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Arquitetura escolar e Aprendizagem Criativa 16 de fevereiro de 2009

Este texto surgiu de pequenas mudanças que produzi em um comentário que fiz ao artigo de meu amigo Jarbas Novelino  Barato “Prédios e equipamentos escolares ensinam”, no blog Boteco Escola.

 

Tenho acompanhado os últimos posts sobre a arquitetura escolar do Boteco Escola. Inclusive fiz um comentário sobre o artigo Prédios e equipamentos escolares ensinam.  Nele disse que não desconheço e não desconsidero os efeitos das condições de conservação e manutenção dos prédios escolares sobre o currículo oculto e sobre a aprendizagem.

Participei, inclusive, na Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), bom tempo atrás, de um projeto denominado, se não me falha a memória, de Projeto de Preservação e Manutenção do Patrimônio.

 

O projeto, que se espalhou pela rede pública de escolas do Estado de São Paulo, implicava em envolver toda a comunidade escolar, incluindo os pais e moradores vizinhos, em propostas de manutenção e conservação dos prédios escolares. A idéia não era a de reduzir custos de manutenção, mas de engajar a comunidade em um projeto com efeitos educacionais, especialmente os de educação ambiental.

Mas, acredito que o primeiro post do Boteco Escola sobre o assunto, Arquitetura e Educação, tocava em questão mais importante: o efeito do dispositivo arquitetônico sobre a situação de aprendizagem. O dispositivo em auditório, induz uma relação de aprendizagem em que o professor fala e o aluno ouve. Mesmo que o professor queira a participação, o dispositivo arquitetônico induz à passividade.

Para modificar essa situação, é preciso transformar o espaço e o ambiente da escola e da sala de aula.

 

Seria necessário inovar, na escola, o espaço e o ambiente. Espaço e ambiente são conceitos basilares na arquitetura. Vou usar as definições contidas no manual do docente da Estação de Trabalho de Organização de Ambientes de Vendas do Programa de Educação Para o Trabalho (PET) do SENAC/SP.

Espaço: local delimitado por alguma forma de construção ou objeto, ou encontrável na natureza. Pode ser um local dentro do (contido no) objeto que o delimita, ou fora dele. Por exemplo: uma sala é um local delimitado por paredes, teto, piso, janelas e portas. Mas, num exemplo mais complexo, um obelisco num local vazio delimita e ao mesmo tempo dá uma configuração ao espaço em torno dele. Uma praça, embora não seja um local fechado, constitui um espaço.

Ambiente: espaço ao qual se acrescentam certas condições. Uma simples sala com a presença de pessoas forma um ambiente. A mesma sala com um aparelho de som ou uma orquestra é outro ambiente. Essa mesma sala com carteiras escolares forma um terceiro tipo de ambiente, e assim por diante. Conclui-se, portanto, que num mesmo espaço podem ser formados diversos ambientes”

Sala de aula com «cave seat» (nicho), Galilee Catholic Learning Community, Russell & Yelland Architects

Do espaço e ambiente escolar renovados, poderíamos falar em construções que se abrissem para seu entorno e se tornassem parte dele. Construções que não apenas facilitassem o acesso da comunidade à escola, mas que transformassem o entorno escolar em uma continuidade do espaço de aprendizagem e ajudassem a criar o ambiente da cidade educativa ou educadora.

 

Há um poema de João Cabral de Melo Neto, sobre esse tema da abertura, do qual gosto muito:

 

 

 

“A arquitetura como construir portas,

de abrir, ou como construir o aberto;

construir; não como ilhar e prender;

nem construir como fechar secretos;

construir portas abertas, em portas;

casas exclusivamente portas e teto.

O arquiteto: o que se abre para o homem

(tudo se sanearia desde casas abertas)

portas por-onde, jamais portas-contra;

por onde, livres: ar luz razão certa”

 

 

Melo Neto, João Cabral de, Fábula de Um Arquiteto, A Educação pela Pedra, Rio de Janeiro, nova Fronteira, 1996, p. 36.

Mas, as escolas continuam sendo recintos quadrados, fechados, escondidos dos olhares do mundo e que impedem aos alunos olharem o mundo com seus próprios olhos.

No entanto, o espaço e o ambiente da sala de aula parecem ainda mais imutáveis. O convencional formato retangular do espaço induz ao típico ambiente com a organização das carteiras em fila. Ora, sabemos que o formato mais adequado à conversa e à participação é o círculo. Ninguém projeta escolas e salas supondo um ambiente em que as carteiras escolares estejam dispostas em círculo.

Tenho casos sobre isso.

High Tech Middle School, Carrier Johnson.

 

Para mim, a atividade e a participação do aluno são fundamentais no processo de aprendizagem. Assim, a melhor sala de aula em que já trabalhei, foi uma que existia no CENAFOR, antiga e extinta fundação do MEC em São Paulo. Era circular e carinhosamente a apelidávamos de “Queijinho”. Além de ser circular, continha divisórias internas que possibilitavam a criação de espaços de diferentes tamanhos para o trabalho de pequenos ou grandes grupos. Estava adequada para uma proposta metodológica diferente da convencional.

Trabalhando na capacitação de docentes para a o Programa Educação para o Trabalho (PET) do SENAC/SP, usava o auditório da unidade da Rua 24 de Maio, centro de São Paulo. Todo dia, para desespero do pessoal de limpeza, carregava as pesadas poltronas e transformava o quadrado em círculo. Todo o fim de dia, o pessoal da limpeza retornava as poltronas para sua original posição em filas paralelas, objetivando prepará-las para o uso noturno. Da experiência, cheguei à convicção que a mudança educacional só acontecerá quando, em qualquer circunstância, o pessoal de limpeza preferencialmente organizar as cadeiras em círculo.

 

Por fim, uma lembrança do meu trabalho com o SENAC Rio. O Centro Politécnico foi escolhido para implementar cursos técnicos, formatados de acordo com uma nova proposta pedagógica. Nela estava prevista uma revolução metodológica incompatível com as salas em formato de auditório. O espaço das salas do Centro Politécnico, no entanto, era insuficiente para a organização das cadeiras em círculos que contivessem 30 participantes. Foi necessário derrubar as paredes e de duas salas fazer uma. Única solução possível, embora em uma sala ou outra, as colunas remanescentes dificultassem um pouco os olhares e as conversas.

Como conclusão, tenho pensado que uma solução arquitetônica adequada à  Aprendizagem Criativa seria a construção de salas sextavadas e espaços escolares que fossem construídos espelhando-se na organização dos favos de mel. Nada sei de arquitetura para saber se tais escolas e salas são viáveis. Mas, acredito que seriam mais doces e democráticas.

Sala de aula, Pistorius-Schule, Behnisch Architekten.

Sala de aula, Pistorius-Schule, Behnisch Architekten.

 

 

3 Responses to “Arquitetura escolar e Aprendizagem Criativa”

  1. jarbas Says:

    Alô Kuller,

    Serei breve, embora o assunto mereça uma conversa cuidada e longa. No comentário lá no Boteco Escola e agora aqui no Germinal, você manifesta uma preocupação sobretudo didática, ressaltando aspectos ligados ao processo de aprendizagem no espaço que convencionamos chamar de sala de aula. Mas acho que é preciso ir mais longe. A questão é ‘pedagógica’. Abrange a meu ver diversas dimensões simbólicas associadas à educação. Um exemplo, bastante situado, é uma história que contei lá no Boteco sobre o confronto sala da diretora X sala dos professores. Numa outra consideração, falei da escola fortaleza (que ganha cada vez mais espaço nas expectativas de pais e educadores). Neste último caso, a conversão do espaço escolar em bunker diz muito sobre uma educação que desconsidera a cidade como um espaço de convivência. Tem um educador italiano que pouco conhecemos, Francesco Tonucci, e deveríamos ouvir mais em suas propostas sobre cidade da crianças.
    Já disse mais do que pretendia. Por isso paro por aqui.
    Uma sugestão: poderíamos agitar alguma atividade- com mais gente – sobre o tema (um seminário informal, uma discussão no espaço virtual, sei lá que mais). (Quem sabe o Danilo do Sesc topa apoiar uma idéia dessas…)
    Abraço, Jarbas.

  2. é muito legal cuida da escola!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


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