Germinal – Educação e Trabalho

Soluções criativas em Educação, Educação Profissional e Gestão do Conhecimento

Tempos modernos 10 de julho de 2009

 

Este é o segundo post de uma série denominada Educação em Vídeo. A série apresenta vídeos que podem ser usados em situações de aprendizagem na empresa ou na escola.  A forma de utilizar o vídeo e, sempre que possível, exemplos dessa utilização são incluídos na série.

 

O vídeo que postamos hoje contém as cenas iniciais do Filme Tempos Modernos, de Charlie Chaplin.

 

 

 

 

A seqüência inicial do filme Tempos Modernos é a mais interessante para uso em uma discussão sobre organização do trabalho, especialmente sobre a organização clássica do trabalho. Os cenários da primeira sequência do filme fazem parte de um tipo de fábrica cujas características básicas, hoje comuns, são ampliadas e exageradas para obtenção de efeito tragicômico.

 

Nas primeiras cenas, numa sala isolada, o presidente (o gerente), por meio de um sistema de som e vídeo, tem controle total de todas as dependências da fábrica. Pelo sistema aciona outro personagem, um técnico, operando um servomecanismo que controla automaticamente a fábrica e regula a velocidade de uma esteira, onde operários, entre eles Carlitos, executam um conjunto de gestos operatórios.

 

Os gestos são extremamente simples e repetitivos. A esteira que passa em frente aos operários define a ação necessária de cada um e sua velocidade regula o ritmo dos movimentos. Em torno dos operários, supervisores controlam o ritmo e a adequação das tarefas. Eliminam as circunstâncias externas que possam atrapalhar o trabalho. Cuidam das “relações humanas” no trabalho (cena do supervisor, interferindo na briga de Carlitos com seu companheiro de bancada). Substituem, eventualmente, um operador… O dedo indicador, apontando em direção ao operador ou à tarefa, sinalizando uma ordem ou uma ameaça, é o gesto reiterado do supervisor.

 

Carlitos sintetiza a figura do operador. Aperta, incessantemente, parafusos que passam em velocidade na esteira. Em certo momento é substituído pelo supervisor. Não consegue controlar as mãos e os braços que continuam, fora do contexto e como seres da máquina, os movimentos anteriores. Anda pela fábrica e “bate o ponto” diante de uma porta. Entra no banheiro. A música de fundo sugere liberdade e descontração. Acende um cigarro. A expressão revela alívio, alegria e prazer, que sucedem a saída de uma situação muito desagradável. A figura do presidente aparece em uma tela na parede. Ordena a volta ao trabalho. Carlitos sai, “bate o ponto” e volta à bancada. O retorno ao trabalho é reticente. Lixa as unhas, assume o papel de supervisor e, finalmente, não tendo alternativa, volta a apertar parafusos.

 

Em outra cena, o presidente recebe um grupo de vendedores que empurram uma estranha máquina. Um deles liga um toca-fitas e uma voz gravada diz:

Bom dia, amigo. Esta gravação foi feita pela Sales Talk Transcription Company. Quem vos fala é o vendedor mecânico. Temos o prazer de lhe apresentar o Sr. J. Willi e o Sr. Bellows, inventor da Máquina Alimentadora Bellows, um aparelho prático para alimentar seus homens enquanto eles trabalham. Por que parar para o almoço? Esteja na frente da concorrência! A Máquina Alimentadora Bellows elimina a hora do almoço, aumenta a produção e reduz o tempo ocioso. Agora vamos demonstrar a capacidade desta máquina maravilhosa. O belo corpo aerodinâmico… o desempenho suave e silencioso… o econômico motor elétrico… Esta é nossa sopeira automatizada. É completa, evita perda de tempo soprando-se a sopa para esfriar. A temperatura da sopa é mantida estável sem gasto de energia. No outro prato, temos o garfo empurrador de comida automático. Note a dupla ação. Esta é a base giratória sincronizada para espigas de milho, com funcionamento em duas velocidades: põe o milho direto em sua língua! Este é o guardanapo esterilizado por hidrocompressão que evita manchas nos uniformes. Estes são apenas alguns recursos da Máquina Alimentadora Bellows. Vamos demonstrá-la em um de seus funcionários, porque ações falam mais do que palavras. Lembre-se: se deseja ficar na frente da concorrência, não ignore a importância da Máquina Alimentadora Bellows.

Hora do almoço. O presidente e o grupo de vendedores dirigem-se para a linha de montagem. Carlitos ainda não almoçou e é escolhido para experimentar a máquina. A máquina apresenta defeitos e os efeitos recaem sobre Carlitos. É uma das cenas mais hilariantes do cinema. Por fim, o presidente apresenta o seu veredicto: “Não serve. Não é prática”.

Cena de Tempos Modernos

Cena de Tempos Modernos

Nas cenas finais da seqüência, por determinação do presidente, a velocidade da esteira é aumentada, automaticamente, pelo técnico, até chegar ao limite das possibilidades dos operários de acompanhá-la. Carlitos, no afã de acompanhar o ritmo, enlouquece e é engolido pela máquina. A cena pode ser considerada um símbolo do trabalho industrial contemporâneo. Ao ser retirado do meio das engrenagens, passa a querer apertar e a apertar tudo que é ou pareça parafuso: narizes, botões, seios… Liberto pela loucura, volta-se contra homens e equipamentos, sabotando, por fim, o servomecanismo central e interrompendo a produção. É levado para o hospício.

 

Em toda a seqüência da fábrica, não é possível perceber o que ali se produz. Aos olhos modernos, no entanto, isso não impede a compreensão do processo de produção e dos papéis nele envolvidos.

 

Em quinze minutos (tributo à genialidade de Chaplin), o filme retrata com precisão, faz uma crítica ainda atual, projeta desenvolvimentos técnicos (o circuito interno de televisão, o gravador, o controle digital da fábrica automática) e um determinado ambiente produtivo. Prevê, ainda, conseqüências futuras para o trabalho e para a administração de uma forma de organização do trabalho, cujos contornos definitivos tinham acabado de vir à luz.

 

O texto anterior, salvo pequenas modificações, faz parte do livro Ritos de Pasagem, Gerenciando Pessoas para a Qualidade, de José Antonio Küller, Editora Senac, São Paulo, 1987, pg. 45 a 47.

 

Para ver um exemplo de utililização de Tempos Modernos em uma situação de aprendizagem, clique aqui.


Del.icio.us : , , , , ,

 

Supervisão e criatividade de grupo 3 de novembro de 2008

 

 Em um conjunto de posts relacionados, estamos apresentando a metodologia utilizada em  um amplo e modular Programa de Formação e Desenvolvimento de Supervisores de Primeira Linha, desenvolvido e inicialmente implementado em parceria da Germinal com o SENAC de São Paulo.

 

O programa foi desenhado a partir de um estudo em profundidade sobre as necessidades estratégicas de desenvolvimento profissional do supervisor de primeira linha, desenvolvido para a ABTD.

 

Foi implementado em empresas como: Villares, Belgo-Mineira, Cosmoquímica, Macsol, Caio, Metalúrgica Nova Americana, … Com alterações também foi implementado na COPENE, hoje Brasken.

 

É um Programa exemplar da perspectiva da Germinal de aproximar os universos da arte e do trabalho, como forma de facilitar a aprendizagem significativa e a construção criativa do conhecimento. O Programa é composto por sete módulos, com duração de 30 horas cada um. Para o desenho metodológico, cada módulo do Programa tem uma arte como referência, como mostra o quadro a seguir.

 

 
Programa de Desenvolvimento de Supervisores
 
Módulo
Arte de Referência
1. Supervisão e Trabalho Participativo
Teatro
2. Desenvolvimento do Papel de Supervisão e Chefia
Dramaturgia
3. Supervisão e Relações de Trabalho
Artes Plásticas
4. Administração de Conflitos e Negociação
Jogo Dramático
5. Desenvolvimento de Recursos Humanos
Literatura
6. Supervisão e criatividade de grupo
Música
7. Elaboração de Planos de Autodesenvolvimento
Poesia

 

 

Todas as formas de arte, citadas na coluna “Arte de Referência” são utilizadas simultaneamente em todos os módulos no Programa. Em cada módulo, no entanto, uma específica forma artística é usada como modelo ou como eixo do desenvolvimento metodológico. Além do conteúdo apresentado na primeira coluna, é isso que distingue um módulo do outro: a forma artística que articula a utilização das demais artes. A utilização intensiva da arte para efeitos didáticos é uma das inovações do Programa.

 

No Módulo IV, Supervisão e Criatividade de Grupo,  a música é a arte que exerce um papel articulador. 

 

METODOLOGIA

 

Foto Chistophe Bonniere

O método define uma específica forma de relação entre docentes e alunos. O método define (e ao definir separa) um conjunto de possibilidades de encontro. O método, visto tal como andança projetada ou tal trilha que, por fim, se viu seguir, em educação sempre se refere a um andar em parceria. O método pedagógico assenta-se no encontro. Neste, como nos demais módulos do “Programa de Formação e Desenvolvimento de Supervisores” o encontro educando-educador é mediado pela arte.

 

 

A utilização da arte, como base metodológica, indica que além da busca conjunta do útil, do instrumental (consecução dos objetivos específicos, domínio do conteúdo), a relação pedagógica proposta almeja o agradável, o belo, o amoroso, o insondável…

 

 

O USO INSTRUMENTAL DA ARTE

 

Assim como nos demais, neste módulo a arte tem duas funções instrumentais. A primeira delas é a introdução do conteúdo. Um conjunto diversificado de formas artísticas – poesia, teatro, escultura, pintura, etc. – é utilizado para realçar focos de atenção, potenciais âmbitos de conhecimentos e vivências.

 

A segunda função da arte é a exploração e, ainda, a articulação do conteúdo. Uma forma artística determinada, a música no caso do presente módulo, é empregada como meio de ampliação objetiva e subjetiva, em largura e profundidade, dos focos de conteúdo inicialmente fixados, resultando em campos multidimensionais.

 

Após esse trabalho, o docente efetua uma síntese onde, a partir do conhecimento acumulado sobre o tema e da vivência concreta, procura captar um sentido unificador.

 

Essa forma artística, no caso deste módulo a música, tem ainda uma função articuladora, axial. Constitui o cerne metodológico que intenta a integração dos referidos campos em uma configuração pessoal e grupalmente significativa.

 

 

ARTE E CRIAÇÃO

 

Palácio do Catete
Palácio do Catete

A arte, enquanto base metodológica, aparte seu uso instrumental, estabelece uma relação pedagógica baseada no intercâmbio. A troca efetiva de conhecimentos e vivências mediada pela arte, visa a reavaliação (reflexão) de concepções e procedimentos, de um lado e, de outro e especialmente, a criação de alternativas de coordenação de grupos de trabalho.

 

A arte facilita o processo criativo na medida em que:

 

a) integra as funções conscientes, ou seja: o pensamento, o sentimento, a percepção e a intuição;

 

b) opera com símbolos, ou seja: “traduz um fato complexo e ainda não claramente apreendido pela consciência”(Jung);

 

c) facilita a função transcendente e nesse sentido um acesso dirigido ao inconsciente, fonte da criatividade humana.

 

 

 

A ESTRATÉGIA DO MÓDULO

 

 

 

 

Um conjunto diversificado de formas artísticas será utilizado na apresentação e ampliação do conteúdo. Uma forma específica, a música, será o eixo articulador das demais formas. Buscou-se na tradição cultural brasileira uma manifestação em que a música articula um conjunto de formas artísticas: a escola de samba.

 

O módulo foi então desenhado tentando uma analogia com a organização e funcionamento de uma Escola de Samba. O samba-enredo articula um conjunto de manifestações artísticas que, na avenida, desenvolvem um tema.

 

No caso, a partir de um tema, Supervisão e Criatividade de Grupo, e de um resumo de enredo (conteúdo do curso) os participantes deverão planejar um desfile, envolvendo:

 

 

 

 

 

 

 

 

a)     composição do samba-enredo, que sintetiza a compreensão geral e intuitiva do tema e articula as demais manifestações.

 

b)     Definição e desenvolvimento dos destaques, das fantasias, das alegorias e da evolução (pantomima), que ampliam a compreensão inicial a partir da análise histórica e conjuntural do tema e de seus componentes (roteiro do enredo).

 

 

 

Resumo do Enredo

 

1. Tecnologia e organização do trabalho

2. Necessidades humanas e trabalho

3. Necessidades humanas e tendências do trabalho

4. Âmbitos e fundamentos do processo criativo

5. O Supervisor como facilitador de criatividade de seu grupo de trabalho

6. Estratégias de Desenvolvimento da criatividade

7. Desenvolvendo uma estratégia de criatividade adequada à organização de origem

 

UMA SESSÃO DE APRENDIZAGEM DE ADMINISTRAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 28 de junho de 2008

 

 O material apresentado neste post refere-se a uma sessão de aprendizagem, retirada do Manual do Instrutor, da Estação de Trabalho de Administração e Organização, um dos componentes curriculares de uma versão alternativa ao Programa de Educação para o Trabalho (PET), do Senac/SP. O programa é destinado a jovens em situação de busca do primeiro emprego. A versão alternativa foi criada pela Germinal e não chegou a ser publicada e implementada na forma aqui apresentada. O excerto deve ser encarado como uma amostra do trabalho que pode ser desenvolvido pela Germinal Consultoria.

 

SESSÃO I: ORGANIZAÇÃO CLÁSSICA DO TRABALHO

                                                                                                       

 CENÁRIO-BASE

A Estação de Trabalho, no formato de um curso-drama será desenvolvido em uma sala-palco, que manterá durante todos os seus atos um mesmo cenário padrão. A sala-palco conterá:

 1. Cadeiras universitárias ou mesinhas individuais, em número idêntico (exatamente) ao de atores participantes, incluindo os atores-coordenadores.  Assim, cada carteira vazia indica uma ausência.

 2. Dois suportes para álbum-seriado, com respectivas folhas (em branco) já colocadas.

 3. Móveis:

  • Aparador para recursos cênicos (textos, pastas, fitas de vídeo, áudio…).
  • Aparador para aparelho de TV, vídeo e som.
  • Aparador para retroprojetor.
  • Arquivo.
  • Armário.

 4. Nas paredes:

  • Quadro negro.
  • Quadro de avisos (grande).
  • Sempre que possível: um quadro com uma mandala e outro com a imagem simbólica do velho sábio.
  • Outros elementos decorativos (discriminados em cada ato).
  • Projeção do poema “Profissão do Poeta”(Geir Campos. A Profissão do Poeta. In: Fernandes, Millor e Rangel, Flávio. Liberdade, Liberdade. São Paulo, L&PM, 1987, p. 22.)

 

 

O Poeta, Chagall

O Poeta, Chagall

PROFISSÃO DO POETA

Operário do canto, me apresento

sem marca ou cicatriz, limpas as mãos,

minha alma limpa, a face descoberta,

aberto o peito, e – expresso documento –

a palavra conforme o pensamento.

 

Fui chamado a cantar e para tanto

há um mar de som no búzio de meu canto.

Trabalho à noite e sem revezamentos.

Se há mais quem cante cantaremos juntos;

sem se tornar com isso menos pura,

a voz sobe uma oitava na mistura.

 

Não canto onde não seja a boca livre,

onde não haja ouvidos limpos

e almas afeitas a escutar sem preconceito.

Para enganar o tempo – ou distrair

criaturas já de si tão mal atentas,

não canto…

Canto apenas quando dança,

nos olhos dos que me ouvem, a esperança. 

 

 

 

 

 

 

 

5. No chão e no centro da sala: o desenho de um grande círculo (desenhado com fita crepe, por exemplo). As cadeiras estão dispostas em torno do círculo central, com uma abertura na direção do quadro negro (semicírculo) e com espaço suficiente para que os pés dos participantes não toquem o interior do círculo. No interior do círculo está desenhado um pequeno quadrado e, saindo do meio de cada um dos seus lados, quatro retas que dividem o círculo e o espaço total da sala em quatro partes e as cadeiras dos participantes em quatro grupos. Dentro de cada uma dessas partes, escrita em uma tarjeta ou cartolina e referindo-se a cada grupo de participantes, está colocada uma das seguintes palavras: Gerente, Técnico, Supervisor ou Operador.

 6. Um vaso com flores naturais, colocado sobre um dos móveis.

 7. Iluminação indireta, se possível.

 

 

DESENVOLVIMENTO

 

Ato I: A FORMAÇÃO DO ELENCO

 A. Cenas:

  • Cena I – A Composição do Elenco
  • Cena II – Todos os Nomes
  • Cena III – Expectativas
  • Cena IV – Gerentes
  • Cena V – Supervisores
  • Cena VI – Operadores
  • Cena VII – Técnicos
  • Cena VIII – Síntese

 B. Modificações no Cenário-Base:

1. Outros elementos decorativos nas paredes: quadros, ampliações fotográficas, recortes de revistas, etc., contendo cenas diversificadas de trabalho e produção: trabalho artesanal, trabalho em fábricas, linhas de montagem operadas com trabalho humano e com robôs, trabalho em equipe, operação de fábricas automáticas…

2. Quadro negro apagado.

3. Aparelhos de som e vídeo já testados.

4. Fixados no quadro de avisos:

  • Uma relação completa dos participantes.
  • Um dos textos que será utilizado no drama.
  • Um programa do espetáculo teatral.
  • Uma frase: Ator convidado para o drama, conquiste o seu espaço!
  • Um horário do espetáculo diário (início e término).

5. Sobre as cadeiras ou mesinhas individuais: programa do espetáculo teatral, cópias dos poemas: Contratados e O Relógio.

6. Música de fundo: Bolero, de Ravel.

 

C. Objetivos específicos do Ato

a. De reação – deseja-se que os atores se sintam:

  • respeitados;
  • esperados;
  • surpresos;
  • curiosos;
  • descontraídos;
  • alegres.

 b. De aprendizagem – Espera-se que os atores possam:

  • Rever e (re) memorizar o nome de todos os companheiros;
  • Conhecer novas características pessoais dos companheiros;
  • Conhecer o programa da Estação de Trabalho e as suas características metodológicas.
  • Intuir que existem muitas formas de trabalho e muitas maneiras de organizar e administrar o trabalho
  • Identificar as características fundamentais da organização clássica do trabalho
  • Fixar a divisão estrutural do trabalho na organização clássica (Taylorista /Fordista)
  • Intuir que as características básicas e estruturais da organização clássica estão presentes em praticamente todas as todas as atuais organizações e situações de trabalho coletivo.

 c. Sensação subjacente a ser produzida: algo importante vai acontecer.                 

d. Resultado adicional a ser buscado: aquecimento para a ação dramática e para a criatividade.

 

 

 Cena I: Composição do elenco

Carlos Scliar, Composição (ora bolas!),Vinil e colagem encerada sobre tela, Ouro Preto, MG.. 1993

Carlos Scliar, Composição (ora bolas!),Vinil e colagem encerada sobre tela, Ouro Preto, MG. 1993

Sala palco (do lado de fora). Porta fechada. Trinta minutos antes da chegada dos demais atores (denomina-se de ator ou de atores ao participante ou aos participantes do Programa Educação para o Trabalho)

Atores coordenadores : chegam. Abrem a porta. Ligam o som, colocando a música de fundo. Projetam a transparência prevista (Profissão do Poeta). Verificam o arranjo da sala, eventualmente alterando-o na direção descrita. Escrevem uma mensagem, referente ou não ao conteúdo do ato, em cada álbum-seriado e no quadro-negro.

 

 

 Durante essas ações, os atores coordenadores recepcionam os demais atores que chegam. No horário previsto:

 Atores coordenadores: fecham a porta. Nela, por dentro, fixam um cartaz com os dizeres: “ELENCO COMPLETO – PROIBIDA A ENTRADA“.

 O Ator que chegar atrasado para a CENA II deve conquistar o seu espaço.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cena II: Todos os Nomes

 

 

mosaico português, reproduzido do blog jumento.blogspot

Atores já sentados…

 Novo ator coordenador: lê o poema Profissão do Poeta e apresenta-se.

Atores coordenadores: contam uma história (engraçada, curiosa, trágica…) relacionada com seus próprios nomes.

Atores: cada qual conta, também, sua história.

Enquanto os atores se apresentam, entremeando as falas, os Atores-Coordenadores vão fazendo comentários a respeito do programa, do cenário, da utilização da arte, da música, do teatro, da poesia, etc.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cena III: Expectativas

Sanithna Phansavanh, great expectations 10" x 12" .. mixed media .. 2004

 

Atores: fecham os olhos. Recordam os antecedentes da atual ação. O início do Programa. Os dias anteriores ao atual. O dia de hoje. O caminho percorrido para chegar ao local do curso. A chegada. A entrada na sala. Como estão se sentindo agora…

Ator coordenador: solicita que os atores abram os olhos. Levantem-se. Andem pela sala.

Atores: abrem os olhos. Levantam-se. Andam pela sala. Exploram o espaço. Escolhem um objeto que represente a CHEGADA. Escolhem outro objeto representando a SAÍDA. Sentam-se. Dizem o nome dos objetos escolhidos.

Atores coordenadores: registram em um álbum-seriado o nome dos participantes seguido dos objetos escolhidos para representarem a chegada. No outro, os escolhidos para representarem a saída.

Ao mesmo tempo em que dizem os nomes dos objetos, os atores explicam porque os escolheram.

 Todos os atores: comentam os objetos escolhidos.

 

 

Cena IV: Gerentes

Ator-coordenador: coloca a fita com a música Pedro Pedreiro (Pedro Pedreiro. Chico Buarque de Holanda. In: Chico Buarque – Letra e Música. São Paulo, Companhia das Letras, 1990, p.40. ). Solicita a atenção dos atores para a audição.

Atores: ouvem a música, acompanhada pela leitura da letra, previamente colocada sobre as carteiras.

PEDRO PEDREIRO

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem

Manhã parece, carece de esperar também

Para o bem de quem tem bem

De quem não tem vintém

Pedro pedreiro fica assim pensando

Assim pensando o tempo passa

E a gente vai ficando pra trás

Esperando, esperando, esperando

Esperando o sol

Esperando o trem

Esperando o aumento

Desde o ano passado

Para o mês que vem

 

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem

Manhã, parece, carece de esperar também

Para o bem de quem tem bem

De quem não tem vintém

Pedro pedreiro espera o carnaval

E a sorte grande do bilhete pela federal

Todo mês

Esperando, esperando, esperando

Esperando o sol

Esperando o trem

Esperando aumento

Para o mês que vem

Esperando a festa

Esperando a sorte

E a mulher de Pedro

Está esperando um filho

Pra esperar também

 

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem

Manhã, parece, carece de esperar também

Para o bem de quem tem bem

De quem não tem vintém

Pedro Pedreiro está esperando a morte

Ou esperando o dia de voltar pro norte

Pedro não sabe mas talvez no fundo

Espera alguma coisa mais linda que o mundo

Maior do que o mar

Mas pra que sonhar

Se dá o desespero de esperar demais

Pedro pedreiro quer voltar atrás

Quer ser pedreiro pobre e nada mais

Sem ficar esperando, esperando, esperando

Esperando o sol

Esperando o trem

Esperando o aumento para o mês que vem

Esperando um filho pra esperar também,

Esperando a festa

Esperando a sorte

Esperando a morte

Esperando o norte

Esperando o dia de esperar ninguém

Esperando enfim nada mais além

Da esperança aflita, bendita, infinita

Do apito do trem

 

Pedro pedreiro esperando

Pedro pedreiro esperando

Pedro pedreiro esperando o trem

         Que já vem, que já vem, que já vem (etc.)

 Atores coordenadores: comentam a música. A música é relacionada com o tema “organização clássica do trabalho” e com a música de fundo “Bolero” (a idéia da repetição trazida pelas músicas – característica do trabalho monótono e parcelado da organização clássica).

                                          Breve pausa…

Ator coordenador: solicita aos atores que ocupam o espaço identificado no chão como “Gerente” que se apresentem individualmente, dizendo o que considerarem mais relevante a respeito de si mesmos e, também, o que mais lhes chamou a atenção, no curso, até o momento.

Atores do Grupo de Gerentes: um a um, vão se apresentando.

Enquanto os atores se apresentam, no entremeio, os atores-coordenadores vão fazendo comentários a respeito do programa, do cenário, da utilização da arte: música, teatro, poesia, etc.

 

  

Cena V: Supervisores

Atores coordenadores: exibem a seqüência inicial do filme Tempos Modermos ( Tempos Modernos, filme de Charlie Chaplin, distribuído em vídeo pela Globo Vídeo.)

Vídeo 1/9

 Vídeo 2/9

 Observação: O trecho selecionado de exibição corresponde ao segmento que vai do início do filme até o momento em que o personagem Carlitos, enlouquecido, é levado pela ambulância.

 Após a exibição, os atores coordenadores solicitam aos atores instalados no espaço identificado no chão como “Supervisores” que se apresentem. Na apresentação, os atores devem dizer algo que os companheiros ainda não conhecem a respeito de si mesmos e, em seguida, o que mais lhes chamou atenção no espetáculo até o momento.

 Atores: apresentam-se. Comunicam suas impressões.

Atores coordenadores: a partir das observações desse último grupo de atores, fazem comentários sobre o filme, chamando a atenção para a possibilidade de utilização pedagógica do cinema e teatro. Mostram que esses recursos conseguem, como no caso do filme de Chaplin, veicular sinteticamente as idéias.

Os coordenadores consideram que o filme já foi usado no Programa para outros objetivos. Agora, ele serve para fazer um retrato da organização clássica do trabalho e, especialmente, de sua forma peculiar de dividir o trabalho. Os coordenadores chamam a atenção para as relações entre o filme e o cenário. Alertam, rápida e especialmente, para a divisão da sala em supervisores, operadores, gerentes e técnicos e a divisão do trabalho vista no filme:

  • Operadores: todos aqueles que fazem alguma coisa, executam um trabalho particular (os operários, a secretária, o policial…). Na organização clássica, as funções operacionais são muito divididas (fragmentadas) e a forma de executá-las não é pensada pelo ocupante do cargo.
  • Supervisores: aqueles que controlam diretamente o trabalho dos operadores, aqueles que mandam o operador fazer aquilo que deve ser feito. No filme, o supervisor é representado pelos homens do dedo em riste, os controladores do ritmo na linha de montagem.
  • Técnicos: os responsáveis pela invenção e operação dos meios técnicos para operacionalizar ou concretizar uma determinada estratégia, missão ou visão organizacional. No filme, a estratégia organizacional é produzir a qualquer custo. Os técnicos (o acelerador da velocidade e o inventor da máquina de comer) inventam ou operam os meios de tornar a estratégia factível.
  • Gerentes: os que definem a missão, a visão e a estratégia organizacional. Na organização clássica (só nela?) definem também a tecnologia (comprar ou não comprar a máquina de comer…), a organização do trabalho e o “estatuto da gafieira”, ou seja: as relações de trabalho e as normas organizacionais (não pode fumar no banheiro durante o horário de trabalho…).

Simplificando e resumindo: técnicos e gerentes pensam e decidem, operadores e supervisores obedecem e executam (Uma exploração mais detalhada do segmento inicial do filme Tempos Modernos, enquanto um retrato, uma síntese e uma crítica da organização clássica do trabalho, pode ser encontrada em: KÜLLER, J.A. Ritos de Passagem – Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1997 ).

 

Cena VI: Operadores

Atores coordenadores: solicitam a um ator voluntário, pertencente ao grupo dos Operadores, que leia a

David Guglielmi

Foto: David Guglielmi

poesia Contratados (Agostinho Neto, Contratados. In: ANDRADE, M. Antologia Temática de Poesia Africana – Na Noite Grávida de Punhais. Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1977, p.189.), já disponível nas cadeiras de todos os demais atores que podem, assim, acompanhar a leitura.

 

 

CONTRATADOS

Longa fila de carregadores

domina a estrada

com os passos rápidos

 

Sobre o dorso

levam pesadas cargas

Vão

olhares longínquos

corações medrosos

braços fortes

sorrisos profundos como águas profundas

 

Largos meses os separam dos seus

e vão cheios de saudades

e de receio

mas cantam

 

Fatigados

esgotados de trabalhos

mas cantam

 

Cheios de injustiças

caladas no imo de suas almas

e cantam

 

Com gritos de protesto

mergulhados nas lágrimas do coração

e cantam

 

Lá vão

perdem-se na distância

na distância se perdem os seus cantos tristes

 

Ah!

eles cantam…

 

Ator voluntário: lê a poesia.

Sem comentários e imediatamente ao final da leitura…

 

Um dos Atores coordenadores: coloca a fita com a música Muxima ( Do disco Angola, Discos Eldorado. A letra não foi acrescentada ao texto por tratar-se de versão original em um dos dialetos angolanos. Trata-se de uma música folclórica de Angola. O temo Muxima designa, ao mesmo tempo, o coração e um lugar sagrado Angolano.) 

 Todos: ouvem, silenciosamente, a música, até o final.

Durante toda a audição, os Atores Coordenadores permanecem em atitude de concentração, dando o “tom” de comportamento para os demais atores. Após um momento de pausa, durante a qual a emoção da cena reflui…

Atores coordenadores: solicitam que os atores ocupantes do espaço identificado no chão como “Operadores” se apresentem. Na apresentação, os operadores seguem o mesmo roteiro utilizado pelos supervisores.

Atores do grupo “Operadores”: apresentam-se. Explicitam suas impressões.

Atores coordenadores: fazem comentários a respeito do sentido do impacto dramático provocado em cenas como esta (da audição da poesia e música). Expõe, rapidamente, que a integração entre o pensamento e emoção será uma característica geral do módulo.

 

 

Cena VII: Técnicos

 
 
 
 

 

Imagem Google Perolando

Imagem Google Perolando

 

 

 

 

 

Atores coordenadores: solicitam que os atores peguem o poema O Relógio (Melo Neto, J.C.. Antologia Poética.  José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1979, p.68.), antes colocado sobre as carteiras. O poema está dividido em quatro partes. É atribuída uma parte a cada um dos quatro grupos dispostos nos quadrantes. Os coordenadores propõem que cada grupo prepare a apresentação do poema através de leitura e movimentos rítmicos, em 20 minutos. Orientam para que os grupos, na preparação, procurem captar, a partir de uma leitura do texto inteiro, o sentido geral da parte do poema que deverão representar. É em cima desse sentido geral que os movimentos devem ser elaborados. Os grupos devem evitar uma representação que reproduza ponto a ponto, em movimentos, a leitura do texto. Os movimentos não devem tentar ser uma réplica das palavras.

 

O RELÓGIO

1. Ao redor da vida do homem

    há certas caixas de vidro,

    dentro das quais, como em jaula,

    se ouve palpitar um bicho.

 

    Se são jaulas não é certo;

    mais perto estão das gaiolas

    ao menos, pelo tamanho

    e quebradiço da forma.

 

    Umas vezes, tais gaiolas

    vão penduradas nos muros;

    outras vezes, mais privadas,

    vão num bolso, num dos pulsos.

 

    Mas onde esteja: a gaiola

    será de pássaro ou pássara:

    é alada a palpitação,

    a saltação que ela guarda;

 

    e de pássaro cantor,

    não pássaro de plumagem:

    pois delas se emite um canto

    de uma tal continuidade

 

    que continua cantando

    se deixa de ouvi-lo a gente:

    como a gente às vezes canta

    para sentir-se existente.

 

2. O que eles cantam, se pássaros,

    é diferente de todos:

    cantam numa linha baixa,

    com voz de pássaro rouco;

 

    desconhecem as variantes

    e o estilo numeroso

    dos pássaros que sabemos,

    estejam presos ou soltos;

 

    têm sempre o mesmo compasso

    horizontal e monótono,

    e nunca, em nenhum momento,

    variam de repertório:

 

     dir-se-ia que não importa

     a nenhum ser escutado.

     Assim, que não são artistas

     nem artesãos, mas operários

 

     para quem tudo o que cantam

     é simplesmente trabalho,

     trabalho rotina, em série,

     impessoal, não assinado,

 

     de operário que executa

     seu martelo regular

     proibido (ou sem querer)

     do mínimo variar.

 

3. A mão daquele martelo

     nunca muda de compasso.

     Mas tão igual sem fadiga,

     mal deve ser de operário;

 

     ela é por demais precisa

     para não ser mão de máquina,

     e máquina independente

     de operação operária.

 

     De máquina, mas movida

     por uma força qualquer

     que a move passando nela,

     regular, sem decrescer:

 

     quem sabe se algum monjolo

     ou antiga roda de água

     que vai rodando, passiva,

     graças a um fluído que a passa;

 

     que fluído é ninguém vê:

     da água não mostra os senões:

     além de igual, é contínuo,

     sem marés, sem estações.

 

     E porque tampouco cabe,

     por isso, pensar que é o vento,

     há de ser um outro fluído

     que a move: quem sabe, o tempo.

 

4. Quando por algum motivo

     a roda de água se rompe,

     outra máquina se escuta:

     agora, de dentro do homem;

 

     outra máquina de dentro,

     imediata, a reveza,

     soando nas veias, no fundo

     de poça no corpo, imersa.

 

     Então se sente que o som

     da máquina, ora interior,

     nada possui de passivo,

     de roda de água: é motor;

 

     se descobre nele o afogo

     de quem, ao fazer, se esforça,

     e que ele, dentro, afinal,

     revela vontade própria,

 

     incapaz, agora, dentro,

     de ainda disfarçar que nasce

     daquela bomba motor

     (coração, noutra linguagem)

 

     que, sem nenhum coração,

     vive a esgotar, gota a gota,

     o que o homem, de reserva,

    possa ter na íntima poça.  

Após 20 minutos…

Grupo 1: um dos integrantes do grupo lê o primeiro segmento do poema, enquanto os demais representam o poema através de movimentos rítmicos (corpo expressivo).

Sem pausas, nem comentários…

Grupos 2,3, e 4: procedem de forma similar ao grupo 1, em relação aos seus segmentos de poema.

                                 Pausa, na qual ocorrem comentários espontâneos sobre o trabalho.

Ator coordenador: solicita que os atores, ocupantes do espaço identificado no chão como “Técnico”, se apresentem dizendo: o que quiserem sobre si mesmos e, também, o que mais lhes chamou a atenção até o momento.

Técnicos: apresentam-se e expõem suas impressões.

Atores: apresentam suas dúvidas a respeito do espetáculo.

Atores coordenadores: esclarecem as dúvidas dos atores, aproveitando para apresentar o programa do espetáculo teatral.

 

The Birth of the World. Montroig - late summer-fall 1925, Oil on canvas, 8 2 3/4 x 6 6 3/4 (250.8 x 200 cm), The Museum of Modern Art, New York, Joan Miró, Surrealismo

The Birth of the World. Montroig - late summer-fall 1925, Oil on canvas, 8' 2 3/4" x 6' 6 3/4" (250.8 x 200 cm), The Museum of Modern Art, New York, Joan Miró, Surrealismo

Cena VIII: Síntese

 

 Atores coordenadores: retomam à evolução do trabalho, vista no Núcleo Central e às cenas  anteriores em uma síntese que contemple as características fundamentais da organização clássica do trabalho (Taylorista/Fordista) e sua peculiar divisão estrutural e técnica do trabalho.

 

Observação: os resumos, vistos adiante, colocados em cartaz ou transparência, podem auxiliar o coordenador na síntese. (Esses resumos foram extraídos de: KÜLLER, J.A. Ritos de Passagem – Gerenciando Pessoas para a Qualidade. São Paulo, SENAC, 1997. )  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PAPÉIS ESTRUTURAIS DA ORGANIZAÇÃO CLÁSSICA

CARACTERÍSTICAS DA ORGANIZAÇÃO CLÁSSICA

 

1.       SEPARAÇÃO ENTRE CONCEPÇÃO E EXECUÇÃO

2.       FRAGMENTAÇÃO DO TRABALHO DE EXECUÇÃO

3.       RELAÇÃO AVERSIVA COM O TRABALHO

4.       PRODUTO É RESULTADO DO TRABALHADOR COLETIVO

5.       PRODUÇÃO EM MASSA

6.       ESPECIALIZAÇÃO E AJUSTE DO HOMEM A ATIVIDADES REPETITIVAS

7.       TREINAMENTO VISTO COMO ADESTRAMENTO

8.       CONTROLE EXTERNO DO TEMPO E DO RITMO DE TRABALHO

9.       NÃO-PROPRIEDADE DOS MEIOS DE PRODUÇÃO

10.   SEPARAÇÃO PAPEL/PESSOA

         Se ainda houver tempo… 

Atores coordenadores: focalizam o ambiente. Situam a função prática e o simbolismo das figuras traçadas no chão. Solicita que os atores observem os quadros. Discutam o significado de cada um deles… Antes dos atores avaliarem o dia e saírem, fala da tarefa prevista para o início de todas as sessões e distribui, entre os grupos antes formados, os dias para a realização do Teatro-Jornal.

 

Referência para os Coordenadores

 

As figuras no chão e nas paredes têm uma função simbólica e/ou outra pragmática. No chão, por exemplo, o círculo é um símbolo (da perfeição) e delimita de forma pragmática o espaço dramático, o espaço do “como se”. Diferencia-o do espaço do grupo e do contexto grupal representado pelo semicírculo das cadeiras. Os quadros, fotografias e recortes de cenas de trabalho e produção não são símbolos. Devem indicar concretamente a diversidade de formas produtivas e de organização do trabalho. Já o velho sábio e a mandala são símbolos. Focam uma determinada área de experiência e abrem uma multiplicidade de significados.

Os principais símbolos colocados na sala referem-se ao processo criativo, tal como pensado por Jung. Indicam, em geral, opostos (círculo x quadrado, por exemplo) e a conjugação dos opostos (por exemplo, a mandala). O texto a seguir pode ajudar na preparação do cenário ou na sua interpretação.

 

 

Sobre Símbolos

 

1. Arquitetura

Portal 1 - 2001 -Antonio Cláudio Massa

Portal 1 - 2001 -Antonio Cláudio Massa

 

 

 

O simbolismo arquitetônico é, naturalmente, muito amplo e complexo. Fundamenta-se, em princípio, na correspondência de sistemas de ordenação, resultado de levar à abstração e coincidência fenômenos diversos em conexão com as formas que pode tomar a construção arquitetônica e a organização dos espaços. Simbolismos secundários ao aludido, da “ordem”, derivam da forma, das estruturas, cor, material, função, distribuição em altura, hierarquia de elementos, etc.

 

 

 

 

2. Caos

A doutrina da realidade considera o caos como um estágio inicial cegamente impulsionado para uma nova ordem de fenômenos e de significações. Blavatsky pergunta-se: “Que é o caos primordial senão o éter contendo em si mesmo todas as formas e todos os seres, todos os germes da criação universal”.

 

3. Círculo

Às vezes se confunde com a circunferência, e como esta com o movimento circular. Porém, ainda que o sentido mais geral englobe os três aspectos, há determinações particulares que importa destacar. O círculo ou disco é, com freqüência, emblema solar (indiscutivelmente quando está rodeado de raios). Também tem correspondência com o número 10 (retorno à unidade após a multiplicidade), pelo que simboliza muitas vezes o céu e a perfeição ou também a eternidade. Há uma implicação psicológica profunda neste significado do círculo como perfeição. Por isso diz Jung que o quadrado, como número plural mínimo, representa o estado pluralista do homem que não alcançou a unidade interior (perfeição), enquanto que o círculo corresponderia ao final da referida etapa.

 

4. Circunferência

Símbolo da limitação adequada, do mundo manifesto, do preciso e regular, também da unidade interna da matéria e da harmonia universal, segundo os alquimistas. O ato de incluir seres, objetos ou figuras no interior de uma circunferência tem um sentido: de dentro, implica uma limitação e determinação; de fora, constitui a defesa de tais conteúdos físicos ou psíquicos, que deste modo se protegem contra os perils of the soul que ameaçam lá do exterior, assimilado até certo ponto ao caos; perigos, sobretudo, de falta de limites e desagregação.

 

5. Espaço

De certo modo, o espaço é uma região intermediária entre o cosmo e o caos. Como âmbito de todas as possibilidades é caótico, como lugar das formas e das construções é cósmico. A relação entre o espaço e o tempo bem cedo constituiu um dos meios para dominar a natureza rebelde do espaço. Outro, o mais importante, foi sua organização por meio de divisões fundadas em sua tridimensionalidade. Cada dimensão, em seus dois sentidos possíveis – na reta – facilitou dois pólos de orientação. A estes seis pontos situacionais acrescentou-se o sétimo: o centro. O espaço ficou convertido assim numa construção lógica. O simbolismo do nível e da orientação completou sua ordenação significativa. A tridimensionalidade do espaço se expressa por uma cruz de três dimensões, cujos ramos se orientam nas seis direções espaciais: as quatro dos pontos cardeais mais as duas do zênite e do nadir.

 

Formas e Espaços, Justino Alves

Formas e Espaços, Justino Alves

 

 

 

6. Formas

As formas, que dentro de um mesmo sistema ou grupo são diferentes, podem ordenar-se em séries ou gama (e são aptas a serem incluídas em ordens de analogias e correspondências). Assim, trapézio, retângulo, quadrado, círculo assinalam um avanço progressivo da irregularidade à regularidade, que poderia simbolizar exatamente uma evolução moral. Jung alude a estas coisas quando diz que, o quadrado, como número plural mínimo (simbolizante do situacional) representa o estado pluralista (interno) do homem que ainda não alcançou sua unidade interior. Contudo, é superior ao trapézio como este ao trapezóide. O octógono é a figura de intercalação (intermediário) entre o quadrado e o círculo. Não é preciso insistir que os símbolos têm significados em diversos planos, principalmente no psicológico e no cósmico. Assim, psicologicamente, o triângulo é também, em sua posição natural, com o vértice para cima, e colocado entre o quadrado e o círculo, um elemento de comunicação. Porém, objetivamente, essas três figuras simbolizam a relação (triângulo) da terra (quadrado) e do céu (círculo, roda, rosácea).

 

7. Mandala

Mandala de Avalokiteshvara,a roda da Compaixão

Mandala de Avalokiteshvara,a roda da Compaixão

Este termo hindu significa círculo. (…) No ocidente, a alquimia apresenta com relativa freqüência figuras de inegável caráter mandálico nas quais se contrapõem o círculo, o triângulo e o quadrado. Segundo Heinrich Khunrath, do triângulo no quadrado nasce o círculo. (…) A mandala, em resumo, é antes de tudo uma imagem sintética do dualismo entre diferenciação e unificação, variedade e unidade, exterioridade e interioridade, diversidade e concentração. Exclui, por considerá-la superada, a idéia da desordem e sua simbolização. É, pois, a exposição plástica, visual, da luta suprema entre a ordem, mesmo a que existe na variedade, e o desejo final de unidade e retorno à condensação original no inespacial e intemporal (ao “centro” puro de todas as tradições). Porém, como a preocupação ornamental (quer dizer, simbólica inconsciente), é também a de ordenar um espaço (caos) dado, cabe um conflito entre duas possibilidades: a de que algumas presumíveis mandalas surjam das simples vontade (estética ou utilitária) de ordem; ou de que, em verdade, procedam do anseio místico de integração suprema.

 

8. Quaternário

 

(…) Por isto o quaternário corresponde à terra, à organização material, enquanto que o três expõe o dinamismo moral e espiritual.

 

 

 

 

 

9. Retângulo

É a mais racional, segura e regular de todas as formas geométricas; isto se explica empiricamente pelo fato de que, em todos os tempos e lugares, é a forma preferida pelo homem e a que ele dá a todos os espaços e objetos preparados para a vida. A casa, o quarto, a mesa, a cama povoam de retângulos o ambiente humano.

 

10. Triângulo

Imagem geométrica do ternário, no simbolismo dos números equivale ao três. Em sua mais alta significação aparece como emblema da Trindade. Em sua posição normal, com o vértice para cima também simboliza o fogo e o impulso ascendente de tudo para a unidade superior, desde o extenso (base) ao inextenso (vértice), imagem da origem ou ponto irradiante. (…) Com o vértice truncado, símbolo alquímico do ar; com o vértice para baixo, símbolo da água; em igual posição e com o vértice truncado, símbolo da terra. A interpenetração de dois triângulos completos em posições diferentes (água e fogo) dá lugar à estrela de seis pontas, chamada selo de Salomão, que simboliza a alma humana. (As interpretações anteriores são excertos de: CIRLOT, J.E. Dicionário de Símbolos. São Paulo. Editora Moraes, 1984.) 

 

11. Velho sábio

 

Ancião, Toia Neuparth, pintora angolana

Ancião, Toia Neuparth, pintora angolana

 Se a velhice á um sinal de sabedoria e de virtude (os presbíteros são originalmente anciãos, i.e., sábios e guias), se a China desde sempre honrou os velhos, é que se trata de uma prefiguração da longevidade, um longo acúmulo de experiência e de reflexão, que é apenas uma imagem imperfeita da imortalidade. Assim, a tradição conta que Lao-tse nasceu de cabelos brancos, com aspecto de um velho e que daí vem o seu nome, que significa Velho Mestre. O taoísmo da época dos Han conhece uma divindade suprema, chamada Huang-lao Kium. i.e., Velho Senhor amarelo: expressão puramente simbólica que M. Maspéro corretamente relacionou ao Ancião dos Dias do Apocalipse: poderíamos acrescentar o Velho da Montanha, dos drusos. No mesmo Apocalipse, o Verbo é apresentado de cabelos brancos, mais uma vez sinal da eternidade. Mas, por escapar às limitações do tempo pode ser expresso tanto no passado quanto no futuro; ser um velho é existir desde antes da origem; é existir depois do fim desse mundo. Assim, o Buda qualifica-se de Irmão mais velho do Mundo. Xiva é por vezes venerado (notadamente no Kampuchea (Camboja) angkoriano) sob o nome de Velho Senhor (Vridheshvara). A sociedade secreta chinesa T’ien-ti huei é às vezes designada como sociedade do Verdadeiro Ancestral (por exemplo, no decreto do imperador vietnamita Gia Long, que a condena). Este Ancestral é o Céu, pelo menos para o Homem verdadeiro, filho do Céu e da terra. ( Retirado de: Chevalier, J. e Gheerbrant, A. Dicionário dos Símbolos. Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1995, p. 934.)   

         

Cena de finalização e transição 1

 

 

foto reproduzida do blog vandrefernando.blogspot.com

foto reproduzida do blog vandrefernando.blogspot.com

Atores: escrevem, em um pedaço de papel, o próprio nome e uma frase que indique como viveram essa primeira etapa do drama. Cada um fixa no quadro de avisos a sua frase.

 

       Após a saída dos demais atores…

 

Atores coordenadores: analisam a sessão tendo como referências as frases dos atores, o desenvolvimento das atividades e os objetivos do ato.

 

 
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