqui são geradas ressonâncias simbólicas. É a fase propriamente criativa da Aprendizagem Criativa.

 

O texto anterior parte de um já publicado em Küller, José Antonio. Ritos de Passagem -Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996.

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Aprendizagem Criativa – Focalização e simbolização 28 de novembro de 2008

 

Em artigo anterior apresentamos rapidamente a metodologia da Aprendizagem Criativa. Para acessá-la, clique aqui. Neste post vamos nos deter na primeira das etapas da metodologia:  a Focalização e Simbolização.

 

Focalização

O impulso criativo está presente em todo indivíduo. A criatividade é também instintiva e, assim, requerente de consumação. A criatividade também requer um objeto, um campo de aplicação que a atraia desde seu profundo mistério até o visível. Ela precisa ancorar-se no real. Requer focalização.

 

A focalização é, então, a fase inicial da aprendizagem criativa. Um determinado campo de aplicação necessita tornar-se muito significativo para o indivíduo ou grupo. Seja por uma necessidade premente, seja por um desafio auto ou heterocolocado, seja por um intenso desejo ou paixão, um determinado recorte da realidade, um campo, precisa assumir especial interesse para o sujeito da criação.

 

A não ser na criação de uma nova área de atividade humana, o que é raro, todo campo do criativo já é depósito de uma tradição, muitas vezes secular, resultado da experimentação e criação dos homens que nos antecederam. Pense, por exemplo, na pintura, na poesia ou mesmo na organização do trabalho como searas do processo criativo. O processo de focalização compreende, então, um domínio mais ou menos profundo da tradição, ou seja, a aprendizagem dos conhecimentos, habilidades e valores relacionados com o campo.

 

É importante repetir que o campo tem de ser especialmente atrativo para que a focalização se dê. Só assim, as produções culturais anteriores dentro do campo podem ser incorporadas ao trabalho do grupo como elementos de facilitação da aprendizagem criativa, como no espírito da seguinte fala de Stanislavski:

Nosso método nos serve porque somos russos, porque somos este determinado grupo de russos aqui. Aprendemos por experiências, mudanças, tomando qualquer conceito de realidade gasto e substituindo-o por alguma coisa nova, algo cada vez mais próximo da verdade. Vocês devem fazer o mesmo. Mas ao seu modo e não ao nosso. (…) Vocês estão aqui para observar e não para copiar. Os artistas têm de aprender a pensar e sentir por si mesmos e a descobrir novas formas. Nunca devem contentar-se com o que um outro já fez ( Constantin Stanislavski, A construção do personagem, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1983, p. 17) .

Na aprendizagem criativa, a focalização pode ser feita por um conjunto de meios. No imediato, usa-se o recurso do aquecimento no início das sessões de aprendizagem como forma de focar a atenção sobre o que virá. Ao longo do processo, o desafio, o problema, a atividade lúdica e, especialmente, os projetos visam moblilizar o interesse dos participantes em relação ao campo em estudo.

 

O símbolo como veículo

Blue Star, 1927, Juan Miró

Blue Star, 1927, Joan Miró

Hillman afirma que Jung se serve, dentre outras, da concepção de “função transcendente formadora de símbolos” para se referir ao impulso criativo. A função transcendente é uma função que articula consciente e inconsciente e que resulta da incorporação da função inferior e implica a fusão das quatro funções conscientes (pensamento, sentimento, intuição e percepção), produzindo símbolos. Isso pede um melhor desenvolvimento, que não será feito aqui.

 

Para Jung, o símbolo “pressupõe sempre que a expressão escolhida constitui a melhor designação ou a melhor fórmula possível para um estado de coisas relativamente desconhecido, mas que se reconhece como existente ou como tal é reclamado”. Acrescenta: “A expressão que se supõe adequada para algo conhecido nunca passa de um mero signo, jamais sendo um símbolo. (…) Todo produto psíquico, embora no momento possa constituir a melhor expressão possível de uma ordem de coisas ignorada ou só relativamente conhecida, poderá ser concebido como símbolo na medida em que admitamos que a expressão pretende designar o que apenas se pressente ou não se conhece ainda de modo claro” (C. G. Jung, Tipos psicológicos, Rio de Janeiro, Zahar, 1981, p. 543-5 44 Ora, esta é situação do aprendiz de qualquer campo.

 

O símbolo é então a expressão de algo que já brotou da noite do desconhecimento e não foi ainda claramente percebido, pensado, intuído ou sentido. O perfeitamente e claramente conhecido não pode ser expresso simbolicamente. O símbolo é uma tentativa de apreensão de um saber que ainda, de alguma maneira, escapa. É prenhe de significados e não tem nenhum sentido preciso. É uma ponte entre o sabido e o desconhecido. O símbolo, no limite do campo de saber, é um veículo do novo. Na busca de conhecimento  do campo, é o motor da aprendizagem feita de forma criativa.

 

É interessante notar que, para Jung, o inapreensível veiculado pelo símbolo não é necessariamente desconhecido de todos. Assim, uma dada expressão pode ser um símbolo para um e um signo para outro.  Isso é para observar que professor e aluno, em relação ao campo, podem estar em posições distintas. O professor supostamente conhece o campo. Para ele, na abordagem do campo, o conceito é ou devia ser a linguagem natural. Para o aluno, no entanto, a aproximação simbólica é mais adequada.

 

Simbolização

Blue Star, 1927, Joan Miró

Blue Star, 1927, Joan Miró

No símbolo existem significados e sentidos ainda não claramente conhecidos. Utilizam-se símbolos para exprimir algo pressentido e não muito claro.

 

Derivam desse duplo entendimento, também, duas facetas de utilização do símbolo no processo de facilitação da criatividade individual e grupal e na resolução dos problemas, desafios e projetos utilizados na focalização que, como já vimos, é a primeira fase da aprendizagem criativa.

 

Na primeira forma de facilitação, o símbolo é utilizado como suporte de conteúdos culturais já disponíveis no campo focalizado. Isso significa identificar e selecionar e operar com símbolos relacionados com os conteúdos culturais já produzidos pelo campo de saber.

 

A arte, enquanto veiculadora de símbolos, pode ser uma fonte de busca de material simbólico relacionado a esses conteúdos. Como exemplo, pode-se apontar para as músicas, poesias e filmes utilizados como suporte ou contraponto para o desenvolvimento de muitas das amostras de trabalho apresentadas neste blog. Para consulta de um texto exemplar, ver: Uma Amostra de Sessão de Aprendizagem de Administração e Organização, clicando aqui.

 

Existe uma outra possibilidade de facilitação da criatividade grupal, usando o símbolo. Nessa vertente, o próprio grupo produz o símbolo de referência para o trabalho grupal. Face a um campo de conteúdo, o grupo simboliza. Elabora uma forma de expressão daquilo que representa o limite grupal de possibilidades de conhecimento do campo. Aquilo que, no máximo da intensificação do campo, é pressentido.

 

A arte, novamente, é um suporte adequado para esse processo de simbolização. Dramatizações, colagens, esculturas e outras produções artísticas dos alunos podem criar o referencial simbólico original que vai ser explorado posteriormente. O texto de Uma Amostra de Sessão de Aprendizagem de Administração e Organização é, outra vez, exemplar.  

 

Outras formas de suscitar expressões simbólicas, como a imaginação ativa ou a viagem imaginária, podem ser utilizadas. A viagem imaginária é uma forma de “sonhar acordado” induzida externamente (ver: Perls, Fritz. A abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1981). A imaginação ativa é uma técnica desenvolvida por Jung e consiste em acompanhar a produção do inconsciente, quando o consciente é intencionalmente rebaixado até um limiar próximo ao do sono. No filme “Sonhos”, o episódio “Corvos” é um exemplo da técnica.

 

No processo de simbolização toda forma de rebaixamento do controle consciente é coadjuvante. Nesse sentido, em nossa sociedade, formas metodológicas que intensifiquem a emoção e estimulem a intuição são favoráveis. Nos exemplos apresentados neste site, o uso permanente de formas simbólicas carregadas de sentimento e a abordagem histórica e estrutural recorrente têm por objetivo trabalhar com as duas funções conscientes menos privilegiadas: sentimento e intuição.

 

Concluindo, em troca de uma apresentação ou discussão em torno do que os participantes já conhecem do conteúdo do campo, eles são estimulados a expressar, através de símbolos, o que pressentem e o que ainda não sabem muito bem. A dinâmica do grupo, aí, já não se dá em torno do conhecido e sim em torno de um conhecimento em gestação. O resultado já não é um ruminar de conhecimento velho e, sim, um lançar-se na hipótese e na construção do conhecimento novo.

 

 

O texto anterior parte de um já publicado em Küller, José Antonio. Ritos de Passagem -Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996.

 

 
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