Germinal – Educação e Trabalho

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Viver: uma abordagem da relação homem e trabalho 23 de dezembro de 2010

Filed under: Uso didático de vídeos — José Antonio Küller @ 9:35 pm
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Um filme: “Viver”, de Akira Kurosawa, introduz e permite um primeiro desenvolvimento do tema. Nele, em uma aparente contradição com o título, o titular de uma repartição burocrática japonesa nos anos 50, a Sessão de Cidadania, defronta-se com a morte. O filme começa mostrando o cotidiano de trabalho do funcionário. Permanentemente atrás de uma mesa, onde a papelada vai acumulando o protagonista rotineiramente despacha processos para as repartições supostamente competentes. Nada o afasta ou o retira do universo fechado da mesa e dos papéis. Uma redoma invisível o isola dos seus funcionários e dos problemas concretos, dos quais a papelada é apenas um reflexo. No filme, a apresentação do personagem diz: “está apenas preenchendo o tempo. Está sendo levado pela vida”.

Em uma cena, uma comissão de mulheres que reivindicam a construção de um parque é atendida por um subordinado do protagonista que as remete a uma sucessão de outras repartições, cada uma delas eximindo-se da responsabilidade pelo problema e encaminhando a comissão para o balcão de atendimento de outra sessão, onde a mesma situação se repete. Kanji Watanabe, o personagem em tela, durante o atendimento da comissão, nem sequer levanta os olhos tristes e desesperados do processo que examina. Apenas o final do expediente o retira de sua mesa e o remete para casa onde, solitário e silencioso, vive com o filho e a nora.

Um problema no estômago leva o Sr. Watanabe à procura de um médico. Após os exames ele constata estar com câncer e ter apenas aproximadamente 6 meses de vida. A perspectiva da morte próxima faz Watanabe rever sua vida. Próximo à aposentadoria e não tendo nunca faltado ao trabalho, repentinamente e sem explicações abandona a repartição. Retira parte de suas economias e começa a freqüentar bares e a vida noturna, a princípio em companhia de um boêmio e depois acompanhado por uma ex-funcionária da repartição, muito mais jovem do que ele, que tinha tido a coragem de abandonar um emprego estável e um trabalho que a entediava.

A moça irradia alegria de viver. Na noite e no espelho da juventude, Watanabe procura a si mesmo. Revê o passado e pergunta pelo sentido da vida. Como ele próprio diz: “Não entendo o sentido de todos esses meus anos de vida”. Relembra a morte da esposa e começa a atribuir a sua vida vazia ao sacrifício que fez para a criação do filho.

A companhia do Sr. Watanabe acaba não sendo agradável para a jovem. Uma noite, ela provoca uma discussão, tentando acabar com os insistentes convites de Watanabe para sair com ela. Durante a discussão, ao responder a uma pergunta sobre a sua alegria de viver, ela fala de seu novo trabalho em uma fábrica de brinquedos e da satisfação de saber que participa de um fazer que alegra as crianças. Mostra um brinquedo e diz: “Na verdade, faço brinquedos como esse. Mas é divertido. Sinto como se todos os bebês do Japão fossem meus amigos. Por que não faz algo assim?” Watanabe alega a impossibilidade de fazer algo significativo na repartição e ser muito tarde para mudar de emprego. Mas, de repente, os seus olhos se iluminam e ele diz: “Nada é tarde demais. Nada é impossível. Posso fazer algo se estiver determinado a fazê-lo!”. No dia seguinte retorna ao trabalho.

A sua transformação é notável. A perspectiva da morte o transforma. Desenterra o processo do parque. Entra em contato com a comissão de mulheres que o tinha originado. Paciente e perseverantemente, enfrenta os caminhos e entraves burocráticos para a aprovação do projeto. Acompanha a construção da praça. Na praça já concluída,  numa noite fria de nevasca, cantando docemente a canção que o acompanhou pelo filme inteiro e que diz:

“A vida é tão curta…

Apaixone-se querida…

Enquanto seus lábios têm cor,

E antes que a paixão termine,

Pois não haverá o amanhã.

A vida é tão curta…

Apaixone-se querida…

Enquanto seus cabelos são negros,

E antes que o fogo do amor se apague.”;

sentado em um balanço destinado às crianças usuárias, Watanabe morre.

Na cerimônia que sucede ao enterro, onde se come e se bebe muito, o seu feito é rememorado. O que intriga, sobremaneira, os seus pares e subordinados é a transformação de Watanabe. Após longo debate chegam à conclusão que ele sabia de sua doença e de sua morte iminente, por isso a mudança. De repente, alguém diz: ”Um dia morreremos também.” À reflexão que sucede à óbvia constatação da finitude de todos, juntos e já bêbados fazem um pacto de transformação de suas vidas no trabalho.

A cena final do filme é melancólica. Na repartição, com um novo chefe, a possibilidade de dar continuidade à transformação imprimida por Watanabe se apresenta. O novo chefe, embora participante do pacto, reage da maneira convencional e os demais também. O pacto está morto. Na cena observa-se, por parte de um único funcionário, um olhar de cobrança, um movimento corporal de indignação e, por fim, um último gesto de desengano e impotência. Tudo volta ao normal.

O filme contrapõe duas perspectivas de relação do homem com o seu trabalho. O início e o término mostram uma relação esvaziada de sentido. O trabalho alheio àquele que o executa, é visto como meio para fins exteriores a si mesmo: a sobrevivência, a criação dos filhos, a acumulação de uma reserva para a velhice, a obtenção de salários mais elevados, o exercício do poder, o exercer de um ritual imerso em um tempo despersonalizado, um despender de tempo e de vida ausente de alma e de paixão. A segunda visão de trabalho implica em laborar na direção de um projeto assumido e valorizado. Um valor que não se esgota em si, mas que articula o homem que trabalha com o outro e que vai de encontro a uma necessidade coletiva.

Há uma visão de servir e de sentir-se útil aí. Há uma música de criação e de solidariedade na praça recém-construída e embelezada pela neve que cai. É perceptível também, nessa segunda forma de trabalho, um contínuo trafegar entre o projeto e as capacidades e habilidades do homem que o persegue. Para a concretização do projeto é necessária a atualização do que há de melhor em Watanabe. O projeto solicita o que ele tem de melhor e no processo de concretização suas melhores qualidades são ainda desenvolvidas. Ao cabo, não resta apenas a praça, onde as crianças brincam, como testemunho da capacidade humana de criação e de transformação da natureza. Sobra, ao fim, um homem melhor. Um homem reconciliado com sua vida e com sua finitude.

O texto anterior foi retirado de  KÜLLER, J.A. Ritos de Passagem – Gerenciando Pessoas para Qualidade. São Paulo, Editora SENAC, 1996.


[1] Kurosawa, Akira, Viver, Toho, 1952, distribuído em vídeo por FJLucas Vídeo.

 

O uso do vídeo na educação – Uma segunda chance 28 de setembro de 2010

Um filme denominado Uma segunda chance pode ser usado para discutir a dinâmica das funções conscietes de Jung : pensamento, sentimento, percepção e intuição. O filme  é um exemplo do processo de integração da função inferior ao conjunto das funções concientes da psiquê .

No início da história, um brilhante advogado é retratado. A própria natureza da atividade do personagem indica o uso da função pensamento como função superior. No retrato do cotidiano, o advogado é mostrado como uma pessoa fria e distante. O trabalho deixa pouco espaço para a relação familiar. A sua relação com o outro é utilitária e não consegue expressar os seus sentimentos para ninguém, nem para a esposa ou a filha. Não parece ter uma vida feliz.

Ao comprar cigarros em estabelecimento comercial que está sendo assaltado, o advogado é ferido gravemente na cabeça. O tiro afeta o cérebro e o faz perder a memória (e com ela todos os conhecimentos anteriores), os movimentos e a fala.

O processo de recuperação em uma clínica especializada envolve fisioterapia e reaprendizagem de praticamente tudo: falar, andar, relacionar-se… É como uma volta à primeira infância. A competência de relacionamento com o mundo foi abrupta e radicalmente reduzida. Tudo tem de ser reaprendido. Um fisioterapeuta é seu ego auxiliar nesse momento.

Apartado da família e isolado na clínica, o personagem vai recuperando as habilidades mais básicas de relacionamento com o outro e com o mundo. Uma mudança de forma e de disposição na relação, no entanto, vai ficando clara. Agora ele interage com as situações a partir de valorizações e de afetos. A função inferior, sentimento, começa a ganhar predominância na orientação geral do comportamento. As falas do personagem passam a ser pontilhadas de “eus gostares”, de “eus quereres”, de “eus sentires”…

Já de retorno ao lar, o processo de desenvolvimento continua, agora assistido pela filha (ela o reensina a ler, por exemplo). O ponto de apoio da retomada continua sendo a função inferior e os mais próximos espantam-se com sua mudança . Uma passagem crucial é a volta ao trabalho. Ali, o personagem apoiado pela função superior, pensamento, tinha prosperado e feito carreira. Mesmo ainda não sofisticada e diferenciada, a nova orientação é perceptível. É vista na nova forma de ele tratar as pessoas. É notada na descoberta de uma omissão durante um processo (feita por seu “outro eu”), com o único intuito de ganhar a causa, na base do “os fins justificam os meios”.

Com base na nova orientação, que prioriza os valores, questiona a condução anterior do processo. Como conseqüência, passa a ser impedido de ter acesso aos arquivos da companhia. Henry, o advogado, torna-se perigoso por seguir, sem hesitação, os ditames da nova orientação. Essa inocência é uma característica da criança e de quem está integrando a função inferior. Há uma entrega sem limites à nova forma de orientação e a pessoa não consegue perceber e jogar com outras alternativas. Além de ser incapaz de mostrar o desempenho anterior, o que traz de novo põe em questão a forma de proceder da firma. Henry passa a ser ridicularizado nos bastidores.

Quando percebe sua inadequação, um momento crítico no processo de desenvolvimento, o advogado é procurado pelo seu fisioterapeuta. Eis o diálogo deles:

Henry:    Pensei que podia voltar à minha vida, mas não posso. Eu não gosto de quem eu era. Eu não me encaixo.

Fisioterapeuta:      Tenho problemas nos joelhos. Tenho joelhos ruins. Pergunte por quê.

Henry:    Por quê?

Fisioterapeuta:      Por quê? Futebol. Estraguei os joelhos jogando futebol. Cara, o futebol era a minha vida. O que mais havia? Mais nada. Entrada da área. O filho da mãe atirou uma espiral perfeita… e eu peguei. Caiu do céu. Foi o auge. Veio o bloqueio e senti os joelhos estalarem… E sabia que já era. Fim de jogo. Estava acabado. Minha vida acabara, Henry. Agora pergunte se ligo para meus joelhos.

Henry:    Você liga…

Fisioterapeuta:      Não! De jeito nenhum. Foi um teste. Tinha que me reencontrar. O fisioterapeuta que me fez andar era tão seguro. Pensei: é o que quero fazer. Quando contei, os meus colegas riram. Chamaram-me de enfermeira e tudo o mais. Mas, olhe bem. Você está andando. Está falando e bebendo cerveja da boa. Tenho algo a ver com isso. Não fosse o meu joelho e eu não o teria conhecido. Não me importo de ter joelhos ruins. Não! Vou lhe dizer algo. Não dê ouvidos a quem tenta dizer o que você é. Pode levar algum tempo, mas vai se descobrir.

Similarmente à aventura do personagem, a incorporação da função inferior implica, sempre e em certa medida, um mergulho no inconsciente. É daí que ela emerge em estado bruto, energicamente carregada, plena de frescor e de inocência. Se o abandono da  função superior é doloroso, ao mesmo tempo favorece uma renovação de vida e abre caminho para a criação do novo e para um reencontro consigo mesmo. Ao incorporar a função sentimento, Henry se renova e parte para a busca de uma vida revigorada de sentido.

O texto anterior foi retirado, com pequenas alterações, do livro Ritos de Passagem – Gerenciando pessoas para a qualidade, de José Antonio Küller, Editora Senac/SP, 1996.

 

Cozinhar e servir com a Bela e a Fera 24 de agosto de 2009

 

Dentro da categorias: uso didático de vídeos e Educação em Vídeos postamos, a seguir, um excerto da Oficina de Cozinhar e Servir de um Programa de Capacitação de Empregados Domésticos, desenvolvido pela Germinal Consultoria para o SENAC de São Paulo.

 

 

Atividade 22: Dia de Festa: preparação do que vai ser servido

Descrição: o coordenador projeta  segmento do filme A Bela e a Fera, de Walt Disney, em que é servido o jantar com toda pompa e fantasia.

Segue-se comentários gerais sobre o show do jantar encantado e, voltando ao assunto do jantar do dia, o coordenador lança a pergunta: o que é importante garantir que aconteça para encantar os convidados, sem contar com os efeitos especiais Disney? 

Dali - The Basket of bread

 

Tentando encantar o cliente

O coordenador sintetiza os resultados almejados expressos, chamando a atenção para a necessidade de um entendimento do tipo de jantar que se quer preparar e de um planejamento prévio do que fazer. O pré-preparo dará, certamente, mais tranqüilidade ao cozinheiro se não puder contar com ajuda. O grupo executor inicia suas atividades e os demais assumem seus papéis designados na sessão anterior. O grupo encarregado de servir recebe do coordenador o conjunto de louças, talheres, copos e guarnições necessários para arrumar a mesa do jantar festivo. O coordenador permanece à disposição para assessorar os grupos até a conclusão dos trabalhos.

 

Dali - Bread in Basket

Dali - Bread in Basket

Atividade 23: O Jantar Está Servido!

Descrição: se a mesa de festa não comportar todos os participantes, cada grupo escolherá os seus representantes, uma vez que, a essa altura, todos os participantes já devem ter sido servidos. Desta forma, a mesa de festa terá representantes de todos os grupos, incluindo do grupo executor e do grupo responsável por observar o serviço. Os demais fazem a degustação da forma como fizeram em sessões anteriores. Os participantes sentados à mesa comportam-se como convidados para que o grupo encarregado de servir possa desenvolver todas as técnicas requeridas pelo cardápio. O jantar estará encerrado quando todos terminarem de tomar o cafezinho servido após a sobremesa. Neste momento o coordenador convida todos para reunirem-se e fazer a avaliação.

 

Ó Xente, Pois Não 20 de agosto de 2009

 

Com este post, iniciamos uma nova categoria do blog: Uso Didático de Vídeos. Vamos começar com o exemplo de uma forma de utilização, para fins de aprendizagem, do documentário Ó XENTE, POIS NÃO (Direção de Joaquim de Assis. Rio de Janeiro: Produtora Zodíaco / FASE. 1983. 1 videocassete (25 min), VHS/NTSC, son., color).

 

O texto incluído a seguir faz parte das Referências para a Ação Docente, do Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Turismo, do Projeto Trilha Jovem, desenvolvido pela Germinal Consultoria e hoje implementado em 10 destinos turísticos brasileiros.

 

1. Aquecendo

Faça uma recepção individual e amigável aos participantes. Convide-os a escolher seus lugares no semicírculo previamente preparado com o número exato de cadeiras a serem ocupadas. Quando estiverem todos sentados, dê-lhes as boas vindas e apresente-se pelo nome, se ainda não conhecer a classe (em painel).

 

Diário de Bordo

Identifique o responsável pelo Diário de Bordo. Solicite silêncio e atenção para a leitura do texto do relator. Após a conclusão, o atual responsável pelo Diário de Bordo escolhe o novo relator, encarregado do relatório do dia e que será lido na próxima aula.

 

Competências e objetivos

Apresente as competências específicas que serão constituídas através do Projeto Desenvolvimento Sustentável do Turismo. Depois, apresente os objetivos do dia de trabalho que se inicia.

 

Homem e jegue - Mestre Vitalino

Homem e jegue - Mestre Vitalino

Projeção de documentário: “Ó Xente, pois não”

Anuncie a projeção do documentário “Ó Xente, pois não!”. Dê algumas referências sobre o filme no sentido de criar expectativa e estimular a atenção do expectador. Informe que o documentário é sobre uma comunidade camponesa no agreste de Pernambuco e sua árdua luta pela sobrevivência. É reconhecido pela sua qualidade como obra cinematográfica. Informe que as imagens do filme são muito bonitas, mas que a fala é muito importante. Peça que todos mantenham a concentração durante a projeção para entenderem o que as pessoas da comunidade retratada dizem durante o filme. Antes de iniciar a exibição, solicite que cada jovem escolha e registre a fala mais bonita do documentário.

 

Após o filme: impressões e debate

Após a apresentação do documentário, aguarde alguns instantes para que cada um escolha a fala que considerou mais bonita, a que mais gostou ou a que mais o sensibilizou. Organize uma rodada de falas: um a um, os jovens dizem a fala mais bela. Ao final, você revela a frase que escolheu. Estimule, a partir deste momento, comentários sobre o filme. Deixe que expressem espontaneamente suas impressões, num primeiro momento. Depois, oriente os comentários em torno do projeto do açude, da caixa para emergências, do projeto da vassoura, enfim de todas as estratégias que aquela comunidade encontrou para resolver seus próprios problemas. Chame atenção para o processo de tomada de decisões e de planejamento adotados pela comunidade antes de empreender uma ação. Não deixe de destacar a natureza das relações interpessoais da comunidade, essencialmente solidárias e cooperativas, importantes para o desenvolvimento de qualquer projeto coletivo. Por fim, finalize apontando as ações comunitárias apresentadas no filme como exemplos de medidas que transformam a realidade social, sem depender do poder público. É sobre essa possibilidade de transformação que será desenvolvido o Projeto de Promoção do Desenvolvimento Sustentável do Turismo.